A primeira derrota de Temer

Foi um relatório duro. “São várias pessoas envolvidas”, disse o deputado Sérgio Zveiter na Comissão de Constituição e Justiça. “Elas têm que ser ouvidas, e sem o devido processo legal isto não poderá acontecer. Tantos indícios não podem, simplesmente, ser ignorados.” O presidente Michel Temer é acusado de corrupção passiva por ter recebido, por meio do ex-deputado Rodrigo Rocha Loures, R$ 500 mil em suborno de Joesley Batista. É o dinheiro da mala e do deputado nervoso pelas ruas paulistanas. “A acusação é grave e não se apresenta inconsistente, frágil e desprovida de força probatória.” O argumento de Zveiter vai contra o que a defesa de Temer vem sugerindo. Não faz sentido discutir ausência de provas agora — isto se faz durante o julgamento. E não se trata de condenar o presidente, mas de permitir que o devido processo legal avalie se ele deve ser condenado ou não. “O presidente”, continuou Zveiter, “atendeu a Joesley Batista por livre e espontânea vontade, recebeu no exercício do cargo e para tratar de assuntos públicos, não republicanos.” (Leia o voto completo em PDF, 31 páginas.)

Antônio Cláudio Mariz, advogado de Temer, teve de gritar para ser ouvido após Zveiter. “Lanço um repto ao procurador-geral da República”, disse. “De quanto o presidente, quanto? Das mãos de quem?” Afirmava que Temer não recebera nada e que a acusação não é sustentada por qualquer prova. “É mentira, infâmia, indignação.” O Planalto considera que Zveiter exagerou e produziu um relatório excessivamente político. (Globo)

Lívia Gil Guimarães, do Supremo em Pauta: “O parecer favorável ao processamento da denúncia de Temer teve um tom muito mais jurídico do que político. Se por um lado isso é inusitado para um momento tão político, por outro parece fazer sentido no contexto atual.” (Estadão)

À noite, o governo protocolou uma versão alternativa ao voto de Zveiter.

Ao longo da semana, cada um dos 132 membros da CCJ (66 titulares, 66 suplentes) terá direito a falar por 15 minutos. E até 40 outros deputados — vinte a favor, vinte contra — poderão discursar por 10 minutos. Para estes, vale a ordem de inscrição. O Planalto espera concluir esta fase até sexta-feira, mas o presidente da comissão acena com a possibilidade de convocar sessões semana que vem. Enquanto isso, o governo segue operando: ainda ontem, o PR trocou mais quatro deputados na CCJ.

Ainda assim, é o próprio Temer quem está no comando da articulação. Telefona pessoalmente para os deputados. Só um recebeu três telefonemas em um único dia. (Estadão)

Celso Rocha de Barros: “Assistiremos nas próximas semanas a uma disputa pela presidência entre dois marmanjos que não venceriam eleições para presidente do Bangu. Com o impeachment, o PMDB passou a liderar o campo liberal-conservador. Se Maia vencer a disputa em curso, o equilíbrio anterior, em que essa turma era liderada pela aliança PSDB/DEM, começaria a ser restaurado (talvez como DEM/PSDB). Em especial, se o PMDB trair Temer, seus parlamentares reafirmarão a vocação do partido de ser o aliado de todos os governos, sem nunca ocupar a presidência. Você sorriu imaginando o PMDB traindo Temer, eu vi daqui.” (Folha)

A campanha 342 Agora está na praça em busca de 342 votos de deputados federais para aceitar a denúncia contra Michel Temer. O site oficial lista quais parlamentares são contra (129, hoje), quais a favor (184) e os indecisos (200). E oferece ferramentas fáceis para entrar em contato com parlamentares e pressioná-los.

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A repórter Julia Affonso, do Estadão, tenta conseguir a lista de quem entrou e saiu do Palácio do Jaburu, residência de Temer, entre 13 de maio de 2016 e 25 de maio de 2017. Pela Lei de Acesso à Informação, teria direito. O pedido lhe foi negado já três vezes. Ela tentará recorrer mais uma vez.

Depois de mais uma reunião, o PSDB seguiu sem decidir nada. Enquanto os líderes tucanos nada decidem, o presidente interino Tasso Jereissati foi aos jornalistas. “O que tenho visto é que o partido está desembarcando independentemente do meu controle e da minha vontade.” (Estadão)

A procuradora Raquel Dodge, indicada por Temer para substituir Rodrigo Janot, está ensaiando para a sabatina que enfrentará esta semana no Senado. Ela considera que ficará várias horas respondendo a perguntas.

O Ministério Público Federal de São Paulo vai começar a encarar o rescaldo da Lava Jato no estado. Pediu a instauração de 12 inquéritos que partem da delação premiada da Odebrecht. Inclui acusações de vantagens indevidas no governo do estado e prefeituras por conta de obras como a Linha 2 do metrô e a rodovia Carvalho Pinto. Os nomes de Geraldo Alckmin e José Serra foram citados. (Estadão)

O filho do presidente americano, Donald Trump Jr, se encontrou durante a campanha com um advogado russo que dizia ter informações contra a adversária na disputa, Hillary Clinton. Segundo o New York Times, Trump Jr fora informado de que se tratava de material vindo do Kremlin. A acusação reforça a possibilidade de que o presidente — ou ao menos o comando de sua campanha — estava ciente de auxílio do governo Putin para derrotar Hillary.

Viver

O Plenário do Supremo Tribunal Federal vai julgar no mérito a descriminalização da Cannabis para fins medicinais. A decisão da ministra Rosa Weber, na prática, abrevia o rito — no prazo de dez dias, Presidência da República, Senado, Câmara e Anvisa devem responder a informações por ela requisitadas. Depois disso, a AGU e a PGR têm cinco dias para emitir seus pareceres. (Estadão)

De Drauzio Varella, em entrevista ao El País: “O único lugar em que a mulher tem liberdade sexual é na cadeia. Não existe nenhum outro local na sociedade onde ela é livre assim. As mulheres são reprimidas desde que nascem: a menina de 2 anos de idade senta com a perna aberta e a mãe diz “fecha a perna”. Essa repressão ocorre o tempo inteiro. Comportamentos que são aceitos e naturalizados para um homem são execrados para mulheres. E no presídio, sem os homens, não existe essa repressão social”. O oncologista escreve sobre as penitenciárias femininas no novo livro Prisioneiras, que fecha a trilogia iniciada pela publicação de Carandiru.

“Durante os primeiros meses, meu corpo podia estar sentado, escrevendo ou entrevistando alguém, mas minha alma estava naquele leito do hospital, assistindo a mulher da minha vida partir.” Um ano após a morte da mãe, a repórter Cláudia Collucci escreve na Folha sobre seu luto e, por extensão, sobre o luto nosso de cada perda.

Galeria: no Guardian, retratos de belas cabras, apenas isso, sem mais.

Cultura

Morreu ontem, aos 69 anos, a escritora Elvira Vigna. Sofria de um carcinoma havia anos, mas manteve a doença em segredo, como declarou sua família, para preservar a vida profissional. Desde o diagnóstico, Vigna lançou quatro romances e recebeu importantes prêmios. Seu mais recente livro, Como Se Estivéssemos em Palimpsesto de Putas, de 2016, foi aclamado pela crítica, segundo o Estadão, como um ápice do seu projeto particular de retratar relações interpessoais.

Para ler Elvira: o Nexo convidou três conhecedores da obra da escritora para selecionarem trechos de seus livros.

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Tentando contornar a crise e a falta de patrocinadores (pela primeira vez em sua história), o Prêmio da Música Brasileira será aberto a público pagante (pela primeira vez em sua história). O ingresso, entre R$ 100 e R$ 150, dará direito a ver o elenco estelar que o prêmio costuma reunir, no Teatro Municipal do Rio. Neste ano, o homenageado será Ney Matogrosso e, entre os convidados, está Chico Buarque, por exemplo. (Globo)

Milton Ribeiro explora a ética, a arte e a prática de roubar livros.

A cada dia de 2015, 6 bilhões de emojis foram enviados e recebidos mundo afora. A Nautilus define as carinhas, bichinhos e afins da comunicação na internet como “a linguagem corporal da era digital” e faz uma defesa dos emojis. Sem eles, os textos digitais puros seriam pobres, “emocionalmente áridos”, de acordo com a prestigiada revista.

Segue a saga de Game of Thrones para atiçar fãs antes da estreia, a menos de uma semana. A HBO agora anunciou sinopses e detalhes dos três primeiros episódios da sétima temporada. O Globo também oferece um guia para relembrar as últimas temporadas.

Um ano após a morte de Prince, um crítico ávido da relação da internet com a música, começam a surgir no YouTube vídeos oficiais do cantor. Chegaram lá, por exemplo, as faixas de Purple Rain, When Doves Cry e Let's Go Crazy. (Estadão)

A Marvel terá seu primeiro super-herói chinês. A famosa editora americana de quadrinhos delegou o serviço de criação do personagem a uma empresa chinesa. 

Cotidiano Digital

Dentre os dois assistentes digitais líderes no mercado, o Alexa, da Amazon, disparou em relação ao do Google. Está com 15 mil aplicativos de voz ante 378 do concorrente principal. Os apps são essencialmente comandos que se pode dar: pedir a previsão do tempo, uma música no Spotify ou ligar as lâmpadas inteligentes, por exemplo. O terceiro lugar pertence à Cortana, da Microsoft, com 65 apps.

Aliás... Um desses assistentes digitais estava instalado na casa de um casal americano quando o marido ameaçou a mulher com um revólver. Em algum momento, ele gritou: “Então você chamou a polícia”. A máquina entendeu como uma ordem para ela. E chamou de fato a polícia.

A Universidade de Oxford pôs no ar um mapa do acesso à internet no mundo atualizado para 2015. Seu desenho reflete a distribuição de riqueza no planeta. Mais de 90% da população está na rede em países da Europa, América do Norte, Oceania e cantos pontuais da Ásia. E em nenhum lugar tem tão pouca gente digital quanto na África Subsaariana e noutros cantos da Ásia. Na América Latina há países com acesso na casa dos 60-70% — Argentina, Chile, Uruguai, Venezuela — e os acima de 50% — Brasil, Colômbia e México. O resto está abaixo.

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