Militares e Maia defendem Bebianno

Quase 48 horas após ser chamado de mentiroso por Carlos Bolsonaro e depois pelo próprio presidente, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, continua no cargo. Não pediu demissão e, em entrevista à Crusoé, afirmou que Bolsonaro “tem medo de receber algum respingo” das denúncias de que o PSL usou candidatas laranja para desviar dinheiro do fundo partidário durante as eleições. Ele também telefonou para Sérgio Moro, ministro da Justiça, colocando-se à disposição para explicar as denúncias.

Não são poucas suas frentes de apoio. De um lado, o núcleo militar vê na sua permanência uma forma de estancar a crescente e incômoda influência dos filhos do presidente no governo. O vice Hamilton Mourão chegou a dizer que Bolsonaro deve dar uma “ordem unida” nos filhos. De outro, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, disse ao ministro Paulo Guedes que a eventual demissão de Bebianno seria vista como falta de compromisso com o Congresso, indício de que Bolsonaro abandona os seus, prejudicando a tramitação da reforma da Previdência.

Levantamento da Folha mostra que potenciais candidatas laranjas foram usadas por pelo menos 14 partidos.

Vera Magalhães: “Um personagem passa ao largo da crise, ao menos até aqui: Luciano Bivar, o presidente de fato do PSL e que cedeu a sigla para abrigar a família e aliados de Bolsonaro já na reta final do prazo de filiação partidária. A própria reportagem da Folha começava dizendo que foi Bivar — e não Bebianno — quem ‘criou’ uma candidata laranja em seu quintal eleitoral, Pernambuco, que recebeu R$ 400 mil e teve 274 votos. As gráficas que fizeram o serviço são ligadas a ele. O próprio Bivar foi o pesselista mais aquinhoado com recursos do fundo partidário.” (Estadão)

Francisco Leali: “Quando o presidente diz que o ministro mente, ao invés de declarar que acredita que o auxiliar tem sua confiança e espera que ele prove a inocência, a porta da rua parece ser a serventia da casa. Mas há que se considerar que Bebianno estava em todos os momentos decisivos de 2018 ao lado do candidato. Ouviu conversas, sabe como foram tomadas as decisões estratégicas de campanha, das corriqueiras às menos ortodoxas. Ou seja, se ministro que arde sabe demais, o presidente pode ser aconselhado a mantê-lo ali ao alcance da sua vista.” (Globo)

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Um dos temas polêmicos na reforma da Previdência foi solucionado nesta quinta. Pela proposta decidida com Bolsonaro, haverá idade mínima para aposentadoria de 65 anos (homens) e 62 anos (mulheres) e um período de transição de 12 anos. Segundo o secretário da Previdência, Rogério Marinho, Bolsonaro preferia uma transição mais longa e idade mínima de 60 anos para as mulheres, mas “entendeu as condições da economia”. A aposentadoria poderá ser pedida em três situações: idade, tempo de contribuição com pedágio ou um sistema de pontuação que combina os dois. O mercado financeiro gostou, com a Bovespa fechando em alta de 2,27% e o dólar recuando para R$ 3,74. Se aprovada pelo Congresso na forma como ficou definida hoje, a economia será de R$ 1,1 trilhão em dez anos, segundo o ministro Paulo Guedes.

Os líderes dos partidos aliados não estão otimistas. Na avaliação deles, a idade mínima será modificada no Congresso. José Rocha, líder do PR na Câmara, acha que a equipe econômica colocou “a idade para cima” a fim de negociar. Mesmo quem apoia pessoalmente o projeto prevê dificuldades de explicar a proposta a suas bases. Além disso, ganha corpo na Câmara resistência a qualquer mudança na aposentadoria rural. (Folha)

Míriam Leitão: “Haverá idade mínima de 65 anos para homens e de 62 anos para mulheres, após um período de transição de 12 anos. A principal informação que falta aqui é o ponto de partida. A partir de que idade se iniciará a transição? Sem isso, os economistas terão que arbitrar uma idade para fazer os cálculos de economia com a proposta. As bolsas subiram porque Bolsonaro chegou a falar em idades mínimas de 62 anos para homens e 57 anos para mulheres. Mas ainda faltam muitos detalhes para se saber o impacto fiscal da reforma Bolsonaro.” (Globo)

Mônica Bergamo: “O presidente Jair Bolsonaro (PSL-RJ) disse em 2017 que ‘aprovar uma reforma [da previdência] com 65 anos é, no mínimo, uma falta de humanidade’.” (Folha)

Ontem o Meio falou de uma reportagem da revista Época, naquele momento disponível somente via app, em que Bruno Abbud detalha as investigações da PF sobre Adélio Bispo, o homem que tentou matar Bolsonaro. O texto já está disponível na internet.

A Lava-Jato prendeu esta manhã, no Rio, Régis Fichtner, ex-secretário da Casa Civil de Sérgio Cabral. Ele é acusado de receber R$ 1,56 milhão em propinas. (Globo)

Criticado por admitir que não conhecia a Amazônia e minimizar a importância de Chico Mendes, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, visitou uma aldeia Pareci no Mato Grosso e publicou no Twitter uma foto usando cocar com os índios. Embora fique na região Centro-Oeste, a área é reconhecida como parte da Amazônia Legal. Esqueceram de avisar a ele que, no folclore político, usar cocar dá azar.

Diante dos crescentes sinais de que a Vale sabia dos riscos da barragem em Brumadinho, cujo rompimento matou 165 pessoas, o presidente da empresa, Fabio Schvartsman, adotou um tom ufanista e emocional ao dizer no Congresso que a Vale é “uma joia nacional” que não pode “ser condenada por um acidente”. Já o MPF afirma que a tragédia foi resultado de uma política deliberada de privilegiar o lucro em detrimento das vidas.

Convencido de que os democratas não vão lhe dar dinheiro para fazer um muro na fronteira com o México e diante do risco de uma nova paralisação do governo, o presidente Donald Trump saiu pela tangente. Anunciou que assinará o acordo de orçamento negociado com a oposição, mas vai decretar estado de emergência e usar verba militar para a obra. Ainda há uma discussão no Congresso para saber se a medida de Trump é legal ou não, e os democratas prometem combatê-la.  (Globo)

Sinal dos tempos. Sarah Sanders, assessora de imprensa da Casa Branca, anunciou a decisão de Trump usando o app Notes, em vez dos canais de comunicação convencionais.

O anúncio veio no mesmo dia em que circulou a notícia de que autoridades do Departamento de Justiça cogitaram usar a 25ª Emenda da Constituição para depor Trump por suspeitas de obstrução de justiça. (Globo)

No Meio de Sábado: Já faz um tempo, mas crises na presidência tendo por pivô o filho do presidente não são novas. Na edição premium desta semana voltaremos àquela envolvendo Maneco Vargas, que terminou no surgimento da expressão ‘mar de lama’, na tentativa de assassinato do líder da oposição e no suicídio de um presidente. Ainda é tempo de assinar. É menos que um cappuccino chique.

PSL, a nova máquina eleitoral

Tony de Marco

 
Caca-Niquel

Viver

O relator de uma das ações que pedem no STF a criminalização da homofobia e da transfobia, o ministro Celso de Mello, não terminou seu voto na sessão de ontem. Ele defendeu os direitos da população LGBT e criticou a “inércia” do Congresso em legislar sobre o tema. A retomada do julgamento foi marcada para a próxima quarta-feira.

Aqui, o voto do ministro em cinco frases — inclusive um recado à ministra Damares Alves.

A Nasa anunciou ontem que selecionou uma nova missão que vai procurar ingredientes da vida em nossa vizinhança. Batizado de Spherex, o observatório espacial previsto para ser lançado em 2023 fará um levantamento ótico e infravermelho em que deverá coletar dados de mais de 300 milhões de galáxias distantes e 100 milhões de estrelas na nossa Via Láctea ao longo de dois anos. O custo: mais de R$ 1 bilhão. O Spherex faz parte do Programa de Exploração Astrofísica da Nasa e concorria com outras oito propostas por sua concretização. (Globo)

Cientistas descobriram evidências que apontam para um ancestral desconhecido dos humanos. A descoberta veio depois de vasculhar o genoma humano usando uma inteligência artificial. Segundo um estudo publicado no Nature Communications, esse ancestral existiu por volta de 80 mil anos atrás. A nova evidência poderia explicar as ligações genéticas entre humanos modernos e nossos primos ancestrais, os denisovanos e neandertais. O fato dos Homo sapiens terem cruzado com essas duas espécies de hominídeos não é suficiente para explicar todos os remanescentes genéticos inexplicáveis encontrados no genoma humano moderno. A ideia de que um terceiro ancestral humano houvesse intercruzado com humanos ancestrais parecia plausível, mas até recentemente não havia provas para apoiar a sua existência.

Cultura

Um  jovem Erasmo Carlos estreia nos cinemas esta semana. Em Minha Fama de Mau (trailer), Chay Suede interpreta o cantor que, fã de Elvis Presley, Bill Halley & The Comets e Chuck Berry, aprende a tocar violão e passa a perseguir a ideia de viver da música. Gabriel Leone é Roberto Carlos e Malu Rodrigues é Wanderléa. Outro brasileiro também chega às telonas: a animação Tito e Os Pássaros (trailer), que foi pré-indicada ao Oscar. No filme, Tito é um menino destemido que nutre grande simpatia pelos pássaros. Ao tentar criar uma máquina para traduzir a linguagem das aves, ele descobre uma maneira de curar o medo. E tem ainda a estreia de A Mula (trailer), que tem no elenco Clint Eastwood — que também é diretor do longa —, Bradley Cooper e Laurence Fishburne. No filme, um homem de 90 anos, falido e afastado da família, aceita um emprego para transportar encomendas pelo país afora. Sem saber, se torna mula de um cartel de drogas. Veja as outras estreias da semana.

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Sucesso da Netflix no ano passado, a comédia romântica A Barraca do Beijo terá continuação. O filme já está em produção, mas ainda não tem data para estrear na plataforma.

E o Oscar decidiu não transmitir na TV quatro categorias na cerimônia deste ano: fotografia, montagem, curta-metragem e maquiagem. Os prêmios serão anunciados durante os intervalos comerciais. Muita gente não gostou. Críticos dizem que a medida representa uma desvalorização dessas categorias. (Folha)

Cotidiano Digital

A Amazon abandonou o projeto de construir uma de suas “segundas sedes” na cidade de Nova York devido a pressões da comunidade e políticos locais, embora contasse com o apoio do prefeito Bill de Blasio e do governador Andrew Cuomo. Baseada em Seattle, no Noroeste dos EUA, a empresa de Jeff Bezos pretendia montar duas sedes na Costa Leste e, após um longo “leilão” em que exigia benefícios fiscais, escolheu Nova York e Arlington, no norte da Virgínia. A expectativa era gerar 25 mil empregos em cada uma das sedes. Mas a Amazon não esperava a reação em Nova York, motivada em grande parte pelo peso das isenções fiscais sobre os contribuintes. A construção da sede na Virgínia está mantida.

Nem Facebook, nem Tinder, nem joguinhos. O aplicativo mais baixado na App Store da China tem o excitante nome de “Estude a Grande Nação”, foi desenvolvido pelo Partido Comunista Chinês e destaca, dia sim, dia também, as decisões do presidente Xi Jinping. O engajamento no aplicativo rende “pontos de estudo” e promete brindes no futuro. E é aí que mora o perigo. Desde 2014 a China desenvolve um sistema de “créditos sociais” que observa o comportamento do cidadão e envolve punições a quem tiver comportamento considerado inadequado pelo governo.

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