Temer mexe em ministros para sobreviver

Aproveitando-se das distrações do fim de semana, o presidente Michel Temer trocou dois ministros de cadeira. Osmar Serraglio, que estava na Justiça havia dois meses, seguiu para o inócuo Ministério da Transparência. Torquato Jardim, que ocupava aquela pasta, veio para a Justiça. De presto, a Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal manifestou preocupação. Segundo Gerson Camarotti, o Planalto quer reassumir o controle da PF. Na semana passada, já havia cortado seu orçamento para gastos na Lava Jato. Cogita-se a troca do diretor-geral. Uma das exigências dos delegados é a autonomia: que o diretor-geral da PF passe a ter mandato e não possa ser substituído simplesmente pois o presidente assim o deseja. Mas há outro motivo para a mudança, tão importante quanto — se não for mais. Jardim é especialista em direito eleitoral e foi ministro do TSE. De acordo com Kennedy Alencar, outro dos objetivos do governo é aumentar a interlocução tanto com o Supremo quanto com o próprio TSE, no qual Temer será julgado a partir do dia 6.

Entrevistado pelo Correio Braziliense na sexta-feira, antes da mudança, Jardim fez uma análise da crise. Ele considera o mês de junho e o início de julho como chaves. Sua previsão é de que o julgamento no TSE deve durar três semanas. Enquanto isso, corre por fora o parecer técnico da Polícia Federal a respeito da gravação feita por Joesley Batista, que fica pronto também no final do mês. Em meados de julho, será anunciado o resultado do PIB do segundo trimestre. Dois trimestres consecutivos de crescimento indicam que o país saiu da recessão. Mas, se houver queda, a economia segue sendo um problema. Estes são pontos importantes para sobrevivência de Temer. Depois disso, em meados de julho, o Congresso deve se debruçar nas mudanças da legislação eleitoral para o pleito de 2018.

Os jogadores se movimentam. Na sexta-feira, o ministro do Supremo Gilmar Mendes anunciou que, por conta da JBS, deseja rediscutir os critérios para homologar delações premiadas e, na sequência, acha bom reavaliar a ideia de que condenados em segunda instância devem ser presos. Seu colega de corte, Roberto Barroso, partiu para o contra-ataque, falando tanto a Bernardo Mello Franco, na Folha, quanto a Josias de Souza, no UOL. “A delação só faz sentido se o colaborador tiver a segurança de que o acordo feito será respeitado”, protestou. E se indignou particularmente com a ideia de rever o princípio de condenação. Para Barroso, a Justiça não pode ser “um instrumento para perseguir inimigos e proteger amigos, a jurisprudência não pode ir mudando de acordo com o réu.”

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Não foi a única mudança do fim de semana. Maria Silvia Bastos Marques renunciou à presidência do BNDES. Publicamente, afirmou que o fez por motivos pessoais. Mas a pressão política para que liberasse empréstimos não foi pequena. (Estadão)

A neblina em Copacabana foi intensa, ontem, quando milhares de pessoas se reuniram para uma manifestação pela saída de Temer e a convocação de Diretas Já. Segundo os organizadores, até 100 mil apareceram entre 11h e 19h, embalados por shows de nomes como Milton Nascimento e Caetano Veloso, além das bandeiras vermelhas de partidos de esquerda e sindicatos.

Não parece que vão sair eleições diretas do Congresso. A Folha ouviu os líderes dos dez maiores partidos da Câmara e do Senado. Com exceção dos de esquerda, minoritários, todos são contra.

Mas... em sua entrevista a Josias de Souza, Roberto Barroso puxou a questão para o STF. “O Supremo vai decidir se é direta ou indireta.”

Alon Feuerwerker: “A crise política dos últimos anos no Brasil pode ser descrita como uma macroconjuntura de conflito que envolve quatro grandes exércitos. Eles alinham-se (é 'alinham', não 'aliam') ou não conforme a microconjuntura. Não têm necessariamente tamanhos semelhantes e serão nomeados aqui, para simplificar (e toda simplificação é um risco), como: o da 1) Direita, o da 2) Esquerda, o da 3) Lava-Jato (lato sensu) e o da 4) Imprensa. Dilma caiu porque em certo momento alinharam-se contra ela três dos quatro, e o que sobrou estava muito enfraquecido para resistir sozinho. O exército da Direita, pela primeira vez em três anos, desarquiva a 'defesa do estado de direito' e passa a atacar as delações. O exército da Esquerda não tem como se alinhar contra Temer pois não controla um movimento que pode levar à inelegibilidade de Lula. Em meio ao desarranjo e aos desalinhamentos, Temer vai ficando.”

Eliane Cantanhêde: “Se Suas Excelências querem aproveitar para livrar a cara dos alvos da Lava Jato e exigir do eleito indiretamente um indulto para todos os ex-presidentes, eis um aviso: isso explodiria de vez o País. A sociedade e as instituições fariam picadinho do sucessor de Temer.” (Estadão)

Diga-se... No ranking do Estadão que documenta dia a dia os debates sobre o possível sucessor de Temer num pleito indireto, Rodrigo Maia assumiu a liderança.

José Murilo de Carvalho: “Hoje, não há um povo eleitoral, há vários povos. Há o povão das políticas sociais, sobretudo do Bolsa Família, que não se manifesta enquanto essas políticas são mantidas. Há o povo muito aguerrido formado por operários e setores da classe média, organizado em sindicatos e associações. Há o povo que foi à rua em 2013, de comportamento errático, composto de setores da classe média. E há o povo das redes sociais, de impacto crescente na política, mas ainda de difícil avaliação. A diversificação da sociedade, a democratização da política e a fragmentação dos partidos estão na base da crise atual.” (Folha)

Por falar em ‘povo das redes sociais’... O Vem Pra Rua, que vinha se mostrando errático no posicionamento a respeito da crise, enfim definiu seu lado. Quer a renúncia de Temer e eleições indiretas como previsto na Constituição.

Viver

Em sua constante luta para gerar fatos que lhe garantam destaque na imprensa, o prefeito João Doria grafitou um muro em São Paulo, ontem. Devidamente equipado com máscara e luvas, usou uma lata de spray para pintar um… coração. Em seguida, jactou-se: “Isso é arte”. A ação foi divulgada como o lançamento do Museu de Arte de Rua, projeto que pretende ocupar muros com arte urbana. (Globo)

Vídeo: A Pública registra o trabalho dos policiais na megaoperação na Cracolândia, há uma semana, em São Paulo. Dá, também, voz a quem ali vive — ou tentava viver.

Donald Trump já avisou a fontes próximas: os Estados Unidos vão deixar o Acordo de Paris, aquele que trata das mudanças climáticas, firmado em 2015. Em sua conta pública no Twitter, porém, o presidente foi mais vago — ao final da reunião do G7, na Itália, postou apenas que vai anunciar sua decisão sobre o acordo nesta semana.

Galeria: um encontro de cachorros da raça dachshund — os inconfundíveis ‘salsichas’. Fantasiados. Na Rússia. (Estadão)

Galeria 2: alguns cortes de cabelo de jovens na periferia de São Paulo, no ensaio Chavosos, que o fotógrafo Hick Duarte criou a partir de visitas frequentes à mesma barbearia na cidade, a Bom de Corte.

Cultura

“Vivemos uma ditadura do politicamente correto, que é pior do que todas as ditaduras.” Quem diz é Pedro Almodóvar, diretor espanhol e representante do politicamente incorreto no cinema. Politicamente incorreto, segundo ele, é também o caminho escolhido pelo filme The Square, vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes. O longa retrata o universo da arte contemporânea e seus absurdos, “um tema sério, mas tratado com muita leveza”, nas palavras de Almodóvar, presidente do júri da mostra. (Folha)

O anúncio do vencedor, aliás, causou surpresa. Segundo a Variety, The Square dividiu opiniões tanto de críticos, quanto de espectadores em geral — o que contribuiu para a sensação de que, este ano, Cannes viveu uma edição “não convencional”. O festival teve, ainda segundo a revista, outros dois momentos “inesperados”: um empate na categoria de roteiro e um prêmio especial para Nicole Kidman, que apareceu em quatro produções exibidas no festival.

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A Netflix estreou, na sexta-feira, o longa War Machine, produção original do serviço de streaming, que custou à empresa cerca de US$ 60 milhões. É o maior investimento da Netflix num filme, relata a Wired, e, também, algo revelador do rumo que pretende trilhar no cinema — o dos blockbusters.

War Machine, porém, não parece ter empolgado a crítica. Segundo o Rotten Tomatoes, que compila análises profissionais de todo o mundo, o filme agradou menos da metade de quem o avaliou. O Daily Dot, por exemplo, definiu o longa como “uma confusão sem foco”.

“Eu não estou tentando mudar a história de qualquer maneira. Eu amo a música, não quero irritar ninguém.” Assim Giles Martin, filho de George Martin (o lendário produtor dos Beatles), defende seu trabalho atual - a árdua tarefa de remixar Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, tido como um dos melhores discos da história da música e que completa agora 50 anos. O Globo traduz entrevista com Martin, o filho, e reúne dez curiosidades sobre o álbum, com link para ouvir o cultuado clássico no Spotify.

Por que gastar US$ 110 milhões numa obra de Basquiat? Porque sim. É praticamente esta a resposta do bilionário japonês que acaba de arrematar uma tela do artista americano por este valor, num leilão da Sotheby’s. O New York Times conta a trajetória de Yusaku Maezawa como colecionador. Também trata do aquecido mercado que vem se formando em torno das obras de Jean-Michel Basquiat.

Cotidiano Digital

Após vencer o número um do mundo em Go, o sistema de inteligência artificial DeepMind, da Google, se aposentará, encerrando suas disputas com humanos. Go era considerado a última fronteira digital dos jogos de tabuleiro. Não há mais nenhum jogo que um computador não seja capaz de vencer (em disputa com um homem). Agora, para os fissurados: a empresa lançou uma série de novas estratégias para ganhar no milenar Go, descobertas pelo programa.

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