Governo corta de Saúde, Educação e Estradas por diesel barato

Aos poucos vai ficando clara a matemática para fazer funcionar a redução de 46 centavos do diesel por dois meses. O custo final de subsídios e cortes de impostos, calculado pelo governo, será de R$ 13,5 bilhões. Parte do dinheiro virá do programa de fortalecimento do SUS e, outra, do programa para reestruturar universidades públicas. Sofreram cortes, igualmente, a Polícia Rodoviária e o Ministério dos Transportes terá de se virar com o impacto em 40 obras. Foram aumentados os impostos sobre a exportação de produtos industrializados, além da folha de pagamentos de inúmeros setores que voltou a ser onerada.

E ainda assim... As três maiores distribuidoras de combustível do país — BR, Raízen e Ipiranga — têm reunião marcada com o ministro das Minas e Energia, Moreira Franco. Dizem que, na ponta, só têm como abaixar em 41 centavos — e não os 46 prometidos — o preço do diesel. É porque, por lei, 10% de sua composição é biodiesel, cujo valor permaneceu intocado. Os executivos temem, também, uma guerra na fiscalização dos postos de estrada. (Estadão)

Em conversa com Tales Faria, do Poder360, o ministro da Segurança Raul Jungmann refletiu a respeito da paralisação dos caminhoneiros. “Foi o ato inaugural do sindicalismo em rede, com o aparecimento de lideranças difusas em escala nacional”, disse. Ele acredita que será preciso repensar a forma de agir — e isso vale para governo, empresários e até líderes sindicais. Porque líderes espontâneos poderão voltar a surgir, durante as greves e pela internet, durante a negociação. E serão líderes sem experiência de negociar. Jungmann reconhece que a área de inteligência não detectou este novo sindicalismo em rede.

Outro ministro, Sérgio Etchegoyen da Segurança Institucional, aproveitou a coletiva de final do dia para desabafar. “O governo não produz dinheiro”, afirmou. “Ele arrecada recursos pelos meios que tem para arrecadar.” Ou seja: impostos. “Obviamente quem apoiava a greve e apoiava as soluções teria a sua cota de responsabilidade no financiamento disso. No final, somos nós contribuintes.” (Globo)

Pedro Doria: “Há, nas entranhas do WhatsApp, um outro Brasil. Nele, uma quantidade imensa de pessoas vive uma realidade paralela. Passei a última semana me dividindo entre, ao fim, seis grupos distintos de mensagens. Estes “grupos de notícias” informam aquilo que a imprensa “não tem coragem” de contar. Para o observador atento, os grupos revelam dois processos paralelos. Um deles é uma estrutura de marketing político de guerrilha em formação, fazendo um jogo sujíssimo. O outro é um novo tipo de brasileiro, despolitizado e, no entanto, engajado, tentando compreender a confusa realidade à volta, com as poucas ferramentas de que dispõe.” (Globo ou Estadão)

Ao menos um empresário, o gaúcho Vinicius Pellenz, já foi preso por envolvimento com o locaute. Dono da Irapuru, uma empresa de logística, ele deu ordens a seus caminhoneiros para que parassem. O Estado teve acesso a uma gravação. (Estadão)

Há vários fatores envolvidos na greve. Em fevereiro, caminhões-tanque foram impedidos de sair da BR Distribuidora por conta do protesto de grupos que defendiam a volta da ditadura militar. Na época, a inteligência da Polícia Federal localizou grupos de WhatsApp através dos quais a ação, talvez um ensaio para o que ocorreu depois, foi combinada. (Folha)

Caso ainda paire alguma dúvida, o Nexo compilou como os três generais que ocupam cargos mais altos responderam à ideia de uma intervenção militar. O comandante do Exército, Eduardo Villas Bôas, ficou mudo. Mas, em 2016, já havia dito alguma coisa sobre o tema ao Estadão. “Esses tresloucados, esses malucos, vêm procurar a gente aqui e perguntam: ‘Cadê a responsabilidade das Forças Armadas?’ Eu respondo com o artigo 142 da Constituição. Está tudo ali. Ponto.” Joaquim Luna e Silva, ministro da Defesa, foi igualmente claro. “As Forças Armadas trabalham 100% apoiadas na legalidade, com base na Constituição e sob autoridade do presidente da República.” Etchegoyen segue a mesma trilha. “Não tem nenhum sentido.”

PUBLICIDADE

Erramos: Vilhena, a pequena cidade onde morreu um caminhoneiro na quarta-feira, não fica em Roraima. Mas em Rondônia.

Dois meses após as eleições os italianos, enfim, conseguirão ter governo. O Movimento 5 Estrelas e a Liga cederam ao presidente e não colocarão, no ministério da Fazenda, o economista anti-euro Paolo Savona. Ele ocupará a pasta de Questões Europeias, uma provocação, mas cargo menos delicado. O novo premiê italiano é o professor Giuseppe Conte, um jurista membro do M5S que jamais ocupou cargo de gestão pública. A característica de euroceticismo deve marcar o novo governo.

Equanto isso... O socialista Pedro Sánchez terá a missão de formar gabinete para assumir o comando espanhol. Nas primeiras horas desta manhã, o premiê Mariano Rajoy foi derrubado após o remanejamento de maiorias no Parlamento lhe impor mais um de seguidos votos de desconfiança. Governava desde 2011.

Greve dos motoristas tem reivindicação atendida

Tony de Marco

 
Greve-Caminhoneiros

Viver

Mais de 4.600 porto-riquenhos podem ter morrido no rescaldo do furacão Maria — em grande parte devido ao atraso no atendimento médico. A nova estimativa contrasta e é 70 vezes superior a contagem oficial de 64 mortos, que permanece inalterada há meses. Pesquisadores da Universidade de Harvard entrevistaram mais de 3.000 domicílios em Porto Rico, perguntando sobre mortes na família entre setembro e dezembro de 2017, assim como por fatores que podem ter contribuído para cada morte. Também perguntaram sobre os danos às casas, se os moradores foram deslocados e tiveram acesso a alimentos, água, cuidados de saúde, eletricidade e telefones celulares. Cerca de um terço das mortes foram atribuídas a atrasos ou interrupções nos cuidados de saúde, que em muitos casos foi resultado das quedas de energia em toda a ilha durante semanas e meses após a tempestade derrubar 80% da rede do local.

O desabastecimento de combustíveis deixou o trânsito das cidades brasileiras mais tranquilo. Diminui o número de carros, cai a poluição do ar. No estado de São Paulo, na comparação dos sete primeiros dias da greve dos caminhoneiros com a semana anterior, a qualidade do ar melhorou em 50% em dois pontos de medição da Cetesb. O estudo da companhia estadual pretende relacionar as reduções das emissões com os impactos na saúde, medindo os índices de internações e mortes, por exemplo. Tudo isso para propor políticas públicas que priorizem um transporte mais moderno e eficiente.

Falando nisso...  As vendas de carros eletrificados — elétricos ou híbridos — bateu recorde no mundo em 2017. Alcançaram 1,1 milhão de veículos e um crescimento de 57% liderado pela China. Mais da metade dos carros foram vendidos no país asiático, onde a alta foi de 72% nas vendas em relação a 2016. Em termos de fatia de mercado, no entanto, o país mais avançado é a Noruega. Lá, 39% dos novos carros vendidos no ano passado tinham este tipo de motor.

E o Nexo mostra, em gráficos, a prevalência de métodos contraceptivos tradicionais e modernos entre mulheres casadas ou em união estável de diversos países.

Paolo Guerrero vai jogar a Copa. Apresentou-se ontem mesmo, à tarde, perante a delegação peruana, concentrada na Áustria. Ele havia sido liberado apenas umas horas antes pela Justiça comum suíça, que concedeu um ‘efeito suspensivo superprovisório’. Ele havia sido condenado pelo Tribunal Arbitral a 14 meses de suspensão após ser detectado um metabólito de cocaína no exame antidoping. A punição inicial fora de seis meses e Guerrero já a havia cumprido. Guerrero vestirá a camisa do Peru durante o torneio e, após, terminará a pena.

Cotidiano Digital

Mary Meeker é sócia da Kleiner Perkins, talvez a mais tradicional empresa de investimento em startups do Vale do Silício. E todo ano faz a mesma apresentação: as Tendências da Internet. Num único deque de slides ela mostra o estado do negócio, quais os setores mais interessantes, o que já passou, o que é promissor. Nossa vida, ela contou este ano, já é digital. Metade da população do mundo já está online. O mercado digital começa a crescer mais devagar. A velocidade de disrupção, porém, está acelerando. Estamos cada vez mais viciados em nossas telas. A disputa na indústria de tecnologia hoje se dá entre Google, Facebook e Amazon. As novas fronteiras são assistentes de voz e inteligência artificial. Serviços por assinatura parecem estar se estabelecendo bem nesse mundo com muita gente pagando por Netflix, Spotify, Dropbox e até mesmo o New York Times, que já tem 3 milhões de assinantes no mundo. E, por falar em mundo, é hora de prestar atenção na China. Lá, há inovação digital ocorrendo nas plataformas de chat. Entre as 20 maiores empresas de internet do mundo, 9 são chinesas. Para quem não quiser ler todos os 294 slides, Michel Lent Schwartzman fez um bom resumo no LinkedIn. Outra opção é assistir à própria Mary Meeker apresentar seu deque de forma acelerada, em pouco mais de 30 minutos.

Cultura

Numa semana de entressafra nos cinemas, o principal lançamento é Paraíso Perdido (trailer), de Monique Gardenberg. Um policial é contratado para servir de segurança a Ímã, uma cantora transexual neta do dono do estabelecimento e, assim, mergulha num ambiente onde as relações são todas complexas. O elenco inclui Erasmo Carlos e Seu Jorge. Mas há também o delicado A Amante (trailer), um filme tunisiano passado cinco anos após a bem-sucedida Primavera Árabe do país. Heidi, um jovem vendedor de automóveis que sonha se tornar desenhista se apaixona perdidamente por uma dançarina. E está a dias de um casamento muçulmano tradicional, cuidadosamente planejado, com uma moça que mal conhece. Além disso, Gnomeu e Julieta: O Mistério do Jardim (trailer) é a opção para crianças. Veja as outras estreias.

Vai longe a disputa entre o ministério da Cultura e Kleber Mendonça Filho. O cineasta, que foi solicitado a devolver R$ 2,2 milhões porque teria captado para o longa O som ao redor um valor superior ao edital de filmes para projetos de baixo orçamento, escreveu esta semana uma carta aberta ao MinC. “Creio que podemos concordar que o resultado final dessa multa absurda para O Som ao Redor, decidida internamente e na esfera administrativa do Ministério da Cultura, irá inviabilizar, de forma grosseiramente burocrática, nosso trabalho como produtores de cinema, um trabalho exemplar sob qualquer análise feita. Como fica impactada a produção cultural brasileira atual, com sentimento de vulnerabilidade incompatível com um pensamento democrático, a partir de um incidente como este?”, questionou.

Daí, o MinC respondeu. Afirmou que que cumpriu “a determinação legal” e que jamais “se recusou a dialogar com a empresa responsável pelo projeto”. Deu a ele duas opções: recorrer da decisão ou pagar o valor.  (Folha)

O ator Wagner Moura saiu em defesa do diretor. Iniciou um abaixo-assinado online, “Juntos com Kleber Mendonça Filho!”, que já tem mais de 70 nomes ligados ao meio cultural, entre atores, diretores, produtores — entre eles o ex-ministro Juca Ferreira e o cantor Caetano Veloso. (Globo)

Ao Globo, o cineasta pernambucano desabafou. “O não pagamento dessa devolução indevida, sem sentido e desproporcional, em virtude até mesmo de ser passível de enriquecimento ilícito da União Federal, com certeza pode trazer consequências para a viabilização econômica de qualquer produtora de cinema no Brasil. Mesmo que a gente tivesse como pagar esse valor, seria uma cobrança injusta, e portanto ela precisa ser questionada de todas as formas possíveis.”

Nesta sexta-feira, excepcionalmente, o Meio não publica as dicas culturais da Bravo!

Encontrou algum problema no site? Entre em contato.