Em Brasília, a tensão se eleva

Brasília tem vivido dias de agitação e desencontros. O que os governistas falam perante as câmeras não é o que dizem longe delas. Ontem, mudou. O líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros, foi o primeiro a dizer abertamente: “o ideal seria conversar com o presidente para fazer uma transição rápida e negociada.” Aos sussurros, a data limite que os políticos se impõem para o fim da crise é 6 de junho, quando se reinicia o julgamento da chapa Dilma-Temer, no TSE. (Estadão)

Os nomes de Nelson Jobim (PMDB) e Tasso Jereissati (PSDB) ganham força entre os caciques, no caso do afastamento de Temer. O PT não apoiará Jobim. Tampouco o vetará. Mas, no acordo que está sendo costurado, há um receio: durante 30 dias, enquanto não houver o pleito indireto, Rodrigo Maia presidirá o país. Os verdadeiros eleitores são o baixo clero da Câmara. E eles podem simplesmente ignorar o consenso dos líderes partidários. (Folha)

Um bom termômetro da Brasília vacilante atual é o ir e vir de Fernando Henrique Cardoso. O Nexo compilou suas várias mudanças de opinião nos últimos dias.

Não custa repetir o alerta de Igor Gielow, da Folha: “Essa é a fotografia da terça (23), distinta da registrada semana passada e, provavelmente, das seguintes.”

Tampouco custa repetir o alerta de Jorge Bastos Moreno, do Globo: “Renan está cantando de galo, mas não imagina a trolha que está vindo contra ele lá do Supremo.”

Aliás... o presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), retirou da pauta o Projeto de Emenda à Constituição que institui eleições diretas para situações como a atual. (Estadão)

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A tensão latente na capital explodiu em local improvável, a sala da Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. Na esperança de passar a mensagem de que tudo segue a normalidade, o governo tenta manter o calendário das reformas e a primeira da lista é a que mexe na CLT. A oposição tentou bloquear a leitura do texto para evitar que fosse a voto na próxima terça-feira. No jogo em torno de regras do regimento, o governo levou por 13 votos a 11. Houve gritos, raiva e quase uma briga. O tucano Ataídes de Oliveira teve de ser retirado com força para que não se atracasse com Randolfe Rodrigues, da Rede. (Estadão)

O deputado afastado Rodrigo Rocha Loures entregou à Polícia Federal a mala com a qual foi flagrado recebendo do diretor da JBS Ricardo Saud. Lá dentro estavam R$ 465 mil, R$ 35 mil a menos. (Globo)

De Fabio Salvador, responsável na PF pela perícia da gravação entre Joesley Batista e Michel Temer, criticando os advogados do presidente: “Achei muito precipitado tirar uma conclusão tão objetiva, tão peremptória em apenas 24h. Tenho certeza que não é possível conseguir fazer um trabalho seguro em tão pouco tempo. Mas a gente só vai saber o que aconteceu quando tiver uma perícia isenta. Existem critérios e um método para ouvir diversas vezes, filtrar e refiltrar.” (Globo)

Aécio Neves se manifestou pela primeira vez desde a explosão da JBS. “Não fiz dinheiro na vida pública”, garante em vídeo. (Estadão)

O Supremo tornou públicos os áudios de mais de 2.800 conversas telefônicas referentes à operação da JBS. No meio está um diálogo entre a irmã de Aécio, Andrea Neves, e o jornalista Reinaldo Azevedo. Ele busca informações para uma nota e não há qualquer relação com os crimes investigados. A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo critica a violação do sigilo de fonte.

Em artigo para o UOL, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, defende o acordo de delação com os irmãos Batista. “Para os que acham que saiu barato, anoto as seguintes considerações pouco conhecidas. No acordo de leniência, o MPF que atua no primeiro grau propôs: o pagamento de multa de R$ 11 bilhões; as punições da Lei de Improbidade e da Lei Anticorrupção ainda estão em aberto; no que se refere às operações suspeitas no mercado de câmbio, não estão elas abrangidas pelo acordo e os colaboradores permanecem sujeitos à integral responsabilização penal; a colaboração é muito maior que os áudios questionados.”

Elio Gaspari: “Há uma falta de sintonia entre Brasília, onde se negociam acordos, anistias e solturas, e a essência moralizadora da Lava-Jato. A oligarquia brasileira está ferida, mas luta bravamente. A operação tabajara do áudio de Batista poderá derrubar Temer, mas terá ferido a Procuradoria-Geral.” (Globo e Folha)

Assim o jornalista Anderson Cooper abre sua longa reportagem a respeito da Operação Lava Jato que foi ao ar no 60 Minutes, da CBS, neste domingo: “Imagine que a investigação de Watergate tivesse levado não só à queda do presidente Nixon mas também a suspeitas sobre seu sucessor, aos presidentes da Câmara e do Senado, um terço dos ministros e mais de 90 parlamentares. Isso dá uma ideia do que está ocorrendo no Brasil neste momento.” Mentor Neto publicou uma versão legendada do vídeo no Facebook.

E nova crise bateu no 3º andar do Planalto, onde ficam os gabinetes de Michel Temer e seus principais assessores. Na investigação de suspeita de superfaturamento do estádio Mané Garrincha, foram presos os ex-governadores do Distrito Federal José Roberto Arruda e Agnelo Queiroz, além do ex-vice, Tadeu Filippeli. Filippeli é um dos raros assessores com gabinete próximo ao do presidente.

E agora de manhã... mais um assessor do 3º andar pediu demissão. Sandro Mabel.

Paulo Maluf foi condenado, por unanimidade, por lavagem de dinheiro. Deverá perder o mandato de deputado, pagar multa de R$ 1,3 milhão e cumprir prisão de 7 anos, 9 meses e 10 dias em regime fechado. A defesa ainda tem direito a recursos. Um de seus objetivos é converter a pena para prisão domiciliar.

Viver

Em mais uma ação na cracolândia, no centro de São Paulo, uma escavadeira foi levada ao local para demolir imóveis. Pois deixou três feridos ao iniciar a demolição de uma pensão - que ainda tinha moradores dentro. Ouvidos pela Folha, eles dizem que não foram avisados sobre a ação. A prefeitura nega.

A nova operação, aliás, foi “uma selvageria sem paralelo", nas palavras do promotor da área de saúde do Ministério Público de São Paulo, Arthur Pinto Filho. “Não tem paralelo você destruir casas com pessoas dentro. Temos informação que deram duas horas para pessoas saírem de casa sem saber para onde iam. Então nós vamos nos reunir agora porque o que nos parecia uma coisa que poderia até ter um encaminhamento razoável daqui para frente ficou impossível.” (Folha)

No Rio, moradores e instituições do Complexo da Maré fazem hoje uma marcha contra a violência crescente na comunidade. Só nos primeiros quatro meses deste ano, 18 pessoas foram assassinadas nas favelas do complexo - mais do que o total de assassinatos do ano passado (16), escreve Eliana Silva, da Redes da Maré, no blog #AgoraÉQueSãoElas. A marcha de hoje é parte de um fórum permanente, batizado de Basta de Violência, Outra Maré É Possível. Está marcada para 13h, no Parque União. 

Existem 47 mil crianças e adolescentes em abrigos no Brasil, mas só 7.300 delas podem ser adotadas. Burocracia e questões judiciais são os principais empecilhos, relata o Globo, em reportagem que reúne dados sobre a adoção no país.   

Cultura

O James Bond que mais foi James Bond, o mais famoso dos espiões da franquia 007, ao lado de Sean Connery, Roger Moore morreu ontem, aos 89 anos. Foi o ator o que por mais tempo representou o personagem - ao longo de 12 anos, em sete filmes.

“Ele era a síntese do cavalheirismo inglês”, resumiu o Guardian. Já o crítico decano Inácio Araújo, da Folha, observou: “Seria tão injusto dizer que fracassou quanto que foi um 007 extraordinário”. 

Galeria: relembre Roger Moore como James Bond, de 1973 a 1985

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A tradicional tenda dos autores da Flip, neste ano, não será uma tenda. Foi "transferida" para dentro da igreja matriz de Paraty. O motivo, segundo o diretor-geral do maior festival literário do país: “A situação do Brasil, econômica e em todos os sentidos, teve uma forte influência nessa decisão”. (Globo)

O consumo de música por serviços de streaming cresceu 52,4% em relação a 2016. O ano passado terminou com 112 milhões de usuários de Spotify, Deezer, Google Play, Apple Music e Napster. (Estadão)

Em vídeos: o Globo lista as dez músicas mais tocadas no Brasil pelos serviços de streaming.

Anne Trench, diretora de consumo global da Netflix, em entrevista à Folha: “Quando demos a eles [os consumidores] o poder de escolher o que e quando ver, eles fizeram as coisas de maneira diferente do que você vê na TV linear. Uma é comédia em vez de manchetes pela manhã. Eles querem começar o dia com programação mais engraçada. E no meio da noite encontramos uma audiência mais ativa do que seria de esperar, se nos baseássemos no que a TV apresenta”.

Cotidiano Digital

O ucraniano Artem Vaulin foi solto ontem, sob fiança. Estava em prisão temporária desde julho de 2016, quando parou na Polônia no caminho para férias na Islândia. Acusado de comandar o serviço de downloads popular para pirataria Kickass Torrents, não pode deixar o país, reclama de maus tratos na prisão. Raramente seu crime leva a encarceramento tão longo antes de uma condenação.

A Ikea vai lançar nos EUA lâmpadas inteligentes que podem ser controladas por celular, detectores de movimento e assistentes digitais. Já há concorrentes no mercado, principalmente a série Hue, da Philips. Mas as da Ikea são as primeiras baratas, o que promete popularizar a tecnologia.

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