Aécio: Tudo pode acontecer. Inclusive nada.

Oficialmente, o Senado ainda não recebeu a notificação judicial de que deve ser por voto aberto a decisão de manter ou não o afastamento do tucano Aécio Neves, como determinada pela Primeira Turma do Supremo. Mas é para hoje que está marcado o voto. A decisão é do juiz federal Márcio Luiz Coelho de Freitas. Da única vez em que algo assim ocorreu, em 2015, a Casa votou ela própria para exigir voto aberto. E o próprio Aécio foi um dos mais incisivos na cobrança por transparência. Na época, o então líder do PT Delcídio do Amaral foi afastado por 59 votos a 13. Por via das dúvidas, o senador Randolfe Rodrigues foi ao STF pedir que se reitere a necessidade de voto aberto. O ministro Alexandre de Moraes foi escolhido para relatar o caso.

Moraes era filiado ao PSDB e tem se mostrado simpático às causas do governo. Mas isso pode não valer tanto. Ontem, em São Paulo, quando perguntado sobre um prognóstico, respondeu atravessado. “O Senado vote e daí arque com as consequências políticas disso.”

São 81 senadores. Aécio precisa de 41 votos. Quem faz as contas tem informação de que pelo menos 12 senadores estarão ausentes hoje — o que dificulta mais para o tucano. Um dos faltosos é o líder do governo Romero Jucá, que está acamado. Faz falta na articulação pró-Aécio. O presidente só vota em caso de empate e, Aécio, tampouco pode. Oficialmente, está ainda afastado. Fazer os 41 exigirá muito esforço. (Estadão)

Caso a votação pareça arriscada demais, é possível que os aliados do mineiro peçam adiamento.

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O Ministério do Trabalho baixou portaria para atender a um velho pedido da bancada ruralista na Câmara. Trabalho análogo à escravidão era definido por uma das quatro formas: trabalho forçado, servidão por dívida, condições degradantes que exponham a saúde e a vida, ou jornada exaustiva. Pela nova regra, as duas últimas se tornam apenas agravantes. É preciso também cercear a liberdade. Além disso, a partir de agora, só o ministro pode autorizar a inclusão de uma empresa na lista suja das que usam trabalho escravo. Deixa de ser uma decisão técnica, passa a ser política.

Míriam Leitão: “É essa mesmo a agenda do agronegócio, no fim da segunda década do século XXI? O setor tem um lado eficiente, moderno, globalizado. Vai continuar se deixando representar pelo atraso? Pelos que acham normal esse nível de maus tratos aos trabalhadores que são flagradas em alguns poucos empreendimentos rurais?” (Globo)

Se houver quórum, a Comissão de Constituição e Justiça deverá iniciar hoje o debate sobre a denúncia contra Temer. Se tudo ocorrer como planeja o governo, a CCJ vota amanhã o relatório favorável ao presidente do deputado Bonifácio de Andrada. “Tenho sido vítima desde maio de torpezas e vilezas que, pouco a pouco, têm vindo à luz”, escreveu Temer aos parlamentares. “Jamais poderia acreditar que houvesse uma conspiração para me derrubar da Presidência.” Sem ironia, Temer cita Eduardo Cunha para demonstrar que a conspiração existe. “O ex-deputado disse que sua delação não foi aceita porque o procurador-geral exigia que ele incriminasse o presidente da República.” (Estadão)

Entre as informações vazadas da delação de Lúcio Funaro existem alguns detalhes sobre o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. O doleiro descreve a relação entre Michel Temer e Eduardo Cunha como uma que oscilava entre próxima e afastada. “Na época do impeachment”, contou, “eles confabulavam diariamente, tramando a aprovação.” Funaro conta, especificamente, da compra de um voto, do deputado cearense Aníbal Gomes, que saiu por R$ 200 mil. Os advogados de Dilma, agora, querem tentar anular o impeachment na Justiça. Se houve compra de votos, argumentam, o processo é nulo. A ex-presidente acredita que Temer e Cunha conspiraram para derrubá-la. (Estadão)

Aliás... A trupe do Poder 360 ironiza. Entre 1997 e hoje, houve uma inflação de 244%. No entanto, da compra de votos para aprovar a emenda da reeleição e hoje, um parlamentar continua custando R$ 200 mil. É um preço um bocado estável.

Outra: no meio dos documentos relacionados à denúncia contra o presidente, tornados públicos no site da Câmara, está o celular pessoal de Temer. Ontem à tarde, o repórter Vinicius Sassine ligou. “Eu estou falando com o presidente?” O homem riu do outro lado. “Está, perfeitamente.” (Globo)

A grande placa de trânsito marrom, em frente ao Congresso Nacional, normalmente diz ‘Alameda dos Estados’. É onde ficam hasteadas as bandeiras das unidades da federação. Amanheceu a segunda-feira com um adesivo colado, no mesmo tom de marrom, na mesma tipografia, reprodução perfeita, outro texto: ‘Formação de quadrilha, Corrupção ativa, O grande acordo nacional’. (Folha)

O governo de Nicolás Maduro venceu em 17 dos 23 estados da Venezuela na eleição para governador realizada domingo. União Europeia, EUA e Canadá questionam a transparência do pleito e falam em fraude.

Viver

Astrônomos em todo o mundo correram para seus telescópios no último dia 17. Testemunharam, pela primeira vez, uma kilonova: o choque de duas estrelas, que ocorreu na constelação de Hydra, a 13 milhões de anos luz da Terra. Durante o evento, confirmou-se uma antiga teoria. Os elementos pesados da Tabela Periódica nascem de colisões assim. Esta explosão, por exemplo, levantou uma nuvem de ouro puro no espaço muito longe daqui. (New York Times)

Enquanto isso... Como gira um spinner no espaço? Um astronauta testou.

Alguém já viu como decola o novo Boeing 737 MAX? Um toque: no momento final, antes de se estabilizar no voo, a gravidade no interior da cabine chega a zero. Brevemente.

Pessoas — todos nós — pertencemos a alguns poucos grupos sociais pequenos e coesos — os amigos da faculdade, do trabalho, a família. Formam elos fortes. Há também os elos fracos: o amigo de trabalho dum primo, a colega de faculdade duma amiga do escritório. Tradicionalmente, nossas relações amorosas e casamentos nascem destes encontros nos elos fracos: gente que nos foi apresentada direta ou indiretamente por quem faz parte dos grupos bastante próximos. Um novo estudo mostra que o fenômeno está mudando rápido por conta das plataformas digitais de encontros. A principal forma de se encontrar alguém entre gays, e a segunda maior entre heterossexuais, hoje é digital. Apaixonamo-nos por gente aleatória com quem não havia qualquer contato. Ao menos nos EUA, duas mudanças já começam a ser percebidas. Está aumentando o número de casamentos inter-raciais. E, aparentemente, relacionamentos nascidos online são mais duradouros. via Pioneiros

Um grupo de americanos que gosta de cerveja está se levantando contra o inimigo comum, a AmBev. Ou sua versão multinacional — AB InBev. Seu projeto é modesto: o maior crowdfunding da história para levantar meros US$ 213 bilhões e comprar a Anheuser-Busch, fabricante da Budweiser, e principal perna da multinacional brasileira nos EUA. O objetivo: impedir que a InBev continue comprando todas as microcervejarias, pasteurizando o sabor, dificultando a distribuição de quem sobra e, assim, eliminando a concorrência. No mínimo, chamam a atenção para o problema. O vídeo é divertido. E o site: takecraftback.com.

Cultura

Saiu no Reino Unido o primeiro tomo de Maximum Volume, uma biografia de George Martin, o produtor dos Beatles cuja história nunca foi contada em livro. Habituado a gravar comediantes, foi pelo humor que os quatro de Liverpool o conquistaram. Martin os ensinou a usar ganchos para atrair o ouvinte logo nos primeiros segundos de uma canção, e aos poucos viu sua dedicação aos rapazes transformando a própria vida. Separou-se, casou com a secretária e veio morar mais perto, se pôs em função da banda. O primeiro livro termina em 1965, num momento mágico: convence Paul McCartney a incluir um quarteto de cordas na gravação de Yesterday. E aí, como num instante, os Beatles deram um salto criativo, impulsionados para a fase que os tornaria grandes.

Aliás... Ouça a gravação original de Yesterday. No Spotify ou no YouTube.

E já que estamos nessa: 40 minutos de Beatles, ao vivo, tocando no Shea Stadium, em 1965. Vídeo.

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Sempre se soube que a acústica dos anfiteatros da Grécia clássica era excepcional. Dava para sussurrar no palco e alguém longe na plateia ouviria. Sempre se soube, mas não é fato: mito. Constant Hak, da Universidade de Eindhoven, testou. Pôs microfones sensíveis diversos em inúmeros pontos dos teatros de Herodes Atticus, Argos e, o mais famoso deles, Epidaurus. Testou de tudo. Só é possível reconhecer o som de uma moeda caindo na metade da plateia. E sussurro, apenas nas primeiras fileiras.

Cotidiano Digital

Um paper publicado por dois cientistas belgas demonstrou uma série de ataques possíveis para quebrar o protocolo WPA2. Em essência: o WiFi não é seguro. Todos os dados que trafegam numa rede sem fio — fotos, vídeos, textos — podem ser capturados por um hacker habilidoso que esteja próximo. A versão 6 do Android — Marshmallow, comum em celulares lançados entre 2015 e 16 — é particularmente vulnerável, mas iPhones e computadores que rodam os sistemas Windows e MacOS não estão protegidos. O maior problema: não há substituição fácil para a proteção que havia. Levar em conta que WiFi é inseguro é a única coisa a fazer. via Pioneiros

Em resumo: KRACK, como está sendo chamada a vulnerabilidade, não quebra a senha do WiFi. Ninguém acessará a internet usando sua rede. Ela permite que um hacker, perto o suficiente para captar seu WiFi, possa ler os dados que passam pelo ar. Sua troca de emails, por exemplo. Sites cujo endereço começa com https estão protegidos, o que inclui bancos e lojas virtuais grandes. Mas os roteadores precisarão de um upgrade de software. Se o seu foi cedido pela provedora de banda larga, cobre informação. Já existe um upgrade para Windows à disposição. A Apple tem uma solução, mas ainda não soltou atualizações para MacOS e iOS. O próximo upgrade para estas plataformas é crítico. O Google informa precisar de algumas semanas para resolver o problema no Android.

Novos fones de ouvido trazem uma versão sonora do conceito de realidade aumentada. HereOne, IQBuds e os Pixel Buds do Google permitem que o usuário aumente alguns sons e diminua outros, no ambiente. Deixar baixo o barulho dos carros e alto o dos pássaros, por exemplo. No futuro, conectados ao GPS dos celulares, poderão disparar músicas ou sons específicos para um lugar pelo qual passamos — e, quem sabe, até um jingle de publicidade.

A Microsoft fez erguer uma casa de árvore em madeira no meio do seu campus. É um local alternativo de trabalho para os funcionários. Erguida a 3,6 metros do chão, representa uma aposta: segundo alguns estudos, trabalhar em contato com a natureza aumenta o relaxamento e a produtividade. Tem vídeo.

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