A última que morre: manifesto pede chapa Alcirina

Começou a circular com força, ontem, um manifesto pedindo que Alckmin e Marina abram mão de suas candidaturas em nome de Ciro Gomes. O critério é simples: ele é quem está em terceiro lugar. Os signatários iniciais são Lemann Fellows, brasileiros identificados como tendo alto potencial de liderança pela fundação criada por Jorge Paulo Lemann. “No momento de crise em que vivemos, não podemos arriscar ter o Brasil refém de governos que irão ampliar ainda mais a divisão e polarização do país”, afirma o texto, crítico tanto ao PT quanto às posições de Bolsonaro.

Ciro, evidentemente, já acenou concordar com a chapa apelidada Alcirina. “Me honra muito a ideia de que eu possa ser o estuário de todos”, afirmou, dizendo que endossaria com gosto boa parte dos projetos de Marina — com exceção do Banco Central independente. E alguns dos de Alckmin, como o de simplificar vários tributos criando o Imposto sobre Valor Agregado. A chapa tucana rejeitou. “Manifesto sem autor, sem sentido e sem a menor chance de acontecer.” A de Marina não se pronunciou.

Então... Sutilmente, o ex-governador Jaques Wagner, do PT, indicou o mesmo caminho. “O perfil do Ciro, por ser um cara mais aguerrido, mais intempestivo, pode ser que ele contemplasse mais essa expectativa por um perfil retado, que bata na mesa.” Feitas na terça-feira nos bastidores do debate dos candidatos baianos, as declarações irritaram a alguns no partido. (Estadão)

O movimento em algumas bolhas das redes sociais, começando também ontem, sugeriu uma forte onda de conversão cirista. Por enquanto, só nas bolhas. A pesquisa Ibope que fez entrevistas terça e na própria quarta-feira o viu estável. Oscilou um ponto para baixo, 10%, dentro da margem de erro. Haddad subiu dois e foi a 23% e, Bolsonaro, subiu um. Está com 32%. Os líderes se distanciaram do segundo pelotão. Haddad venceria Bolsonaro no segundo turno de 43% a 41%, empate técnico. Ciro venceria com folga — 46% a 39%.

Pois é... Marina sofreu uma baixa. Um dos seis filhos de seu vice, Eduardo Jorge, virou o voto para Ciro publicamente. (Globo)

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Boris Fausto: “Esta eleição é muito didática, pois desvenda o caráter desta elite brasileira. Seu interesse essencial é garantir os seus privilégios a qualquer custo. Portanto, se existe um sujeito que ela ridiculariza como alguém boçal, mas que representa uma alternativa para evitar qualquer risco nos seus ganhos, ela aposta nessa figura. As correntes de opinião pública mais iluministas, que apostam na democracia, não viram o avanço da direita com a importância que isso tinha. As manifestações de 2013 e pelo impeachment, em 2015, apareceram como avisos sombrios, com aquelas faixas que pediam intervenção militar perdidas no meio de tudo. Existe uma tendência forte e autoritária de direita neste momento com uma força que nunca se viu no passado. As novas mídias ajudaram muito a propagar um personagem desconhecido e com mandatos medíocres. Ele acabou galvanizando populações, se convertendo numa espécie de herói, com toda a manipulação de um discurso que fala na ‘mão de Deus’. Vivemos um irracionalismo impressionante. Em caso de sucesso nas urnas, aposto que o voo será curto. Me pergunto o que será dele em caso de derrota. Ao perder, Bolsonaro não deixará de ganhar. Talvez fique mais fortalecido do que com a conquista do poder.” (Valor)

Mariliz Pereira Jorge: “Fernando Haddad culpou o ‘fascismo da elite’ pelo aumento de sua rejeição. O PT não aprende. Não entende que o crescimento, e possível vitória, de um candidato raso de ideias e grosso no autoritarismo não é porque a ‘elite’, da qual a classe média faz parte, é fascista. É porque ela está de saco cheio de ser tratada como tal e apontada como responsável por todos os males do país, enquanto o partido age como se não tivesse nada com isso. Veja o que ocorreu no fim de semana. A manifestação orquestrada por um grupo de mulheres foi histórica e elas serão uma oposição barulhenta, caso o deputado se eleja. Mas a expectativa de mostrar força e resistência saiu pela culatra, porque o #elenão sem Haddad no pacote desceu arranhando a goela como apoio velado ao PT. Protestar contra misoginia não comove ninguém se a corrupção é tratada como mal menor. Não dá para gritar contra um candidato que diz atrocidades e se calar em relação a um partido que mergulhou o país numa crise política, econômica e social desse tamanho. Pau que bate em Chico deveria bater em Francisco.” (Folha)

Segundo levantamento feito pelo Globo, o número de fake news em circulação começou a se ampliar na reta final de campanha. As localizadas vêm principalmente de perfis ligados à candidatura Bolsonaro, mas não apenas. O alcance também cresce. Nas páginas acompanhadas pelo diário carioca, a interação com conteúdo falso aumentou nove vezes quando comparada ao início de setembro.

Está duro... O septuagenário advogado Antonio Claudio Mariz de Oliveira, que defende o presidente Michel Temer, foi denunciado em delegacia por um colega. Ambos discutiam a respeito da eleição. O bem mais jovem Rubens Decoussau Tilkian defendia Bolsonaro; Mariz de Oliveira fincou pé, veementemente contra. Terminaram na mão. (Folha)

Cultura

A Netflix vai produzir novas séries de TV e filmes baseados na clássica obra de CS Lewis As Crônicas de Nárnia. A plataforma e a The CS Lewis Company firmaram um contrato de vários anos que permitirá que o serviço de streaming desenvolva histórias clássicas de todo o universo de Nárnia. É a primeira vez que os direitos de todos os sete livros foram mantidos pela mesma empresa.

Enquanto isso... A plataforma divulgou ontem o trailer de O Mundo de Sabrina. A volta da ‘Aprendiz de Feiticeira’ está marcada para 26 de outubro.

Outra obra clássica, mas de George Orwell, A Revolução dos Bichos ganhou uma versão em quadrinhos (Amazon). Lançado esta semana pelo selo Quadrinhos na Cia, da Companhia das Letras, o álbum condensa o livro publicado em 1945 numa sequência de 176 páginas pintadas pelo artista gaúcho Odyr — conhecido pelos álbuns Copacabana e Guadalupe, e por participar de coletâneas como Irmãos Grimm em quadrinhos. Essa é a segunda de uma série de adaptações para o formato a partir de encomendas da editora a artistas brasileiro. A primeira foi O idiota, de Dostoiévski, assinada por André Diniz (Amazon). Adaptações de Hilda Hilst e de Victor Hugo vem por aí. (Globo)

Lendária na cena do design brasileiro, a revista Tupigrafia está para tirar seu número 12. Se conseguir levantar dinheiro o suficiente numa campanha de crowdfunding. Editada por Tony de Marco — colunista gráfico cá do Meio — e Claudio Rocha, traz artigos sobre tipografia e é composta como se fazia antes dos computadores: em chumbo.

Viver

A cientista americana Frances Arnold tornou-se ontem a quinta mulher a receber o Nobel de Química — no total, elas representam menos de 3% de todos os vencedores. Ela receberá a metade do prêmio total de nove milhões de coroas suecas por ter desenvolvido “a evolução direcionada de enzimas”, uma técnica usada em inúmeros processos bioquímicos, como a produção de biocombustíveis e medicamentos. A outra metade é do americano George Smith e do britânico Gregory Winter, pelo uso de vírus em bactérias para gerar novas proteínas, e por sua aplicação à criação de fármacos como a insulina.

E por falar em mulheres cientistas... A canadense Donna Strickland, que levou o Nobel de Física este ano, só ganhou uma página na Wikipedia na terça-feira, horas depois do anúncio da premiação. Ela teve sua submissão rejeitada pelos moderadores do site em março, que não acharam suas referências significativas o suficiente para que ela merecesse sua própria página na enciclopédia. Gérard Mourou, com quem ela dividiu o prêmio, tinha uma página da Wikipedia desde 2005.

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Para assistir com calma: O nível do mar está subindo. Isto é fato. Mas não o está fazendo uniformemente. Ao longo do século 20, o mar de Nova York subiu 1,5 vezes mais rápido do que a média global. Isso não faz muito sentido se você imaginar o nível do oceano subindo como água em uma banheira. Mas no planeta não é assim — diferentes partes dele estão em diferentes alturas. A The Verge mostra como isso funciona em um vídeo que usa cubos de gelo e um secador de cabelo.

Cientistas encontraram evidências da existência do que poderia ser a primeira lua fora do sistema solar. Ela está a 8.000 anos-luz da Terra, na constelação de Cygnus, e orbita um planeta gigante de gás que, por sua vez, orbita uma estrela chamada Kepler-1625. A hipótese deve ser confirmada por observações futuras do Telescópio Espacial Hubble. E a candidata à lua é incomumente grande — potencialmente comparável a Netuno.

Enquanto isso... A empresa espacial Blue Origin, do bilionário americano Jeff Bezos, está projetando uma grande sonda lunar para fornecer acesso reutilizável à superfície da Lua e a seus recursos. A companhia disse que pretende pousar no satélite em cerca de cinco anos. (Globo)

Cotidiano Digital

Tim Cook, CEO da Apple, aproveitou o mau momento do Facebook para tripudiar. Ele garantiu aos usuários de produtos da companhia que um vazamento como o ocorrido no final da semana passada na rede social, que atingiu 50 milhões de pessoas, não seria possível com os produtos de sua empresa. Porque a Apple armazena muito pouco da informação que coleta. “Privacidade é central para liberdade”, diz Cook. “Não quero coloca-la em risco.” Ao abrir mão de armazenar certos dados, aliás, não consegue fazer de Siri, sua assistente, tão capaz quando as concorrentes. Há perdas na decisão.

O Google lançou ontem uma série de mudanças de impacto na Assistente do celular. Ela continua capaz de reagir a inúmeros comandos de voz. Mas, a partir de agora, também permitirá interação por toque e oferecerá mais respostas visuais. Pergunte por restaurantes próximos e ele apresentará fotografias. Assim como oferecerá comandos para dimerizar e mudar a cor de lâmpadas inteligentes na casa. Vai oferecer, até, a possibilidade de compras por voz em lojas locais. Ao menos, nos EUA.

Só vale para os EUA. Mas o Google vai iniciar um teste para compreender as dificuldades com streaming de games. Project Stream. Quem morar lá e tiver uma conexão de pelo menos 25mbps pode se inscrever para o teste. O problema não é trivial — e a causa é latência. Um filme, mesmo 4K, é linear. Para streaming, o sistema pode carregar o máximo possível do que virá com antecedência. Aí vai passando. Em videogame não funciona assim. O usuário aperta o botão, gira o joystick, ele espera resposta imediata — o tiro, a corrida, o chute a gol. Ou seja, os dados têm de ir e voltar do computador do sujeito ao servidor com muita velocidade. Project Stream vai experimentar com um dos games favoritos do momento: Assassin’s Creed Odyssey. Que poderá ser rodado no browser Chrome dum computador.

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