Prezadas leitoras, caros leitores —

Nesta última semana, militantes ligados à direita tentaram impedir que se ouvisse, em Paraty, o jornalista Glenn Greenwald, cofundador do Intercept. Simultaneamente, militantes da esquerda se voltaram em massa e com agressividade contra a jovem deputada Tabata Amaral, nas redes sociais. Ela havia cometido o pecado de votar pela reforma da Previdência por acreditar que é necessária.

O fenômeno vem acontecendo há algum tempo. Uma ou duas vezes por ano, algum episódio faz com que a polarização já presente na sociedade se acirre. Nestes momentos, conversas que já têm sido difíceis se tornam impossíveis, e a irritação já presente no cotidiano das redes se acirra. Vira raiva.

Faz parte do novo jornalismo digital a presença de veículos que defendem um lado ideológico. São legítimos, numa democracia todos têm voz. Mas esta não é a filosofia que embasa cá este Meio. Ocorre que partimos do princípio de que, numa sociedade, haverá gente de esquerda e de direita, que o natural é mesmo que ambos se alternem no poder. O jornalismo do Meio se baseia em olhar criticamente para o governo — qualquer governo. Simultaneamente tenta dar espaço às disputas de opinião na praça pública. Somos uma equipe pequena — mas diversidade não buscamos apenas por gênero, cor ou idade. Buscamos também diversidade ideológica, para que no debate a respeito de cada edição o ponto cego de um seja logo percebido pelos outros.

Em momentos como o atual, o diálogo entre os dois lados se torna impossível. Sem diálogo, a democracia trava, o país trava — e travado está. Já faz tempo. É como uma febre. Até lá seguimos na convicção de que o olhar crítico a quem tem cargo nos três poderes é missão da imprensa. E que toda febre passa. Como ansiamos pelo retorno da conversa entre diferentes.

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— Os editores

E a reforma da Previdência ficou para agosto

A Previdência ficou para agosto. No início da semana passada, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, estava otimista quanto à passagem da reforma neste semestre. A expressiva vantagem na aprovação do texto-base em primeiro turno, por 379 votos a 131, reforçou a convicção. Mas a desarticulação da base governista no momento da análise dos destaques atrasou o processo. Ao final, quatro mudanças foram aprovadas, incluindo aquela pela qual o presidente Jair Bolsonaro pressionou, aumentando vantagens para policiais. A votação em segundo turno, porém, ficou para o mês que vem. No dia 1º, os deputados voltam ao trabalho após o recesso parlamentar. (G1)

O caminho seguinte da emenda constitucional é seguir para o Senado, onde também deverá ser votada em dois turnos. Lá, deve crescer a pressão para que os estados sejam incluídos na reforma. Se não for, os governadores terão dificuldades de aprovar suas reformas para o funcionalismo público local nas assembleias legislativas. Governadores já se articulam para pressionar os senadores. (Globo)

Pois é... Com a principal pauta do ano já encaminhada, o ministro da Economia Paulo Guedes planeja acelerar o processo de privatizações. Segundo levantamento do jornalista José Fucs, a venda de estatais e leilões do pré-sal podem render, neste governo, até R$ 450 bilhões — embora, no ministério, fale-se em R$ 1 trilhão. A conta de Fucs inclui a venda de participações do BNDES em Petrobras, Vale, Eletrobras e JBS, ações da BR Distribuidora, oito refinarias, estradas de ferro. Em alguns casos, como o da venda dos Correios, a desestatização precisa ser aprovada pelo Congresso e conta com opositores fortes. (Estadão)

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O ex-governador Ciro Gomes voltou-se agressivo contra a deputada federal Tabata Amaral, que contra a orientação do partido foi uma das oito a votar a favor da reforma da Previdência. “Se tem alguém que está sofrendo com esta questão, sou eu”, ele disse. “Sabe quem recrutou a Tabata, a estimulou a entrar na política, assinou a filiação dela? Fui euzinho aqui.” Ciro defende sua expulsão do PDT. (Veja)

Tabata Amaral: “Faço aqui uma provocação que julgo saudável para os partidos, com intuito de contribuir para um debate que temos postergado. É uma reflexão diante do impacto provocado pelos oito deputados do PDT, dentre os quais me incluo, que votaram ‘sim’ à reforma da Previdência, e os 11 do PSB, contrariando a orientação partidária. Estamos falando de praticamente um terço das bancadas de duas relevantes siglas que ocupam posição mais ao centro no espectro da esquerda. A expressividade dessa dissidência acendeu ao menos a luz amarela nas estruturas? Sabemos que a extrema esquerda não admite flexibilidade. No entanto, uma parcela da centro-esquerda quer dialogar e caminha para se modernizar. Nós que temos convicções sociais fortes enfrentamos o desafio urgente de termos crescimento sustentável, condição para a consolidação da justiça social. Muitas vezes, consensos sobre pautas complexas não são construídos de baixo para cima, e cartilhas antigas se sobrepõem aos estudos. Quando algum membro decide tomar uma decisão que considere responsável, há perseguição política. Ofensas tomam lugar do diálogo. Exatamente o que vivo agora. A ampla renovação política que está em curso e da qual faço parte agrava o quadro de conflitos internos dos partidos. É racional que as lideranças recorram a argumentos de ocasião para justificá-los. Mais racional contudo é pensarmos no Brasil.” (Folha)

Aliás... Tabata afirma que não quer ser candidata à Prefeitura de São Paulo. Mas tanto o PSDB quanto o PT estão preocupados — seu nome cresce, afirma Alberto Bombig. Os tucanos temem pela reeleição de Bruno Covas, com ela se aproximando do Centro político. O PT vê pelo outro lado, um novo nome de esquerda com ideias novas e slogans, para a juventude, mais atraentes do que o Lula Livre. (Estadão)

Novas gravações da Vaza Jato revelam que o procurador Deltan Dallagnol chegou a discutir montar uma estratégia para lucrar com palestras aproveitando-se da visibilidade da operação Lava Jato. “É um bom jeito de aproveitar nosso networking”, afirmou via Telegram para sua mulher, que pretendia tornar sócia da empresa para que seu nome não estivesse envolvido. “Se fizéssemos algo sem fins lucrativos”, Deltan comentou com outro procurador, “e pagássemos valores altos de palestras para nós, escaparíamos das críticas, mas teria de ver o quanto perderíamos em termos monetários.” (Folha)

Dezenas de militantes com bandeiras verdes e amarelas soltaram rojões e puseram seu equipamento de som a todo o volume para impedir que o público conseguisse ouvir, em um evento paralelo à Flip, o que falava o jornalista Glenn Greenwald, cofundador do Intercept. Apesar da confusão, não conseguiram. “A máscara de Moro caiu para sempre”, afirmou Greenwald. “Temos muito mais para revelar.” (Deutsche Welle)

A candidatura do deputado Eduardo Bolsonaro a embaixador em Washington tem no escritor Olavo de Carvalho um crítico. Em vídeo no YouTube, e depois via Twitter, Olavo argumentou que o filho Zero Três deve permanecer no Brasil para conduzir a CPI do Foro de São Paulo. “Ele não pode lançar uma missão histórica desta envergadura e depois virar um funcionário diplomático em Washington”, afirmou. “Isso não faz nenhum sentido.”

Aliás... Chegou a circular, plantada pelo Planalto, a informação de que o presidente americano Donald Trump cogitava enviar seu filho Eric como embaixador ao Brasil. Uma troca cortês. (Crusoé)

A correspondente em Washington da GloboNews, Raquel Krähenbühl, buscou confirmar. “Todas as autoridades com quem conversei na Casa Branca não ouviram nada sobre Eric Trump ser apontado embaixador”, ela escreveu no Twitter. “Fontes riram quando perguntei.”

O presidente Jair Bolsonaro voltou-se, no sábado, contra a taxa ambiental cobrada dos turistas que visitam Fernando de Noronha — R$ 106 para brasileiros e o dobro para estrangeiros. “Isto explica porque quase inexiste turismo no Brasil”, afirmou o presidente no Facebook. “É um roubo praticado pelo governo federal (o meu governo). Vamos rever isso.” Uma viagem de três noites para a ilha, um paraíso ecológico, tem por piso médio R$ 2 mil para duas pessoas, na baixa temporada, incluindo hotel, avião e a taxa. No verão, passa de R$ 3 mil. O piso.

Cotidiano Digital

A rede de televisão flamenga VRT teve acesso a milhares de gravações captadas pela caixa de som inteligente Google Home. Alguns dos áudios, em holandês e flamengo, legendados em inglês, foram publicados. Vazados por um funcionário terceirizado que tem por missão checar detalhes dos áudios, os jornalistas conseguiram identificar algumas das pessoas gravadas, entraram em contato e confirmaram. Google Home serve de caixa de som, mas também como assistente digital — o mesmo que permite comandos de voz pelo celular. Assim como Apple e Amazon, o Google afirma que não fica espionando ninguém. Ao som de qualquer coisa que se assemelhe a um Ok, Google, o comando de ativação, o aparelho começa a gravar. Sempre que um comando é mal compreendido, esta gravação é enviada para um dos muitos terceirizados, cuja missão é esclarecer o que foi dito — seja em dialeto, com um sotaque particular, ou o que for. A missão dos funcionários é redigir o que foi dito, de forma a ir treinando o sistema de inteligência artificial. O controle, porém, não é perfeito — e um destes vazou os registros para a VRT. Como em algumas das gravações as pessoas mencionaram endereços, telefones ou outros dados que permitem identificação, foi possível confirmar autenticidade. Dentre os registros gravados há conversas de pais com crianças, os sons de relações sexuais e até, em um caso, o flagrante de um episódio de violência doméstica. Não há uma política clara a respeito de o que os treinadores devem fazer quando detectam um episódio do tipo. Uma denúncia, afinal, seria simultaneamente o reconhecimento, pela gigante do Vale, de que pôs um aparelho espião na casa das pessoas. Tipo um Grande Irmão.

Em um post publicado em seu site, o Google classificou o vazamento como uma violação de segurança. De acordo com o post, os especialistas responsáveis pelo treinamento do sistema só têm acesso a 0,2% do que é dito à Assistente. Quando o aparelho está fazendo um registro a indicação é clara — no celular, entra a tela da Assistente; nas caixas de som, as luzes se iluminam. A empresa iniciou uma investigação para identificar o profissional que vazou os dados e tomar medidas legais.

O engajamento com marcas começa a cair, no Instagram. Um estudo da consultoria Trust Insights analisou 140 mil posts pertencentes a pouco mais de 3,6 mil marcas e percebeu uma queda acentuada no número de comentários e likes entre janeiro e junho deste ano. A desconfiança é de que o algoritmo esteja mostrando menos destes posts para estimular o pagamento de anúncios. A estratégia de abrir espaço para marcas e, depois, começar a cobrar já havia sido adotada pelo Facebook antes.

A apresentadora de TV britânica Emily Hatridge morreu em um acidente com patinete elétrico, na sexta-feira, em Londres. Hartridge, que pós-TV se reinventou como youtuber, atravessou uma rua com rapidez e um caminhão se chocou contra ela. Patinetes elétricos são proibidos, na Inglaterra, nas vias públicas.

Viver

O padre Marcelo Rossi foi empurrado durante uma missa em Cachoeira Paulista ontem, mas não ficou ferido. A mulher furou a segurança, invadiu o palco durante a celebração que acontecia na Canção Nova e empurrou o padre de cima da estrutura. Apesar da queda, ele não ficou ferido e a mulher foi contida pela Polícia Militar.

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Wimbledon 2019. Novak Djokovic bate no peito porque acaba de desembaraçar o novelo e acabar com a agonia de uma tarde épica. "Acaba de se impor diante do majestoso Roger Federer na final mais longa da história de Wimbledon – 7-6, 1-6, 7-6, 4-6 e 13-12, em 4h57m, superando dessa forma as 4h48m entre o suíço e Rafael Nadal em 2008 – e obtém assim um laurel que já o faz levitar com 16 taças de Grand Slam, cinco delas conquistadas no santuário britânico. E acelera a corrida para ser o tenista mais vencedor e derrota Federer pela terceira vez em uma final de Londres, também pela terceira ocasião em um duelo decisivo terminado após uma maratona de cinco sets".

Cultura

Numa Flip sem grandes nomes internacionais, como antes era comum no evento, os estrangeiros mais esperados não corresponderam às expectativas. Segundo análise da Folha, Paraty se transformou numa bolha progressista durante o evento.

Este site traz coleções de fotografias árabes. Criada em 1997 em Beirute, no Líbano, a Fundação Árabe de Imagem tem como meta coletar, preservar e pesquisar fotografias de Oriente Médio, Norte da África e da chamada “diáspora Árabe”, que foi o processo de migração de membros da comunidade para vários países não árabes, inclusive o Brasil, devido a conflitos e outras mudanças geopolíticas.

Erramos - na programação cultural publicada às sextas, incluímos a presença do cineasta Robert Altman em evento no Rio de Janeiro. Pedimos desculpas. Altman morreu em novembro de 2006.

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