Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

de Carlos Drummond de Andrade, que está ausente, hoje, faz 30 anos

Reforma política trava enquanto políticos batem cabeça

Sem quórum, o deputado Rodrigo Maia achou melhor encerrar a sessão na Câmara sem levar ao voto qualquer um dos artigos da reforma política. Não há acordo. Os parlamentares temem o impacto popular da aprovação de um fundo de R$ 3,6 bilhões para financiar a campanha em meio à crise nas contas do governo. Uma das opções é criar o fundo sem estabelecer valor, permitindo que a Comissão de Orçamento da Câmara o faça no fim do ano. Mas estão, principalmente, inseguros a respeito do Distritão, que mudaria a forma como se elegem deputados e vereadores. Os líderes passarão os próximos dias articulando e o voto está marcado para a terça-feira. (Globo)

Pelas contas do cientista político americano Gary Cox, a composição da Câmara eleita pelo Distritão ou pelo método proporcional no sistema D’Hondt, utilizado hoje no Brasil, muda pouco e praticamente não atinge os partidos pequenos. Mas impõe aos grandes um dilema. No proporcional, os votos de candidatos excessivamente populares são redistribuídos entre outros candidatos da mesma coligação. No Distritão, os votos são dele e apenas dele. Assim, as legendas se vêem obrigadas a pedir que os eleitores não votem em seus nomes mais populares. Sua eleição já é garantida, e os votos de simpatizantes podem ser melhor aproveitados se dados aos nomes menos conhecidos. Mas pedir menos votos não é um cálculo trivial. (Folha)

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Talvez até acredite no que fala: presidente do PMDB, o senador Robero Jucá anunciou que o partido pode voltar ao nome que teve na Ditadura. MDB. “Estamos resgatando nossa memória histórica”, disse, “queremos realmente ganhar as ruas.” Nas eleições de 2018, a descaracterização será grande, com inúmeras legendas tendo passado por um processo de rebranding. O PTN já virou Podemos. O PTdoB será Avante. O PSDC, Democracia Cristã. O PEN quer ser Patriota. E o DEM, na curiosa aliança com um naco do PSB, estuda tornar-se Mude. Vai ser preciso guia.

Não é a única mudança surpreendente na política. O ex-ministro e ex-presidente da Câmara Aldo Rebelo está deixando o PCdoB, partido no qual atuou desde que ainda era clandestino, em 1977. Ainda não informou sua nova sigla.

Vai ao ar hoje à noite o programa de 10 minutos do PSDB. Já dá para assisti-lo na web, divulgado em primeira mão pelo jornalista Fernando Rodrigues. Muitos no partido não gostaram — é um programa forte, feito quase que em solidão pelo presidente da legenda, Tasso Jereissati. Abre repetindo o teaser que já apareceu na TV, de que ‘o PSDB errou’, e segue mais duro. Ataca o Congresso ao afirmar que foi tomado por brigas de ódio, afirma que o presidente Temer governa num sistema de ‘presidencialismo de cooptação’, conseguindo apoio parlamentar em troca de favores. Em um momento, os favores aparecem na forma de cifrões nos olhos de um boneco que representa os congressistas. Daí em diante, o filme se torna uma defesa do Parlamentarismo. Quando o Congresso não consegue resolver uma crise, afirma um locutor, o presidente o dissolve e convoca novas eleições. O único político tucano que aparece com proeminência, e ainda assim só em fotos, é o ex-presidente Fernando Henrique. Os tucanos, não custa lembrar, ocupam quatro ministérios no governo. Um deles é responsável pela negociação com o Congresso. via Pioneiros

Se a delação de Eduardo Cunha não saiu, a do doleiro Lucio Funaro deve ser fechada nas próximas semanas. Terá impacto no Congresso em meio à votação das reformas e pode criar dificuldades na Câmara para bloquear a segunda denúncia contra o presidente a ser lançada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Pelo menos três nomes ligados diretamente a Temer devem ser atingidos: Geddel Vieira Lima, o ministro Eliseu Padilha e o ex-assessor José Yunes.

Aliás... Os advogados de Cunha querem oferecer mais informações em busca de recuperar a delação. Os procuradores se mostraram receptivos. Mas dizem que querem ouvir dados novos até no máximo a semana que vem. (Folha)

Ricardo Noblat: “Durou pouco a garantia dada na segunda-feira pela ministra Cármen Lúcia ao juiz Sérgio Moro de que o STF não recuará da decisão tomada no ano passado a favor da prisão em segunda instância. O ministro Marco Aurélio Mello anunciou, ontem à tarde, que pretende levar para o plenário a análise do mérito de duas ações que tratam da possibilidade de prisão após condenação em segunda instância. O voto que poderá decidir a parada será o de Alexandre de Moraes, que não era ministro em outubro. Era ministro da Justiça do governo Temer. O eventual recuo do STF representará mais um golpe na Lava Jato, como receia Moro.” (Globo)

Percebendo que uma rebelião se formava na direção de uma renúncia coletiva, o presidente Donald Trump dissolveu ontem, no início da tarde, os dois conselhos consultivos que mantinha repletos de CEOs de empresas como Pepsico e IBM. Os executivos deixam o governo em protesto pela afirmação do presidente, na terça, de que havia também boas pessoas entre os manifestantes da ultradireita que saíram em marcha no fim de semana. “Eles gritavam ‘judeus não vão nos substituir’”, disse pasmo, em cima do lance, um âncora da FoxNews, canal que se inclina à direita. “Não há nada de bom ali.” (New York Times)

Enquanto isso... Governos locais por todo o país planejam a remoção de monumentos em homenagem aos Confederados, que lutaram pela manutenção dos escravos durante a Guerra Civil. (New York Times)

Jucá diz que o governo vai dar o exemplo e cortar na carne

Mas quando o presidente poeta diz ‘meta fiscal’, pode estar querendo dizer o inatingível.

Tony de Marco

A-Carne-Eh-Faca

Viver

Pescado do editorial do diário carioca Extra: “O Extra continuará a noticiar os crimes que ocorrem em qualquer metrópole do mundo: homicídios, latrocínios, crimes sexuais. Mas tudo aquilo que foge ao padrão da normalidade civilizatória, e que só vemos no Rio, estará nas páginas da editoria de guerra. Um feto baleado na barriga da mãe não é só um caso de polícia. É sintoma de que algo muito grave ocorre na sociedade. A utilização de fuzis num assalto a uma farmácia não pode ser registrada como uma ocorrência banal. A morte de uma criança dentro da escola ou a execução de um policial são notícias que não cabem mais nas páginas que tratam de crimes do dia a dia. A criação da editoria de guerra foi a forma que encontramos de berrar: isso não normal!”

A Câmara aprovou ontem o projeto de lei que torna o porte de fuzis um crime hediondo. Não se refere apenas a esta arma, mas a outras de chamado ‘uso restrito’, como metralhadoras e submetralhadoras, e também torna crime hediondo o tráfico e a comercialização delas. O Senado ainda precisa ratificar o texto. (Folha)

Primeiro instituto privado do país de apoio à pesquisa, o Serrapilheira, financiado pela família Moreira Salles, lançou seu primeiro edital para projetos que devem se encaixar em sete grandes áreas — energia, espaço, forma, identidade, informação, matéria e tempo. Segundo a Folha, serão selecionados 70 propostas de até R$ 100 mil, e, dentre elas, entre dez e 12 receberão até R$ 1 milhão para três anos de pesquisa.

O avanço dos robôs no mercado já é realidade e instiga mais e mais pesquisas. Num relatório de março, a PwC cravou que 38% dos postos de trabalho nos Estados Unidos estão sob alto risco de serem ocupados por robôs e pela inteligência artificial nos próximos 15 anos. Já há empresas, como Ford e Amazon, que colocam robôs e homens lado a lado no chão das fábricas. A simples presença do robô, no entanto, já é motivo para encorajar funcionários a procurarem emprego novo.

Vídeo: um projeto pensa como Lisboa, uma cidade de ladeiras, subidas e descidas, pode tornar-se mais horizontal para as bicicletas. via Pioneiros

Cultura

Enquanto o disco não vem, Chico Buarque lançou mais uma música do novo álbum, Caravanas, que sai de vez no dia 25 de agosto. Massarandupió foi composta com o neto do cantor, Chico Brown, de 21 anos, filho de Carlinhos Brown e de Helena Buarque. O Estadão divulgou em vídeo um trecho.

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A corrida segue acirrada entre as plataformas de streaming. Na semana em que Netflix tirou — a peso de ouro — a aclamada roteirista Shonda Rhimes da ABC, a Apple divulgou seu orçamento para produções originais: US$ 1 bilhão. É o valor que vai investir nos próximos 12 meses para entrar na briga com a concorrência. O recurso não soa tão agressivo se comparado aos US$ 6 bilhões que a Netflix gasta anualmente, de acordo com estimativas. Mas é o dobro do gasto pela HBO, que produz, entre outras atrações, séries caras como Game of Thrones.

Da série listas: os cem melhores filmes para se assistir na Netflix, segundo a Timeout. A seleção parte do catálogo norte-americano da plataforma, mas dá para pinçar nela o que também está disponível por aqui, de excelentes clássicos como Era uma Vez no Oeste a contemporâneos como Boyhood.

Há algum tempo, o gênio da animação japonesa Hayao Miyazaki declarou sua aposentadoria. Deu para trás recentemente, anunciando novo filme. Para o Guardian, a mudança de ideia é sintomática destes tempos em que ficaram fluidos os limites da velhice e, muitas vezes, uma forma de valorizar o passe. Isso explicaria também outros dois ‘des-aposentados’ do cinema: Steven Soderbergh, que lança filme na semana que vem, quatro anos depois de anunciar que penduraria as chuteiras, e David Lynch, que declarou aposentadoria em 2006 — e depois fez dois discos, uma boate em Paris, fundou sua própria marca de meditação e ainda criou os 18 novos episódios de Twin Peaks.

Galeria: nos 40 anos da morte de Elvis Presley, uma história do ídolo em fotos.

Cotidiano Digital

A Anatel recebeu, em julho deste ano, 14,1% menos reclamações contra empresas de internet e telecomunicações quando comparado com o mesmo mês, no ano passado. Já é tendência. Nos números fechados do primeiro semestre, a queda entre 2017 e 2016 foi de 13,5%. A aparente melhoria da percepção pelo consumidor ocorre em telefonia móvel e fixa, além de banda larga. Mas não nos serviços de TV por assinatura. Neste, as queixas aumentaram.

Acaba de ser lançado o Nokia 8, com o qual a empresa finlandesa tenta voltar à ativa. Corpo de alumínio e lentes Zeiss, roda o último Android. Seu maior diferencial é a capacidade de fazer filmes que apelidaram ‘bothies’ — a tela é dividida entre a câmera principal e a de selfie, registrando simultaneamente a paisagem e o fotógrafo para vídeos.

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