Começa o cálculo para uma eleição sem Lula

A Lei da Ficha Limpa é clara: após condenação por órgão judicial colegiado, qualquer brasileiro se torna inelegível por oito anos. Como nenhum dos recursos ao TRF-4 poderá mudar a sentença, o ex-presidente Lula já é inelegível. É sobre este novo cenário eleitoral que os analistas mergulharam, durante o fim de semana. “A novidade é que a esquerda passou a compartilhar o principal problema da direita”, escreve Alon Feuerwerker. “A dificuldade de convergir rapidamente para um nome e ganhar massa crítica antes do outro campo.” Ganhar volume de votos o mais cedo possível na corrida passa a ser a meta de todos os candidatos. E aí é hora de demonstrar habilidade política.

Marina Silva foi a primeira. Está em campo para marcar posição. “Os partidos tradicionais de direita e de esquerda não defendem a Lava Jato, e eu defendo a Lava Jato. Defendem o foro privilegiado, e eu sou contra. Tentaram aprovar a anistia para o caixa dois, e eu fui contra.” (Globo)

Mas Lula é mesmo inelegível? O trabalho imediato do PT é impedir esta percepção e, a partir daí, uma debandada. Em entrevista à Folha, o senador Lindbergh Farias foi enfático. “No direito eleitoral, você registra as candidaturas, depois tem prazo para impugnação. Vamos registrar Lula no dia 15 de agosto”, ele diz. “Sabe quando o TSE pode impugnar? Dia 12 de setembro. Até lá é campanha na TV.” E vai além: “Se prenderem Lula, ele vai ser candidato preso.”

Amanhã sairá uma pesquisa do Ipsos e, na quarta, do Datafolha. “Se Lula mantiver ou ampliar sua vantagem”, sugere Ricardo Miranda, “somará argumentos para aqueles que defendem que sua candidatura é irreversível e pretendem ir empurrando-na.”

Segundo Ascânio Seleme, o PT começará a propor uma nova constituinte. (Globo)

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Elio Gaspari: “Desde que entrou na política, Lula mostrou-se um hábil manipulador do medo que o andar de cima tem da rua. Ele põe sua gente na praça, estimula bandeiras radicais e se oferece como pacificador. Quando os radicais passam a incomodá-lo, afasta-se deles. Essa mágica funcionou durante mais de 30 anos, mas mostrou sinais de esgotamento a partir de 2015.” (Folha ou Globo)

Vladimir Safatle: “Não é difícil perceber que os casos de corrupção condenados giram todos em torno, basicamente, de Lula, de seus operadores e de seus apoiadores. A ala do MDB na cadeia (Sérgio Cabral e cia) é uma ala majoritariamente lulista. Um país onde Lula é condenado e Temer é presidente e Aécio Neves senador é algo da ordem do escárnio.” (Folha)

Otávio Frias Filho: “Ninguém dotado de discernimento consegue acreditar que o colossal esquema de corrupção instalado na Petrobras, no qual aparecem incriminados os principais de seus auxiliares e do qual ele próprio, Lula, era o beneficiário em última instância, pudesse estar alheio a seu controle e conhecimento. Por outro lado, há algo de modesto nos bens transferidos a Lula. Os juízes decidiram conforme seu entendimento das leis, mas isso não afasta a percepção de que, comparado aos magnatas da corrupção descobertos, o ex-presidente foi comedido. E faz sentido um aspecto da paranoia petista em torno do crepúsculo do líder: a exasperação com a demora nos processos contra outros figurões políticos, do PMDB e do PSDB, beneficiados pela lentidão do foro especial.” (Folha)

Eliane Cantanhêde: “Quanto mais Lula e o PT ameaçarem juízes e desembargadores, mais eles se unirão. E a sociedade, espectadora, não vai pegar em armas, incendiar nem morrer por um condenado por corrupção, seja ele quem for. Em nome de uma guerra pró-Lula e contra a Justiça, o PT pode estar jogando fora de vez a sua história, a opinião pública e os fundamentais apoios que colheu para eleger Lula em 2002 e torná-lo o presidente mais popular após a redemocratização.” (Estadão)

Michel Temer contou, ontem, com Silvio Santos para lhe ajudar na reforma da Previdência. “Os deputados não querem encher o pato do presidente, porque acham que você está fazendo isso para se eleger”, disse o velho apresentador ao presidente numa análise meio estranha da política atual. “Muito mais importante do que eu, você ou o João ser presidente, é o povo receber o dinheiro da Previdência. Se não aprovarmos a reforma, daqui a 2 , 3 anos, não vamos ter dinheiro para pagar os aposentados.” Em vídeo.

Para ler com calma. Boris Fausto, talvez o maior historiador brasileiro vivo, fez em entrevista a Guilherme Azevedo, do UOL, uma leitura longa e detalhada sobre o momento brasileiro. “Democracia plena e consolidada”, ele diz, “não existe aqui e uma das razões é a desigualdade social.” Para o velho professor, o impeachment da presidente Dilma — que ele considerou necessário — abriu uma caixa de Pandora de corrupção exposta e um jogo político pela sobrevivência, de negociatas abertas, entre Planalto e Congresso. “O impeachment foi votado por gente de má categoria com a crença de que a Lava Jato iria morrer.” Fausto considera que no período entre 1945 e 64 o Brasil teve partidos mais claros ideologicamente. A falta destes partidos claros é um dos problemas atuais. “Considerando-se a crise, a tentação por um regime autoritário é forte”, ele sugere. Não crê em golpe, mas vê nos eleitores de Bolsonaro este perfil. Outro problema que ele identifica é o excesso de poder, por toda República, do Executivo. Tradição que, dada a fragilidade do governo Temer, foi interrompida. Aos 87 anos, sua esperança é de que as eleições possam marcar um novo começo. “Você está fazendo entrevista com alguém que só tem perguntas”, ele brinca.

Donald Trump bem que tentou atrair investidores e líderes empresariais afirmando em Davos que “América primeiro não significa América sozinha”. Mas o momento geopolítico não era dos EUA, era da China. Enquanto em um extremo da cidade o presidente Michel Temer recebia de Pequim a oferta de estreitar relações latino-americanas com o chamado ‘Belt and Road’, a ‘nova rota da seda’ que quer ligar economicamente a China com o mundo, em outro extremo, um alto diplomata chinês introduzia o programa ao primeiro-ministro do Paquistão, Shahid Khaqan. Enquanto o Fórum Econômico Mundial acontecia e Trump discursava, a China estreitava laços - e fazia negócios. (The New York Times)

E uma década após a crise econômica que abalou o mundo, todas as grandes economias do mundo estão finalmente crescendo. Mas vale ressaltar que a esperada recuperação ainda é frágil, vulnerável às predileções cada vez mais imprevisíveis dos líderes mundiais. (The New York Times)

Cultura

Tinha tudo para ser a noite do hip hop no Grammy. Não foi. Bruno Mars se tornou o grande vencedor, com seis prêmios. Levou Música do Ano, Gravação do Ano, Performance R&B, Música R&B e Álbum R&B, além do Disco do Ano, com 24k magic, desbancando o rapper Kendrick Lamar. Lamar contentou-se com quatro estatuetas das categorias rap (colaboração, álbum, música e perfomance), além de Melhor Clipe. Jay-Z, que liderou as indicações, saiu sem nada. Despacito, idem. A noite teve apresentações de Lady Gaga, Kesha e Elton John com Miley Cyrus.

Quem também apareceu por lá, em vídeo, foi Hillary Clinton... lendo Fire and Fury.

Aliás... O mundo tem pressa. As editoras, idem. Não passou uma semana de seu lançamento nos EUA e o best-seller Fire and fury, que descreve os bastidores da Casa Branca de Trump, já estava em pré-venda no Brasil. A reportagem chega por aqui no final de março, pela Objetiva, que mobilizou cinco tradutores para trabalhar simultaneamente em diferentes partes. A pressa é tanta que outra técnica das editoras é ir traduzindo o livro à medida que é escrito pelo autor, antes mesmo que termine. Só não vale perder o timing.

Falando nisso... O Nexo perguntou a cinco escritores brasileiros como eles organizam suas bibliotecas. Por assunto, língua, projeto...

Mort Walker, o cartunista responsável pelo Recruta Zero — ou Beetle Baileymorreu ontem, aos 94 anos. A tirinha com o soldado raso que faz de tudo para evitar trabalho foi publicada pela primeira vez em 1950 e continua desde então — hoje assinada por seu filho, Greg Walker. É a recordista em longevidade. (New York Times)

Assista a uma entrevista de Walker, em vídeo.

No tempo pós-Lava Jato, o Museu de Inhotim está ameaçado. Seu criador, o empresário Bernardo de Mello Paz, foi condenado a 9 anos e três meses de prisão. O presidente do Instituto Inhotim, Antônio Grassi, garante que Paz está afastado do projeto. Mas os maiores patrocinadores são empresas que hoje têm departamentos de compliance para averiguar a idoneidade de com quem se relacionam. Vale e Vivo já renovaram contrato. As outras, ainda não. (Globo)

Viver

A busca da Amazon por uma segunda sede pareceu a muitos prefeitos americanos uma ótima oportunidade de publicidade gratuita. Mas para aqueles que representam as 20 cidades escolhidas como finalistas, a brincadeira ficou séria. Elas tentam se destacar pela força de trabalho, tamanho, ou o custo de vida. A empresa deseja negociações privadas. Pouco se sabe sobre os subsídios que as cidades ofereceram à gigante do varejo. “As pessoas têm preocupações por causa do que ouviram em Seattle”, disse o prefeito de Newark, Ras Baraka. Temem aumento de custo de vida. “Elas dizem: você deve gastar isso em habitação, nisso ou naquilo. O que eles não entendem é que, sem a Amazon, esse dinheiro não estará lá.”

Amy Liu, vice-presidente do Brookings Institution, afirma: prefeitos farão um desserviço aos cidadãos se oferecem à Amazon um ‘passeio grátis’, com pacotes de incentivos que reduzem apenas os custos da empresa.

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Os opioides mataram 53 mil pessoas nos EUA, em 2016. Mais do que armas ou acidentes de carro. Importantes para o tratamento da dor aguda, seus efeitos variam de acordo com o tipo e o indivíduo, mas tomá-los por períodos prolongados pode levar à tolerância, a necessidade de doses maiores, e dependência. Nessa batalha, médicos e indústria farmacêutica tem importantes papeis, mas a chave pode estar nos cientistas: evidências de laboratórios no Reino Unido, EUA e Alemanha sugerem que uma nova geração de opioides analgésicos mais seguros pode estar disponível em breve.

Uma agência de publicidade, em parceria com uma organização canadense, criou um guia de destinos interativo que classifica cidades para se conhecer no mundo todo com base em suas políticas pró-LGBT. A ideia é visualizar, com uma nota que vai de 0 a 100, quão ‘LGBT-friendly’ é o destino da sua próxima viagem. (Nexo)

Cotidiano Digital

Pode não ser ainda conhecida do público brasileiro. Mas Alexa, a assistente digital da Amazon, já é popular nos EUA. E a empresa se prepara para um comercial surpresa para o intervalo do Super Bowl, final do futebol americano, estrelando Jeff Bezos, seu presidente. E o que acontece quando Alexa perde sua voz? Tem teaser.

Enquanto isso... O concorrente, Google, se meteu numa fria. Usuários descobriram que o assistente não era capaz de responder quem é Jesus Cristo. Mas informava sobre Buda, Maomé ou Satã. De presto uma parte do público acusou a empresa de correção política. Não era. Como o assistente colhe suas respostas da web aberta, a resposta sobre Cristo foi bloqueada pois era fácil sabotá-la, colocando versões alternativas. A solução do Google foi bloquear a resposta de todos. “Religião é complicado”, agora diz, “ainda estou aprendendo.”

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