Jogo de Tronos em Brasília

Não foi um fim de semana carregado de notícias, mas foram dias de digestão e análise da vitória do presidente Michel Temer. De bate pronto, no dia seguinte à votação na Câmara, o ex-presidente FH classificara como “uma vitória de Pirro”. “Não adianta nada para o país, pois quem deu a sustentação maior ao governo foi o Centrão.” Para FH, o fortalecimento do braço fisiológico do Congresso é na verdade uma derrota. Mas os efeitos políticos, como lembra Bruno Boghossian na Folha, são mais sutis. O governo se sustentava numa aliança com Temer na presidência, o PSDB trazido por Aécio Neves, e o apoio da Câmara por meio de Rodrigo Maia. Com a delação da JBS, esta aliança se partiu. Maia não chegou à presidência da República, mas saiu do jogo de tronos de Brasília mais forte do que entrou, aumentando no caminho a relevância política de seu DEM, cuja bancada deve crescer. Seus objetivos e os de Temer não mais coincidem sempre. Visando 2018, houve uma cisão até na aliança partidária mais longeva e sólida da Nova República: aquela entre PSDB e DEM. “Nossas conversas não se darão só com o PSDB”, lembrou ACM Neto. Com Aécio fraco, os tucanos se dividiram. Geraldo Alckmin mobilizou o braço anti-Temer, enquanto João Doria se inclinou pró-governo. 22 deputados votaram com Temer, 21 foram contra. O racha do PSDB nasce de sua incerteza interna a respeito de quem será o candidato ao Planalto, mas termina reverberando como insegurança a respeito de como se posicionar sobre o país. No coração da crise, o PSDB não tem opinião formada — mau sinal para quem deseja a presidência. Ontem, Temer e Maia se reuniram com outros para tratar de reformas. Em comum, desejam que a da Previdência ande. Se dividem em relação à trabalhista — Temer prometeu o retorno de alguma contribuição sindical para ter votos, Maia é contra. Hoje, conta Andréia Sadi, o presidente se encontra com João Doria. Oficialmente, a pauta é a transferência do Campo de Marte para a prefeitura paulistana. Mas tratarão de uma aproximação. Temer segue costurando a aliança possível. Não será simples. Enquanto tenta manter algum apoio tucano, essencial para as reformas, sua reunião de amanhã será com seu PMDB. Que, segundo a Coluna do Estadão, exige punição para o PSDB.

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Os 108 deputados que votaram por afastar Dilma, Cunha e Temer.

Denis Burgierman: “Dezenas de parlamentares, todos financiados por empresas em cuja existência a maioria de nós nem pensa (Companhia Brasileira de Mineração e Metalurgia, Companhia Brasileira de Alumínio, Anglo Gold, Votorantim, Vale…), estão reescrevendo a lei, sem nenhum debate, sem pesquisa científica independente. A mudança acontece por decreto. Não é um caso isolado. Vem aí, talvez já na semana que vem, um novo sistema de regras para os agrotóxicos. Os especialistas que estão acompanhando dizem que querem nos empurrar pela goela legalizar os agrotóxicos que matam lentamente, causando doenças crônicas como o câncer — só haveria fiscalização contra o envenenamento agudo, súbito. O mesmo vem acontecendo na legislação ambiental e climática e na proteção da terra indígena. Congressistas, praticamente todos envolvidos em escândalos de corrupção, recebendo milhões de empresas com interesses financeiros de curto prazo bem específicos, estão a cargo de reescrever as regras.”

Segundo o ministro Gilmar Mendes, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, “perdeu todas as condições de equilíbrio para continuar exercendo o cargo”. Ele considera que o STF está a reboque dos “impulsos” de Janot. (Estadão)

Diga-se: Elio Gaspari, em sua coluna publicada por Globo e Folha, lembra a inimizade que se forma entre Gilmar e seu colega de pleno, Luis Roberto Barroso. Foi ele quem declarou, após a liberação de Temer pela Câmara, que “a operação abafa é uma realidade visível e ostensiva no Brasil de hoje”.

A peça mais surpreendente dos jornais de domingo é a entrevista do desembargador Carlos Eduardo Thompson Flores Lenz ao mestre repórter Luiz Maklouf Carvalho. Novo presidente do TRF da 4ª Região, que julgará Lula em segunda instância, ele faz largos elogios à sentença condenatória assinada por Sérgio Moro. “Comparo a importância dessa sentença para a história do Brasil à sentença que o juiz Márcio Moraes proferiu no caso Herzog, sem nenhuma comparação com o momento político”, disse. “É uma sentença que não se preocupou com a erudição. É um exame irrepreensível da prova dos autos.” Thompson Flores não está entre os três desembargadores da Oitava Turma que avaliarão o processo, no ano que vem. (Estadão)

O novo governador amazonense será definido em disputa entre Amazonino Mendes (PDT) e Eduardo Braga (PMDB) num segundo turno que ocorrerá no dia 27.

Acompanhado de 20 homens, um ex-capitão tentou tomar o comando da principal base militar de blindados da Venezuela. Não conseguiu, mas escapou levando armas e munições. O governo Maduro teme uma possível rebelião militar.

Sylvia Colombo fala de como foi cobrir a constituinte venezuelana: “‘Estou apagando nosso grupo de conversas, ok?’ A mensagem chegou quando a reportagem da Folha estava no aeroporto de Maiquetía. Quem enviava era a pessoa que ajudou a reportagem a se locomover, de moto e capacete, por Caracas. ‘Vou apagar tudo o que falamos e peço que você apague também, já estão fazendo batidas para inspecionar celulares’, disse a pessoa. Sua preocupação não é gratuita. Desde terça-feira (1º), a Guarda Nacional Bolivariana começou a executar ordens do Sebin (Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional), parando gente na rua para revisar seus celulares.”

Helio Gurovitz: Entre 2006 e 2016, a proporção de regimes livres no mundo caiu de 47% (90 em 193 países) para 45% (87 e 195), de acordo com a Freedom House. Segundo o Índice de Democracia medido pela Economist Inteligence Unit, neste período houve um recuo em 81 dos 167 países avaliados. Vivemos, nas palavras do cientista político Larry Diamond, uma ‘recessão democrática’. Os números caíram, inclusive, nos EUA assim como no Brasil, ambos listados na categoria ‘democracias imperfeitas’.

Cultura

“Existe a Bahia de Caymmi. Existem as Minas Gerais de Milton. Existe o Pernambuco de Alceu. Mas poucas vezes, nesses, há uma declaração de pertencimento a um local que alcança a síntese profunda materializada por Luiz Melodia nos versos: ‘O Estácio/ Acalma o sentido/ Dos erros que eu faço’.” O repórter Leonardo Lichote narrou, no Globo, um tanto da trajetória de Luiz Melodia, que se foi na sexta-feira, aos 66 anos.

Sobre ele, a propósito, Miriam Leitão escreveu texto emocionado, no G1: “Baby, eu não sei. Não tenho por ofício a crítica musical. Nem sei porque escrevo isso aqui. Talvez devesse falar de coisas que sei. Por que alguém assim vai embora aos 66? Eu não sei. Não entendo música, sequer entendo a vida que nos tirou Melodia. Agora estamos aqui sozinhos: ‘O Estácio, eu e você’”.

Nascido no Maranhão, filho de mãe solteira, com irmão gêmeo, Phabullo Rodrigues da Silva, 22 anos, é, talvez, um dos brasileiros mais conhecidos do mundo neste momento. Seu cachê saltou de R$ 2.000 para R$ 50 mil (em um ano) e, ao lado de Anitta, estrela o terceiro clipe mais visto do planeta, por mais de 20 milhões de pessoas. ‘Fluido de gênero’, como se define, Phabullo é a drag Pabllo Vittar, perfilada agora pela Folha.

A Operação Lava Jato vai virar musical. Sim, você leu certo. Musical. Lava Jato. Está previsto para 2018 e tem autorização para captar R$ 706 mil. Ainda não há elenco formado, e pouco se sabe sobre o roteiro. Mas a cena inicial, adiantou o produtor, está definida: Lava Jato, O Musical vai começar com a chegada de Sérgio Cabral ao complexo penitenciário de Bangu. 

A clássica abertura de Friends ganhou uma paródia só com atores negros. É obra de Jay-Z, para o clipe de Moonlight, uma das músicas de seu novo disco, 4:44. Por enquanto, o rapper liberou o vídeo para assinantes do Tidal, serviço de streaming de música do qual é dono. Mas já dá para ver trechos na internet — o diretor do clipe, por exemplo, postou um recorte no Twitter.

Em tempo: uma seleção de gifs extraídos da paródia que Jay-Z fez de Friends.

Viver

Na Califórnia, uma empresa comprou uma cidade inteira para, como relata o Globo, convertê-la no “destino dos sonhos dos simpatizantes da Cannabis”, ou “o paraíso da maconha”. A American Green Inc. anunciou que pretende abrir, por exemplo, lojas apenas com produtos à base da planta. A empresa pagou US$ 5 milhões pelas terras do município de Nipton, que tem 20 habitantes e um trunfo: a localização. Fica a apenas 100km de Las Vegas.

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Da renomada historiadora e feminista, Rebecca Solnit, em entrevista ao Estadão: “Homens têm culpado as mulheres desde que Adão culpou Eva, e aquele modelo feminino como tentação e masculino, como incapaz de resistir, está por trás disso. O desejo masculino, nós somos ensinados, é como a natureza, algo que eles não podem controlar, e as mulheres têm a responsabilidade de não provocar. Ainda temos garotas em escolas ensinadas a não usar roupas que ‘distraiam os garotos’.” Dois de seus livros serão lançados neste mês no Brasil.

Enquanto isso… Um engenheiro do Google divulgou um manifesto sexista, em que defende, por exemplo, que homens e mulheres não têm as mesmas habilidades técnicas. Apanhou de todo lado, a começar por seus chefes dentro da própria empresa.

Vídeo: na Flórida, existe um drive-in que é uma igreja. Ou vice-versa. Fato é que Jesus abençoa o fiel sem que ele precise sair do carro. Nem mesmo para pagar o dízimo — este é recolhido por um membro da congregação, dirigindo um carrinho de golf entre os veículos do ‘rebanho’ estacionados no gramado do drive-in. Pequeno e primoroso documentário do New York Times.

Galeria: Putin está de férias. Trocando em miúdos: há novas fotos suas sem camisa, pescando, caçando ou atualizando o bronze, muito à vontade na natureza — como costuma se exibir nas ocasiões em que tira folga do cargo de presidente da Rússia. 

Cotidiano Digital

A gigante chinesa Lenovo anunciou que seus próximos celulares passarão a rodar uma versão não modificada do Android. O sistema rodará tal qual imaginado pelo Google. Segue, assim, aquilo que já é a prática corrente na Motorola, empresa que a Lenovo comprou em 2014.

A Marvel fechou um acordo com a Oculus Rift, empresa de realidade virtual do Facebook, para lançamento de um game. Pouquíssima gente usa plataformas de RV, e é esta a aposta da editora de super-heróis. Se é para errar, que seja agora, quando quase ninguém está vendo. A ideia é ganhar experiência neste momento da plataforma com a certeza de que dezenas de milhões mergulharão em realidade virtual nos próximos anos. Para a Oculus, por outro lado, é um atrativo. A experiência de encarnar o Hulk pode seduzir novos jogadores.

Aliás... Marvel Powers United é multiplayer. Vários podem jogar ao mesmo tempo, via internet. Veja o trailer.

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