Moro e Cardozo trocam farpas

Dificilmente aconteceria no Brasil, mas, no final da tarde de sábado, encontraram-se no mesmo palco, em Londres, o ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo e o juiz Sérgio Moro. Cardozo criticou a prática de prisões preventivas, principalmente as de longa duração. “A pena restritiva de liberdade é extremíssima, para quando não há alternativa. 50% da população prisional brasileira é de presos provisórios.” Moro, que tem feito largo uso do recurso, rebateu. “Não defendo nada além da aplicação ortodoxa da lei penal, que permite essa medida em casos excepcionais.” Segundo ele, o caso da Lava Jato mostrou uma corrupção “sistêmica, uma prática habitual, profissional, serial, profunda e penetrante” que justifica a necessidade de tratamento forte. Do público, a professora de filosofia política Djamila Ribeiro, da Unifesp, o provocou. “O fato de um juiz ser aplaudido é extremamente preocupante”, disse. “O juiz tem de julgar de acordo com a prova”, respondeu Moro. “Como esse caso envolve pessoas poderosas, se faz uma confusão no sentido de que julgamentos são políticos, quando eles não são.” Ambos foram convidados pelo Brazil Forum, realizado em conjunto pela London School of Economics e pela Universidade de Oxford. (Globo)

Advogado da ex-presidente Dilma durante o processo que lhe custou o mandato, Cardozo defendeu que o resultado foi um golpe de Estado. “O impeachment tem sido usado como maneira de substituir governos impopulares na América Latina, alguns sem fundamento.” (Folha)

A um momento, Moro brincou: “Não sei se alguém esperava um confronto”, falou. “Não dei nenhuma cotovelada nele. É uma tolice, como se não pudéssemos dividir um espaço e conversar.” O debate está disponível em vídeo, na íntegra, no YouTube.

Para assistir com calma: a afirmação mais contundente do Brazil Forum ocorreu na palestra de abertura, feita pelo ministro Luís Roberto Barroso, do STF. “Um Direito Penal absolutamente incapaz de atingir qualquer pessoa que ganhe mais do que cinco salários mínimos criou um país de ricos delinquentes”, disse. Para o ministro, o sistema eleitoral brasileiro, no qual um candidato a deputado em São Paulo é obrigado a disputar os votos de 30 milhões de eleitores em todo o estado, produz campanhas para parlamentares absurdamente caras e, portanto, é inevitável que incentive a corrupção. Para o ministro do Supremo, o problema vai além. “As coligações partidárias fraudam a vontade do eleitor”, afirmou. Na última eleição em Minas, por exemplo, onde PT e PRB se coligaram, é possível que o voto em um petista que defende causas ligadas ao feminismo tenha ajudado a eleger um deputado evangélico. Ou vice-versa. Neste sentido, de violar a escolha do eleitor, ele considera as coligações inconstitucionais. Barroso detalha sua visão de como a estrutura do sistema político brasileiro gera corrupção no vídeo.

Candidato à presidência, o ex-governador cearense Ciro Gomes criticou os governos de Fernando Henrique, Lula e Dilma por não terem feito as reformas necessárias.

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Há insegurança no STJ e no TCU. Dentre os 25 inquéritos pedidos pela Procuradoria Geral da República e mantidos em segredo por ordem do ministro Edson Fachin, muitos envolvem nomes do Judiciário. Ainda são frutos da delação Odebrecht. (Folha)

Em artigo publicado domingo pela Folha, o apresentador Luciano Huck diz que não será candidato à presidência. “Temos que superar a polarização patrulheira e começar a discutir ideias e projetos. Esquerda ou direita, isso deveria importar menos — precisamos das duas pernas. Temos que ser curadores das boas ideias, de gente competente que queira se dedicar de fato à gestão pública, a servir. Reafirmo: não sou candidato a nada. Mas também não vou deixar de me envolver e de me dedicar à transformação do país.”

Enquanto isso... uma equipe contratada por Jair Bolsonaro trabalha em um documentário biográfico. Pretende (tentar) desfazer sua imagem de extremista. A campanha para o Planalto baterá no mote de que PT e PSDB são iguais. O deputado deve sair pelo Muda Brasil, partido que entregou na semana passada ao TSE as assinaturas para oficializar sua criação. (Folha)

Um míssil norte-coreano foi testado com êxito, domingo. Chegou a dois mil quilômetros de altura, percorreu 700 quilômetros, e caiu no mar do Japão, bem próximo do território russo. O momento foi escolhido a dedo. Os presidentes chinês, Xi Jinpin, e russo, Vladimir Putin, se encontravam em Beijing para uma cúpula bilateral. O tema dominou a conversa. E o novo presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, tomou posse apenas na quarta-feira. Trata-se do décimo míssil de testes lançado este ano pela ditadura de Kim Jong-un. EUA e Japão querem reunião de emergência no Conselho de Segurança da ONU.

Bob Woodward, um dos dois jornalistas responsáveis pela cobertura de Watergate, afirma que o presidente americano Donald Trump não está sequer próximo, ainda, de se envolver em ações suspeitas como as que derrubaram seu antecessor, Richard Nixon.

Cotidiano Digital

Na última sexta-feira, um novo vírus se espalhou de forma acelerada, infectando mais de 200 mil computadores no mundo. Afetou empresas como a Telefónica na Espanha, o sistema público de saúde britânico e fez com que a Dataprev derrubasse preventivamente todo o sistema do INSS, aqui no Brasil. (Globo)

O ataque se aproveita de uma falha do Windows, tornada pública no mês passado com o vazamento de armas digitais utilizadas pela NSA americana. Após a infecção, o vírus criptografa todos os dados no computador e exige pagamento de resgate. Se não ocorrer, o usuário perde acesso ao conteúdo de seu computador. A vulnerabilidade foi corrigida pela Microsoft em um update de março, mas muitos não o instalaram ainda. Esse é a terceira geração de vírus de computador. Os primeiros, entre os anos 1980 e 90, eram brincadeiras de hackers querendo mostrar o que conseguiam fazer. Com o crescimento da internet, veio a segunda geração, que transforma os computadores infectados em redes de máquinas zumbis. Estas, por sua vez, são usadas em conjunto, seja para derrubar sistemas, seja para gerar falsas visitas a sites e, assim, faturar com anúncios. Agora chegaram estes: os ransomwares. Sequestradores de dados.

A propagação foi reduzida no final do dia por conta da engenhosa descoberta de um rapaz inglês de 22 anos. Analisando o vírus, ele percebeu que logo após infectar um computador, o bicho tentava se conectar com um domínio inexistente composto pela combinação aleatória de letras. O analista registrou o tal endereço com o intuito de rastrear o método pelo qual ele se propagava. Descobriu outra coisa: que o domínio, na verdade, era uma senha que desabilitava o programa. É este mesmo especialista quem alerta: devemos esperar o retorno de uma nova versão ainda nos próximos dias.

No domingo, o diretor jurídico da Microsoft, Brad Smith, escreveu um post pedindo uma Convenção de Genebra Digital. Ele argumenta que, quando agências de inteligência armazenam vulnerabilidades como quem monta um estoque de armas, tornam a internet menos segura para todos. Ao descobrir fragilidades, deveriam divulgá-las para que sejam rapidamente consertadas.

40% dos brasileiros perderam amigos pelas redes sociais, de acordo com pesquisa realizada pelas agências JWT e Grimpa XP, conta Ancelmo Gois. (Globo)

Cultura

Marina de Mello Souza, sobre o pai, Antonio Candido, que morreu na última sexta, aos 98 anos: “Neste momento em que vivemos uma valorização de ideais e bens que são muito diferentes das questões do humanismo, ele era um humanista acima de tudo”. Segundo Marina, o intelectual se dizia “muito triste” e “assustado com o mundo, os conflitos, a violência, a guinada à direita.”

Devotado professor da USP (desde os anos 1940), Candido foi pioneiro da crítica literária, reputado sociólogo e um dos cinco mais importantes ‘formadores’ do Brasil, segundo o El País, ao lado de Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Hollanda, Caio Prado Jr. e Celso Furtado. “Seu [livro] Formação da Literatura Brasileira: Movimentos Decisivos, publicado em 1959, é uma pedra fundamental no entendimento do país", segundo o jornal. Manuel da Costa Pinto, colunista da Folha, concorda e acrescenta: Candido, para ele, foi o “último dos grandes intérpretes do Brasil”.

A propósito: certa feita, o próprio sociólogo recomendou alguns livros para entender o país, a pedido da editora Boitempo. Não fez uma lista qualquer. Só a justificativa para inclusão de cada título já é uma aula sobre o Brasil.

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John Lennon, Paul McCartney e Pete Best assistiram a George Harrison perder a virgindade. Informação extraída da nova biografia de Paul, pelo jornalista Philip Norman, conhecido por perfilar, entre outros, Elizabeth Taylor, James Brown e até os próprios Beatles, em 1981. Naquele livro, aliás, Paul saiu com a pecha de “fútil e supervalorizado”, lembra a Folha. Nas 856 páginas do novo livro, avalia o jornal, o autor gasta tinta demais com detalhes bobos — e de menos com o Paul músico.

A biografia tampouco animou o crítico do Guardian. Segundo ele, chega-se a pensar que Philip Norman quer se redimir pela forma como apresentou Paul em livros anteriores — ora vaidoso, ora jogado para escanteio. E, assim, o biógrafo economiza nas críticas, oferece pouca novidade e cria “subtramas caóticas” com detalhes — como o de que Paul, pasmem, fumava maconha. (Até os 60 anos, diga-s.) O ex-Beatle faz 75 em junho, quando o livro chega ao Brasil.

É um feito inédito nas artes visuais: o Pavilhão Brasileiro recebeu menção honrosa na Bienal de Veneza. A artista Cinthia Marcelle, escolhida para representar o Brasil na mostra, cobriu o chão do pavilhão com grades e ferragens. Criou, então, uma inclinação o piso - até o ponto que o visitante precisava se curvar para caber no espaço. O júri da Bienal avaliou as obras como “enigmáticas e instáveis, que não nos deixam sentir segurança, um comentário sobre a situação complexa da sociedade brasileira contemporânea”. (Folha)

Uma pergunta ronda o cinema de animação: a Disney teria arruinado a Pixar? A primeira comprou a segunda, que durante 15 anos reinou como a melhor do mundo. Para a revista The Atlantic, é preciso se conformar: a era de ouro da Pixar acabou.

Viver

A Nasa apresentou seu projeto para levar humanos à Marte. São quatro fases, que, quando descritas, lembram aqueles voos cheios de atrasos, imprevistos e aeromoças sem certeza de nada. O fim da viagem deve ocorrer na década de 2030. Estamos na fase zero. Testa-se tecnologia no espaço e só. Lá por 2021, fase um: cápsulas com astronautas decolam — mas não vão para Marte, e sim para a Lua, onde será construído um “porto” para a “nave” que viajará entre planetas. Terminadas as obras na Lua, entra-se na fase dois, em 2028, hora de um primeiro voo-teste com humanos. Mas, de novo, o voo não segue para Marte — só passeia na região da Lua, durante um ano inteiro. Na volta, acaso os viajantes sobrevivam, sai para Marte. A má notícia: a viagem dura três anos e o desembarque no destino final está previsto para 2033. Aí a missão acaba — e começa a vida. Em Marte. (Folha)

O astronauta Thomas Pesquet vai completar seis meses no espaço. Trabalha dez horas por dia e cumpre sua rotina de exercícios na Estação Espacial Internacional. De onde está, consegue ver a Terra a olho nu e, depois do expediente, fotografa seu planeta natal. Eis que uma de suas fotos caiu nas graças das redes sociais, por bela e, também, curiosa. Pesquet clicou o continente europeu e, na imagem, pode-se ver uma área muito mais brilhante que as vizinhas, uma aglomeração de infinitos pontos luminosos. É a Bélgica. Lá, as luzes nunca se apagam. São 2,2 milhões de lâmpadas sempre acesas só nas estradas. 

Em dez anos, as famílias formadas por mães solteiras passaram de 10,5 milhões para 11,6 milhões. São mulheres com filho e sem cônjuge, na classificação do IBGE. Segundo o instituto, o crescimento dessas famílias aparece só em números absolutos - percentualmente, no mesmo período, houve redução (de 18,2% para 16,3%, algo que se explica pela formação de novos modelos de família, como os casais sem filho, por exemplo.) O bicho (do machismo) pega mesmo quando se comparam homens e mulheres: em 2015, as mães solteiras representavam 26,8% das famílias com filhos; já os pais solteiros, 3,6%. Sim, apenas 3,6%.

“Pode-se dizer que a não-maternidade é uma tendência crescente nos meios urbanos. Segundo pesquisas recentes, uma em cada cinco mulheres chegaram recentemente aos 40 e poucos anos sem filhos – o dobro do que a geração passada. Já se fala em geração NoMo, ou Not Mothers.” No blog #AgoraÉQueSãoElas, da Folha, a escritora e roteirista Kiti Tassis, que não é nem nunca sonhou ser mãe, apresenta sua geração, movida principalmente pelos direitos de liberdade e independência.

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