Um dia de derrotas para Temer

Duas decisões distintas complicaram, simultaneamente, a vida de Michel Temer. A primeira foi do ministro Luiz Edson Fachin, do STF. Ele mandou separar em dois inquéritos distintos o que investiga o presidente e o que vai atrás de Aécio Neves. Fachin, porém, manteve o deputado Rodrigo Rocha Loures, e sua mala de R$ 500 mil, na investigação de Temer. Os advogados de defesa do presidente queriam afastá-lo tanto quanto possível do desconcerto provocado por uma mala cheia de dinheiro em espécie. Não conseguiram. (Estadão)

A segunda decisão partiu de vários parlamentares, todos em resposta ao gesto de Temer no fim de semana, que sacou num repente Oscar Serraglio do ministério da Justiça. Pois Serraglio decidiu que não aceitará outro cargo na Esplanada e volta para a Câmara. O problema: Rocha Loures tem assento no Congresso por ser primeiro suplente da bancada peemedebista do Paraná. Com a volta do titular, perde o cargo e, com ele, o foro privilegiado. Há outros três parlamentares na bancada: João Arruda, Hermes Parcianello e Sérgio Souza. Todos pertencem ao grupo político do veterano senador Roberto Requião, que se porta como se da oposição fosse. E nenhum deles está disposto a assumir um ministério para facilitar a vida do assessor do presidente.

No caso da mala de R$ 500 mil, Rodrigo Rocha Loures está atrelado a Temer e, por isso, continuará no STF. Mas, sem foro, já pode ser preso. O que, some-se à mulher grávida de oito meses, aumenta o incentivo para delação. (Globo)

Igor Gielow: “Além de ter sido filmado com R$ 500 mil em propinas, já devolvidas em parcelas, oriundas da JBS, Loures é unha e carne com Temer. A expressão ‘carregador de mala’, corrente em Brasília para designar assessores de confiança máxima, ganha contornos realistas no caso dele. Por mais que o presidente tente se afastar do aliado, o mundo político todo sabe da proximidade entre os dois.” (Folha)

Não bastasse, Fachin ainda autorizou o interrogatório de Temer pela Polícia Federal. Consentiu, porém, que seja por escrito. No Planalto, conta Andréia Sadi, o receio é de que, prestado o depoimento, a Procuradoria-Geral da República corra para apresentar denúncia contra o presidente antes do início do julgamento de cassação da chapa, no TSE. O receio é de que uma denúncia poderia contaminar os ministros da Justiça eleitoral. Para evitar o risco, os advogados de Temer apresentarão agravo ao plenário do Supremo para tentar adiar o encontro do presidente com a PF.

Aliás... Fachin é o novo presidente da Segunda Turma do STF. O relator da Lava Jato passa a ter, portanto, controle da pauta e define o que será analisado e quando.

E... com a separação dos inquéritos, o processo contra Aécio Neves seguirá para outro relator. Via sorteio.

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Temer sofreu outra derrota. A bancada de seu partido, no Senado, decidiu manter Renan Calheiros na liderança do PMDB. Preocupado com sua eleição em Alagoas, Renan tem se mostrado um duro crítico das reformas.

Michel Temer não deu muito espaço para que Fernando Henrique fizesse sua análise da situação, na reunião que tiveram na noite de segunda. “Parecia que estava numa trincheira, disposto a resistir a tudo”, afirmou um cacique tucano ao repórter Gerson Camarotti. Isto posto, nem FH, nem Tasso Jereissati, ficaram em silêncio. Tales Faria, editor do Poder360, ouviu que para o PSDB o limite é a economia. Caso ela dê mostras de desaquecimento por conta da crise, o partido desembarca. Os dois deixaram claro para Temer, também, que a pressão interna para que a legenda deixe o governo rápido é intensa.

Raymundo Costa, do Valor, mostra o nível de divisão dentre os tucanos. O governador paulista Geraldo Alckmin quer deixar o governo e já tem, em mãos, um parecer jurídico que o permitiria concorrer à eleição indireta. FH, Tasso e Serra dão apoio a Temer pelo menos enquanto não há fato novo e as reformas estão em votação. Aécio, desestruturado, também quer continuar. Mas seu companheiro na bancada mineira, o senador Antonio Anastasia, gostaria de se juntar ao tucanato jovem da Câmara, favorável à saída. O prefeito João Doria teme que um novo presidente, agora, se torne um candidato popular em 2018 e prefere manter o cenário como está — mas ele tem pouca influência sobre as bancadas no Congresso.

Enquanto isso... parte dos jovens deputados tucanos, os ‘cabeças pretas’, ameaça deixar a sigla se não houver rompimento. Dizem que a cúpula do partido “perdeu a conexão com a realidade”. (Folha)

Uma conversa entre os senadores Aécio Neves e Zezé Parrela, divulgada pela Polícia Federal, flagra um momento de tensão entre ambos. Aécio se queixa de Parrela ter se vangloriado de não estar na lista da Lava Jato. “Como é que você acha que você chegou no Senado?“, questiona Aécio. “Sua campanha foi financiada do mesmo jeito que a minha.” Parrela afirma que estava se defendendo de constantes críticas por conta do episódio em que um helicóptero seu foi flagrado com cocaína. E aí, em tom de brincadeira, diz. “Eu não faço nada de errado, eu só trafico droga.” Ambos riem. (Estadão)

A holding dos irmãos Joesley e Wesley Batista, J&F, fechou acordo de leniência com o Ministério Público Federal. Pagará, só ao governo brasileiro, multa de R$ 10,3 bilhões parcelada ao longo de 25 anos. Trata-se do maior acordo do tipo já selado no mundo. A Odebrecht, por exemplo, concordou com uma multa de R$ 8 bilhões para Brasil, Suíça e Estados Unidos. (Estadão)

O ex-ministro Antonio Palocci está oferecendo à Lava Jato, além de informações sobre a relação com Lula, outras três linhas de delação. Quer explicar o sistema através do qual André Esteves, do BTG Pactual, comprava medidas provisórias que beneficiavam bancos privados, no Congresso. Pretende contar, também, os bastidores envolvendo o empresário Abílio Diniz na disputa do controle do Grupo Pão de Açúcar com os franceses do Casino. E se oferece para abrir o esquema de corrupção no Carf, conselho que avalia dívidas perante a Receita Federal. Palocci gostaria de cumprir sua pena em prisão domiciliar. (Folha)

O STF deve votar, hoje, processo que colocará fim ao foro privilegiado de umas 200 autoridades. O relator, ministro Luís Roberto Barroso, acha que o foro só se aplica em crimes cometidos durante e em razão do exercício do cargo. (Globo)

Um caminhão bomba explodiu no início da manhã de quarta, na capital afegã de Kabul, no bairro das embaixadas e bem próximo ao palácio presidencial. Pelo menos 80 morreram. (New York Times)

Cultura

Criticada em 2016 pela falta de autores negros e pela parca presença de mulheres, a Flip deste ano se cercou de diversidade. Pela primeira vez no maior festival literário do país, as mulheres serão maioria — 24, ante 22 homens — e os negros, 30% dos convidados. Já no orçamento, nada de novo: outra vez, como ocorre desde 2014, a Flip teve corte de cerca de R$ 1 milhão com relação à edição anterior. (Globo)

Curadora deste ano, Joselia Aguiar disse à Folha que foi árdua a tarefa de levar mais autoras ao festival: “A oferta de homens é maior, eles são mais premiados e mais conhecidos. As mulheres também recusam mais viagens do que os homens, certamente por questões ligadas ao machismo.”

A propósito: O Globo apresenta a programação completa da Flip, que, neste ano, tem Lima Barreto como autor homenageado.

Começa junho e, com ele, vêm as estreias nos serviços de streaming. A Netflix lança a quinta temporada de Orange is The New Black e, entre outros, o longa Okja, que levou ao Festival de Cannes. Surfando na onda da “volta” de David Lynch (com Twin Peaks), Amazon e Hulu disponibilizam o mais famoso filme do diretor, Veludo Azul, a partir de hoje. A Rolling Stone lista mais lançamentos deste mês.

Uma ode aos memes: um artigo no site especializado Artsy avalia-os como arte, descendentes de cânones da história da arte, como Man Ray e Andy Warhol. São ainda, segundo o texto, uma forma de arte de resistência: “Memes resistem à cultura normativa de hoje assim como a performance perturbou o modernismo nos anos 1960.”

Para os fãs de ficção científica: o diretor Neil Blomkamp, à frente de ótimas produções recentes de sci fi, como Distrito 9, Elysium e Chappie, criou o Oats Studios. Trata-se de um projeto para a criação e a distribuição de pacotes de curtas experimentais de ficção científica.

Viver

Nas operações policiais na cracolândia, em São Paulo, foi encontrado o irmão de Suzane von Richthofen, Andreas Albert von Richthofen. Ele tinha 15 anos quando os pais morreram, assassinados pela irmã, condenada pelo crime. O Globo teve acesso ao prontuário de Andreas, que indica “abuso de substâncias ilícitas”.

Drauzio Varella: “A sociedade tem uma visão míope desse tipo de problema. Você vai lá e limpa aquela sujeira e tira as pessoas de lá e parece que está resolvido o problema. Se fosse assim, seria a coisa mais fácil do mundo. O que estamos vendo? A cracolândia aumentar a cada ano. Cada intervenção sem planejamento se torna mais difícil. Tem algum sentido ter programa da prefeitura e do Estado? Tem que somar forças. O crack é um problema suprapartidário”. (Folha)

Clarice Madruga, psicóloga que há cinco anos atua na cracolância, diz que “todos os direitos humanos possíveis e imagináveis” já eram desrespeitados com a ação de traficantes, os verdadeiros “tiranos” dos dependentes químicos na região. “Vi crianças sendo espancadas, com braço e perna quebrados, porque não seguiram alguma regra. Vi usuário vindo à tenda (do programa Recomeço, estadual) para pedir intervenção e ser esfaqueado lá dentro porque estava devendo.”

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Vídeo: uma série de quatro produções (em 360º) do New York Times mostra a Antártida, ora sobrevoando o gelo, ora sob ele.

Lembra da escultura de uma destemida garota instalada diante do touro de Wall Street? Aquela que deveria lembrar a força das mulheres no mercado financeiro? Pois a obra, ontem, ganhou um  inconveniente vizinho, uma nova escultura - a de um cachorro com a pata erguida, em pleno xixi. A obra, Pissing Pug, segundo seu autor, foi feita justamente para “rebaixar” a escultura da menina.

Cotidiano Digital

96% dos brasileiros compartilham informações nas redes. Destes, 66% dos entrevistados publicam fotos dos filhos e 45% falam de divulgar vídeos privados e fotos de outras pessoas. 22% dizem já ter deixado o celular, desbloqueado, com outros. E 6% compartilharam o PIN para acessar o aparelho. A pesquisa, mundial, foi realizada pela empresa Kaspersky Lab, de segurança. O padrão brasileiro não é muito diferente da média mundial.

Se depender da Ancine, todas as peças publicitárias em vídeo veiculadas na internet terão de pagar a taxa do Condecine, que financia o fundo de fomento do cinema nacional. O valor chega a R$ 205,57.

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