América do Sul mergulha na polarização

O Congresso paraguaio ardeu em chamas na noite de sexta-feira. No sábado, o vice-presidente venezuelano, Tarek El Aissami, anunciou que a suprema corte do país fora instada a devolver o Poder Legislativo à Assembleia Nacional. No mesmo dia, as ruas argentinas foram tomadas por manifestações pró-governo Macri, gente vestindo a camisa da Seleção celeste y blanca, aos gritos de “Argentina, sin Cristina”. E, num Equador rachado, o segundo turno disputado voto a voto levou o candidato governista Lenín Moreno à presidência. Por conta de um resultado 51% x 49%, a oposição já pediu recontagem. O continente sul-americano está polarizado e, aqui e ali, conflagrado.

A situação mais complexa é a do Paraguai, onde um pedaço do Partido Colorado, conservador, uniu-se à Frente Guasú, de esquerda, para aprovar uma controversa emenda que permite a reeleição e beneficia tanto o atual presidente, Horacio Cartes, quanto o ex que sofreu impeachment, Fernando Lugo. O voto ocorreu no gabinete da liderança do partido de Lugo sem a presença de 20 dos 45 senadores. Os 20 contra, incluindo presidente e vice-presidente do Senado, estavam — incrivelmente —, no plenário. Manifestantes atearam fogo no prédio do parlamento durante a noite de sexta. A violenta reação policial terminou com o assassinato de um dos líderes da Juventude do Partido Liberal, de oposição.

Sylvia Colombo: “Não é à toa que, quando estavam formulando a Constituição de 1992, os legisladores fizeram questão de incluir uma cláusula que não permitisse mais as reeleições no país. Queriam evitar a centralização do poder num só partido, o que poderia abrir espaço para regimes ditatoriais. É preciso lembrar que o partido Colorado esteve no poder nada menos do que por seis décadas.” (Folha)

Num país, pressão autoritária de direita, no outro, de esquerda. O governo venezuelano de Nicolás Maduro voltou atrás e restituiu os poderes do Congresso. O Tribunal Supremo de Justiça fez publicar, em seu site, que “suprime” trechos da sentença contra a Assembleia. A reação internacional acusando o governo bolivariano de Golpe foi dura. Os chanceleres de Brasil, Paraguai, Argentina e Uruguai, representando o Mercosul, deram início ao processo para aplicar a cláusula que exclui o país membro que não for considerado uma democracia.

Lourival Sant’Anna: “A visão convencional de uma intervenção militar na Venezuela é a de que ela teria o objetivo de salvaguardar o regime. Mas há sinais de fissura na corporação, que tem longa tradição golpista.” (Estadão)

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Ricardo Darín, ator: “A realidade exige que nos definamos. Temos de ser politizados, somos seres políticos. Mas fomos atravessados pelo partidarismo, pelo separatismo, por ressentimentos. Ou está comigo ou é meu inimigo. Este é o maior mal com o qual temos de conviver hoje em dia. Sair desta dinâmica perversa vai nos tomar tempo. Se quem está no comando político não fizer manifestações claras, contundentes, e indicar que precisamos sair desta estupidez, vai demorar ainda mais tempo.”

Começa amanhã de manhã o julgamento do processo que pode cassar o mandato de Michel Temer, no TSE. O próprio presidente acompanhou a escolha dos juristas que escreveram pareceres a seu favor e que serão entregues hoje. Entre eles, Ives Gandra Martins e Luiz Fernando Pereira. (Folha)

O parecer final do Ministério Público Eleitoral, que está nas mãos dos sete ministros do TSE, afirma que a campanha de Dilma e Temer para a presidência, em 2014, contou com ao menos R$ 112 milhões em recursos ilegais. Tudo veio da Odebrecht. São, segundo a procuradoria, R$ 45 milhões em caixa dois, R$ 17 milhões em caixa três e R$ 50 milhões de propina. Caixa três é o apelido dado para a doação que foi registrada oficialmente pela Cervejaria Itaipava, mas cujos recursos em verdade vinham da Odebrecht numa operação de triangulação. A empreiteira reembolsou o grupo cervejeiro no exterior. Este dinheiro, diz o relatório, “comprometeu a legitimidade e a normalidade do pleito eleitoral presidencial”. (Folha)

O mestre repórter Luiz Maklouf Carvalho conta quem é Herman Benjamin, o relator do processo no TSE. Trecho: “Ajudado por uma eficiente equipe de assessores, o ministro conhece o processo como a palma da mão. Sabe, também, que o julgamento do pleno será essencialmente político, e que todos os lados se movimentam febrilmente para ganhar a batalha.” (Estadão)

Se acirra mais a relação entre Temer e Renan Calheiros. O ex-presidente do Senado publicou vídeo em sua página no Facebook acusando o governo de “errático” e afirmando que “quem não ouve erra sozinho”. O motivo principal de sua crítica é a Reforma da Previdência.

Leandro Colon: “Sob investigação da Lava Jato pelas acusações de receber propina e alvo de recentes delações da Odebrecht, Renan tenta se manter relevante na política. Tem usufruído do posto de líder da bancada de senadores do PMDB para criar uma oposição artificial ao governo de Michel Temer, seu colega de partido.” (Folha)

O PSDB é um partido que sempre tomou no alto-comando suas principais decisões. Com o aumento da popularidade do prefeito paulistano João Doria, este poder começa a se esvair. Os caciques admitem estar perdendo controle do processo. O governador paulista e padrinho político do prefeito, Geraldo Alckmin, anda irritado com o afilhado, informa Lauro Jardim. (Globo)

O presidente do Tribunal Superior do Trabalho, Ives Gandra Filho, defende o fim do imposto sindical compulsório. Hoje, todos que têm carteira assinada pagam. É um dos pontos discutidos na Reforma Trabalhista. Valeu R$ 3,5 bilhões, no ano passado, e os sindicatos não prestam contas. (Estadão)

Cultura

João Moreira Salles saiu aclamado do Cinéma du Réel, festival de documentários em Paris. Seu filme, No Intenso Agora, angariou três prêmios, mas não o principal (feito que alcançou em 2007, com Santiago). No novo documentário, o diretor revisita maio de 1968 a partir de vários registros amadores daquela época — inclusive alguns feitos por sua mãe, por exemplo, durante visita à China. No Brasil, o Intenso Agora poderá ser visto no festival É Tudo Verdade, entre 20 e 30 de abril.

Ao revisitar 1968, o cineasta, porém, não se guia pela nostalgia. Ao contrário. Em entrevista ao El País, faz críticas ao que chama de “apego desmesurado e conservador” ao movimento de 1968. “Eu acho que a história anda, a fila anda. A nostalgia mata. Por que buscar em maio de 1968 as energias? Tem tanta coisa importante acontecendo hoje em dia, tantas lutas importantes." Ao lembrar do acervo de sua mãe, que usa no filme, escapa-lhe, com a já conhecida discrição, um tanto de ternura: “Fiquei muito feliz de encontrar minha mãe feliz, mais do que qualquer outra coisa. A felicidade que ela está vivendo naquele momento, eu, como adulto, vi muito pouco. Reencontrá-la tão feliz de estar viva para mim foi uma revelação bacana.”

Galeria: falando em 1968, o fotógrafo Evandro Teixeira fez registros que se tornaram clássicos daquele ano. O Globo publicou agora algumas imagens.

Não foi fácil nem para Beethoven. Qual um músico dos dias de hoje, ele se virava para pagar as contas: tocava em todo tipo de evento, dava aula de piano, vendia partitura, corria atrás de ricos em busca de patrocínio, produzia os próprios concertos… Também tomava vinho barato e, via de regra, era rejeitado por mulheres. Beethoven: Angústia e Triunfo, de Jan Swafford, chega agora ao Brasil. A biografia (de 929 páginas) relata as agruras do gênio e, claro, a parte séria da coisa, seu processo criativo. (Folha)

Rembrandt fazia selfie. Van Gogh também. Frida Kahlo e Kim Kardashian, idem. Picasso e Munch, como não? Uma exposição em Londres se define como a primeira mostra sobre a história do selfie, dentro de um contexto artístico, claro. Em cartaz na respeitada Saatchi Gallery, a curadoria defende que, muito antes do celular, no longínquo século XVI, o homem já adorava selfie.

A novela de Bob Dylan com o Nobel chegou ao fim. Depois de faltar na primeira cerimônia do prêmio, em dezembro, e ser pressionado pela Academia Sueca, na semana passada, passou por Estocolmo no sábado e, finalmente, recolheu seu Nobel de Literatura. O prêmio, diga-se, não merecia tal desdém. São 839 mil euros.

Galeria: nos anos 1960, um Dylan menos arredio abriu a intimidade para um fotógrafo. Os registros, agora, formam uma exposição em Nova York.

Viver

Houve um tempo em que um galã de novela talvez pudesse “galantear” mulheres. Era outro tempo. A figurinista Su Tonani levou à Folha, na semana passada, acusações graves contra um deles. Relatou em detalhes um histórico de assédio praticado contra ela pelo ator José Mayer, galã de longa data da Globo, ícone da categoria.

Mayer, em seguida, negou as acusações. Disse “respeitar muito as mulheres” e alegou também à Folha que pode ter havido uma confusão entre ficção e realidade. “As palavras e atitudes que me atribuíram são próprias do machismo e da misoginia do [meu] personagem Tião Bezerra, não são minhas!”

Mesmo assim, a Globo optou por retirar o ator de cena. Ele foi cortado do elenco da próxima novela que faria, O Sétimo Guardião, prevista para 2018.

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A cura do HIV pode chegar em 2020. É o que diz “parcela significativa da comunidade médica mundial”, como descreve reportagem do Globo. Em conferência na Fundação para Pesquisa da Aids, na USP, iniciou-se, inclusive, uma “contagem regressiva” para a cura do HIV, tendo 2020 como objetivo. Segundo pesquisadores, estudos cada vez mais embasados levam a crer que será possível cumprir a meta.

Para ler com calma: a Ilustríssima investiga os avanços da inteligência artificial e, a partir do pensamento de especialistas e pesquisadores consagrados, explora os benefícios e ameaças do que define como "turbilhão tecnológico". Desemprego e falta de privacidade, como sempre, são apontados como os maiores temores. “Se a Revolução Industrial promoveu a substituição da força animal e, posteriormente, do próprio trabalho humano por máquinas, agora é nossa inteligência que vai sendo trocada por dispositivos eletrônicos cada vez mais potentes”, diz o texto. O problema, completam os autores, é que não há uma agência para regular ou, ao menos, sinalizar as ameaças a caminho.

Galeria: as fotos de amor do casal que mudou (mesmo) a história dos Estados Unidos.

Por que o Tetris é um jogo viciante? Professor de psicologia da Universidade de Nova York, Adam Alter responde em tópicos. Ele é autor de Irresistible, livro que explica como a tecnologia explora nossas fragilidades. 

Cotidiano Digital

Crescem as reclamações (e os temores) em torno dos drones. Segundo o Guardian, no Reino Unido, a polícia recebeu quase dez reclamações por dia, no ano passado. Foram, ao todo, 3.456, ou quase três vezes mais do que em 2015. As queixas são variadas: de espionagem a denúncias de contrabando para prisões.

Por outro lado… os drones estão estendendo mais e mais suas possibilidades na indústria — em setores distintos, ou seja, para além do e-commerce, em que seu espaço já está garantido. Do cinema à medicina, veja uma breve lista de indústrias em que os drones devem decolar neste ano.

O herói hacker John Draper, conhecido no meio como Cap’n Crunch, sofre de uma doença degenerativa na coluna. Seus amigos criaram uma página para levantar fundos para o tratamento. Entre finais dos anos 1960 e 70, Draper fez fama ao utilizar o brinquedo que vinha na caixa de cereais Captain Crunch para produzir o apito numa frequência tal que forçava os circuitos telefônicos a permitir ligações gratuitas. Principal herói dos jovens Steve Jobs e Steve Wozniak, é um dos pais da subcultura de burlar sistemas tecnológicos.

A realidade virtual será tema da VR Week 2017, evento de palestras, oficinas e outras atividades na Escola Politécnica (Poli) da USP. Começa hoje e segue até sexta-feira. Confira a programação.

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