Facebook sob pressão política
Na sexta-feira, o Facebook ameaçou ir à Justiça contra o diário britânico Guardian que pretendia publicar — e publicou — uma longa reportagem sobre a empresa. No sábado, além do Guardian, o New York Times também tinha a mesma história: Christopher Wylie, um cientista da computação canadense de 28 anos, revelou como descobriu o truque para extrair do Facebook os perfis detalhados de 50 milhões de pessoas. Este material foi utilizado pela consultoria em que trabalhava, a Cambridge Analytica, nas campanhas vencedoras que tiraram o Reino Unido da União Europeia — o Brexit — e levaram Donald Trump à presidência. A empresa de Mark Zuckerberg passou o fim de semana sob fogo cerrado de legisladores nos dois lados do mundo anglo-saxão.
A segurança do Facebook não foi quebrada. Trabalhando pela consultoria, Wylie criou um app de quiz no qual usuários respondiam a perguntas sobre seus hábitos para receber como resposta uma caracterização de seu perfil digital. Ao fim, cada participante dava permissão para que o aplicativo acessasse dados não só de seu perfil como também o de todos seus amigos. Sim: em 2014, um usuário poderia, inadvertidamente, permitir que alguém puxasse os dados pessoais completos de todos seus amigos. 320 pessoas fizeram o teste, com em média 160 amigos cada. Pouco mais de 51 milhões de perfis foram para os bancos de dados da Cambridge Analytica.
O app foi baseado em um estudo científico sobre como utilizar redes sociais para pesquisa social. O paper, em PDF.
Com estes dados — os likes, os posts, idade, estado civil, local de residência etc. — a CA pôde fazer cruzamentos para perceber que um percentual alto de pessoas que odeiam Israel costuma gostar de chocolates KitKat. São padrões de comportamento sutis que parecem aleatórios, mas não são: há correlação. Cruzando este imenso volume de informações, a consultoria traçou perfis detalhados de eleitores que poderiam se inclinar pelo Brexit e por Trump. Sabia, para cada subgrupo, que argumento preciso costurar, que ponto fraco cutucar. O Facebook lhes entregou dados que ninguém mais tinha.
A primeira reação do Facebook foi suspender as contas da Cambridge Analytica, de Wylie e de Aleksandr Kogan, um professor da Universidade de Cambridge que ajudou na construção do app. (A Consultoria leva o nome por contratar pesquisadores da universidade britânica.) Mas a rede social tem um problema: vem, há anos, dizendo que é muito difícil extrair dados para usos ilegítimos. “É hora de Mark Zuckerberg parar de se esconder atrás de sua página no Facebook”, disse o deputado conservador Damian Collins, em Londres. Collins quer convocar Zuck para um depoimento formal. A senadora democrata Amy Klobuchar, em Washington, também vai convocá-lo. “Ficou evidente que estas plataformas não conseguem cuidar de si mesmas”, afirmou. Alex Stamos e Andrew Bosworth, executivos do Facebook, foram ao Twitter para defendê-lo: “Não houve um vazamento”, disse Boz. “As pessoas escolheram compartilhar suas informações.”
Aliás... De Steve Bannon, o assessor de Trump que montou com a Cambridge Analytica a estratégia de campanha nas redes. “Mussolini era adorado pelas mulheres, um homem entre homens. Viril. Sou fascinado por ele.”
Política
De supetão, em quantidade e de forma aparentemente orquestrada, as redes sociais foram tomadas por fake news a respeito da vereadora assassinada no Rio, Marielle Franco. Pelo menos duas autoridades, o deputado federal Alberto Fraga e a desembargadora Marília Castro Neves, do TJ-RJ, compraram e repassaram algumas das histórias — a de que a parlamentar teria sido ‘eleita pelo Comando Vermelho’ ou que tivera um filho com o traficante Marcinho VP. Informações falsas. A família de Marielle tomará providências legais por calúnia e difamação contra ambos. O PSOL vai ao CNJ contra Castro Neves e ao Conselho de Ética da Câmara contra Fraga.
A turma da Aos Fatos foi atrás das informações reais atrás de cada um dos boatos falsos.
Foi apreendido em Minas, na cidade de Ubá, um Renault Logan de cor prata que a polícia acredita ter sido usado no assassinato de Marlelle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes. O veículo pertence a um morador da região que tem passagens pela polícia por tráfico de drogas. Ele prestou depoimento. A munição usada no crime, que foi comprada pela Polícia Federal, faz parte de um lote desviado há alguns anos nos Correios da Paraíba. Cartuchos deste conjunto também foram usados na chacina de Osasco, em 2015, quando 17 pessoas foram mortas. Três policiais militares e um guarda-civil, que faziam parte de um grupo de extermínio, terminaram condenados pela ação.
O Fantástico entrevistou a arquiteta Monica Benício, viúva de Marielle, além da família da parlamentar. “Ela mandou uma mensagem ‘já tô no carro, vc tá precisando de alguma coisa? Precisa que eu leve?’” Vinte minutos depois, ela ainda não havia chegado.
Estão marcadas para amanhã manifestações em memória da vereadora.
O Estadão pôs no ar o BR18, site dedicado exclusivamente à cobertura da eleição. Vem de lá a informação de que Michel Temer é candidato a presidente.
Dois pesquisadores se debruçaram sobre quem participa e com que frequência como amicus curiae em julgamentos do Supremo. São entidades que, embora não envolvidas num processo específico, ganham licença para apresentar pareceres e argumentos ao debate. Descobriram que há três grupos particularmente atuantes. Um, formado principalmente por ONGs, representa a sociedade civil e casos ligados a direitos LGBT, religião, meio ambiente, movimento negro etc. Outro é o conjunto das entidades de classe do funcionalismo público — que age para evitar mudanças de seus direitos. Por fim, o terceiro grupo é formado pelas partes do governo federal, que defendem suas ações. (Folha)
Suzano e Fibria anunciaram sua fusão. A nova empresa vai controlar cerca de 25% do mercado de celulose mundial. No Brasil, o clima faz com que as árvores de eucalipto cresçam mais rápido do que nos países concorrentes. (Estadão)
Não foi sem emoção. No último momento, houve hesitação por parte do presidente do BNDES, um dos sócios, e também uma nova oferta feita pelo concorrente Indonésio. (Valor)
Vladimir Putin foi eleito para seu quarto mandato, ontem. Segundo números oficiais, 67% dos eleitores foram às urnas — mais do que no último pleito. Seu slogan: “Presidente Forte, Rússia Forte.” Foi reeleito com 76,6% dos votos, seguido por Pavel Grudinin, do Partido Comunista, com 13%. Putin tem seis anos de mandato e não poderia concorrer mais. Salvo mudanças nas regras. (New York Times)
Cultura
Ontem, durante show no Rio, a cantora Katy Perry prestou homenagem a Marielle Franco. A imagem da vereadora foi projetada no telão. Filha e irmã da parlamentar subiram ao palco.
Já no sábado, na apresentação da cantora em São Paulo, o clima teve outro tom. Foi Gretchen quem subiu ao palco. As duas dançaram juntas a música Swish Swish — a brasileira, sucesso dos memes, chamou a atenção de Katy Perry e Nicki Minaj e estrelou o lyric video da canção no ano passado. A internet, é claro, foi à loucura. Gretchen publicou momentos do show no seu Instagram.
Elza Soares: “Eu me lembro da minha mãe [a lavadeira Rosária]. Ela sofreu muito para criar a gente. Nascer mulher, negra e pobre neste país maravilhoso é uma luta. Tem que enfrentar um leão todo dia, toda hora. [Antes] a mulher não tinha pra onde correr [se fosse agredida]. Se fosse delatar o acontecido, ficava com medo. Porque depois tinha que voltar pra casa e viver um drama com aquele homem. Acho que a Lei Maria da Penha deu um pouco de segurança. Eu fui a Maria da Penha pra mim, sempre. Eu não saio correndo pra buscar [ajuda de outros]. Eu me defendo bem.” (Folha)
Viver
Alugar um imóvel no Airbnb se tornou mais fácil para quem tem alguma limitação de mobilidade. A empresa criou 21 novos critérios de acessibilidade para imóveis anunciados. São filtros sobre entrada da acomodação, recursos nos cômodos, equipamentos instalados no banheiro, etc. A medida faz parte do programa de acessibilidade da companhia, comandado pelo advogado britânico Srin Madipalli, cofundador da startup Accomable, que foi adquirida pela plataforma no ano passado. Madipalli e seu sócio têm atrofia muscular espinhal e criaram a startup para conectar viajantes com deficiência e imóveis para locação por temporada que atendessem suas necessidades. (Estadão)
E o Google Maps lançou uma opção de rotas com acessibilidade para cadeirantes ou pessoas com outras limitações. Além de indicar os caminhos mais amigáveis, a ferramenta também indica quais estabelecimentos facilitam para esse público, como restaurantes que têm portas amplas ou banheiros adaptados. O recurso foi lançado em seis grandes cidades: Londres, Nova York, Tóquio, Cidade do México, Boston e Sydney.
Quando o astronauta americano Scott Kelly voltou de uma viagem espacial, em março de 2016, após 340 dias a bordo da Estação Espacial Internacional, a Nasa organizou um estudo genético comparativo para entender o que mudou no corpo dele. Scott tem um irmão gêmeo idêntico chamado Mark. Após a divulgação dos resultados preliminares, na semana passada, alguns veículos internacionais noticiaram que 7% do DNA de Kelly havia mudado. Só que não é bem assim. Foram observadas mudanças na expressão gênica, a forma como o DNA é traduzido para o funcionamento do nosso corpo. Mas o código em si não mudou. Segundo a Nasa, a mudança observada em Scott pode ser considerada mínima e já ocorreu com outros, como mergulhadores e escaladores, em situações de estresse. Mark e Scott ainda são gêmeos idênticos.
Você já ouviu falar em constelação familiar? É uma técnica terapêutica, desenvolvida pelo alemão Bert Hellinger nos anos 1970. O objetivo: identificar traumas familiares que acabam perpetuando comportamentos destrutivos na família. O método: a dramatização dos conflitos. Uma espécie de teatro que reproduz a dinâmica familiar, onde voluntários fazem os papéis de filhos, pais, mães, maridos. A ideia é trazer à tona questões pontuais mal resolvidas dentro da história familiar que seriam capazes de influenciar comportamentos futuros dos membros da família. As pessoas podem ver seus conflitos sob outra ótica, e também vêem despertar em si a empatia pelas outras partes da disputa. A técnica não é usada apenas em consultórios. Está sendo usada na Justiça para facilitar acordos. Um levantamento de 2016 do Conselho Nacional de Justiça, o CNJ, identificou que ela era usada em varas de ao menos 11 Estados brasileiros nos esforços de conciliação. Em 2015, um projeto da comarca de Goiânia, que usou as constelações em mediações judiciais, foi premiado pelo CNJ com índice de solução de cerca de 94% em disputas familiares. Na maioria das vezes, o método é empregada em varas de Família e Infância e Juventude, em questões como violência doméstica, guarda de filhos e divórcio. Mas especialistas afirmam que é possível usá-la também em casos de disputas empresariais e processos criminais.