Excepcionalmente, o Meio sai este sábado com uma edição extra dedicada inteiramente à crise política provocada pela delação premiada de executivos do grupo JBS.

Temer parte para o ataque

Eram quase 15h de sábado quando o presidente Michel Temer subiu ao púlpito do Planalto para fazer o segundo pronunciamento público desde o início da crise. “Essa gravação clandestina”, disse, “foi manipulada e adulterada com objetivos nitidamente subterrâneos.” Ele partiu então para um duro ataque contra o empresário Joesley Batista e a JBS. “O autor do grampo está livre e solto, passeando pelas ruas de Nova York. O Brasil que já tinha saído da mais grave crise econômica vive agora dias de incerteza. Ele não passou nenhum dia na cadeia, não foi preso, julgado e punido. Pelo jeito, não será, cometeu o crime perfeito. Graças a essa gravação fradulenta, especulou contra a moeda nacional. A notícia seguramente foi vazada por gente ligada ao grupo empresarial, que antes de vazar a informação, comprou US$ 1 bilhão, porque sabia que isso provocaria o caos no câmbio.” Enquanto o presidente se defendia, seu advogado dava entrada, no STF, com um pedido para que o inquérito aberto contra ele seja suspenso até que um perito avalie se a gravação foi editada ou não. Em vídeo.

O pessoal do Aos Fatos fez a checagem do discurso.

Igor Gielow: “Michel Temer encontrou um fio narrativo para se apegar, apostando na clássica desqualificação dos acusadores e de seus métodos, além de piscar para a elite política e empresarial que serviu de esteio para seu frágil governo até aqui. A aposta de Temer de que o STF começará a baixar a fervura da crise é central. Se suspender o inquérito, a corte arrisca colocar automaticamente em dúvida todo o trabalho da PGR.” (Folha)

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A Folha contratou um perito para analisar a gravação da conversa entre Joesley Batista e o presidente. Ele encontrou mais de 50 cortes que indicariam manipulação do áudio. Outro perito, ouvido pelo Estadão, identificou 14 pontos de edição. Segundo esta avaliação, porém, não há mexida entre o 6º e 12º minutos, quando conversam sobre Eduardo Cunha.

Aliás... O empresário usou um gravador especial para o registro. Temia passar por um detector de metais quando foi conversar com o presidente.

A chave para o Planalto é manter ao máximo sua base de sustentação política. E, no centro, está o PSDB. A bancada tucana na Câmara quer deixar o governo; a do Senado hesita. O novo presidente da sigla, Tasso Jereissati, defende que a renúncia é o melhor caminho. Mas não fala abertamente. Segundo Daniela Lima, da Folha, teme a insegurança do futuro imediato: não está claro quem venceria uma eleição indireta no Congresso. Os tucanos, aliás, defendem uma candidatura do próprio Tasso. No Globo, a repórter Júnia Gama é mais assertiva. “O governo acabou”, ela ouviu de um político tucano. “O que estamos fazendo é tentar encontrar saída negociada para abreviar o sofrimento.”

Enquanto isso... No início da tarde deste sábado, a executiva nacional do PSB decidiu desembarcar do governo Michel Temer e pedir sua renúncia. O partido tem 35 deputados — é o sétimo maior da Câmara — e sete senadores — a quarta bancada. No governo, tem um ministro, Fernando Bezerra Coelho Filho, que ocupa a pasta de Minas e Energia.

Dois ministros do Supremo estão citados no inquérito que investiga Temer e Aécio. Um é Gilmar Mendes. O telefone do senador tucano estava grampeado e uma conversa sua com Gilmar foi capturada. Aécio pede ao ministro que converse com outro senador, Flexa Ribeiro, para convencê-lo a votar favoravelmente à Lei de Abuso de Autoridade. Gilmar diz que o fará. O outro é Alexandre de Moraes. Ele foi mencionado na conversa entre o senador e o presidente da JBS. Aécio conta a Joesley que, junto a Temer e Moraes, estava tentando “organizar uma forma de impedir que as investigações avançassem, por meio da escolha de delegados que conduziriam os inquéritos”. (Jota)

Nenhum dos ministros é investigado. São apenas mencionados. Mas acaso o inquérito descubra participação deles, o Supremo pode se ver na posição de julgar um dos seus. (Estadão)

A imprensa está dividida. Dos três jornalões, a Folha é a única que não se manifestou por editorial. O Globo pediu a renúncia do presidente enquanto, por sua vez, o Estadão o vê encurralado pela atuação irresponsável de quem orquestrou o vazamento.

O Globo: “Este jornal apoiou desde o primeiro instante o projeto reformista do presidente Michel Temer. Acreditou e acredita que, mais do que dele, o projeto é dos brasileiros, porque somente ele fará o Brasil encontrar o caminho do crescimento, fundamental para o bem-estar de todos. Mas a crença nesse projeto não pode levar ao autoengano, à cegueira, a virar as costas para a verdade. A renúncia é uma decisão unilateral do presidente. Se desejar, não o que é melhor para si, mas para o país, esta acabará sendo a decisão que Michel Temer tomará. É o que os cidadãos de bem esperam dele. Se não o fizer, arrastará o Brasil a uma crise política ainda mais profunda que, ninguém se engane, chegará, contudo, ao mesmo resultado, seja pelo impeachment, seja por denúncia acolhida pelo Supremo Tribunal Federal. O caminho pela frente não será fácil.”

Estadão: “O vazamento de parte da delação do empresário Joesley Batista para a imprensa não foi um acidente. Seguramente há, nos órgãos que têm acesso a esse tipo de documento, quem esteja interessado, sabe-se lá por quais razões, em gerar turbulência no governo exatamente no momento em que o presidente Michel Temer parecia ter arregimentado os votos suficientes para a difícil aprovação da reforma da Previdência. Durante as horas que se seguiram à divulgação da existência do explosivo material, mesmo que não se soubesse o exato teor do que disse Temer, criou-se um fato político gravíssimo. A demora em tornar pública a gravação se prestou, deliberadamente ou não, a prejudicar o acusado, encurralando-o. Nesse clima de fim de mundo, revoam os urubus. Parlamentares e líderes políticos, uns mais criativos que outros, propõem as soluções mais estapafúrdias para uma crise que só existe porque grassa a insensatez entre aqueles que deveriam preservar a estabilidade no País.”

O G1 publicou um especial que resume os principais pontos da delação da JBS.

Vera Magalhães: Um dos principais braços-direitos do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, deixou o Ministério Público em março para se juntar ao escritório Trench, Rossi & Watanabe. Foi também em março que este mesmo escritório começou a negociar, com Janot, a delação premiada da JBS. (Estadão)

Mônica Bergamo: Há uma articulação em curso no Senado para desafiar o Supremo e derrubar a suspensão do mandato de Aécio Neves. (Folha)

O MBL havia pedido a renúncia de Temer — recuou. O Vem Pra Rua já havia marcado manifestação contra o presidente para o dia 21. Cancelou-a alegando falta de segurança. (Folha)

Acaso Temer deixe o governo e Rodrigo Maia assuma pelos 30 dias indicados pela Constituição, ele será o primeiro presidente da República que não nasceu no Brasil. Rodrigo é chileno. Mas foi registrado no consulado durante o exílio de seu pai, o ex-prefeito carioca Cesar Maia. Este registro o torna, em termos formais, brasileiro nato.

Para ler com calma: Moysés Pinto Neto disseca a estrutura política brasileira e a história recente. Assim, mostra como pensam e agem a esquerda, a direita e o centrão fisiológico. É uma aula sobre como nasceu a crise.

E um pouco de humor... a turma do Sensacionalista pede liberdade para a repórter Andréia Sadi, da GloboNews. Ela está presa perante as câmeras, ao que parece 24 horas por dia, desde a quarta-feira.

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