Um Lula tenso depõe perante Moro

O depoimento prestado pelo ex-presidente Lula ao juiz Sérgio Moro, em Curitiba, durou cinco horas. É um dos mais longos da operação Lava Jato. O foco principal foi o tríplex do edifício Solaris, no Guarujá, que executivos da OAS dizem pertencer a Lula. Mas Moro foi além, com perguntas a respeito de contratos da Petrobras, indicações na estatal e suas relações com políticos. O ex-presidente é acusado de ter sido beneficiado com vantagens indevidas que chegam a R$ 3,7 milhões, pagas pela empreiteira com o imóvel, obras e o armazenamento em contêineres do acervo presidencial, por cinco anos, a um custo de R$ 1,3 milhão.

O depoimento encerra a fase de instrução e deve abrir prazo para manifestações finais da Procuradoria (cinco dias) e da defesa (mais cinco). Com Eduardo Cunha, a sentença saiu 48 horas depois. A defesa do ex-presidente teme que a decisão de primeira instância também venha rápido. Na análise de Josias de Souza, trata-se de uma corrida. Se Lula for condenado em segunda instância antes das convenções, em julho de 2018, torna-se inelegível.

O ex-presidente afirmou que a decisão de comprar cota de um apartamento no edifício Solaris foi de sua mulher, Marisa Letícia. “Ouvi falar desse apartamento em 2005, quando comprou, e fui voltar a ouvir em 2013.” Era, inicialmente, um imóvel simples, não o tríplex da cobertura. Para Lula, o local era inadequado. Por ser conhecido, só poderia frequentar a praia “às segundas ou na quarta-feira de Cinzas”. Moro o questionou sobre um documento de opção de compra do tríplex encontrado numa busca em sua casa. “Está assinado?”, contestou Lula, insinuando que poderia ter sido plantado. “Léo estava querendo vender o apartamento”, ele continuou, referindo-se ao executivo Léo Pinheiro. “Não sei se o doutor já procurou alguma casa para morar, para saber como vendedor faz.” O ex-presidente, no entanto, disse ter visto “500 defeitos” e desistido da compra. (Globo)

Vera Magalhães: “Mais uma vez, Luiz Inácio Lula da Silva não sabia de nada. Antes foram Delúbio Soares, Silvio Pereira, José Dirceu e os malfeitos do mensalão. Depois, os aloprados do dossiê contra os tucanos em 2006. Agora, o triplex: sua mulher, Marisa Letícia, a despeito de ‘odiar’ praia, visitou o apartamento no Guarujá mais de uma vez, desejava adquiri-lo para ‘investimento’, mas não conversava com o marido sobre isso, nem sobre a eventual troca de uma cota de unidade simples pelo triplex.” (Estadão)

No ponto mais surpreendente, Lula confirmou ter-se encontrado com o ex-diretor da estatal Renato Duque em um hangar do Aeroporto de Congonhas, em 2014, quando já corria a Lava Jato. “Eu pedi ao Vaccari, porque não tinha amizade com o Duque, para trazê-lo e conversar”, disse ao juiz. O encontro fora revelado pelo executivo. Segundo Duque, Lula estaria preocupado com provas. “Não pode ter nada no teu nome, entendeu?”, teria lhe dito o ex-presidente. Na versão de Lula, o tom não foi de ameaça, seu objetivo era compreender o que acontecia. “Fiz uma pergunta simples: tem denúncias nos jornais de que você tem dinheiro no exterior. Ele disse ‘eu não tenho’.” Num momento anterior do depoimento, Lula disse que só soube da relação entre Vaccari e Duque muito depois. Moro pontuou. “Salvo equívoco, perguntei há pouco se o senhor sabia da relação e me disse que não.” O petista retrucou. “Perguntei se o Vaccari tinha como trazer o Duque numa reunião e ele falou que tinha. Isso não implica que ele tenha relação.” (Estadão)

Gerson Camarotti: “De forma reservada, até mesmo parlamentares petistas admitem que a situação do ex-presidente Lula ficou mais complicada ao reconhecer um encontro com Renato Duque. A pergunta que ficou sem reposta é simples: por que um ex-presidente da República vai se encontrar num hangar de Congonhas com um ex-diretor da Petrobras investigado no esquema da Lava Jato?”

Nos momentos finais, Lula reclamou de Moro. “Estou sendo vítima da maior caçada jurídica que um presidente já teve” — e emendou: “esses mesmos que me atacam hoje, se tiverem sinais de que serei absolvido, prepare-se porque os ataques ao senhor serão bem mais fortes.” O juiz o interrompeu. “Já sou atacado por bastante gente, inclusive por blogs que supostamente patrocinam o senhor.” (Folha)

Bernardo Mello Franco: “Embora Moro tenha dito que o encontro não seria ‘um confronto’, este foi o tom do fim da sessão. Juiz e réu trocaram acusações pelos ataques que têm recebido. O depoimento acabou, mas o embate vai continuar.”

Para assistir com calma: o depoimento está dividido em 10 vídeos de aproximadamente meia hora cada. O G1 preparou um guia que informa, ponto a ponto, quais as principais falas de cada filmete. É a melhor fonte para quem desejar um mergulho mais alongado.

PUBLICIDADE

O ministro Marco Aurélio Mello declarou-se impedido de julgar casos, no STF, em que o escritório do advogado Sérgio Bermudes seja parte interessada. Ele tem uma sobrinha de 3º grau na empresa.

O ministro Gilmar Mendes, cuja mulher é sócia de Bermudes, e que deu liminar soltando o empresário Eike Batista — cliente em casos cíveis do escritório — mandou consultar o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, a respeito de sua opinião sobre o caso. É a praxe. Janot pediu, na segunda-feira, que o STF impeça Gilmar de julgar ações envolvendo Eike. (Globo)

Merval Pereira: “É uma questão de foro íntimo para um ministro do STF se declarar impedido de julgar uma ação. Acredito que Gilmar Mendes deveria se dar por impedido de julgar Eike Batista, mas compreendo que ele tem razões técnicas para não fazer isso. A explicação do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, acusado de participar de negociações com empresas para as quais sua filha advoga, é muito mais enrolada do que a de Gilmar Mendes. Ele não pode dizer que não se meteu em nada da OAS, pois até hoje ninguém sabe a razão de ter jogado no lixo a delação premiada do Léo Pinheiro.” (Globo)

Enquanto isso... Outro ministro, Edson Fachin, rejeitou o pedido de juristas que desejavam o impeachment de Gilmar. O Senado recusou, reclamaram ao Supremo. Fachin diz que não cabe à Corte meter-se no que cabe à câmara alta do Congresso. (Estadão)

A inflação medida pelo IPCA desceu em abril para uma faixa abaixo do centro da meta. Aumenta a pressão, sobre o Conselho Monetário Nacional, para diminuir a taxa básica de juros, Selic. E se levanta a questão, também, de que talvez seja hora de mudar o centro da meta. De 4,5%, onde estava desde 2005, para 4,25% ou até 4%. José Paulo Kupfer comenta. (Estadão)

Dias antes de ser demitido pelo presidente Trump, o diretor do FBI, James Comey, havia requerido mais recursos para ampliar a investigação sobre a interferência russa nas eleições americanas. (New York Times)

Apenas um quarto dos senadores republicanos defenderam a demissão do chefe da polícia federal no momento em que ele investigava o presidente.

Senadores democratas estudam ir além
— pelas regras americanas, se um dos partidos decidir que não há espaço para debate político, pode paralisar por completo as atividades do Senado. No momento, exigem transparência a respeito das investigações dos elos entre Rússia e a campanha Trump. O próximo passo é exigir que se nomeie um investigador especial independente.

Cultura

Teatro, cinema e TV sofreram grande perda ontem: aos 75 anos, morreu o ator Nelson Xavier, vítima de um câncer. Abriu seus 60 anos de carreira no Teatro de Arena. Nos palcos, encenou Plínio Marcos, foi dirigido por Fauzi Arap. No cinema, recebeu uma das maiores honrarias existentes, o Urso de Prata do Festival de Berlim, em 1978. Na TV, por fim, construiu seu mais famoso personagem: encarnou um irretocável Lampião, tanto que sua imagem caracterizado como o cangaceiro quase se confunde com a figura real.

Ao lembrar a prolífica trajetória do ator, em texto na Folha, o dramaturgo Sérgio de Carvalho, da Companhia do Latão, termina por assim definir o amigo Nelson Xavier: “No íntimo foi esse seu lugar de artista: entre o circo e a melancolia, entre a dor da esperança falhada e o trabalho pela melhora da vida comum".

Galeria: o Estadão reúne imagens de 15 trabalhos do ator.

Nas artes visuais, o dia também foi de luto, com a morte do colecionador Sérgio Fadel, um dos mais importantes do país. Era dono de acervo invejável não só pela quantidade de obras (cerca de 1.500), mas sobretudo por sua ampla abrangência histórica — desde o período colonial até o século 20. Em três apartamentos no Leme e numa casa de fazenda, Fadel tinha trabalhos de, por exemplo, Aleijadinho, Volpi, Portinari, Di Cavalcanti, Ivan Serpa, Hélio Oiticica, Lygia Clark, Aluísio Carvão e Antonio Bandeira — só cânones brasileiros. Sua morte, aliás, impõe uma questão séria ao setor: para onde irá a coleção? Quem vai se encarregar de preservá-la e, também, de mostrá-la? (Globo)

O Festival de Cannes, que neste ano surpreendeu ao incluir duas produções da Netflix em sua mostra competitiva, já mudou de ideia. Informou ontem que, a partir do ano que vem, só aceitará filmes que tenham compromisso com a exibição nos cinemas. Ou seja, ou a Netflix se abre para as telonas, ou se mantém apenas no streaming - e fica fora do festival. A mudança de regras de Cannes ocorre, não à toa, depois de protestos dos setores do mercado exibidor francês, revoltados desde a seleção das produções da Netflix. Reed Hastings, CEO da empresa de streaming, por sua vez, não se conteve. Alfinetou o festival, após o anúncio, com post no Facebook: “[É] O establishment fechando o cerco contra nós”. (Estadão)

Intolerância 1: sete cineastas deixaram o Cine PE alegando que a escolha dos filmes do festival segue um “discurso partidário alinhado à direita”. Referem-se, em especial, à seleção de O Jardim das Aflições, documentário sobre Olavo de Carvalho, e de Real — O Plano por Trás da História, cujo roteiro trata da criação do Plano Real, quando FHC era ministro da Fazenda. “Não imaginei que a seleção do festival fosse dar espaço a filmes claramente alinhados a uma direita extremista", alegou um dos diretores. (Folha)

Viver

Intolerância 2: José Serra era presidente da UNE, em 1964, quando houve o Golpe. Prestou depoimento sobre a época para um documentário sobre a União Nacional dos Estudantes. Ao fim, abraçou Carina Vitral, a atual presidente, do PCdoB — e a cena virou foto. Foram caçados nas redes, ambos. Militantes dos dois lados reclamaram de terem-se encontrado. (Folha)

PUBLICIDADE

Transexuais poderão alterar registro civil sem precisar provar judicialmente que fizeram cirurgia de alteração do sexo. A mudança não está condicionada à intervenção cirúrgica, mas à identidade de gênero. Assim entendeu a Quarta Turma do STJ, ao acolher o pedido de uma transexual que apresentou avaliação psicológica para provar que se identificava como mulher e, portanto, queria mudar o nome e o gênero impressos em sua identidade. O Estadão detalha a decisão.

Ex-viciada em crack, Desirée Mendes viveu 16 anos na cracolândia, em São Paulo, foi internada 19 vezes, presa grávida (com 30 gramas da droga) e, depois, autorizada a aguardar os recursos em liberdade. Nas ruas, sozinha, ela se reinventou, deixou o vício, virou confeiteira, e o filho Enzo já tem 5 anos. Uma nova decisão do STJ, porém, tem poder para alterar sua sorte. Na última terça-feira, o tribunal manteve sua condenação. Desirée pode voltar ao cárcere a qualquer momento, como relata a Folha.   

Galeria: a fotógrafa Lisette Poole embarcou com duas cubanas numa viagem de 48 dias e quase 13 mil quilômetros rumo aos Estados Unidos. Sem documentos, as imigrantes cruzaram de forma ilegal dez fronteiras até o destino final.

Cotidiano Digital

O Google tem um terceiro sistema operacional. Há o Android, que gerencia inúmeros celulares e aparelhos móveis no mercado; o ChromeOS, instalado em seus notebooks baratos; e, agora, o Fuchsia, ainda em desenvolvimento. Vem sendo pensado para “celulares e computadores com processadores rápidos e quantidades não-triviais de RAM”. Por que a empresa deseja apostar num terceiro sistema não é claro. Ainda mais dado o extremo sucesso do Android. Mas já há imagens iniciais da cara que ele terá.

A conferência Build, promovida pela Microsoft, apresenta sua visão para o futuro do ambiente de trabalho. Nele, há câmeras e sensores por todo lado, aparelhos conectados a sistemas de inteligência artificial. Em um cenário, o operário é detectado caindo sobre um barril com produto químico perigoso e, alarmes disparados, a equipe de apoio entra em ação de presto. Noutro, um paciente com marca-passo começa a se sentir cansado e um enfermeiro é logo avisado. Uma tecnologia que melhora a qualidade do trabalho — mas que também está de olho, qual Grande Irmão, em todos o tempo todo.

Ontem a Snap apresentou seus resultados trimestrais pela primeira vez depois da abertura de capital. Os números decepcionaram os investidores. A empresa teve US$ 2,2 bilhões de prejuízo no primeiro trimestre do ano e experimenta dificuldades para aumentar sua base de usuários na velocidade esperada pelo mercado. Tudo indica que o Snapchat está sentindo a concorrência do Facebook, que copiou boa parte de suas funcionalidades. As ações caíam mais de 20% e estão se aproximando do preço de lançamento.

Por outro lado... A nVidia, fabricante de GPUs, chips de processamento gráficos que são hoje o motor por trás de incontáveis projetos de inteligência artificial, surpreendeu os investidores com seus resultados. As ações subiram quase 15%. A empresa se posicionou no mercado de inteligência artificial como a Intel perante os PCs, na época de sua parceria com a Microsoft.

Encontrou algum problema no site? Entre em contato.