Com Previdência por um fio, Temer se queixa de sua imagem

“De repente, chego à presidência e sou vítima de uma avalanche que me transforma como se fosse um sujeito corrupto.” A frase está no meio da entrevista concedida por Michel Temer a Gustavo Uribe e Marcos Augusto Gonçalves, da Folha. O presidente iniciou uma campanha pela reforma da Previdência e por sua imagem — em geral, com entrevistadores seguros — Amaury Júnior, Silvio Santos, Ratinho. A dupla do jornal paulistano é exceção. Ele se queixa da própria imagem. “Permite a você fazer essas perguntas, como se eu fosse um sujeito capaz das maiores barbaridades. Neste ano, vou me dedicar, entre outras reformas, à minha recuperação moral.” As entrevistas à TV ainda não têm data para ir ao ar.

Temer ainda tem esperança de conseguir aprovar a reforma da Previdência em fevereiro. É para quando guarda seu arsenal de entrevistas amigáveis. Pretende gastar, ainda, mais R$ 50 milhões em publicidade no arranque final. Se não der certo, o cenário mais provável, tentará votar uma última vez. Em novembro, após o risco do desgaste para os deputados ter passado. (Folha)

Elio Gaspari: “Desde o dia em que Michel Temer entrou no Planalto seu governo preserva em relação à faxina da Lava Jato uma relação de neutralidade-contra. O Planalto sabia o que estava fazendo quando se recusou a atender ao pedido do Ministério Público para afastar quatro diretores da Caixa Econômica. Teve que recuar, anunciou um afastamento por 15 dias, recuou de novo e cedeu. A Caixa Econômica está para o governo de Temer e para o MDB, assim como a Petrobras esteve para os de Dilma e Lula.” (Globo e Folha)

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O julgamento de Lula é quarta-feira e deve terminar esta semana. Mas a decisão final pode demorar. Na segunda-feira, um dos três desembargadores na turma que avalia o caso sai de férias e volta em 27 de fevereiro. Depois, saiu outro - retorna no fim de março. Quaisquer recursos à própria segunda instância só devem ser avaliados a partir daí. E antes de uma decisão final sair no TRF-4, não há chances de candidatura suspensa, muito menos prisão. (Folha)

A ministra Cármen Lúcia suspendeu, ainda que temporariamente, a posse da deputada petebista Cristiane Brasil como ministra do Trabalho. É só até que venha a última decisão, tomada pelo STJ no sábado e ainda não publicada, para que possa ser reavaliada. (Estadão)

O Planalto havia esperado até o momento de o plantão do STJ deixar as mãos da ministra Laurita Vaz e migrar para as de Humberto Martins, conhecido por ser próximo dos governos. Com a decisão favorável de Martins nas mãos, se apressou para dar posse à ministra. A presidente do STF os driblou.

O MBL está ensaiando um desembarque definitivo do governo João Doria, em São Paulo. O movimento fez campanha para a prefeitura e foi principal braço ativista do político na tentativa para o Planalto. A gota d'água foi a decisão da Prefeitura de criar obrigações para motoristas de aplicativos como o Uber que incluem placa vermelha.

No contrapasso, procurada pela equipe de Jair Bolsonaro, a agência americana Cambridge Analytica avaliou seu movimento nas redes sociais pelos últimos meses. E, delicadamente, recusou o cliente. Achou sua imagem ruim. A consultoria usa análise de dados para desenvolver uma estratégia de comunicação online. Esteve entre os principais parceiros de Donald Trump na campanha. (Estadão)

É uma direita desorientada. O empresário Flávio Rocha, dono da Riachuelo, pôs na rua o movimento Brasil 200 Anos. Junto a Luiza Trajano (Magazine Luiza), Sebastião Bomfim (Centauro), Alberto Saraiva (Habib's) e Sônia Hess (Dudalina) está em busca de um candidato que seja liberal na economia, porém conservador nos costumes. (Gazeta do Povo)

Em tempo: Alguns dos jornais, estimulados pelo empresário, caracterizam seu manifesto como ‘liberal’. Em política, a palavra tem significado claro. E não está à direita. Como bem a definem os editores da britânica The Economist, “o liberalismo traz da esquerda a impaciência com o status quo e, da direita, o ceticismo com projetos de redistribuição grandiosos”. O liberalismo não gosta de governo se metendo na vida de ninguém. “Gostamos”, seguem os editores, “do livre-empreendimento e tendemos a ser favoráveis a desregulamentação e privatização, mas também gostamos do casamento gay e da legalização de drogas.” Nada conservadores nos costumes.

Começa amanhã a 48.ª edição do Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça. E os economistas alertam: a crise financeira de 2008 pode ter sido superada, a economia pode ter voltado a crescer, mas o mundo está “preso em uma crise social”. A visão dos organizadores é de que ganhou força a percepção de que a abertura de mercados não ajudou a todos como o esperado. A constatação, no entanto, tem alimentado uma reação ainda mais perigosa: o populismo, o fechamento de mercados e resultados eleitorais como a vitória de Donald Trump ou o Brexit. (Estadão)

Sem Previdência e com nota rebaixada, Temer leva só a privatização da Eletrobras para mostrar os esforços brasileiros. (Folha)

Um ano depois da Marcha das Mulheres, que ocorreu assim que Donald Trump assumiu a presidência dos EUA, elas voltaram às ruas de diferentes cidades. No ano passado, o alvo das manifestações era a eleição de um presidente machista. Este ano, a pauta foi maior. Com cartazes com frases como “Agarre eles pelas legislativas”, as mulheres querem derrotar os republicanos nas eleições de 2018. “No ano passado, a raiva de que uma pessoa possa entrar na Casa Branca com seu histórico nos motivou”, disse uma das mulheres sobre o presidente. “Este ano, é sobre um status igual para as mulheres.” Segundo a ONG Emily’s List, que promove a participação das mulheres na política, desde a eleição presidencial de 2016, 25.000 mulheres procuraram seus escritórios com a intenção de disputar algum cargo.

Nomes de Hollywood como Scarlett Johansson, Natalie Portman e Viola Davis participaram da marcha. Portman lembrou de como, aos 13 anos, descobriu o que é ser objetivada. Johansson subiu ao palco para explicar como ela tinha sido condicionada a agradar os homens porque sentia que seu valor profissional era medido pela conveniência deles. Enquanto Davis afirmou que a mudança virá, mas que não chegará sem custos.

Cotidiano Digital

As transformações do mercado de trabalho farão parte dos debates em Davos. Segundo a consultoria McKinsey, só no Brasil, 15,7 milhões de trabalhadores serão afetados pela automação até 2030. A Folha lembra que, este ano, o governo federal anunciou o corte de 60 mil cargos públicos, boa parte em razão da obsolescência. E que cerca de 11.900 robôs industriais vão entrar em operação no país até 2020, segundo a Federação Internacional de Robótica. Nem todos os impactados perderão o emprego, mas talvez tenham que se acostumar com a ideia de ter um ‘cobot’, colega de trabalho autônomo com quem dividirão as funções.

Pois é. EUA e Europa já sofrem com falta de especialistas em robótica. Segundo Claudio Raupp, country manager da HP, por aqui sequer abrimos vagas para eles. “O risco de o Brasil não ter uma agenda orientada para o desenvolvimento da manufatura avançada é que os melhores postos de trabalho, nesse contexto, vão migrar para fora. O Brasil precisa pensar nas questões educacionais, regulatórias, tributárias e de propriedade intelectual que emergem dessa nova era.” (Folha)

E por falar... Abre hoje ao público, em Seattle, a Amazon Go. Está sendo desenvolvida há anos: não tem caixas, tampouco filas. É uma lojinha de conveniências — veja o tour em fotos —, vende saladas, sanduíches, refeições prontas e bebidas. É preciso ter um app, o Amazon Go, e ao entrar o cliente passa um código do app na roleta. Basta isso para que o sistema identifique o que foi comprado e desconte de sua conta na loja virtual.

Enquanto isso... Pesquisadores do Centro de Medicina da Universidade de Columbia, em Nova York, acompanharam oito mil pessoas com mais de 45 anos que tinham, no pulso, monitores de atividade. Descobriram que, em média, passam sentados mais de doze horas por dia — a maior parte do tempo, em escritórios. O risco é equivalente ao de ser fumante. Um estudo parecido da University College London acompanhou 85 mil pessoas de meia idade e perceberam uma nítida correlação entre trabalho demais e doenças cardiovasculares. A Universidade Nacional Australiana tem outro estudo: mais de 39 horas de trabalho por semana são um risco à saúde. O estudo mais interessante, porém, é outro. Segundo Alex Soojung-Kim Pang, do Instituto do Futuro, no Vale do Silício, somos produtivos de fato ao longo de quatro horas por dia. O tempo de trabalho poderia ser diminuído sem impacto real na produtividade.

Viver

Há 111 anos, o Brasil venceu a febre amarela. No fim do século 19, as condições de saneamento nos principais centros urbanos brasileiros eram péssimas e as epidemias, recorrentes. Em 1902, Rodrigues Alves assumiu a Presidência disposto a mudar a situação. No ano seguinte, Oswaldo Cruz assumiu a diretoria-geral de Saúde Pública e criou o Serviço de Profilaxia, que colocou nas ruas as chamadas brigadas de mata-mosquitos, agentes que entravam à força nas casas para destruir os locais de desova do mosquito. Surtiu efeito. Em 1907 a epidemia foi considerada erradicada e desde o fim dos anos 1920, praticamente não houve surto epidêmico nas cidades. A vacina está disponível desde 1937 e o último registro oficial de transmissão do vírus em uma cidade brasileira é de 1942. Até agora. (Estadão)

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Para ler com calma. Em quase todos os setores econômicos, incluindo televisão, livros, ou farmácias, um punhado de empresas controla boa parte dos negócios. O mercado das cervejas foi um dos primeiros a se concentrar. Os empregos nas cervejarias minguaram mesmo em um período de expansão econômica. Na última década, porém, o quadro mudou. Entre 2008 e 2016, o número de fabricantes sextuplicou, e o de trabalhadores cresceu 120%. O curioso: o consumo de cerveja diminuiu neste período. Mas enquanto os americanos estão bebendo menos do que na década de 2000, estão pagando mais por um produto melhor. Os preços médios cresceram quase 50%. É a revolução da cerveja artesanal — impulsionada pelo empreendedorismo de necessidade após a Grande Recessão e pela aposta em sabores ignorados pela grande indústria.

Cientistas instalaram um telescópio em um avião da Nasa para observar o ‘berçários de estrelas’. O equipamento, acoplado em um Boeing 747 que é capaz de alcançar os limites inferiores da estratosfera, será usado para identificar como corpos celestes nasceram 300 mil anos atrás. A teoria é de de que os campos magnéticos, e não apenas a gravidade, influenciam o nascimento de novos astros. (Globo)

Cultura

Breaking Bad completou dez anos de estreia. A série tornou-se uma das ficções mais elogiadas da história da televisão. O segredo? Primeiro, colocar seu protagonista, o professor Walter White, em um dilema aparentemente impossível de resolver. Depois, revelar que ele era, na verdade, muito mais tortuoso do que os telespectadores esperavam. Foi o que o tornou um personagem convincente, mesmo que muitas vezes amoral. Foi também o que deu muito trabalho para os escritores, que tinham que fazer seus esquemas parecerem completamente inesperados, mas também completamente inevitáveis. Um truque emprestado de Shakespeare, talvez.

Dez curiosidades sobre a série estrelada por Bryan Cranston. Spoiler: Ela quase teve outros protagonistas.

E...... Para quem não viu, Breaking Bad está inteira na Netflix.

Em sua primeira coluna no Guardian, a escritora Elena Ferrante relembra seu primeiro amor.

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