Supremo deve tornar Aécio réu, hoje

A Primeira Turma do Supremo decide, hoje, se Aécio Neves será transformado em réu no primeiro de nove inquéritos que tramitam contra ele na corte. Segundo a acusação, baseada em áudio capturado pelo empresário Joesley Batista da JBS, o senador tucano pediu R$ 2 milhões em propina. O ex-governador mineiro passou o dia em campanha para evitar o pior. Publicou artigo na Folha — “Fui ingênuo” — e deu uma coletiva. “Não há qualquer contrapartida”, afirmou. “Não houve inquérito, não houve investigação. Pulou-se essa etapa.” Sua principal linha de defesa trata da acusação de corrupção passiva. Da maneira como está redigido em lei, seria necessário provar uma vantagem indevida concedida a quem paga. O político recebe o dinheiro em troca de um favor prestado. A Procuradora-Geral da República, Raquel Dodge, pede que os ministros considerem que houve “ato de ofício em potencial” — já que todos os outros elementos de corrupção existem, é preciso reconhecer que o senador estaria à disposição dos empresários.

Não custa lembrar o diálogo:

Aécio: Como é que a gente combina?
Joesley: Tem que ver, você vai lá em casa ou...
Aécio: O Fred
Joesley: Se for o Fred, eu ponho um menino meu pra ir. Se for você, sou eu. Só Eu só faço desse jeito.
Aécio: Pode ser desse jeito.
Joesley: Entendeu? tem que ser entre dois, não dá pra ser…
Aécio: Tem que ser um que a gente mata ele antes dele fazer delação.
Joesley: Eu e você. Pronto. Ou o Fred e um cara desses… pronto.
Aécio: Vamos combinar o Fred com um cara desse. Porque ele sai de lá e vai no cara. Isso vai me dar uma ajuda do caralho

O relator é o ministro Marco Aurélio Mello. Votarão também Rosa Weber, Luiz Fux, Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso. A previsão é de que o STF aceite a denúncia.

Bruno Boghossian: “Aécio Neves não é o único político apreensivo com a votação em que o STF decidirá se abre um processo contra ele. Vários figurões temem que o caso alimente o entusiasmo do tribunal em mirar personagens de outros partidos e consolide um entendimento mais rigoroso sobre a corrupção. A procuradora-geral Raquel Dodge reforçou a linha de acusação estabelecida por Rodrigo Janot. Afirmou que Aécio deve ser processado por ter recebido R$ 2 milhões mesmo se não tiver realizado nada em troca. Os poderosos consideram o caso emblemático porque o Supremo discutirá a denúncia contra Aécio apenas dez dias após a prisão do ex-presidente Lula. Sob essa ótica, o tucano seria transformado em réu para compensar o encarceramento do petista. A partir daí, argumentam, nenhum político estaria a salvo.” (Folha)

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Lula escreveu uma carta: “Continuo desafiando a Polícia Federal da Lava Jato, o Ministério Público da Lava Jato, o Moro e a segunda instância a provarem o crime que alegam que eu cometi. Continuo acreditando na Justiça e por isso estou tranquilo, mas indignado como todo inocente fica indignado quando é injustiçado.”

Enquanto isso... Manifestantes do MTST ocuparam, por quatro horas, o tríplex do Guarujá atribuído por delatores a Lula. Queriam causar um conflito: “Se é do Lula, é nosso”, dizia uma das faixas. “Se não é, por que prendeu?” O mesmo raciocínio foi expresso pelo candidato à presidência do PSOL Guilherme Boulos, líder do MTST, em vídeo pelas redes.

Aliás... A ideia não é nova. O próprio Lula, em discurso de janeiro, a sugeriu. “Até já pedi para o Guilherme Boulos mandar o pessoal dele ocupar aquele apartamento. Já que é meu, ocupem.” (Estadão)

Em tempo: o apartamento pertence à Justiça, foi confiscado.

Carlos Siqueira, presidente do PSB: “Havia dúvidas, mas ao longo do tempo elas foram se atenuando. Hoje é um consenso. Vai ser possível anunciar em breve.” Joaquim Barbosa está pronto para correr pelo Planalto. (Estadão)

O último foco de resistência é o governador paulista, Márcio França. Que, agora, sugere uma chapa que reúna Alckmin e Barbosa. Embora Barbosa esteja à frente do tucano nas pesquisas. (Valor)

Observação de Lauro Jardim: a imprensa gastou um bocado de espaço para especular a respeito das candidaturas de Michel Temer, Henrique Meirelles, Rodrigo Maia e Flávio Rocha. Segundo o Datafolha, os sem-voto. (Globo)

Paul Singer morreu ontem aos 86 anos. Migrado de sua Áustria natal na década de 1940, quando a Alemanha nazista anexou o país vizinho, Singer foi primeiro metalúrgico e, em 1953, liderou uma das mais importantes greves do ABC nascente. Depois formou-se em Economia pela USP, onde também obteve o PhD. Daquela geração de uspianos teve, em comum com Fernando Henrique, o orientador: Florestan Fernandes. Em 1980, esteve entre os pais intelectuais do PT, além de ter sido um dos autores do projeto econômico do governo Lula. Seu filho, André, é um dos principais cientistas políticos do país. (Estadão)

A Caixa Econômica Federal anunciou ontem a redução de até 1,25 ponto porcentual das taxas de juros do crédito imobiliário que utilizam recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo. Além disso, o percentual do valor dos imóveis usados a ser financiado subiu de 50% para 70%. As taxas estavam congeladas há 17 meses, enquanto o limite para financiamento de imóveis usados foi reduzido duas vezes no ano passado.

Saiu a lista do Pulitzer, o maior prêmio da imprensa americana. New York Times e New Yorker dividiram a categoria principal, de Serviço Prestado ao Público pela série de reportagens sobre assédio sexual dos poderosos. O Times também levou, desta vez com o Washington Post, o prêmio de melhor cobertura nacional, pelas investigações sobre a influência russa nas eleições dos EUA e as consequências do escândalo na Casa Branca.

Cultura

Dona Ivone Lara morreu ontem, no Rio, aos 97 anos, por conta de um quadro de insuficiência cardiorrespiratória. Ela estava internada desde a última sexta-feira. A ‘Grande Dama do Samba’ nasceu em uma família de amantes da música popular e enfrentou o preconceito por ser mulher e sambista. Entre seus principais sucessos estão Sonho meu (YouTube), Alguém me avisou (YouTube), Acreditar (YouTube) Tendência (YouTube). Entre os intérpretes que gravaram suas composições estão Clara Nunes, Maria Bethânia, Caetano Veloso e Gilberto Gil.

Veja vídeos e fotos de momentos marcantes da carreira da cantora.

Steven Spielberg tornou-se o primeiro diretor a superar a marca de US$ 10 bilhões em bilheteria. Ele alcançou a marca com o bom resultado de Jogador Nº 1 (trailer), que já arrecadou US$ 474 milhões, levando o total do cineasta em toda a carreira ao montante de US$ 10,009 bilhões. Atrás dele estão os diretores Peter Jackson, Michael Bay e James Cameron — todos com bilheterias um pouco acima dos US$ 6 bilhões. (Globo)

As plataformas de streaming gastam bilhões para produzir conteúdos originais, mas não são eles que atraem os usuários. Uma análise de dados da 7Park Data mostrou que 80% dos acessos da Netflix nos EUA é de conteúdo licenciado — ou seja, apenas 20% vem de títulos próprios como House of Cards ou Stranger Things. Na plataforma Hulu, a proporção é ainda maior: 97%. Os títulos originais podem desempenhar um papel importante na geração de novas assinaturas, mas até mesmo aí o conteúdo licenciado tem vantagem: 58% dos novos usuários da Netflix e 89% dos novos assinantes do Hulu assistiram à programação licenciada antes de ver o que as plataformas produziram de novo.

O Coachella, festival que está em curso até o dia 22, na Califórnia, não tem das melhores famas. A música é frequentemente boa — mas o público é endinheirado e, por conta, carrega um ar patricinha-hippie. Embora seja raramente lembrado, é também o festival da direita mais conservadora. Seu fundador é Philip Anschutz, um bilionário que espalha dinheiro por ongs que se posicionam contra direitos gays, tem uma pegada cristã reacionária e faz campanha aberta garantindo que as mudanças climáticas são fictícias. E, sim: tem um festival de música alternativa.

Viver

Cientistas espanhóis desenvolveram o primeiro medicamento com potencial para curar a diabetes tipo 1. Trata-se da criação de uma molécula que regenera células produtoras de insulina — na doença autoimune, os linfócitos destroem as células beta do pâncreas, responsáveis pelo armazenamento e pela secreção do hormônio. A droga foi bem-sucedida na prevenção e no tratamento do diabetes em camundongos transgênicos e em culturas de tecido pancreático doadas por famílias de pacientes falecidos.

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Em janeiro, quando uma campanha nacional foi lançada, a curiosidade sobre a febre amarela atingiu seu ápice. Passou rápido, no entanto. Dois meses depois, já havia caído a 20% do que era no auge, segundo uma análise de buscas na internet por meio da ferramenta Google Trends. Mas a epidemia continua matando — cerca de 30 novos casos são registrados toda semana só no estado de São Paulo. E, de acordo com especialistas, o número de vítimas deve aumentar, justamente por causa da movimentação do vírus a lugares onde é falha a comunicação sobre o risco de contágio.

 

E foi encontrado, na Arábia Saudita, um osso, a falange de um dedo da mão, de alguém que viveu há pelo pelo menos 85 mil anos — uma época em que não se esperava achar membros da espécie Homo sapiens vivendo tão longe do continente africano. (Folha)

Norman é uma inteligência artificial criada por pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). Mas ela é diferente de outras AIs já desenvolvidas. Norman é psicopata. Pois é. Trata-se de um sistema aparentemente simples, capaz de descrever imagens. Ele foi ensinado a identificar objetos e ações em fotografias, mas foi alimentado com fotografias publicadas nos piores fóruns da internet. O resultado: onde uma máquina normal, alimentada com um banco de imagens comum, vê “uma pessoa segurando um guarda-chuva no ar”, Norman observa um “homem morto a tiros na frente da mulher que grita”. Norman representa um estudo de caso sobre os perigos da inteligência artificial quando dados enviesados são usados em algoritmos de aprendizado de máquina. (Globo)

Aliás... Se estamos treinando um computador para pensar como um ser humano, será que ele poderia ter os mesmos problemas de saúde mental que nós temos? Para um neurocientista americano, a resposta é “sim” — as máquinas podem precisar de algum mecanismo de controle embutido semelhante à serotonina no cérebro humano, para se adaptarem rapidamente às situações.

Cotidiano Digital

Pesquisadora de Harvard, a brasileira Yasodara Córdova chama atenção para um problema que pode se tornar sério no período pré-eleitoral. É o zero rating. As operadoras de telefonia oferecem, entre seus planos mais baratos, a possibilidade de usar apps como WhatsApp e Facebook independentemente do consumo de internet. O pacote de dados acaba, os apps continuam funcionando. “Quando você vê uma notícia no Facebook e não entra nela, lê só um link com o título”, lembra Yaso. Pior: sem dados, não tem como checar se a história é verdadeira. As operadoras não deixam claro quantos de seus clientes usam este tipo de pacote. Segundo a Anatel, há 58 ofertas de telefonia móvel que incluem modelos zero rating. Quando levam apenas os apps dominantes, favorecem o fluxo de fakenews. Alguns dos provedores, porém, incluem na lista sites como a Wikipedia ou do governo.

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