Trump deixa o Acordo de Paris; não acredita na ciência

Por volta das 19h30 de ontem, hora de Brasília, o presidente francês Emmanuel Macron lançou no Twitter uma imagem com o slogan ‘Make Our Planet Great Again’. Em inglês mesmo — gesto raro para um político gaulês, mas cuidadosamente construído para o público mundial que acompanha as redes. Respondia ao impensável: seu par americano, Donald Trump, anunciou que os EUA estão deixando o Acordo de Paris sobre o Clima. Ainda assim, Trump apenas cumpriu uma promessa de campanha: afirma que o tratado custa empregos em seu país. E seu slogan, ironizado por Macron, é ‘Make America Great Again’. A saída, no entanto, não é imediata — como o acordo já foi assinado, há uma série de passos a seguir, e o processo leva anos. A desistência em definitivo só ocorrerá em 4 de novembro de 2020, quando o sucessor de Trump já tiver sido eleito. Por isso mesmo, o tema deve aumentar em relevância na campanha eleitoral.

O Acordo de Paris prevê que todos os signatários — 195 países, incluindo o Brasil — terão metas para reduzir a emissão de carbono, causador das mudanças climáticas. No caso americano, o objetivo era chegar a 2025 emitindo algo entre 26% e 28% menos do que os níveis registrados em 2005. Alguns dos estados mais ricos dos EUA têm legislação ambiental rigorosa e progressista. Inclui Nova York e Califórnia — isto não mudará. Mesmo assim, a queda ficará aquém do previsto, entre 15% e 19%. Parte do acordo incluía ainda o pagamento, pelos EUA, de US$ 3 bilhões em ajuda para que países pobres possam se adaptar a novas fontes de combustível e coibir o desmatamento. Durante o governo Obama, US$ 1 bilhão deste montante seguiu seu destino. Trump não pagará o resto da conta. E o principal custo da decisão para os EUA pode ser justamente na economia. Há uma corrida tecnológica limpa em curso, e companhias chinesas e europeias têm apoio e subsídios de seus governos. (New York Times)

A saída dos EUA do acordo gerou uma onda de reações mundo afora. Lamentaram a decisão Tim Cook, da Apple, Elon Musk, da Tesla, cientistas, ativistas, o Vaticano, Hilary Clinton e até Arnold Schwarzenegger. O Guardian vem compilando as reações desde ontem, em tempo real.

Não adianta culpar apenas Trump: seu Partido Republicano é a única grande força política ocidental que não aceita a ciência por trás das mudanças climáticas. Uma pesquisa de outubro do ano passado mostra como o país está rachado: 70% dos democratas à esquerda dizem acreditar nos cientistas; apenas 15% dos republicanos à direita fazem a mesma afirmação.

A resistência: três governadores, 30 prefeitos, 80 reitores de grandes universidades e mais de 100 empresas dos EUA estão se organizando para compensar os esforços e cumprir as metas americanas. (New York Times)

Uma lista: cinco efeitos globais da decisão de Trump. Do enfraquecimento do Acordo de Paris ao ganho de protagonismo da China.

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Enquanto isso, na Antártida… Uma rachadura na maior plataforma de gelo do continente cresceu de forma acelerada e mudou radicalmente de rumo, no mês passado. A fenda aumentou 16km e fez uma curva, movimento que pode adiantar o descolamento do imenso iceberg — ele mede o equivalente a 500 mil campos de futebol. Embora seja um fenômeno geográfico, e não climático, os cientistas concordam que o aquecimento global pode, sim, apressar a ruptura do bloco de gelo.

O irmão de Suzane von Richthofen, Andreas Albert von Richthofen, não foi detido na cracolândia em São Paulo, como informou o Globo, citado cá em nota no Meio. Na verdade, a polícia o abordou em bairro distante da cracolândia, após invadir uma casa. A informação errônea chegou ao jornal por funcionários do hospital onde Andreas foi internado. Ainda assim, seu prontuário médico indica “abuso de substâncias ilícitas".

Um guia para iniciantes na arte de ir de bicicleta para o trabalho. O New York Times faz uma lista detalhada, que inclui desde gestos que os ciclistas devem usar no trânsito até a necessidade de levar roupas extras e toalhas para se secar antes de começar o expediente.  

Política

O presidente Michel Temer acredita que vencerá no julgamento que começa no TSE, terça-feira. Ele parte do princípio de que pode contar com os votos de quatro dos sete ministros: o presidente Gilmar Mendes, Napoleão Nunes e os dois que indicou no último mês, Admar Gonzaga Neto e Tarcísio Vieira Neto.

A tese que se tenta emplacar é de que à ação original contra a chapa Dilma-Temer foram sendo adicionados novos indícios indevidamente. Um truque jurídico: assim, as delações da Lava Jato, por exemplo, deveriam ser excluídas como provas. E, sem tais provas, nada seria forte o suficiente para levar a uma condenação. (Folha)

Os ‘cabeças pretas’ do PSDB, grupo de jovens deputados federais, pretendem deixar o governo assim que o ministro-relator do caso, Herman Benjamin, se manifestar favorável à cassação da chapa encabeçada por Dilma e Temer. O Planalto acredita que a debandada ocorrerá mesmo que os senadores tucanos continuem onde estão. (Globo)

No início da tarde, o ex-ministro da Justiça Osmar Serraglio retornou à sua cadeira na Câmara dos Deputados e seu suplente, Rodrigo Rocha Loures, deixou o Parlamento. O ex-assessor de confiança do presidente Michel Temer, filmado pegando a mala com R$ 500 mil da JBS, perdeu assim a prerrogativa de só ser preso em flagrante. A Procuradoria-Geral da República já pediu ao STF sua prisão.

Aliás... Joesley Batista tentou conversar uma segunda vez com Temer e, para isso, enviou mensagens a Rocha Loures utilizando-se do app Confide. Neste aplicativo, as mensagens são apagadas logo que lidas. O empresário filmou com outro aparelho a troca.

E... A Justiça bloqueou R$ 800 milhões de reais das contas de Batista. Refere-se ao suposto lucro obtido com a compra e venda de dólares no momento em que a delação vazou. (Estadão)

O ministro Alexandre de Moraes, recém-nomeado por Michel Temer para o Supremo, pediu vistas no julgamento que pode levar ao fim do foro privilegiado e o interrompeu. Não há prazo formal para que Moraes o devolva ao plenário — a decisão está adiada indefinidamente. Para botar alguma pressão, porém, os ministros Marco Aurélio Mello, Rosa Weber e a presidente da corte, Cármen Lúcia, acharam por bem antecipar seus votos: acompanharam a leitura rígida do relator, Luís Roberto Barroso. Dos onze juízes, portanto, já são quatro votos pela restrição do foro. (Globo)

Letícia Sabatella e Márcio Garcia, Marcelo Serrado e Wagner Moura — uma conversa na noite de quarta reuniu artistas que, em 2016, racharam politicamente entre a turma do ‘é golpe’ e a do ‘fora Dilma’. Romperam a polarização que impera no Brasil em prol de uma nova briga comum. Agora é ‘Temer, jamais’. (Folha)

José Paulo Kupfer: a convenção entre economistas é que uma recessão termina quando ocorrem dois trimestres seguidos de crescimento. A alta de 1% entre janeiro e março, anunciada pelo IBGE, ainda não permite afirmar que a economia deslanchou. Os números são puxados por uma safra recorde que calhou de vir junto a uma alta dos preços internacionais. Não vêm com resultado da política econômica e o fenômeno não se repetirá entre abril e junho. Até porque os números dos gastos das famílias, por exemplo, ainda são negativos, afetados por alto desemprego e falta de crédito. (Globo)

O PIBinho e o Problemão

Tony de Marco

Iceberg

Cultura

Depois de duas temporadas, a Netflix anunciou que vai cancelar Sense8. Sem entrar em detalhes ou explicar os motivos, a empresa avisou apenas que, “após 23 episódios, 16 cidades e 13 países”, a série está “chegando ao fim”. O elenco reagiu à notícia no Twitter.

Aliás… trata-se da segunda grande produção cancelada pela Netflix nas últimas semanas. A primeira foi The Get Down, cuja temporada de estreia (e única) teve orçamento inflado, estimado em US$ 120 milhões. Sense8, a cancelada da vez, também custava caro - na segunda e última temporada, consumia cerca de US$ 9 milhões por episódio, segundo o Verge.

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No ano passado, Robin Wright veio a público reclamar que ganhava menos que seu colega de trabalho, o ator Kevin Spacey. A atriz, não sem razão, questionava a diferença - afinal, os dois são igualmente protagonistas de House of Cards, série da Netflix. Depois da queixa, afirmou que a empresa, enfim, tinha igualado os salários. Mas... agora, em nova entrevista, a atriz revelou: “Não acredito que estou recebendo a mesma quantia [que Spacey]. Eles me disseram que iriam aumentar meu salário. Mas acho que não…”. (Globo)

Nos cinemas, a grande estreia desta semana é, sem dúvida, a megaprodução da DC Comics Mulher-Maravilha (trailer), estrelada pela ex-soldado israelense Gal Gadot. Também chegam às telas, entre outros, o drama Ande Comigo (trailer), produção da Dinamarca e da Suécia, e o documentário nacional O Jardim das Aflições (trailer), sobre Olavo de Carvalho. Confira mais lançamentos deste fim de semana.

Para alegrar os nostálgicos: Animaniacs, a série de desenhos animados que tanto fazia sucesso nos anos 1990, voltará às telas. Em parceria com a Warner Bros, Steven Spielberg fará o reboot da atração. O projeto tem razão de ser: Animaniacs angariou boa audiência na Netflix, que, no ano passado, disponibilizou os antigos episódios no catálogo americano. O reboot, porém, não tem nem previsão de estreia.

Uma sugestão de binge-watching para o fim de semana: a Netflix criou um pacote com 20 filmes realizados por diretores negros, pioneiros do cinema, entre os anos de 1915 e 1946. 

O Meio errou ao publicar, na edição de ontem, que Freddie Mercury morreu em 2010. Não se pode negar que teria sido bom tê-lo vivo por mais tempo, mas… o ano correto de sua morte é mesmo 1991.

Cotidiano Digital

Brian Acton, co-fundador do WhatsApp, prestará um depoimento ao STF, hoje. Vai defender o direito de oferecer um serviço de comunicação seguro e inviolável. Ele diz que o Brasil é o único país a questionar a legalidade da criptografia.

O Skype ficará com jeitão de Snapchat. A Microsoft decidiu por uma mudança radical para tentar reposicionar seu aplicativo de comunicação. Uma das novas funcionalidades permite a captura de imagens, criação de gifs e pequenos vídeos para enviar aos amigos. O upgrade para Android já está no ar. Depois virão, em ordem, iOS, Windows e Mac.

Se a máquina de especulações estiver correta, a Apple deve anunciar, semana que vem, um conjunto de assistentes pessoais em resposta ao Google Home e Amazon Echo. As caixas de som dos aparelhos, operadas por comando de voz via Siri, devem ter melhor qualidade do que as concorrentes.

Enquanto isso... A Samsung encontra dificuldades de ensinar inglês para sua assistente Bixby e adiou mais uma vez o lançamento nos EUA.

Falando em celular, o novo Moto Z2 Play da Motorola já está à venda no Brasil.

Para ler com calma: o Nexo explica as conexões da internet brasileira através de cabos submarinos, além dos planos de expansão em andamento.

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