O populismo quebra na Argentina

O presidente Mauricio Macri é o principal vencedor das eleições para metade da Câmara e um terço do Senado que ocorreram ontem, em toda a Argentina. A vitória marca a ascensão de um novo grupo político num país com particular queda pelo populismo. Seu movimento, o Cambiemos, teve o melhor resultado sobre os tradicionais peronistas desde a década de 1980. Na província de Buenos Aires, onde vive metade da população, Esteban Bullrich, candidato de Macri, se elegeu senador com mais de 41%. Em segundo veio a ex-presidente Cristina Kirchner, com 37%, o suficiente para se eleger, mas, politicamente, derrotada. No total, o Cambiemos despontava com 42% do total de votos, indicando que o presidente terá maioria no Congresso. A base eleitoral da nova força política argentina soma classe média e pobres, antes reduto kirchnerista

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O premiê espanhol Mariano Rajoy acionou pela primeira vez, desde o fim da ditadura em 1978, o artigo 155 da Constituição e suspendeu a autonomia da Catalunha. Exige convocação de novas eleições. A decisão de Rajoy terá de ser confirmada pelo Senado, esta semana. Se ocorrer, o presidente da Catalunha terá um de dois caminhos. Ou radicalizar — declarando a independência; ou ceder, dissolvendo o Congresso provincial e convocando novo pleito. (Estadão)

Sérgio Abranches resume o projeto do presidente chinês Xi Jinping para seu país: “O Partido retoma o papel central na vida política, econômica e social do país. Ele deve controlar todas as atividades da sociedade. A China mudou e pode aspirar mais, um papel decisivo no cenário geopolítico global. A corrupção é o ‘veneno no osso’ que deve ser extirpado. A luta contra a corrupção será muito mais vigorosa e vai comandar uma ampla renovação nas lideranças, em todos os níveis da hierarquia chinesa. As fontes de insatisfação do povo mudaram. Agora, a principal contradição da sociedade é entre o desenvolvimento desequilibrado e inadequado e as necessidades sempre crescentes do povo por uma vida melhor. A fonte do conflito social determinante passou a ser a desigualdade crescente de riqueza e a generalizada consciência de que há diferenças brutais nos padrões de qualidade de vida no país. A China deve ter o controle completo sobre Hong Kong e Macao e considera inadmissível uma Taiwan soberana. Embora fale em aspirações pelo império da lei e democracia, Xi claramente anunciou a censura mais firme da ciberesfera e maior repressão à dissidência na socioesfera.”

Notícias de 2018: quatro das sete cadeiras do Tribunal Superior Eleitoral vão mudar de dono. Gilmar Mendes deixará a corte, Luís Roberto Barroso o substitui. O novo presidente será Luiz Fux e, com Rosa Weber, farão a composição dos três postos que cabem a ministros do STF. Quando Fux deixar sua cadeira, em agosto, Edson Fachin entra. Durante as eleições, haverá um TSE rigoroso. (Globo)

Luciano Huck está fazendo um tour de sala em sala com alguns dos mais influentes empresários do país. Quem o leva costuma ser Armínio Fraga. O discurso que tem feito é o do liberalismo clássico: rigoroso na economia, sem conservadorismo nos costumes. Diz que é hora de retribuir o que recebeu do país. (Folha)

Enquanto isso... Aliados do prefeito paulistano João Doria já falam abertamente sobre vê-lo disputando o Palácio dos Bandeirantes. (Estadão)

José Roberto de Toledo: “O mercado financeiro não para de exibir sua exuberância irracional. Com a experiência dos millennials, seus jovens operadores se aconselham sobre política com o MBL e concluem que a única preocupação à vista é com o que pode acontecer em 2018. Cacifaram Doria como o antiLula e relutam em liquidar suas perdas mesmo quando confrontados com as pesquisas. Os que não nasceram ontem já pularam da canoa. Uns sonham com Luciano Huck, outros começam a achar que Bolsonaro não é tão ruim como pintam. Esse será o próximo confronto nas redes. Enquanto o prefeito paulistano era questionado na imprensa, sua base virtual era corroída por ataques ferozes dos seguidores de Bolsonaro nas mídias sociais. A guerra em duas frentes liquefez a capacidade de Doria. A próxima batalha dos ‘bolsominions’ será contra quem vier a ocupar o vazio deixado por Doria. Para não entrar na mira, Huck não se assumirá presidenciável antes de abril. Nem precisa. O apresentador já entra todo sábado na casa dos mais pobres e, segundo as pesquisas, é muito bem recebido. Recall não lhe falta; eleitores, sim.” (Estadão)

De um corte feito em cima do último DataFolha. 13% dos eleitores de Jair Bolsonaro votariam em Lula se ele estiver na disputa. (Globo)

A Polícia Federal acusa o governador mineiro Fernando Pimentel, do PT, sua mulher e auxiliares mais próximos de terem obtido vantagens ilegais durante a campanha de 2014. Pelo menos R$ 6 milhões foram direcionados ao casal por empresas de fachada. (Globo)

Enquanto isso... Elio Gaspari chama atenção para um curioso fenômeno. Em meio ao desmonte de políticos de todos os partidos em estados diversos, uma combinação permanece devidamente blindada. O PSDB de São Paulo. No Globo ou na Folha.

O Fantástico conseguiu, e publicou, a lista suja do trabalho escravo que o governo deixou de divulgar ainda no período Dilma. Em PDF.

Galeria: A Máscara, o Gesto e o Papel, exposição da fotógrafa Sofia Borges no IMS de São Paulo, flagra os movimentos dos senadores em sessão. A interpretação de cada gesto cabe a quem vê. (Folha)

Cotidiano Digital

A Advocacia-Geral da União entrou na discussão entre Anatel, Justiça, investidores e controladores da Oi. Quer uma solução para a crise de credores e o Conselho de Administração. Em recuperação judicial desde junho de 2016, ainda não conseguiram aprovar um plano de reestruturação. Caso a Oi quebre, o impacto será sentido em 46 milhões de linhas de celular, 14 milhões de telefones fixos e cinco milhões de usuários de banda larga. O impacto pegará 2.051 municípios e não atinge apenas clientes diretos da operadora. Em muitos pontos do Brasil, suas concorrentes TIM, Vivo e Claro utilizam-se de sua infraestrutura para prestar serviços. (Globo)

No momento, o governo se uniu a credores para vencer o empresário Nelson Tanure, um dos principais acionistas da empresa e maior foco de resistência a negociação. Tanure e a Portugal Telecom não querem ser diluídos e perder o controle da empresa, exigência dos credores. Não está descartada uma intervenção governamental na empresa. (Estadão)

O executivo Marco Aurélio Vitale, que dirigiu o braço comercial do Grupo Gol, empresa de Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, e de Jonas Suassuna, conta de sua experiência. A empresa recebeu, em contrato com a Oi, R$ 66,4 milhões entre 2004 e 2016. Nunca ficou claro por quais serviços. “Os projetos não passavam pela área de compras”, conta Vitale. “Eram aprovados diretamente pela presidência.” Segundo o executivo, “muitos dizem que seria uma contrapartida pela mudança da lei da telecomunicação para permitir a compra da Brasil Telecom.” (Folha)

O feed de exploração já aparece no menu do app do Facebook há algum tempo. Agora, chegou ao site. É uma área da rede onde o usuário recebe posts de páginas diversas — ou porque as assinou, ou porque seus amigos deram like.

Em cinco países, a mudança é mais radical. Bolívia, Guatemala, Eslováquia, Sérvia, Sri Lanka e Camboja. Lá, os engenheiros da rede estão testando a retirada de posts vindos de páginas da linha do tempo. Quem abre o Facebook vê, essencialmente, aquilo que seus amigos escrevem. Para receber um mix de links precisa ir à área de exploração. Se esta mudança for estendida a todo o Facebook, negócios que investiram muito em uma página da rede terão problemas. Para aparecer, só pagando.

Viver

O Congresso peruano aprovou o uso medicinal e terapêutico da maconha e derivados por 67 votos a favor e 5, contra. Três deputados se abstiveram. Haverá um registro de pacientes cujos médicos recomendaram o uso da substância. Na América do Sul, Chile, Argentina, Uruguai e Colômbia já têm algum tipo de regulamentação para uso da cannabis.

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O New York Times, jornal referência do ocidente, instituiu o cargo de Editor de Gênero. A primeira a ocupar a posição é Jessica Bennett, uma escritora cujo trabalho será abrir espaço, em todas as editorias do jornal, para questões ligadas à mulher na sociedade. via Pioneiros

Em tempo: o GNT liberou o documentário Primavera das Mulheres, sobre o feminismo no Brasil em 2016. Está aberto por trinta dias. Assista.

A modelo francesa Ines Rau é a primeira transgênero na capa da Playboy americana. A edição de novembro/dezembro da revista será, num todo, uma homenagem a seu fundador, Hugh Hefner, morto em setembro aos 91. Os editores consideram a escolha de Rau uma homenagem ao espírito da quebra de tabus iniciado por Hef.

Não custa lembrar: no Brasil, Roberta Close apareceu em um ensaio já no ano de 1984. E foi capa, em 1990.

Galeria: a Alemanha do início do século 20, antes de ser destruída por duas grandes guerras, em fotos coloridas.

Cultura

Programada desde 2016, o MASP optou pela cautela dadas as polêmicas recentes e proibiu a entrada de pessoas com menos de 18 anos na exposição Histórias da Sexualidade, que estreou quarta-feira. Há um abaixo-assinado de frequentadores que pedem que o museu recue e permita que cada família possa decidir o que seus filhos podem ver.

Hélio Schwartsman: “O Masp se acovardou ao organizar uma exposição sobre sexualidade em que não admite a presença de menores de 18 anos, mesmo acompanhados dos responsáveis. O constituinte de 1988 sabiamente retirou do Estado a possibilidade de determinar o que os cidadãos podem ou não dizer, escrever, ler, assistir, encenar etc. Só o que reservou para a União, na tentativa de proteger menores, é a competência para proceder a uma classificação etária de diversões públicas, tomando o cuidado de especificar que ela tem caráter apenas ‘indicativo’ (art. 21, XVI). Isso significa que a classificação é uma simples sugestão, a ser ou não acatada pelos pais.” (Folha)

O Rei da Vela, farsa em três atos escrita por Oswald de Andrade nos anos 1930, só chegou aos palcos em 1967, dirigida por Zé Celso Martinez Corrêa. Foi de presto censurada — um dos primeiríssimos casos rumorosos de censura, no momento em que a Ditadura começava a mostrar suas garras. A história passada no contexto da crise econômica de 1929 põe no centro Abelardo I, um fabricante de velas agiota que prende em jaulas aqueles que devem e não pagam. A montagem foi um marco do Tropicalismo. “Nós só estudávamos o teatro europeu”, lembra Zé Celso. “Com Oswald, conseguimos inaugurar um teatro brasileiro.” 50 anos depois, diretor e seu protagonista, o ator Renato Borghi, ambos com 80 anos, voltam ao palco para refazer a encenação histórica. No Sesc Pinheiros, em São Paulo.

Galeria: O Rei da Vela em 1967 e em 2017. (Folha)

Isto posto: leia o Manifesto Fundador do Grupo Oficina, escrito em 1968 no momento em que Rei da Vela e a Censura se encontraram.

Errata: E por falar em teatro... Cá o Meio chamou o excelente grupo mineiro Galpão de Balcão, na edição de sexta-feira.

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