Azeredo, primeiro grão-tucano preso

A 5ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça mineiro rejeitou o embargo de declaração apresentado pelos advogados do ex-governador Eduardo Azeredo. Era o último recurso. A Defesa ainda tentou adiar mais um pouco a prisão, pedindo que só fosse emitido mandado após publicação do acórdão. Os desembargadores votaram, 4 a 1. A Polícia Civil já está negociando a entrega do tucano, que deverá se apresentar hoje a uma delegacia de Belo Horizonte. Azeredo foi condenado a 20 anos e um mês por desvio de dinheiro público sobre o qual era responsável, além da sua lavagem. O esquema que comandou, chamado Mensalão Mineiro, foi o precursor daquele utilizado pelo PT, em Brasília. (Estadão)

Silvia Amorim: “O caso de Azeredo enterra qualquer estratégia do PSDB de tentar se vender como um partido diferente. Se antes pesquisas internas já vinham apontando que o PSDB se fragiliza junto ao eleitorado a cada citação em investigações, imagina depois que imagens da prisão de Azeredo começarem a circular nas redes sociais. Já houve o episódio envolvendo o senador Aécio Neves, flagrado em uma conversa com o empresário Joesley Batista pedindo R$ 2 milhões. Depois veio o impasse sobre ficar ou deixar o governo Temer, o que tatuou no partido a imagem de fisiológico. Isso sem falar na Lava-Jato, onde tucanos graúdos pipocam com frequência. Mas não se trata de mais uma denúncia. É a prisão de um tucano ilustre. E, como gostam de pregar os marqueteiros, uma imagem vale mais do que mil discursos numa campanha eleitoral. Por essas e outras, a candidatura de Alckmin vai se tornando, pouco a pouco, uma enorme vidraça.” (Globo)

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A presidente do PT Gleisi Hoffmann deu ordens para que os diretórios municipais lancem, no domingo, a candidatura de Lula à Presidência. Seu objetivo é desmontar o movimento dos governadores petistas, que desejam um plano B.

O TSE decidiu ampliar o sistema de cotas na eleição. Ao menos 30% do Fundo de Financiamento de Campanha deverá ir para candidatas mulheres. Também no horário gratuito de TV e rádio, o tempo mínimo de 30% será exigido.

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, anunciou ontem, pelo Twitter, que o governo decidiu zerar a cobrança da Cide — um dos impostos que incide sobre os combustíveis — para o óleo diesel. Desde que a Petrobrás iniciou sua nova política de preços, em julho passado, o diesel subiu 56,5% na refinaria — o que, segundo os caminhoneiros, tornou inviável a atividade. Por isso, desde segunda estão promovendo paralisações nas rodovias. A medida, segundo os sindicatos, não é suficiente: a Cide representa apenas 1% dos 27% de tributos. Eles querem zerar também a alíquota de PIS/Pasep e Cofins. (Estadão)

Agora de manhã, o Rodoanel paulista havia sido interrompido.

Ainda assim... A medida deve provocar uma perda de R$ 2,5 bilhões de receita para o governo. Por isso, em troca, os parlamentares devem aprovar o projeto que acaba com a desoneração da folha de pagamento para alguns setores, o que renderia R$ 3 bilhões. E Maia já afirmou que deve incluir a redução do PIS-Cofins para o diesel no texto. (Estadão)

Apesar da pressão, Pedro Parente, presidente da Petrobras, que se reuniu ontem com ministros, reafirmou que a política de reajuste dos combustíveis da estatal não será alterada. Segundo ele, é uma consequência dos preços internacionais e do câmbio. Os preços caíram ontem, depois de seis altas consecutivas no caso do diesel e 12 no da gasolina. (Globo)

Alberto Dines, que morreu ontem aos 86, foi um dos maiores representantes da geração de jornalistas que enfrentou a censura militar. Sua carreira foi longa, interrompida apenas no ano passado, pela saúde. Entre 1962 e 73, foi responsável por implementar, no Jornal do Brasil, técnicas modernas de reportagem que ainda raras no país. Algumas das primeiras páginas sob seu comando são históricas. É o caso da que noticiou o AI-5, em que a previsão de tempo dizia mais do que as notícias podiam sugerir. “Tempo negro. Temperatura sufocante. O ar está irrespirável. O país está sendo varrido por fortes ventos.” Ou a do golpe que custou a vida do presidente chileno Salvador Allende. Proibido de dar manchete ao tema, fez uma capa com texto corrido em corpo 14, sem imagem ou qualquer título. Pioneiro da crítica à imprensa, escrevendo na Folha de S. Paulo dos anos 1980, mesmo com a idade passando nunca evitou novas tecnologias. Seu Observatório da Imprensa surgiu na internet em 1996, quando a rede chegava ao país. Foi um crítico duro e, mérito seu, nunca ideológico. O Observatório tornou-se também um programa de televisão, no qual os debates eram constantes. Dines foi autor de inúmeros livros, o mais conhecido sendo Morte no Paraíso, A tragédia de Stefan Zweig (Amazon).

Leia: No ano passado, quando Dines já estava mal, saiu o livro Ensaios Dedicados a Alberto Dines (Amazon).

Veja: 50 anos de Jornalismo, um documentário sobre Dines.

Cotidiano Digital

As perguntas que Mark Zukerberg ouviu dos parlamentares europeus foram muito mais duras do que as feitas por senadores e deputados americanos. Não houve, como no Capitólio, questões ingênuas ou que apontassem desconhecimento técnico. Bem o contrário. Ainda assim, por conta do formato escolhido para o encontro, pôde driblar todas as difíceis. Manfred Weber, da centro-direita alemã, indagou se não é hora de os europeus quebrarem o monopólio da rede, por ela não ter concorrentes. O britânico Nigel Farage, nacionalista radical e líder do movimento Brexit, acusou o Facebook de viés anti-direita, reclamou de estar sentindo o alcance de posts de seu grupo ideológico diminuir e pediu explicações sobre as agências de fact checking. (Mas não fez nenhuma pergunta sobre a Cambridge Analytica, que fez a campanha separatista britânica.) O ex-premiê belga Guy Verhofstadt, um liberal próximo da centro-esquerda, era um dos mais exaltados. Perguntou a Zuck como ele gostaria de ser lembrado. “Como Steve Jobs e Bill Gates, que enriqueceram a sociedade, ou como o gênio criador de um monstro digital que destrói nossas democracias?” Outro inglês, o conservador Damian Collins, se queixou de a companhia simplesmente ignorar seu compromisso de não permitir que os dados de pessoas que usam WhatsApp e Facebook sejam cruzados, como parece vir acontecendo.

Zuck só respondeu o que quis. Ele, que havia se comprometido em passar apenas uma hora com os parlamentares, aproveitou-se do formato proposto pelo presidente da Casa, o italiano Antonio Tajani. Primeiro os representantes continentais perguntaram, depois o CEO daria suas explicações. Como tomaram quase 50 minutos, o executivo gastou menos de trinta respondendo e aí deixou a sala, com pressa. Não entrou em detalhes específicos. Garantiu que a queda de leitura não tem viés ideológico. Há menos informação política sendo distribuída em detrimento de posts de amigos e família. Sobre monopólio, garantiu que sua empresa representa apenas 6% da verba publicitária global — por isso não domina o mercado que a sustenta. Ignorou o debate sobre cruzamento de dados. Os políticos se exasperaram ao perceber que haviam tomado uma volta. Ouviram a garantia de que as respostas por escrito para perguntas específicas virão.

Em vídeo: o depoimento de Zuckerberg aos europeus.

Cultura

Philip Roth, um dos maiores escritores americanos da segunda metade do século 20, morreu ontem pela coronária obstruída. Tinha 85 anos. Foi um autor prolífero até o fim da vida e prestou particular atenção no que era ser americano e, por vezes, a experiência judaica nos EUA. Alguns de seus personagens mais memoráveis, como Nathan Zuckerman, ecoavam um falso alter ego, sugerindo traços da própria vida ao mesmo tempo que fictícios. Nunca venceu o Nobel, mas foi um constante candidato. (New York Times)

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Reed Hastings, CEO da Netflix: “Os exibidores só tentam proteger o seu negócio. E nós não queremos prejudicá-los. Mas é verdade que se o mesmo filme estreia ao mesmo tempo nas salas e nas casas, muita gente vai vê-lo em casa. É exatamente igual às edições de bolso. Quando começaram, as editoras que publicavam livros de capa dura acreditavam que iria ser terrível para o seu negócio. Mas a verdade é que as formas — a capa do livro, por assim dizer — podem mudar, o que importa é a arte que está por trás. A pergunta que o artista deve se fazer é: posso contar uma boa história em formato audiovisual? E se pode, nós somos uma via muito estimulante para distribuí-la, porque temos mais de 100 milhões de assinantes em todo o mundo e isso significa que seu filme ou série pode ser visto potencialmente por muita, muita gente. E esse é o principal ponto de apoio que a Netflix tem para competir.”

O diretor independente americano Hal Hartley está no Kickstarter, a principal plataforma de financiamento coletivo da rede. Quer restaurar The Unbelievable Truth (1989), Trust (1990) e Simple Men (1992), sua Trilogia de Nova Jersey. Precisa de cem mil dólares — já está próximo da metade e mal começou.

10 esquetes de Monty Python’s Flying Circus, legendadas em português, para entender o humor surrealista do grupo inglês de comédia. (Nexo)

Viver

Falta pouco para que as instituições privadas de ensino tenham mais alunos no ensino à distância que no presencial. Mais precisamente, cinco anos. É o que diz uma pesquisa da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior. De acordo com o estudo, a projeção é que em 2023 haja 2,27 milhões de matrículas novas de ensino superior na educação à distância, o correspondente a 51% do total. Segundo os últimos dados do Censo da Educação Superior 2016, o número de alunos que ingressaram na educação à distância aquele ano foi de 818,7 mil. (Globo)

Para ler com calma. Há alguns anos, Timothy Bickmore, cientista da computação da Northeastern University, desenvolveu um programa de inteligência artificial para ajudar pacientes de baixa renda do Boston Medical Center a se prepararem para voltar para casa. A enfermeira virtual, alternadamente chamada de Louise ou Elizabeth, os orientava sobre o que deveriam fazer depois de receberem alta. Essa poderia ser apenas mais uma história da busca pela eficiência gerando uma ferramenta desumana. Não foi. Bickmore constatou que 74% dos pacientes preferiam Louise e Elizabeth aos seus colegas da vida real. É que os enfermeiros passavam uma média de sete minutos com os pacientes no momento da alta, enquanto os pacientes com baixa escolaridade precisavam de mais de uma hora para digerir a informação. Com a versão virtual, eles não tinham o constrangimento de fazê-lo devagar. Pois é. Quando se trata de inteligência artificial, há um debate sobre o qual pouco se fala: vergonha e vulnerabilidade. Frequentemente, respondemos com mais franqueza a computadores do que a nossos amigos humanos — em parte pelo anonimato, porque não precisamos sentir vergonha de robôs. Mas a vergonha pode ser importante. Se por um lado é bom fazer com que as pessoas se sintam menos constrangidas, por outro é importante que os pacientes estabeleçam relações de confiança com seus médicos — quando falamos com robôs, falamos com ‘ouvidos surdos’, e a audiência humana importa. Além disso, parece triste imaginar que a única razão pela qual as pessoas poderiam preferir a inteligência artificial é porque o cuidado que normalmente recebem é cheio de julgamento sem apoio.

Galeria: A coleção de fotos inédita que retrata o Japão do século 19, de samurais cobertos de tatuagem a antigas cerimônias do chá.

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