Trump vai à guerra; Escândalos cercam a Casa Branca

Após um ataque à Síria em conjunto com França e Reino Unido, na sexta-feira, os EUA se preparam para anunciar hoje represálias à Rússia por seu apoio ao governo de Bashar al-Assad. Internamente, porém, o presidente Donald Trump enfrentou resistência no Congresso. “Ele não é um rei”, afirmou o senador democrata Tim Kaine. “Ele deveria ter vindo ao Congresso pedir permissão para começar uma guerra.” Mesmo republicanos, embora não de forma ostensiva, desconfiam de que a decisão de retaliar ao ataque com armas químicas que aparentemente veio do regime é, para Trump, uma tentativa de escapar aos escândalos internos. (New York Times)

Na semana passada, o escritório de Michael Cohen, advogado pessoal do presidente, foi vasculhado pelo Ministério Público. O mandado de busca e apreensão foi expedido para que se encontrassem provas da origem do pagamento a uma atriz pornô para que não falasse sobre seu caso com Trump. Encontraram indícios de que Cohen foi a Praga, durante a campanha de 2016. Ele negava a viagem há mais de um ano. Teria sido nela que se encontrou com agentes do Kremlin para combinar ajuda na eleição presidencial.

Sai amanhã A Higher Loyalty (Amazon), livro do ex-diretor do FBI James Comey, demitido por Trump. “O presidente é antiético e descolado da verdade ou de valores institucionais”, escreveu. “Seu estilo de liderança é baseado em transações, tem seu ego no centro e atenção a lealdade pessoal.” Ontem à noite, Comey deu uma longa entrevista em rede nacional à ABC. “Podemos brigar a respeito de armas, impostos ou imigração”, falou. “Mas em comum temos um pacote de normas, principalmente a verdade.” Segundo o ex-chefe do FBI, Trump é um presidente que mente sistematicamente. E, por todo o fim de semana, foi Trump, via Twitter, que passou os dias desancando seu ex-subordinado.

Em meio à crise, Paul Ryan, presidente da Câmara e ícone da ala jovem do Partido Republicano, anunciou que não vai concorrer à eleição este ano. Decidiu deixar a política. (Washington Post)

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A prisão de Lula e a possível entrada de Joaquim Barbosa mudaram o balanço das eleições de 2018, de acordo com a pesquisa Datafolha publicada no domingo.

Se Lula for candidato — cenário improvável —, ele teria 31% dos votos, seguido de Jair Bolsonaro (PSL) com 15%. Marina Silva (Rede) se mantém em terceiro com 10%, Joaquim Barbosa (PSB) assume a quarta posição com 8%, Alckmin (PSDB) tem 6% e, Ciro (PDT), 5%. (Folha)

Caso o PT lance o ex-prefeito paulistano Fernando Haddad, o jogo é outro. Jair Bolsonaro se mantém à frente com 17%, seguido de Marina Silva, em sua cola, com 15%. Ciro Gomes e Joaquim Barbosa empatam em 9%. Alckmin tem 7%, Álvaro Dias (Podemos), 6%. Manuela D’Ávila (PCdoB), Haddad e o ex-presidente Fernando Collor de Mello (PTC) teriam 2%. Rodrigo Maia (DEM), Flávio Rocha (PRB), Henrique Meirelles (MDB), João Amoêdo (Novo) e Paulo Rabello de Castro (PSC) têm 1% e, o resto dos candidatos, traço. (Folha)

A prisão de Lula teve impacto: nas respostas espontâneas, quando os eleitores dizem em quem votarão sem que o pesquisador lhes apresente uma lista de opções, a resposta Lula caiu quatro pontos em relação a janeiro. Marina e Ciro são os que mais se beneficiam. A candidata da Rede herda até 20% dos votos do ex-presidente. Já o pedetista, conta com até 15%, dependendo do cenário. No PSB, a candidatura Barbosa ainda é vista como incerta. Mas a boa colocação nesta primeira pesquisa anima. “Alguns postulantes estão há meses ou há mais de um ano e estão igual ou abaixo do ministro”, observou o presidente do partido, Carlos Siqueira. A notícia não é boa entre os tucanos. Alckmin não tem conseguido mostrar força. (Folha)

Terceiro lugar na escolha do público da mostra Panorama, que corre paralela ao Festival de Berlim, o documentário O Processo chega aos cinemas brasileiros no festival É Tudo Verdade. Dirigido por Maria Augusta Ramos, apresenta o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff do ponto de vista de um processo kafkiano, nos bastidores do Congresso Nacional. Tem trailer.

Errata: O Meio errou ao resumir, na edição de sexta-feira, a reportagem na capa da Época a respeito do BNDES. A frase “O caso da JBS é escandaloso”, atribuída a Sergio Földes Guimarães, foi na verdade escrita por um funcionário do banco, Otávio Vianna, via WhatsApp. Sergio recebeu a mensagem, não a escreveu. O inquérito da Polícia Federal a respeito dos critérios utilizados pelo BNDES para definir seus investimentos nas campeãs nacionais dos governos Lula e Dilma ainda não foi concluído.

Cotidiano Digital

A edição norte-americana do TED deste ano ocorreu em Vancouver, no Canadá, na semana passada. Nele, transmitido como holograma direto de Israel, o historiador Yuval Noah Harari falou pela primeira vez a respeito de seu novo livro, que será lançado em agosto. Chama-se 21 Lições Para o Século 21 (Amazon). Para ele, embora estejamos falando muito a respeito de fascismo, nos esquecemos do que realmente é fascismo. “O maior risco para a democracia liberal é que a revolução em tecnologia da informação fará com que ditaduras sejam mais eficientes do que democracias”, afirmou. Harari acredita que a concentração de dados nas mãos de um número muito pequeno de empresas e governos se tornou uma ameaça para o mundo. Sua TED Talk ainda não foi publicada. Mas a de um dos pioneiros do Vale, Jaron Lanier, foi. E, falando de um assunto relacionado, tocou numa conclusão parecida.

Jaron Lanier, no TED 2018: “Nós cometemos um erro em especial no início. A cultura digital nascente acreditava que tudo na internet deveria ser público, gratuito. Ao mesmo tempo, amávamos nossos empreendedores de tecnologia. Amávamos este mito nietzchiano do homem de tecnologia que transforma o universo. Como celebrar empreendedorismo se tudo é gratuito? Um modelo baseado em publicidade. Daí que o Google nasceu gratuito, o Facebook nasceu gratuito. Os anúncios no princípio eram para seu dentista local ou algo assim. Só que os algoritmos melhoram. E o que começou como propaganda não pode mais ser chamado de propaganda. Hoje é modificação de comportamento. Não chamo mais essas coisas de redes sociais. São impérios de modificação de comportamento. Esta é uma tragédia global nascida de um gigantesco erro. E me permitam acrescentar outra camada. No behaviorismo, você oferece a uma criatura, um rato ou uma pessoa, pequenos presentes ou punições dependendo do que fazem. Nas redes, punição social e prêmios sociais ocupam esta função. Você fica todo feliz — ‘alguém gostou das minhas coisas’. Os consumidores destes impérios de modificação de comportamento recebem o retorno de tudo o que fazem, percebem o que funciona, fazem mais daquilo. E respondem mais a emoções negativas, porque estas despertam reações mais rápidas. Assim, até os mais bem-intencionados alimentam a negatividade: os paranóicos, os cínicos, os niilistas. Estas são as vozes amplificadas pelo sistema. E não dá para pagar a estas empresas para que façam o mundo melhor ou consertem a democracia pois é mais fácil destruir do que construir. Este é o dilema no qual nos encontramos.”

Cultura

Não é comum para um diretor independente, muitas vezes alternativo. Mas Miloš Forman, que morreu na sexta-feira aos 86, levou não um, mas dois Oscars de melhor filme. O primeiro por Estranho no Ninho (trailer), o perturbador filme passado num manicômio que consolidou a carreira de Jack Nicholson, em 1975. O outro, por Amadeus (trailer), a cinebiografia de Mozart com pegada de grande produção que, em 1984, arrebatou bilheterias. Nascido na República Tcheca, viveu o drama do nazismo e o do stalinismo, entre períodos de alguma democracia e abertura. De certa forma, a relação entre liberdade e arte parecem temas constantes em seus filmes. Não apenas nos dois que lhe renderam Oscars, mas também no musical hippie Hair (trailer), no drama Ragtime (trailer), ou em Sombras de Goya (trailer), ambientado na Espanha na virada do século 18 para o 19, entre guerras, inquisição e um grande pintor que tenta sobreviver à confusão do mundo.

Não foi a única perda para o cinema. Morreu também, aos 88 anos, no domingo, o italiano Vittorio Taviani. Sempre acompanhado do irmão Paolo, dirigiu por décadas filmes densos que, de alguma forma, pareciam também quando não leves, por certo delicados. Em 2012, seu César deve Morrer (trailer), no qual um grupo de prisioneiros encena o César de Shakespeare, venceu o Urso de Ouro em Berlim. Foi uma longa carreira: em 1977, os irmãos receberam a Palma de Ouro em Cannes por Pai Patrão (trailer), sobre o pastor que se educa para escapar à virulência do pai. No pesado A Noite de São Lourenço (trecho), acompanha a população de uma pequena vila toscana que aguarda a chegada dos americanos em finais da Segunda Guerra. Voltaram juntos ao início do cinema para produzir a comédia Bom Dia, Babilônia (trailer), no qual reconstruíram as filmagens do clássico épico Intolerância (trailer), do diretor mudo D. W. Griffith.

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Era para ter acontecido em 2017, mas uma gravidez alterou os planos. Aconteceu, então, no último fim de semana, na Califórnia. “Obrigada por me deixarem ser a primeira mulher negra como atração principal do Coachella”, disse Beyoncé em cima do palco do festival. Foi um furacão. Em duas horas de show, ela cantou seus principais sucessos, convocou seu marido, o rapper Jay Z, para o espetáculo, e realizou um reencontro com Michelle Williams e Kelly Rowland, suas companheiras do grupo Destiny's Child, que não se apresentavam juntas desde 2015. Parece que valeu mesmo a pena esperar.

Aliás... Veja as fotos do festival.

Um projeto brasileiro da empresa de tecnologia HP quer estimular a leitura de algumas escritoras de sucesso que nunca puderam assinar suas obras com seus próprios nomes. Para ver seus livros publicados, elas usaram pseudônimos masculinos. Em parceria com uma agência de publicidade, a HP recriou as capas destes livros usando os nomes originais das autoras. Veja.

Viver

Martin Sorrell, CEO da WPP, maior empresa de publicidade mundo, renunciou ao cargo no sábado. Ele deixou a função poucos dias depois de vir a público a informação de que estaria sendo investigado por acusações de má conduta — o executivo estaria usando o dinheiro da empresa indevidamente. Roberto Quarta, presidente do conselho de administração da WPP, substituirá temporariamente Sorrell enquanto a empresa procura um substituto.

Governos de 170 países aprovaram em Londres o primeiro acordo mundial para a redução das emissões de gases de efeito estufa da navegação. A meta é reduzir em ao menos 50% as emissões de CO2 do transporte marítimo até 2050 em relação aos níveis de 2008. Alguns acharam pouco; outros, muito. O Itamaraty expressou preocupação: disse, em nota, que a redução poderia levar a “aumentos no custo do frete marítimo, com impactos negativos desproporcionais sobre países em desenvolvimento e geograficamente distantes dos seus mercados.” (Globo)

Uma pesquisa realizada nos EUA mostrou que as desigualdades entre bancos e negros, que existem nas áreas de educação, saúde e renda, se infiltram também no sono. Os negros não dormem tão bem quanto os brancos — nem em quantidade, nem em qualidade. Se por um lado a disparidade é causada pelas desigualdades sociais (bairros mais barulhentos, com taxa alta de criminalidade, trabalhar em vários empregos ou turnos), pode também perpetuá-las. Um sono ruim contribui para doenças cardíacas, diabetes e obesidade — e uma saúde mais frágil pode impactar negativamente as perspectivas econômicas de uma comunidade.

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