Lula preso, Lula livre, Lula preso…

Discretamente, às 19h32 da última sexta, os deputados federais Paulo Teixeira, Wadih Damous e Paulo Pimenta protocolaram um pedido de habeas corpus para libertar Lula no Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Não estava assinado por nenhum dos advogados principais do ex-presidente e, àquela hora, os parlamentares já sabiam que a análise driblaria o relator do caso e cairia nas mãos do desembargador plantonista. Naquele fim de semana, Rogério Favreto. Às 9h05 de ontem, Favreto deu a ordem de soltura (PDF) em onze páginas nas quais alegava que surgira um fato novo: Lula é pré-candidato à presidência. “O impedimento do exercício regular dos direitos do pré-candidato tem gerado grave falta na isonomia do processo político em curso”, explicou Favreto. Estando preso, Lula não pode fazer campanha como os outros. Determinava a soltura imediata. Não aconteceu.

Quando o delegado Roberval Ré Vicalvi chegou à Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, onde Lula está preso, os policiais batiam cabeça sem ter certeza do que fazer. Era por volta das 10h, e Vicalvi passou a receber telefonemas de gente da cúpula da PF, de magistrados, enquanto os parlamentares petistas faziam pressão. Às 12h05, o juiz Sergio Moro, vindo de uma instância inferior e saindo das férias, soltou outro despacho. Declarava que Favreto era “autoridade absolutamente incompetente”. Foi uma questão de minutos para que o desembargador ligasse — e aos berros — exigindo novamente a soltura, reiterada por novo despacho. Quem não tinha autoridade para questionar era Moro. (Globo)

No disse-me-disse, as redes sociais em chamas e já esquecidas da derrota na Copa, foi desta vez um par de Favreto que entrou em campo com novo despacho (PDF). João Pedro Gebran Neto, relator da Lava Jato no TRF-4. “Para evitar maior tumulto, até porque a decisão proferida em caráter de plantão poderia ser revista por mim, juiz natural para este processo, determino que a Polícia Federal do Paraná se abstenha de praticar qualquer ator que modifique a decisão colegiada da 8ª Turma.”

Incansável, Favreto entrou novamente em campo para uma terceira decisão (PDF). “Não cabe correção de decisão válida dentro da normalidade da atuação judicial e respeitado o esgotamento da jurisdição especial de plantão”, afirmou. Gebran não poderia se meter durante seu plantão. “Não há qualquer subordinação do signatário a outro colega.” Gebran não manda. Manda, porém, o presidente do TRF-4, que foi o último a falar. “A matéria não desafia análise em regime de plantão e presente o direito do desembargador relator em valer-se da avocação para preservar competência que lhe é própria, determino o retorno ao seu gabinete.” (PDF) O caso voltava para Gebran para encerrar-se.

Quando, ainda pela manhã, os deputados avisaram a Lula de que um habeas corpus havia passado e ele seria libertado, o ex-presidente sorriu. “Vocês acham que vão me soltar assim, tão fácil?” (Globo)

O desembargador Rogério Favreto foi filiado ao PT entre 1991 e 2010. Trabalhou na Casa Civil durante o governo Lula, foi secretário no Ministério da Justiça quando a pasta era comandada por Tarso Genro e deixou o partido quando a presidente Dilma Rousseff o indicou ao TRF-4, onde está. A BBC o ouviu. “Obviamente que não tenho e nenhum magistrado pode ter atividade político-partidária, e eu não tenho desde que ingresso na Justiça.”

O episódio de domingo dá mostras da fratura interna na defesa de Lula. O ex-ministro do Supremo, Sepúlveda Pertence, discorda da estratégia dos advogados Cristiano e Valeska Zanin, que optaram por confronto direto com o Judiciário. Foi no vácuo aberto pela briga que um grupo de deputados decidiu agir por conta própria numa jogada de apelar ao plantão de um juiz simpático à causa. (Valor)

Não há consenso entre juízes. A Associação Juízes para a Democracia, fundada em 1991, se alarma com o fato de que a Polícia Federal desobedeceu a uma ordem dada por juiz. A União Nacional dos Juízes Federais, porém, considera a mesma ordem juridicamente inválida. (Jota)

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A Receita Federal liberou hoje a consulta ao segundo lote de restituição do Imposto de Renda de 2018. O contribuinte pode acessar a página do órgão na internet ou ligar para o Receitafone 146. (Globo)

Foi retomada a operação de resgate que retirou ontem quatro dos doze meninos presos em uma caverna inundada na Tailândia. A operação havia sido suspensa para o reabastecimento dos tanques de oxigênio. A mesma equipe de mergulhadores que fez a operação ontem entrou na caverna hoje. Os quatro garotos salvos foram levados a um hospital de uma cidade próxima e estão em boas condições de saúde. O resgate foi mais rápido do que o esperado: pensava-se que a viagem de ida e volta através da rede de cavernas levaria cerca de 11 horas, mas o primeiro dos quatro garotos saiu da entrada da caverna cerca de nove horas depois. A luta das equipes é contra o tempo: voltou a chover na região e a previsão é de mais precipitação para os próximos dias — isso pode minar os esforços para drenar as cavernas inundadas, onde os outros meninos e o treinador deles continuam presos.

Cultura

Morreu aos 90 anos Steve Ditko, o misterioso quadrinista cocriador de famosos super-heróis como Homem-Aranha e Doutor Estranho. Sua morte só foi revelada na sexta-feira, mas as investigações indicam que ele tenha morrido dias antes em seu apartamento. De perfil discreto, não existe nenhuma foto pública colorida do desenhista e sua última entrevista formal em 1968. O artista também nunca contou sua versão sobre uma polêmica história que deixou boa parte da indústria dos quadrinhos contra ele: a briga com Stan Lee que o fez deixar a Marvel na década de 1960.

Para relembrar: Os nove personagens mais emblemáticos criados por Ditko.

E para os curiosos: A história de como foi a criação do Homem-Aranha nos quadrinhos.

A atriz francesa Emmanuelle Seigner recusou um convite para entrar na Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, que concede o Oscar. A decisão foi um protesto contra a exclusão de seu marido, o diretor Roman Polanski, pela organização. Em carta publicada pelo Journal du Dimanche ela afirma: “Fui feminista desde sempre, mas como vou agir como se não soubesse que a Academia, há algumas semanas, expulsou meu marido, Roman Polanski, para ficar bem com os tempos atuais. A mesma Academia que o premiou com um Oscar de Melhor Diretor por O Pianista, em 2003. Amnésia curiosa!”. (Folha)

Viver

Havia muita esperança em jogo quando o Brasil entrou em campo, na sexta-feira, para sua quinta partida na Copa. À frente da equipe, um técnico que ergueu o time em meio a uma campanha ruim nas eliminatórias e que, até a semana passada, havia sofrido apenas uma derrota. Entre os convocados, medalhões do futebol internacional, como Neymar, Marcelo e Coutinho. Diante da queda precoce de grandes equipes, como Alemanha e Espanha, a seleção chegou às quartas como favorita. Mas aí, no meio do caminho, tinha a Bélgica. E os diabos vermelhos venceram: 2 a 1, gol contra de Fernandinho logo no início do jogo, um contra-ataque impecável de Lukaku e De Bruyne ainda no primeiro tempo, e um sopro de esperança no segundo, quando Renato Augusto cabeceou certeiro um passe de Coutinho. Mas não foi o suficiente. (Melhores momentos.)

André Kfouri, no Lance: “As premissas eram a Bélgica com mais posse e o Brasil com mais espaço. Pensando assim, Tite e Roberto Martínez foram dormir na véspera, também considerando as variações que suas equipes poderiam utilizar conforme os caminhos do encontro, mas sabendo, como sempre, que nem tudo pode ser preparado. A bola que esbarrou em Thiago Silva e beijou o travessão é a mesma que passou por cima da cabeça de Vincent Kompany e desviou em Fernandinho antes de entrar. Um gol, o primeiro gol em um jogo eliminatório entre equipes que se equivalem, mexe muito mais nas condições de concentração dos jogadores do que efetivamente no placar. Natural que Fernandinho tenha saído, mentalmente, de seu melhor elemento. Natural que o Brasil tenha se visto em um modo de urgência que nem sempre é o mais eficiente. Natural que a dinâmica — Brasil com a bola e Bélgica com o campo — tenha se invertido. Assim é este jogo.”

Taylor Rockwell e Daryl Grove, do Total Soccer Show: “Martínez driblou Tite. A Bélgica defendia num 4-3-3 e, quando atacava, passava a um 3-4-1-2. Uma mudança muito inteligente. Sempre que o Brasil atacava, eles passavam para quatro zagueiros com três meias defensivos bem em frente. Se compactavam muito rápido. Thomas Meunier deixava a lateral direita para vir ser zagueiro, Jan Verthonghen movia-se da zaga central para a esquerda, dando forma à defesa com quatro. Assim, Nacer Cadli passava da lateral esquerda ocupando a ala-esquerda ao lado de Marouane Fellaini e Aexel Witsel. Eden Hazard e Romelu Lukaku ficavam bem à frente, preparados para o ataque. O técnico Roberto Martínez conseguiu construir um ataque aberto e uma defesa compacta. Nunca vi uma equipe mudando a posição dos jogadores de forma assimétrica, de uma zaga de três para uma de quatro, desta forma. Não é fácil perceber estas mudanças em campo. É brilhante.”

Mauro Cezar Pereira, na ESPN: “Um dos problemas dessa seleção foi a veneração de muitos pelo personagem messiânico construído. Faltaram contestações, sobraram explicações e justificativa para todas as escolhas do técnico. Até centroavante que não faz gol, não dá assistência, não decide, virou ‘fundamental’. Com tantos assessores, o Tite’s Team e suas tolas expressões, como ‘homem terminal’, seguiu agarrado às tais convicções. As mesmas que fizeram de Paulinho, Gabriel Jesus e Willian intocáveis, que levaram Taison e Fred para passear na Rússia, que transformaram Fágner (incrível) em titular. Que reflita sobre elas, pois assim as chances de crescimento do treinador serão maiores. Lições da Copa, ensinamentos do futebol que Tite não deve ignorar, pois, a priori, os passadores de pano parecem dispostos e decididos a continuar lustrando a derrota.”

Pois é. O Brasil voltou para casa, mas a Copa continua. Na sexta, a França venceu o Uruguai por 2 a 0 e é quem enfrentará os belgas amanhã, às 15h, na semifinal. A outra vaga será disputada na quarta-feira, também ás 15h, entre a Croácia, que ganhou da Rússia nos pênaltis após um empate de 2 a 2 na prorrogação, e a Inglaterra, que bateu a Suécia por 2 a 0.

Cotidiano Digital

Os números são de maio, mas inspiram cautela. Segundo a Counterpoint, ao longo do mês, venderam-se no mundo mais iPhones 8 do que Galaxies S9. O celular da Apple tem oito meses e, o da Samsung, dois. A notícia preocupa os coreanos, que não perceberam um movimento forte com o lançamento deste ano.

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