Lula questiona autonomia do BC e lamenta manutenção da Selic
Como já era esperado, o presidente Lula não gostou da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central de manter a taxa básica de juros em 10,5% ao ano, interrompendo sete quedas seguidas desde agosto passado. Em entrevista à rádio Verdinha, de Fortaleza, questionou a autonomia do órgão e afirmou que a decisão atendeu a especuladores. “Resolveram entender que era importante alguém que tivesse autonomia. Autonomia de quem? Autonomia de quem para servir? Autonomia para atender [a] quem?”, questionou. O presidente disse que a decisão de quarta-feira atendeu a “especuladores que ganham dinheiro com os juros”. “A decisão do Banco Central foi investir no sistema financeiro, nos especuladores que ganham dinheiro com os juros. E nós queremos investir na produção”, afirmou. “Foi uma pena, porque quem está perdendo com isso é o povo brasileiro. Porque, quanto mais a gente pagar de juros, menos temos dinheiro para investir aqui dentro”, acrescentou. (Folha)
Já o PT está usando seus canais oficiais de comunicação para defender a saída de Campos, cujo mandato à frente do BC vai até 31 de dezembro. “Roberto Campos Neto não tem independência para continuar exercendo seu cargo de presidente do Banco Central, atua com interesses político-partidários para sabotar o Governo Lula desde o início de 2023, se tornando a esperança bolsonarista derrotada nas urnas e na tentativa de golpe do 8 de janeiro”, afirma o partido no X, WhatsApp e Telegram também divulgaram a mensagem. A legenda fez um abaixo-assinado online a favor da exoneração ou renúncia do presidente da autarquia. (UOL)
E para o lugar de Campos Neto, o diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, segue firme como favorito, segundo a Coluna do Estadão. Uma ala do PT, no entanto, tem defendido a indicação de André Lara Resende, que ajudou a formular o Plano Real e integrou a equipe de transição. Para auxiliares do presidente, Galípolo não tinha saída a não ser votar pela manutenção da Selic, pois um novo racha no Copom desvalorizaria ainda mais o real frente ao dólar. O voto de Galípolo foi visto como estratégico, inclusive para mostrar sua independência em relação ao governo. (Estadão)
Míriam Leitão: “Nelson Rodrigues dizia que toda unanimidade é burra. Nelson Rodrigues era inteligentíssimo, a frase é ótima, mas não se aplica no caso agora do BC. A unanimidade foi a decisão mais inteligente a ser tomada pelo Copom, nas atuais circunstâncias, porque afastou vários temores. Os cenários estão abertos, mas o principal que aconteceu nessa reunião foi afastar a impressão de que o futuro do BC é um BC leniente com a inflação. Isso foi o mais importante que ficou”. (Globo)
Alex Ribeiro: “A decisão unânime do Copom reconquista parte da credibilidade perdida, mas não resolve por completo todos os problemas em um ambiente de incertezas fiscais e de ataques do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à instituição. A incerteza sobre transição de comando BC está pesando, ainda mais com todos os ataques políticos sobe a instituição. É por isso que parte dos analistas econômicos vem defendendo um anúncio antecipado do sucessor de Campos Neto”. (Valor)