Pequenas crises rondam política externa de Bolsonaro

Três fontes de confusão se abriram na política externa brasileira. Uma com a China, a segunda com o mundo árabe e, a terceira, envolvendo Europa e Mercosul.

Os negociadores de Mercosul e União Europeia aceleram as tratativas para um acordo bilateral entre os dois blocos que, se concretizado, será o maior já assinado pela UE. No último dia 24, os países sul-americanos enviaram uma proposta. Amanhã, os comissários europeus se debruçam sobre ela para mandar nova versão. Uma corrida se instalou para que algum termo seja assinado ainda durante o governo de Michel Temer. As barreiras, por enquanto, estão mais no protecionismo de lá do que nos de cá. Mas não são apenas as declarações anti-Mercosul do time de Bolsonaro que preocupam. Os europeus veem com discreto alerta os acenos do futuro presidente para os EUA, temendo perda de espaço para produtos do continente no Brasil.

O que pega no mundo árabe é a decisão anunciada pelo novo governo de transferir a embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém. Sob Donald Trump, os EUA fizeram isto. Os palestinos não gostam — parte da disputa local se dá pela autonomia da Cidade Santa. Se Israel a trata como capital, os muçulmanos se queixam. E, nesta toada, o Egito cancelou a viagem que uma comitiva brasileira faria ao país. O aceno é para a possível interrupção de compra de carne halal, abatida nos preceitos do Islã, e que faz parte relevante das exportações brasileiras. 45% do frango e 40% dos bovinos vendidos pelo Brasil são halal. A transferência da embaixada para Jerusalém atrai evangélicos, mas nenhum país se arriscou a cortar o comércio exterior com os EUA. Já com o Brasil é diferente. A resposta diplomática pode custar caro. (Folha)

O China Daily, principal veículo utilizado pelo governo de Beijing para se comunicar com o ocidente, publicou editorial fazendo análise da virada diplomática pela qual o Brasil pode passar. Hoje, a China investe algo como US$ 124,5 bilhões aqui e tem planos de expansão dos negócios. Mas vê com preocupação as constantes afirmações de Bolsonaro a respeito de o país ‘estar comprando o Brasil’. Ao menos nesta frente, um recuo do novo ocupante do Planalto foi devidamente registrado.

Pois é... Olavo de Carvalho está se oferecendo para ser embaixador brasileiro em Washington. “O que o Brasil mais precisaria é de dinheiro”, afirmou o professor. “Como embaixador nos EUA, eu saberia fazer dinheiro. Eu peguei alguma prática desse negócio de comércio internacional no tempo em que morei na Romênia. Não sou um total ignorante no comércio internacional.” (Folha)

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Os sinais políticos apontam para uma virada na estrutura de poder do Senado. Lá, a presidência tem oscilado entre parlamentares de Norte e Nordeste, em geral do MDB, que costuma ter a maior bancada. Renan vinha despontando como candidato e sua principal pauta perante os pares era o combate à ofensiva da Lava Jato. Com a transformação de Sérgio Moro em superministro da Justiça, porém, a operação contra corruptos se tornou política de Estado. “Quem acompanha de perto o que está rolando nos bastidores”, escreve Andrei Meirelles, “já descarta Renan do baralho.”

Aliás... No pacote anticorrupção defendido pelo juiz, a Controladoria Geral da União se tornaria ainda mais independente do governo para poder vigiar seus passos. Bolsonaro a preferia subordinada ao próprio Moro. Há mais uma disputa entre presidente e seu ministro-estrela. (Folha)

O novo vice, general Hamilton Mourão, entrou no Twitter.

A ministra Cármen Lúcia, do Supremo, manifestou desconforto com o futuro governo. “Queria lembrar que estamos vivendo mudanças não só no Brasil. Uma mudança inclusive conservadora em termos de costumes. Às vezes, na minha compreensão de mundo, e é só na minha, não significa que eu esteja certa, perigosamente conservadora porque a tendência é que de direitos fundamentais que são conquistados a gente recue”, disse. “Mesmo que eu fique preocupada com as escolhas feitas, elas são típicas de cidadãos livres. O brasileiro está nas ruas, está presente. Se ele fala algo que não gosto, não é meu inimigo.” (Folha)

O Ibovespa encerrou ontem, pela primeira vez na história, acima dos 89 mil pontos. O impulso veio da confiança dos investidores com a continuidade das reformas fiscais e na escolha dos nomes fortes do novo governo. O otimismo deve vir também da parte dos estrangeiros, que devem voltar à Bolsa — segundo especialistas, o Brasil é hoje um dos países mais bem posicionados entre os emergentes.

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HealthTech

Pouco passado dos 30, o jornalista Nicholas Thompson completou uma maratona em 2:43. Seu recorde pessoal. Com o passar do tempo, e com a idade, sua performance foi lentamente caindo. Até que, próximo dos 43 anos, a turma da Nike o procurou com uma proposta: e se tivesse à sua disposição a melhor tecnologia e os melhores treinadores. Nos meses seguintes, o editor da Wired foi mergulhado na ciência de ponta da performance física. Além de um monitor cardíaco, passou a correr com sensores nos tênis para avaliar a perda de energia na pisada. Sua capacidade de processamento de oxigênio foi medida. E, com base nos dados, o treino foi cuidadosamente planejado. No dia da Maratona de Chicago, o trio de especialistas que o acompanharam analisaram o percurso, sobrepuseram sobre o mapa os índices de vento do dia e lhe garantiram: Thompson bateria seu recorde ali. E assim o fez: 2:38:25. Seu relato sobre o que ciência e tecnologia fizeram para sua corrida, para quem gosta, é imperdível.

A Escola de Medicina da Universidade de Stanford, no Vale do Silício, anunciou ter feito o maior estudo sobre fibrilação auricular jamais realizado. Por conta de uma parceria com a Apple, quase 420 mil clientes dos relógios inteligentes da companhia foram acompanhados durante um longo período. O objetivo é simples: qual a capacidade de um smartwatch diagnosticar o fenômeno, caracterizado por batimentos cardíacos rápidos e irregulares, com precisão? O resultado só sairá em 2019. Se o diagnóstico preciso já for possível, haverá aí um avanço. Afinal, estes batimentos irregulares são sinal de que há um problema — pode ser hipertensão, doença coronariana, ou algo de errado com válvulas. Muitos sofrem AVCs ou ataques cardíacos por não saber que estão doentes. Há um segundo dilema, que o estudo não ataca: se o relógio avisar que há algo errado, pacientes procurarão ajuda médica? A dúvida é real. Mas o primeiro passo está sendo dado: descobrir se estes aparelhos, que já entraram em nossas vidas, podem mesmo diagnosticar.

Cultura

Elas estão de volta. Mas nem todas. As Spice Girls anunciaram ontem que farão uma turnê de reunião do grupo. Mas apenas 4 das 5 integrantes rodarão os palcos cantando sucessos. Victoria Beckham não se juntará às ex-companheiras de grupo. As cantoras passarão, inicialmente, pelo Reino Unido em junho de 2019. Mas há expectativas sobre uma turnê mundial após as primeiras apresentações.

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O Cirque de Soleil trará ao Brasil o seu espetáculo ‘brasileiro’: OVO, dirigido e criado por Deborah Colker, estreia em Belo Horizonte em março de 2019, e segue por Rio, Brasília e São Paulo, até maio. Com a trilha sonora criada pelo compositor Berna Ceppas passando por várias fases da música brasileira, e cenário de Gringo Cardia, o espetáculo conta a história de uma comunidade de insetos que recebe com alguma desconfiança um ovo misterioso. (Estadão)

O grupo musical O Teatro Mágico foi tema da prova de Linguagens do Enem no domingo, e um de seus integrantes resolveu responder a questão nas redes sociais com um vídeo. A pergunta trazia a foto de uma apresentação da banda e abordava a originalidade de seus shows que, segundo o exame, teriam relação com a ópera europeia do século XIX. O estudante deveria responder qual característica do grupo o aproximava desta ópera. (Globo)

Harry Potter, Harijs Poters, Haris Poteris, Hari Poter... Em gráficos, o Nexo mostra em quais idiomas os termos da saga mais sofrem alteração em relação ao original inglês.

Viver

A Amazon planeja dividir sua segunda sede uniformemente entre duas cidades. Quem diz é o Wall Street Journal. Segundo fontes ouvidas pelo jornal, a empresa concluiu que dividir seus escritórios permitiria o acesso a mais talentos tecnológicos — incluindo aqueles que podem não querer se afastar muito de casa. A Amazon também quer evitar ser a única grande empresa na cidade. A adição de 50 mil trabalhadores, mesmo em mais de uma década, provavelmente causaria alguns problemas nos sistemas de trânsito e poderia levar a problemas como a falta de moradias a preços acessíveis — algo com o qual a empresa lidou em Seattle. Segundo o New York Times, a empresa está próxima de um acordo para se mudar para o bairro de Long Island City, no Queens, em Nova York, e para Crystal City, em Arlington, Virgínia, um subúrbio de Washington.

Galeria: Do metrô de Nápoles, feito por Óscar Tusquets, aos mictórios públicos de Rem Koolhaas. Dez casos de grande arquitetura no mundo que passam despercebidos.

Completaram-se ontem três anos do desastre em Mariana. A ruptura da barragem de Fundão é considerada a maior tragédia ambiental do país e da história mundial em termos de volume de rejeitos vazado, extensão de danos ao meio ambiente e prejuízo financeiro. Mas a acusação de homicídio contra parte dos executivos envolvidos no desastre foi atenuada — a medida pode ser estendida para os réus restantes, e o processo aguarda decisão. A investigação do governo sobre a responsabilidade de funcionários públicos no caso não foi concluída. O desastre também não serviu para melhorar leis ambientais nos últimos anos, segundo especialistas. Os atingidos ainda aguardam indenização e a reconstrução dos vilarejos destruídos, que deve terminar em 2020. O Nexo entrevistou Joana Nabuco, advogada e consultora da ONG Conectas, que afirma que governo ‘terceiriza’ reparação a atingidos e que é necessário oferecer mais que indenização.

 

A 24ª Conferência do Clima, que ocorrerá em dezembro, pretende que governos, indústrias e populações inteiras mudem a forma de se relacionar com o meio ambiente. O objetivo é limitar o aumento da temperatura global em até 1,5ºC até o final do século, tendo como comparação o clima na era pré-industrial. Em algumas cidades do mundo, no entanto, o aquecimento já se aproxima dos 3ºC. É o caso de São Paulo. E as consequências podem ser graves.

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