Lula sobre Campos Neto: “Ele deve explicações ao Congresso, não a mim”

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De Brasília

Em café com jornalistas nesta terça-feira (7/2), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu que o governo possa discutir a taxa de juros sem criar animosidades com o Banco Central porque, segundo ele, a autonomia da instituição, em vigor depois de ser aprovada pelo Congresso, pode não ter dado resultados satisfatórios para o país.

“Quando eu era presidente da outra vez, eu tinha o [vice] José Alencar para fazer a crítica à política de juros. Agora, sou eu mesmo que faço. Não deveria ser normal um presidente da República ficar discutindo com o presidente do Banco Central, verbalmente, porque pessoalmente eu só tive um contato com ele. As pessoas que acreditavam que a independência do Banco Central ia mudar alguma coisa no Brasil, que ia ser melhor, têm que ficar olhando se valeu a pena ou não”, disse o presidente.

Lula afirmou também que quando Henrique Meirelles era o presidente da instituição esse diálogo ocorria de forma mais fluida. “Eu tive oito anos com o Meirelles no Banco Central, indicado por mim, e o Meirelles tinha 99,9% de independência. Se o governo não tiver condições de discutir a taxa de juros, a taxa da inflação, do emprego… Não é só a meta de inflação, tem que ter uma meta de crescimento e de geração de emprego, senão fica uma coisa de um ser humano com uma perna só. Era preciso que houvesse mais complexidade na operação. Não discuto com o presidente do Banco Central. Eu fiz duas críticas à imprensa. Ele deve explicações não a mim, mas ao Congresso Nacional, que o indicou”, disse, referindo-se a Roberto Campos Neto, atual presidente do BC, sem mencioná-lo nominalmente.

Pela Lei 179/21, que definiu a autonomia do Banco Central, o presidente da instituição pode ser exonerado quando apresentar “comprovado e recorrente desempenho insuficiente para o alcance dos objetivos do Banco Central do Brasil”. O governo tem dois representantes no Conselho Monetário Nacional (CMN), que tem reunião marcada para o próximo dia 16 de fevereiro e pode discutir o assunto. Fazem parte do CMN a ministra do Planejamento, Simone Tebet, e o da Fazenda, Fernando Haddad. Qualquer decisão sobre a saída ou permanência de Campos Neto no BC depende, no entanto, do Senado Federal. “Eu espero que Simone (Tebet) e Fernando Haddad estejam acompanhando tudo isso”, disse Lula durante o café.

O presidente ainda sugeriu que Campos Neto pense melhor sobre como “cuidar do país”. “Não é possível que esse país volte a crescer com a taxa de juros de 13,75%. Nós não temos inflação de demanda. É por isso que eu acho que esse cidadão, que foi indicado pelo Senado, tenha a possibilidade de maturar, de pensar e de saber como é que vai cuidar desse país. Ele tem muita responsabilidade, mais do que o Meirelles tinha no meu tempo. Naquele tempo, era fácil jogar no colo do presidente da República. Agora, não. Agora a culpa é do Banco Central porque o presidente não pode trocar e o Senado que pode demitir ou não.”

Por fim, Lula disse esperar que Campos Neto queira “acertar”. “De qualquer forma, como eu não conheço o presidente do Banco Central bem, eu estive uma única vez com ele, sempre parto do pressuposto de que as pessoas estão com boa vontade, de que ele quer acertar, consertar a economia brasileira. Para a economia voltar a crescer é preciso que os juros estejam acessíveis pela parte dos investidores brasileiros. É isso que eu espero.”

 

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