No Brasil, a negligência mata

Pelo menos 1.774 pessoas morreram ao longo de 12 anos em tragédias que poderiam ter sido evitadas. Foram desastres de avião, enchentes, desabamentos, naufrágios e diversos outros incidentes que talvez não tivessem ocorrido se regras de segurança e leis tivessem sido cumpridas. Além da negligência de agentes públicos e privados, a impunidade é outra marca dessa estatística. Nenhum dos processos a respeito de tragédias acontecidas desde 2007 resultou em condenação dos responsáveis. “No Brasil, o pessoal empurra com a barriga. Sabe que tem problema, que está errado, mas continua fazendo”, diz especialista em segurança. (Globo)

Chegou a 165 o número de mortos em Brumadinho, devido ao rompimento de uma barragem da Vale. Ainda há 160 desaparecidos. Para advogado especialista em legislação sobre desastres, acidentes desse tipo acontecem em todo o mundo. A diferença é como o poder público lida com a questão. Na avaliação dele, interesses políticos e econômicos estimulam a impunidade. (Estado de Minas)

O Rio de Janeiro estava ainda contando os mortos no temporal de quarta-feira (já são sete) quando uma nova tragédia se abateu sobre a cidade. Dez adolescentes morreram no incêndio do Centro de Treinamentos do Flamengo, em Vargem Grande, na madrugada de sexta. A causa foi um curto-circuito no ar condicionado. Os rapazes, com idades entre 14 e 16 anos, treinavam nas divisões de base e moravam num alojamento improvisado em contêineres. O CT funcionava sem alvará do Corpo de Bombeiros, já havia sido multado 31 vezes e fora interditado pela prefeitura. O clube admitiu que as paredes eram revestidas com poliuretano, o mesmo material da boate Kiss, mas descartou ligação com o incêndio.

Maior ídolo da história rubro-negra, Zico criticou duramente a diretoria. “Quando se é multado 30 vezes, não se pode empurrar o problema com a barriga, esperando mais 20 multas”, disse em entrevista (veja o vídeo).

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Completando uma semana pesada, 13 homens foram mortos durante uma operação da PM em morros do Centro carioca. A maior mortandade em ação policial desde 2007. As famílias acusaram policiais de executarem os suspeitos já rendidos, e a Anistia Internacional cobrou uma investigação independente.

Aliás, condenado por tortura em um caso de 2005 e expulso da corporação, um tenente da PM conseguiu voltar à tropa aproveitando-se de filigranas técnicas da legislação. Acaba de ser promovido a capitão. Por mérito.

A Suprema Corte dos Estados Unidos bloqueou na semana passada uma lei da Louisiana que, segundo críticos, limitaria o acesso ao aborto no estado do sul do país. Foram 5 votos a 4 — o conservador magistrado John Roberts se uniu aos colegas progressistas na decisão. O caso era considerado um teste para o principal tribunal do país, que passou a contar com uma maioria conservadora no governo de Donald Trump. Desde a nomeação de Brett M. Kavanaugh para a Suprema Corte, em julho, grupos defensores do direito ao aborto alertam para uma ameaça a ‘Roe v. Wade’, a decisão histórica de 1973 que tornou o aborto legal em todo o país. Alguns estados têm tentando fortalecer o acesso ao procedimento, enquanto grupos anti-aborto têm pressionado por mais restrições. Hoje, nove estados têm leis que protegem o direito ao aborto. Outros 18 têm leis que poderiam ser usadas para restringir a legalidade no caso de a jurisprudência ser derrubada. (New York Times)

Política

O Planalto escolheu um novo inimigo, a Igreja Católica, ou ao menos o chamado “clero progressista”. Documento da Abin aponta a perspectiva de o Sínodo (encontro global de bispos) que acontecerá em outubro no Vaticano e discutirá a Amazônia se tornar uma plataforma de críticas ao governo Bolsonaro. O Itamaraty já foi acionado, busca apoio no governo conservador da Itália e pediu para enviar representantes ao Sínodo. Os bispos são contra. (Estadão)

Ainda no campo religioso, mas inteiramente fechados com Bolsonaro, os evangélicos estão em pé de guerra com o vice Hamilton Mourão. Líderes de igrejas, como o pastor Silas Malafaia, e parlamentares querem que o presidente desautorize o vice no episódio da transferência da embaixada do Brasil em Israel. (Estadão)

Não é só com Mourão que os evangélicos estão preocupados. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (Dem-RJ), defende que a reforma da Previdência tenha prioridade em relação à pauta conservadora de costumes. Líderes da bancada evangélica temem dar um “cheque em branco” aprovando primeiro a reforma e alegam que temas como escola sem partido e combate à “ideologia de gênero” serviriam para testar a base. (Folha)

A ministra da Família, Mulher e dos Direitos Humanos, Damares Alves, está preparando a nomeação de Sara Winter para um cargo no ministério. Sara foi uma das líderes do movimento anti-machismo Femen. Em 2015, no entanto, passou a participar do chamado Grupo Pró-Mulher e começou a militar contra as pautas que antes defendia. Hoje, ela declara-se católica, contra o aborto e antifeminista.

Causou constrangimento no governo a denúncia de que o PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro, criou uma candidata laranja para desviar dinheiro do fundo partidário. Maria de Lourdes Paixão, que concorria a uma vaga de deputada estadual pelo Ceará, recebeu R$ 400 mil do partido para sua campanha, mas teve somente 247 votos. O dinheiro foi enviado quatro dias antes da eleição. A gráfica em que a verba deveria ter sido usada para imprimir santinhos disse nunca ter visto a cor do dinheiro. Homem forte do partido, o ministro Gustavo Bebianno, da Secretaria-Geral da Presidência, tentou falar ao telefone com Bolsonaro neste domingo, mas não foi atendido. (Folha)

Leandro Colon: “O PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro, usou candidatas laranjas para driblar a legislação eleitoral em esquema de desvio de verba pública. Na cara dura, o presidente da sigla afirmou que a culpa é da lei, afinal, segundo ele, as mulheres não têm a vocação política. O atual ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antonio é o mandachuva da legenda em Minas. Seu grupo escalou quatro mulheres para preencher a cota. Na prática, elas fingiram ser candidatas. Eram laranjas. Em Pernambuco, uma funcionária do partido, indicada como candidata também para garantir a cota feminina, levou R$ 400 mil do fundo partidário, o terceiro maior repasse da legenda em todo o país. Bolsonaro nega as acusações de que é machista. Ele silenciou sobre o laranjal do PSL, mas deveria repudiar publicamente o discurso misógino do chefe do seu partido.” (Folha)

Internado há 15 dias no Hospital Albert Einstein, Bolsonaro gravou um vídeo pedindo à Polícia Federal encontre os responsáveis pelo atendado a faca que sofreu em setembro do ano passado, durante ato de campanha em Juiz de Fora.

Então... O presidente finalmente começou a seguir o perfil do vice Hamilton Mourão no Twitter, rede social que frequenta assiduamente.

Com ele internado sem previsão de alta, aliados enfrentam outro problema no Congresso: a atuação beligerante de seus filhos, o deputado Eduardo e o senador Flávio, no Legislativo. Os dois já foram aconselhados a adotar um tom de cautela, pois tudo o que fazem se reflete no Planalto. (Globo)

O ministro do STF Gilmar Mendes ficou furioso ao saber pela imprensa que ele e a mulher, a advogada Guiomar Mendes, são alvo de investigação da Receita Federal por suspeita de corrupção, lavagem de dinheiro e tráfico de influência. Classificando a iniciativa do Fisco como “abuso de poder”, Gilmar exigiu providências do presidente do Supremo, Dias Toffoli. A corregedoria da Receita investiga o vazamento das informações. Segundo os fiscais, Guiomar recebeu lucros de um escritório de advocacia sem referência aos trabalhos realizados entre 2014 e 2015.

Lauro Jardim: “Em 2016, num julgamento no STF, Gilmar foi o líder da tese de que os contribuintes não tinham mais direito ao sigilo fiscal. O caso em questão versava justamente sobre uma pessoa física. A partir daí, ficou decidido pelo STF — numa decisão polêmica entre os tributaristas, ressalte-se — que a Receita poderia ter  acesso automático aos dados bancários do contribuinte sem ter que receber o o.k. do Judiciário. Gilmar atuou, ao menos neste voto, como uma espécie de teórico do fim do sigilo fiscal.” (Globo)

Cultura

Childish Gambino — nome artístico do ator e cantor Donald Glover — não foi à cerimônia do Grammy na noite de ontem. Mas This is america (YouTube) levou quatro prêmios, inclusive dois dos principais, de Melhor Canção e Melhor Gravação. Foi o primeiro rap a ganhar estas categorias na história do Grammy. Os outros prêmios principais da noite ficaram com Dua Lipa, como Artista Revelação, e Golden Hour (Spotify), da cantora de country Kacey Musgraves, o Álbum do Ano. Veja todos os vencedores.

Drake levou para casa o prêmio de Melhor Canção de Rap, com God's Plan (Spotify). E o rapper aproveitou seu discurso para lembrar a todos que ganhar um Grammy não é tudo. Pois é. Drake afirmou que a indústria da música é dirigida por pessoas que “podem não entender o que um garoto mestiço do Canadá tem a dizer, ou uma garota espanhola de Nova York”. Seu discurso foi interrompido por comerciais. Vários artistas, incluindo Drake, recusaram os convites para se apresentar na cerimônia de 2019. Suas decisões, juntamente com a completa ausência de Donald Glover, foram interpretadas como protestos contra a deferência da Academia aos artistas brancos.

Aliás... As melhores perfomances da noite, segundo a Vox.

A ex-primeira dama Michelle Obama foi ovacionada ao surgir de surpresa no palco da premiação ao lado de Lady Gaga, Jennifer Lopez e Jada Pinkett Smith.

E o Grammy em fotos.

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Também foi noite de Bafta, a principal premiação do cinema britânico. A favorita (trailer) conquistou sete prêmios. Mas Roma (trailer) levou a estatueta mais cobiçada da noite, de Melhor Filme. Veja os vencedores.

Cotidiano Digital

Para ler com calma: A turma da Kantar Ibope Media mergulhou em uma série de pesquisas e estudos para entender o estado atual da influência de algoritmos e redes sociais na publicidade e como nos relacionamos com as marcas no mundo digital. O relatório, que começou a ser divulgado hoje, aponta algumas tendências para o ano. Plataformas devem começar a oferecer a opção de fugir do algoritmo. O Twitter por exemplo, liberou recentemente uma opção em que todos os tweets de quem você segue aparecem, sem filtro algorítmico. Marcas voltam a investir em canais próprios de mídia, fortalecendo o vínculo direto e o engajamento com o público e reduzindo sua dependência das redes sociais. Por outro lado o comércio social cresce, com algumas plataformas se tornando cada vez mais pontos de venda, como o Instagram Shopping ou o Shop the Look do Pinterest. Já para os influenciadores, a aposta é que terão um ano difícil por conta da perda de confiança que tiveram com o excesso de ações nos últimos anos.

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