Vazamentos e derrota alimentam crise

A expectativa do Planalto era de que a temperatura política baixasse com a demissão do ministro Gustavo Bebianno. Não baixou. A revista Veja revelou com exclusividade áudios das conversas de um irritado presidente Jair Bolsonaro, ainda hospitalizado, com o ministro que acusava de vazar informação. E enquanto Brasília se distraía na escuta das mensagens descuidadas, o governo tomou uma surra histórica em sua primeira — e que deveria ser tranquila — votação na Câmara dos Deputados. Por 367 votos a 57 foi derrubado o decreto que alterou a Lei de Acesso à Informação, ampliando o número de funcionários que podem colocar em sigilo dados governamentais. Até o presidente do PSL, Luciano Bivar, votou contra.

Nos áudios vazados, o presidente, sempre muito impaciente, não aceita as explicações do subordinado sobre as denúncias envolvendo o uso de laranjas pelo PSL e ainda o critica por se reunir com um executivo da Rede Globo, a quem se refere como “o inimigo”. Na última gravação, Bebianno diz que Bolsonaro estava “envenenado” contra ele.

E Bebianno mudou a foto de seu perfil no Instagram. Agora ele aparece apontando um rifle.

Já a derrota na Câmara, teve, segundo analistas, duplo objetivo: esvaziar o líder do governo, Major Vitor Hugo (PSL-GO), e mostrar que a estratégia de negociar com bancadas setoriais não vai vingar. Para aprovar as reformas, o Bolsonaro precisará recorrer aos partidos. Como a natureza odeia o vácuo, o DEM já se movimenta para comandar a articulação do governo no Congresso. O partido tem as presidências da Câmara e do Senado e ainda o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, para quem cobra mais poder no Planalto. (Folha)

Vera Magalhães: “As sucessivas e acachapantes derrotas do governo ontem foram um recado claro: Jair Bolsonaro não sabe o que o espera se insistir em lidar com o Congresso de forma desorganizada ou, pior, impositiva. A data para que a derrota fosse carimbada na testa do governo não poderia ser mais eloquente. Hoje será a vez de Bolsonaro enviar (levar pessoalmente, dizem alguns) a reforma da Previdência, pedra de toque de seu governo, à mesma Casa. Não basta ao presidente colocar o projeto debaixo do braço e posar para fotos. Terá de arregaçar as mangas e negociar a aprovação da medida.” (Estadão)

Bruno Boghossian: “A caminho da lua de mel, Jair Bolsonaro pegou o desvio errado na estrada. O presidente insistiu em dirigir com os olhos vendados, enquanto as crianças berravam no banco de trás. Trocou meses de romance com aliados, eleitores e o Congresso por uma temporada no meio de uma praça de guerra. Em 50 dias de mandato, ele comprovou sua inabilidade para lidar com o Parlamento e gerenciar crises dentro de casa. Na véspera da visita de Bolsonaro ao Congresso para apresentar a reforma da Previdência, a articulação política fracassou, e os partidos resolveram atacar. Agora, eles prometem cobrar caro por uma conciliação.” (Folha)

Cora Ronai: “Jair Bolsonaro ainda não sabe que é Presidente da República. Se sabe, não tem a menor ideia do que isso implica, e das suas imensas responsabilidades. Ouvir a sua troca de ‘zaps’ com Bebianno é deprimente pela mediocridade e pela irrelevância da conversa. Quando consideramos o descaso pela segurança com que o presidente discute assuntos íntimos do governo, porém, entramos em outra dimensão: um homem com o seu poder real e a sua irresponsabilidade virtual é um alto risco de segurança, uma espécie de míssil digital descontrolado. Algum adulto devia ter uma conversa séria com ele a respeito disso.” (Globo)

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É nesse clima que chega hoje ao Congresso a proposta de reforma da Previdência. A expectativa era que Bolsonaro a levasse pessoalmente. Entre os detalhes que já vazaram estão as idades mínimas iniciais para a aposentadoria: 61 anos para homens e 56 para mulheres. (Globo)

Sérgio Moro entregou pessoalmente no Congresso seu pacote com medidas contra o crime organizado e a corrupção. Ele admitiu que a retirada dos itens que tipificavam o crime de caixa dois atendeu a “reclamações razoáveis” de políticos de que era necessário dar prioridade ao combate a crimes mais graves. A questão do caixa 2 vai ser tratada em um projeto separado. A Internet, onde nada desaparece, foi rápida em recuperar declarações de 2017 do então juiz Moro dizendo, nos EUA, que caixa 2 era mais grave que corrupção. (Globo)

Francisco Leali: “A proposta de tipificar o crime de caixa dois corre o risco de virar letra morta. A nova estratégia de fatiar o projeto anticrime , apresentando o assunto do caixa dois em projeto autônomo, é a senha para o Congresso, se quiser, dar ao tema um ritmo de tartaruga na tramitação. O fatiamento para atender a lógica parlamentar pode ser um jeito de buscar um atalho para aprovar aumento de penas para uns, mas deixando o caixa dois no meio da estrada.” (Globo)

Uma nova fase da Operação Lava-Jato, desencadeada nessa terça, atingiu em cheio o ninho tucano em São Paulo. Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, ex-diretor da Dersa e suposto operador do PSDB, foi preso, acusado de movimentar R$ 130 milhões em contas na Suíça. Segundo um delator, ele teria um bunker onde guardaria R$ 100 milhões em dinheiro vivo. Os policiais também cumpriram mandatos de busca e apreensão em endereços ligados ao ex-senador tucano e ex-chanceler Aloysio Nunes Ferreira. Uma das contas mantidas por Paulo Preto na Suíça teria emitido um cartão em nome de Aloysio. O ex-senador, que nega as acusações, pediu demissão ontem da presidência da Investe SP, agência de estímulo a investimentos no estado. (Folha)

Robson Braga de Andrade, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), foi preso na manhã de ontem numa operação da PF contra um esquema de corrupção que teria movimentado cerca de R$ 400 milhões nos negócios de empresas do Sistema S com o Ministério do Turismo. Presidentes das federações de Pernambuco, Alagoas e Paraíba também foram presos. No fim da noite a Justiça Federal mandou soltar todos. O esquema, segundo a PF, envolvia superfaturamento de contratos de publicidade e eventos culturais.

Aliás, a revisão das relações com (e dos repasses de verba para) o Sistema S é uma das propostas do ministro Paulo Guedes.

A Ford do Brasil anunciou o fechamento de sua mais antiga fábrica no país, a unidade de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, que emprega 2.800 pessoas. Segundo a empresa, a operação não era “lucrativa nem sustentável”. Os metalúrgicos da fábrica entraram em greve contra a decisão.

Insatisfeitos com a conduta do líder trabalhista Jeremy Corbyn, oito membros do Parlamento britânico decidiram deixar o partido e formar um grupo independente. Os dissidentes acusam Corbyn de levar o partido muito para a esquerda e de ter uma postura dúbia em relação ao Brexit. Outra frente de crise entre os trabalhistas vem das denúncias de antissemitismo dentro do partido. Há o temor de que a premier conservadora Theresa May use a crise na oposição para antecipar as eleições gerais, previstas para 2022.

Viver

O Ministério Público do Rio investiga uma denúncia de que snipers estariam fazendo “tiro ao alvo” contra moradores de uma favela em Manguinhos, Zona Norte da Cidade. Cinco pessoas morreram baleadas desde setembro sem que houvesse registro de conflitos entre bandidos nem operações policiais na comunidade. Um homem de 22 anos foi alvejado na noite de 29 de janeiro e sobreviveu, mas outro foi morto horas mais tarde no mesmo local. Moradores dizem que os tiros partem de uma torre retangular na Cidade da Polícia, um complexo da Polícia Civil vizinho à comunidade.

O Vaticano designou um bispo para investigar os escândalos de corrupção na Diocese de Limeira, no interior de São Paulo. No centro das denúncias está o bispo Dom Vilson Dias de Oliveira, acusado de extorsão e coação de padres de diversas paróquias da região, além de acobertar denúncias de pedofilia contra um padre de Americana. Ontem, quatro ex-coroinhas que acusam o padre Pedro Leandro Ricardo, já afastado de suas funções na diocese, deram ao Globo seus relatos.

O Senado aprovou ontem um projeto de lei que elimina as exceções legais que permitem o casamento de pessoas menores de 16 anos. Atualmente, o casamento é permitido após a maioridade penal ou após os 16 anos, com a autorização dos pais. Para menores de 16 anos, ele é autorizado em caso de gravidez ou para evitar imposição ou cumprimento de pena criminal. O texto segue agora para sanção presidencial.

Cotidiano Digital

Os limites entre privacidade, vida digital e segurança pública estão cada vez mais fluidos. O Google vem recebendo nos EUA “mandados de busca reversos” por parte de autoridades. Em vez de quererem saber onde estava um suspeito na hora de um crime, os policiais agora querem saber quem estava próximo ao local quando ele ocorreu, usando os dados de georreferenciamento de celulares e os check-ins de aplicativos. A empresa alega que exige ordens judiciais e rejeita buscas demasiado amplas, mas a prática já preocupa defensores do direito à privacidade.

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Criada por um coletivo de programadores e ativistas brasileiros, a robô Rosie angariou 37,9 mil seguidores no Twitter por fiscalizar gastos de parlamentares e publicar automaticamente denúncias de movimentações suspeitas. Fez tanto sucesso que acabou bloqueada. A conta ainda existe, mas Rosie perdeu a capacidade de fazer publicações sem interferência humana. (Folha)

Cultura

Morreu ontem, aos 85 anos, Karl Lagerfeld, designer de moda alemão e um dos maiores ícones do mundo da moda. A causa da morte não foi anunciada. Além de conhecido pelo seu talento na moda — ele começou como freelancer em 1964, fez projetos com grifes como Curiel e Fendi, e foi nomeado diretor artístico pelo conjunto de suas coleções de alta costura, prêt-à-porter e acessórios da casa Chanel em 1983 —, Lagerfeld também era polêmico. Em 2012, disse que Adele era “um pouco gorda demais”. Em 2017, acusou Meryl Streep de ser paga para usar um vestido no tapete vermelho. E em 2018, o estilista que vivia em Paris ameaçou abandonar a cidadania alemã e disse odiar Angela Merkel.

A diretora de estúdio da Chanel e até agora braço direito do estilista, Virginie Viard, ocupará o cargo de diretora criativa da firma após a morte do alemão.

Mais um recorde dos Beatles foi batido na lista da Billboard, dessa vez por Ariana Grande. A cantora tornou-se a primeira artista depois deles a dominar as três primeiras posições na lista de singles simultaneamente. As três músicas fazem parte do novo álbum da cantora e compositora americana, thank u, next (Spotify), que também lidera as paradas de álbuns da Billboard. (Globo)

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