Esta é a edição de número 400 do Meio. Obrigado pela leitura 🙂

— Os editores

CIA: Geisel puxou para si decisão sobre assassinato de opositores

Ao chegar à presidência, o general Ernesto Geisel foi informado de que 104 ‘subversivos perigosos’ haviam sido executados no ano anterior pelo governo de Emílio Médici, que o antecedeu. A informação lhe foi passada pelo general Milton Tavares, que chefiava o Centro de Informações do Exército, órgão responsável pela política de assassinatos de adversários políticos considerados terroristas pelo regime. Tavares pediu permissão para seguir com a política, Geisel quis pensar. Após um fim de semana, decidiu seguir pelo mesmo caminho, mas determinou que novas execuções deveriam ser autorizadas pelo general João Figueiredo, que comandava o Serviço Nacional de Informações, na antessala do presidente. Figueiredo, aliás, sucessor de Geisel no Planalto. A informação é inédita e, se correta, muda a compreensão da história. Descoberto por Matias Spektor, pesquisador da FGV, o relato foi feito em relatório oficial pelo diretor-geral da CIA, William Colby, para o secretário de Estado americano Henry Kissinger. “É o documento secreto mais perturbador que já li em vinte anos de pesquisa”, escreveu em um post no Facebook. “É a evidência mais direta do envolvimento da cúpula do regime (Médici, Geisel e Figueiredo) com a política de assassinatos.” O texto de Colby tem seis parágrafos dos quais dois permanecem secretos. Os outros podem ser consultados no site do Departamento de Estado.

Clóvis Rossi: “Até que esse excelente pesquisador que é Matias Spektor trouxesse a público o relatório da CIA, quase todo o mundo no Brasil acomodou-se à ideia de que, sim, havia torturas, prisões clandestinas, mortes e outras violências, mas era melhor acreditar que se tratava de ações de um grupo de celerados de farda, não autorizadas pelo andar de cima. Agora, a se acreditar no relatório da CIA, vê-se que o general Ernesto Geisel autorizou a execução de ‘subversivos perigosos’. Choca também o fato de que a autorização para matar veio de Geisel, o general que deu início à então chamada abertura lenta, gradual e segura, além de ter tomado uma ou outra iniciativa para coibir os abusos dos porões. Se um general-presidente mais moderado autoriza execuções, arrepia pensar o que diriam seus antecessores, considerados mais duros. O relatório da CIA torna mais fácil entender porque os militares brasileiros jamais fizeram uma autocrítica institucional, jamais pediram desculpas pelas violações sistemáticas aos direitos humanos. Não podiam: do andar de cima ao porão, toda a hierarquia foi cúmplice de um sistema abominável.” (Folha)

Leandro Loyola: “No meio do texto há uma pérola para historiadores: o momento em que o general Milton Tavares, então diretor do CIE, de saída do cargo, informa que 104 pessoas haviam sido eliminadas pelo CIE no ano anterior. Cifras de mortos e desaparecidos produzidas por militares brasileiros são uma raridade. Vinda de um oficial tão graduado, indica que os militares acompanhavam de perto o extermínio. Se sabiam o número, pode-se arriscar que sabiam seus nomes e onde foram executadas. Há espaço para investigação aí.” (Globo)

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Mirando a eleição presidencial, o Facebook lançará, na próxima semana, seu programa de verificação de notícias. A responsabilidade caberá a duas agências de checagem — Lupa e Aos Fatos —, que terão acesso às notícias denunciadas como falsas pela comunidade de usuários da rede. Se confirmadas como fake news, a distribuição pelo algoritmo será reduzida. Este mesmo mecanismo reduziu em 80% o alcance do noticiário falsificado, nos EUA, de acordo com o próprio Face.

Explodiu uma guerra interna dentro do PSB. Sem Joaquim Barbosa de candidato próprio, uma disputa entre os governadores de Pernambuco, Paulo Câmara, e o de São Paulo, Márcio França, teve início. A turma do Recife defende apoio ao PT, com a condição de que o partido não lance a vereadora Marília Arraes — neta do velho socialista Miguel Arraes — como candidata ao governo. França, por sua vez, quer puxar apoio a Geraldo Alckmin, seu padrinho político. (Estadão)

Aliás... Uma pesquisa interna do PSB apontou que, no dia em que desistiu de disputar a presidência, Barbosa já havia ultrapassado Jair Bolsonaro em São Paulo. (Veja)

Enquanto isso, segundo pesquisa interna do partido, 20 dos 27 diretórios do MDB são contra uma aliança com os tucanos. (Globo)

E... Publicada pelo Jornal do Brasil, a primeira pesquisa para governo do Rio põe o senador Romário, do Podemos, em primeiro lugar com 26,9% dos votos. Na sequência está Eduardo Paes (DEM), com 14,1%, Garotinho (PRP), 11,6% e Índio da Costa (PSD), com 8,8%. Realizada pelo Paraná Pesquisas, tem margem de erro de 2,5%.

Antes de ser preso, Lula deixou prontos uma série de vídeos para que o PT possa usar em campanha. Segundo dirigentes, nenhum traz apoio explícito a Jaques Wagner ou Fernando Haddad como candidatos substitutos. (Folha)

E a Petrobras passou a Ambev e retomou o posto de empresa com maior valor de mercado da Bolsa, que havia perdido em outubro de 2014. Segundo analistas, enquanto a estatal foi beneficiada por uma combinação de bons resultados do primeiro trimestre e alta do petróleo, a Ambev teve números considerados fracos e perdeu participação de mercado no segmento de cervejas no Brasil. (Estadão)

José Paulo Kupfer: “Sombras de pesadelos econômicos do passado voltaram nesta semana quando o presidente argentino, Mauricio Macri, anunciou negociações com o FMI para obter um empréstimo de emergência com vistas a evitar um colapso cambial. Em economias, como em geral as latino-americanas, quando o dólar fica mais volátil aumenta em muito o risco da instalação de uma política de juros procurando segurar as cotações do dólar e, assim, evitar pressões inflacionárias. Só na última semana, em tentativa desesperada de evitar o FMI, o Banco Central da Argentina elevou três vezes a taxa de juros, levando-a de 27,25% ao ano a 40%. Inevitável que a balançada da economia argentina puxe do baú da História o espectro do ‘efeito Orloff’, segundo o qual a economia brasileira sofreria amanhã o que a vizinha enfrenta hoje. Desta vez, contudo, as possibilidades de contágio parecem bem mais limitadas. Enquanto as reservas cambiais da Argentina, no momento, equivalem a menos de 20% do total das suas dívidas em dólares, no Brasil não só o volume de reservas supera o montante da dívida externa, como o ingresso de investimentos diretos, sempre muito mais baixo e hoje minguante no vizinho, cobre com folga o déficit em transações correntes.” (Globo)

O encontro histórico entre o presidente americano Donald Trump e o ditador norte-coreano Kim Jong-un tem data e local. Será em 12 de junho próximo, na Cingapura. A cidade-estado é próxima o suficiente para que Kim faça a viagem e, ao mesmo tempo, vista como neutra por ambos.

Futura foto oficial do encontro histórico em Cingapura

Tony de Marco

 
Kim-Jong-un

Cultura

Em São Paulo, a nova montagem de La Traviata abre amanhã a temporada lírica do Municipal, com direção cênica de Jorge Talkla e musical de Roberto Minczuk. Para quem é de balada, a festa Tormenta acontece no sábado no Espaço Muss — no line-up, DJs de Recife, Brasília e SP. E no domingo, os 130 anos da Abolição convidam à reflexão: tem lavagem da Rua Treze de Maio em memória de Marielle Franco com o Ilú Obá de Min e, no Museu Afro Brasil, visita às exposições com o tema Onde estão os negros?.

No Rio, o Arquivo Nacional exibe a exposição 130 da Abolição da Escravatura. Na programação paralela, há ainda mostra de cinema, debates e apresentações musicais como a do Afoxé Filhos de Gandhi, no sábado. Clarice Niskier reestreia hoje A Alma Imoral, adaptação para o teatro do livro de Nilton Bonder, no Teatro Oi Casagrande. E os rappers Edi Rock, MV Bill e Sandrão (RZO) participam do Festival Urbano de Música e Arte, no sábado.

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O original de 1974, com Charles Bronson, foi um estouro. Violência do tipo era rara no cinema. Tecnicamente, este novo Desejo de Matar (trailer) é o sexto da série, o primeiro com Bruce Willis no lugar de Bronson, e a reinaugura. Um médico perde a mulher, cruelmente assassinada. Se arma pesado e sai à vingança. Estreou sob críticas, nos EUA, pois o contexto do debate sobre armas semiautomáticas, hoje, é bem distinto. Todos os Paulos do Mundo (trailer) é um dos muitos documentários nacionais que estreiam esta semana, na rebarba do festival It’s All True. Este narra a trajetória da estrela da ‘Nouvelle Vague’ brasileira, Paulo José, um dos grandes atores do cinema nacional. Veja as outras estreias da semana.

Perguntaram a Ryan Coogler, diretor de Pantera Negra, o que ele acharia de um spin off com as mulheres do filme. “Isso seria maravilhoso, se a oportunidade aparecesse. Nos quadrinhos, fizeram isso”, respondeu. Fica a deixa... (Globo)

O Spotify anunciou ontem que vai remover o cantor R. Kelly de seus algoritmos e de suas playlists. Segundo a empresa, o rapper não se adequa à “nova política sobre condutas e conteúdo” da plataforma. O cantor, que é um dos maiores nomes do rap e do rhythm and blues nos EUA desde o fim dos anos 1990, é há mais de 15 anos alvo de diversas acusações de assédio sexual, estupro e pedofilia por parte de ex-namoradas e outras mulheres. (Folha)

Viver

Se R$ 451 fazem falta para você no fim do mês, assim como 90 minutos livres cairiam bem durante a semana, talvez esteja na hora de pensar em deixar o carro na garagem ou trocar o ônibus pela bicicleta. Os dados são do estudo Impacto Social do Uso da Bicicleta em São Paulo, realizado pelo Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, com patrocínio do banco Itaú. A pesquisa também mostra que quem pedala se estressa menos no deslocamento, sente menos desconforto, e tem mais prazer ao circular pela cidade.

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Médicos oncologistas admitem que não sabem muito sobre como a maconha medicinal pode afetar seus pacientes. Mas uma pesquisa americana mostra que quase metade deles prescreve a droga mesmo assim.

O renomado geneticista George Church, pioneiro no uso de CRISPR para editar os genes das células humanas, quer usar a técnica para reverter o envelhecimento em cães ajustando seu DNA. Para isso, o professor do MIT e de Harvard fundou a start-up Rejuvenate Bio. Se a técnica funcionar com o animal, há planos de tentar a mesma abordagem com seus donos.

Uma pesquisa da Associação de Comissários de Bordo dos EUA com 29 companhias aéreas mostrou que o assédio aos comissários de bordo continua vivo e atual: 68% deles afirmaram ter sofrido assédio sexual durante suas carreiras de vôo. Apenas 7% reportaram o caso aos seus empregadores. 80% dos entrevistados eram mulheres e 20%, homens.

Cotidiano Digital

Muita gente se queixou. Por conta, o Google afirmou que o sistema Duplex, através do qual sua Assistente é capaz de travar conversas telefônicas com atendentes de lojas, vai se identificar. O plano não é enganar ninguém, fazendo-se passar por humano.

Lançada em 2011, a startup Klout teve, nos anos seguintes, seu momento de grande sucesso. Seu número Klout representava a influência que tinha nas mídias sociais — principalmente Twitter e Facebook. Aos poucos, porém, foi perdendo relevância. O serviço fecha as portas no dia 25.

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