Câmara da Argentina libera aborto; falta Senado

Foram vinte horas de uma votação tensa, na Câmara dos Deputados da Argentina. As ruas de Buenos Aires, estiveram lotadas todo o dia. E ao fim, por 129 votos a favor e 125 contra, os deputados decidiram mudar a Lei do Aborto que estava de pé desde 1921. Foi o presidente Maurício Macri quem provocou a reabertura do debate. Segundo o texto aprovado, o aborto passa a ser legal até a 14ª semana de gravidez. Mas não acabou: falta o Senado. E uma das grandes expectativas é sobre como votará a ex-presidente Cristina Kirchner que, durante seu governo, recusou-se a levantar o tema — mas que é pressionada tanto pelas mulheres, quanto pela esquerda, forças que pretende representar.

Lena Lavinas, economista da UFRJ: “Temos que entender isso como um movimento internacional das mulheres, que vem ganhando densidade com essas novas gerações, para quem a liberdade é muito importante. É preciso destacar que houve um debate extremamente político, onde foi apontado que descriminalizar o aborto significa tirar as mulheres da clandestinidade. Os movimentos sociais foram capazes de redefinir a agenda política em uma sociedade tão polarizada quanto a nossa, o que indica que também podemos avançar nessa direção. Espero que os políticos brasileiros tenham alguma clareza para travar esse debate.” (Globo)

Bruno Boghossian: “Não se deve esperar que os candidatos ao Planalto estejam dispostos a discutir o tema a sério este ano. Bolsonaro mira um fantasma inexistente para reforçar seu viés conservador e promete vetar uma (improvável) flexibilização da lei. Marina se diz contrária ‘por convicção filosófica e de fé’, mas condena a prisão de quem fizer aborto. Ciro resume: ‘Quero governar o Brasil, e o Brasil é uma sociedade conservadora. Não vou hostilizar as pessoas em nome dos meus valores’. Ele é favorável à legalização, mas quer desviar do tema na campanha. Os políticos fingem ignorar a gravidade do assunto e reforçam um tabu: 57% dos brasileiros acreditam que mulheres que fazem aborto fora dos casos previstos devem ir para a cadeia. Só 36% dizem que não deve haver punição. Na Argentina, o terreno é mais fértil. A população defende a legalização e, embora o país seja majoritariamente católico, 25% dos argentinos se dizem não praticantes (no Brasil, são 10%). Há mais do que 2.800 km entre Buenos Aires e Brasília.” (Folha)

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Desta vez, a ministra Rosa Weber, sempre fiel da balança, pendeu para o outro lado. Por 6 votos a 5, o Supremo decidiu que o artigo 260 do Código de Processo Penal é incompatível com a Constituição: condução coercitiva é ilegal. Um juiz não pode forçar alguém a ser conduzido à autoridade policial para prestar um depoimento. Só durante a Lava Jato, o instrumento foi utilizado mais de 220 vezes. Além de Rosa, Gilmar Mendes, Dias Toffoli, Ricardo Lewandowski, Marco Aurélio e Celso de Mello compreenderam que o direito ao silêncio, o de não se autoincriminar e a liberdade de ir e vir impõe limites ao Estado. Do outro lado, Alexandre de Moraes, Edson Fachin, Roberto Barroso, Luiz Fux e Cármen Lúcia defendem que juízes precisam de um instrumento quando um investigado é intimado e se recusa a prestar depoimento. Ironicamente, a ferramenta que sobra para os juízes é mais dura: decretar uma prisão temporária. (Jota)

Eduardo Bresciani: “A polêmica sobre a utilização da condução coercitiva ganhou os holofotes após Lula ter sido retirado do seu apartamento no dia 4 de março de 2016, e levado para prestar depoimento em uma sala da PF, no Aeroporto de Congonhas. Moro justificou que a medida evitava ‘confusão’, e era necessária para evitar que ele combinasse versão com outros investigados. Para a defesa, porém, a medida visava lhe impor constrangimento. Naquele dia, Lula estava livre poucas horas depois, inclusive fazendo discurso contra a medida pela qual acabara de passar. Com a decisão do Supremo, esse modelo acabou. Mas isso não necessariamente será bom para quem está na mira do Judiciário. Em março, a PF sugeriu que amigos do presidente Michel Temer fossem conduzidos coercitivamente para prestar depoimentos. Mas a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, citou a liminar que proibia a medida, de autoria de Gilmar Mendes, e sustentou que haveria elementos para uma prisão temporária, medida que só pode ser decretada quando considerada imprescindível para a apuração. Barroso deferiu a prisão, e, três dias depois, após os depoimentos, eles foram libertados.” (Globo)

Ciro Gomes: “O MDB está no poder, destruiu o projeto PT, destruiu o projeto do PSDB e precisa ser destruído desta feita. Sempre lembrando que ‘destruir’ aqui é pelo mecanismo democrático, que é simples: basta cortar a torneira da roubalheira que eles entram em extinção.” (Folha)

Enquanto isso... Michel Temer diz em vídeo que é hora de acreditar na camisa verde e amarela. “Nesta hora”, ele afirma, “desaparecem todas nossas diferenças e todos estaremos juntos na mesma torcida.”

A Associação Brasileira dos Caminhoneiros formalizou ontem uma proposta de tabela mínima do preço de frete para transporte de cargas. De acordo com a Abcam, na tabela proposta, o valor ficou, em média, 20% abaixo do preço da tabela vigente.

Falando nisso... Fux determinou a suspensão de todos os processos nas instâncias inferiores da Justiça que tratam da tabela. Quer “prover uma solução jurídica uniforme e estável”. Mas só se manifestará depois de uma audiência pública que convocou para a semana que vem.

E o dólar disparou de novo. Nem a intervenção do Banco Central conseguiu conter a alta. A moeda deixou para trás o nível de R$ 3,70, que vinha prevalecendo nos últimos dias, e saltou para R$ 3,81. (Valor)

Viver

As previsões não eram lá muito otimistas, mas começou com goleada a Copa do Mundo de 2018. A seleção anfitriã, a Rússia, venceu a equipe da Arábia Saudita por 5 a 0. Além do bom resultado, os russos encerraram um jejum de nove meses sem vitória. Veja os melhores momentos.

O príncipe herdeiro da Arábia Saudita Mohammed bin Salman e o presidente russo Vladimir Putin estavam lá. E suas reações durante a partida foram seguidas de perto nas redes sociais.

E um gol de Copa do Mundo foi narrado por uma mulher na televisão brasileira pela primeira vez. Foi na FoxSports, pela mineira Isabelly Morais. Assista.

Alberto Bombig: “Gosto de futebol e sou um torcedor emotivo, sensível até. Então, por que raios o 7 a 1 não me comove? Simples, porque entrei na Copa do Brasil de 2014 com sensação de que algo não acabaria bem. Fosse dentro ou fora de campo, sabia que uma tragédia nos espreitava em cada esquina. Não deu outra. Provamos ao mundo aquilo que todos dizíamos abertamente: Felipão era um técnico ultrapassado naquela altura, a CBF estava dominada por uma gangue e a união dos políticos com os empreiteiros transformaria a Copa do Mundo do Brasil na Copa do Mundo do Superfaturamento, dos Desvios e do Populismo. Portanto, não me surpreendeu a quantidade de memes e de piadas que brotaram do 7 a 1. Ouso dizer que foi didático tomar aquela goleada, uma espécie de freio de arrumação. Obrigado, Alemanha, por ter furado o pastel de vento do Brasil Grande versão 2.0.” (Estadão)

O jogo para assistir hoje: Portugal e Espanha, às 15h. Portugal tem o maior jogador do mundo, Cristiano Ronaldo, e é campeão europeu. A Espanha está entre as favoritas. Será um grande duelo. Mas, para quem quiser algo mais pitoresco, Uruguai e Egito jogam às 9h. O craque egípcio Mohamed Salah, que era dúvida, estará em campo. É candidato a se tornar um dos grandes jogadores de sua geração. E o Uruguai tem tradição.

O jogo para assistir sábado: Não há uma grande partida no sábado. Mas a Argentina estreia às 10h, contra a fraca Islândia e, a França, às 7h, contra a Austrália. Alguns rubro-negros vão querer assistir Paolo Guerrero no campeonato mundial, 13h, em Peru contra Dinamarca.

O jogo para assistir domingo: Esse é fácil. 15h, Brasil contra Suíça. Agora... Antes, ao meio-dia, tem Alemanha e México. Não é a mesma equipe de quatro anos atrás, mas é a atual campeã mundial.

Aliás... A escalação da seleção brasileira deve ser a mesma que iniciou o amistoso contra a Áustria no último fim de semana. Na frente, o quarteto ofensivo formado por Philippe Coutinho, Willian, Neymar e Gabriel Jesus. Tite só não poderá contar com um jogador dos 23 convocados: o volante Fred, que se recupera de uma lesão no tornozelo direito, deve ficar fora da estreia da seleção.

Seja o árbitro de vídeo: foi pênalti ou não?

Tony de Marco

 
Copa-da-Russia

Cultura

Em São Paulo, Mano Brown e Criolo se apresentam juntos (com participação de Ice Blue) hoje, no Espaço das Américas. Marcando as comemorações do Dia de Portugal, Marcelo Jeneci e Miguel Araújo se apresentam na Sala São Paulo amanhã. E, também no sábado, Gaby Amarantos estará no palco da Casa Natura Musical, com participações de Jaloo, Aretuza Lovi, Kell Smith e Preta-Rara.

No Rio, estreia hoje no Teatro Gláucio Gill a montagem de Inez Viana para A Mentira, texto de Nelson Rodrigues. No sábado, Arnaldo Antunes apresenta o novíssimo RSTUVXZ no Circo Voador, com show de abertura de Curumin. E Danilo Caymmi faz show do disco Andanças na Blue Note, a partir das 20h.

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Dirigido por Tuca Siqueira, Amores de Chumbo (trailer) conta a história do casal interpretado por Aderbal Freire Filho e Augusta Ferraz, 40 anos juntos, que repentinamente se deparam com a volta da personagem de Juliana Carneiro da Cunha. A melhor amiga dela, o grande amor de juventude dele, todos separados pela prisão e exílio de outros tempos. Nos cinemas, é uma semana de filmes com septuagenários. Diane Keaton, Jane Fonda, Candice Bergen e Mary Steenburgen fazem as quatro amigas de Do Jeito Que Elas Querem (trailer). Em seu clube do livro, decidem ler Quarenta Tons de Cinza (Amazon). E, na comédia rasteira, aquilo mexe com suas libidos. Veja as outras estreias da semana.

Cotidiano Digital

Para ler com calma. Na primeira década do século, pensadores importantes enxergaram, na internet, possibilidades novas para a democracia. Suas previsões, tão bem embasadas, caíram por terra. “Há muito digo que os modelos de organização permitidos pela internet desafiam as instituições do século 20”, afirma o professor Clay Shirky, da Universidade de Nova York. “A diferença é que hoje todo mundo concorda. Mas subestimei dois pontos, e ambos nos fazem ser pessimistas. O primeiro foi o predomínio do modelo do Facebook como forma de organização nas mídias sociais. Hoje, ‘mídia social’ quer dizer ‘mídia que liga você a seus amigos’ em detrimento do conceito de dez anos atrás, ‘mídia que amplia interação em grupo’. O segundo ponto que subestimei foi a maior eficácia da economia comportamental e as consequências reais do comportamento da publicidade por algoritmos. Estas duas forças marginalizaram o modelo anterior da esfera pública. Agora, enfatizamos o prazer da emoção compartilhada, em particular a indignação, em detrimento de outras reações e outras formas coletivas de ação. Junte a isso publicidade que pode induzir reações emocionais sob públicos escolhidos a dedo. É assim que chegamos aonde estamos.” Além de Shirky, o repórter Dylan Matthews também entrevistou Jeff Jarvis, David Weinberger e Alec Ross.

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