Prezadas leitoras, caros leitores —

Cá no Meio, sempre fomos muito cautelosos com boas notícias em relação à Covid. A vacina pode vir mas ainda é incerta. Drogas entraram e saíram da moda, nenhuma se fixou. Hoje, porém, escolhemos uma manchete que sugere boa notícia.

Não é certo que São Paulo, ou mesmo o Rio e Manaus, estejam próximas da imunidade de rebanho. Mas é possível e um estudo sério publicado pela Nature o sugere. O fato de que chamou a atenção do biólogo Fernando Reinach, que está entre os responsáveis por um dos principais estudos de imunidade no Brasil, consolida o sinal de que pode ser uma boa notícia real.

Pode ser. O momento ainda é de cautela. E, num país grande onde a doença está apenas chegando a muitas localidades, mesmo que confirmada a boa notícia é apenas regional. Nossa tragédia nacional segue seu curso.

— Os editores

São Paulo pode estar próxima da imunidade de rebanho

Epidemiologistas e novos estudos sugerem que a chamada imunidade coletiva, necessária para conter a expansão da Covid-19, pode ter estar sendo calculada de forma imprecisa. Na cidade de São Paulo, o máximo de prevalência de anticorpos encontrada na população foi de 3,3%, entre 14 e 21 de maio. Mesmo assim, e apesar da reabertura gradual, a capital registra queda sustentada de novos casos, a ponto de oferecer leitos a cidades onde a epidemia agora avança. A tendência observada está sendo a mesma na Europa, nos EUA e no Brasil: nos locais onde houve maior número de casos, a doença está em declínio. Nos que estavam sendo poupados, o momento é de aumento dos casos, e das mortes. (Folha)

Fernando Reinach: “Em Manaus, o número de casos subiu rapidamente, não foram adotadas medidas drásticas de isolamento social, os mortos foram enterrados em valas comuns no pico, e logo em seguida o número de casos diminuiu. Qual a causa dessa rápida queda do número de infectados em Manaus? Teria a cidade atingido a imunidade de rebanho? Um modelo matemático demonstra que isso pode ter ocorrido, e talvez esteja ocorrendo em cidades como São Paulo. Se for verdade, é uma ótima notícia. A imunidade de rebanho acontece quando o número de pessoas resistentes ao vírus atinge uma fração da população suficientemente alta para que o vírus não encontre pessoas suscetíveis à infecção. No caso do SARS-CoV-2, é atingida quando 60% da população. Mas será que 60% da população de Manaus teria sido infectada? Não sabemos, mas o fato é que em nenhuma cidade do mundo as taxas de infecção chegaram perto desse número (nas áreas mais pobres de São Paulo, a taxa de infecção algumas semanas atrás era de 16%). O que foi feito agora é simular uma população com dois tipos de heterogeneidade. A primeira consiste em dividir em seis faixas etárias e assumir taxas diferentes de interação entre esses grupos (por exemplo, pessoas da mesma faixa interagem mais entre si). A segunda heterogeneidade é dividir a população em três grupos de acordo com a intensidade de sua interação social. O resultado é surpreendente. Com a população homogênea, a imunidade de rebanho é atingida com 60% de pessoas resistentes —e esse número cai à medida que se aumenta a heterogeneidade, chegando a 34% das pessoas infectadas. Isso explicaria a queda dos casos em Manaus e a pequena queda que já estamos observando em São Paulo. Sem dúvida é uma boa notícia.” (Estadão)

Leia mais sobre o estudo que reexamina o problema da imunidade de rebanho. (Science Magazine)

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O Brasil superou a marca de 72 mil mortos por Covid-19. Foram 659 novas mortes e 25.361 novos casos no domingo. O total de casos passou para 1.866.173. Levando em conta a média móvel dos últimos sete dias, o número de mortes foi de 1.036. Esse é um recurso estatístico que busca dar visão mais acurada da evolução da doença, pois atenua números isolados que fujam do padrão. As informações são coletadas diretamente com as Secretarias de Saúde estaduais.

Em São Paulo, os shoppings estão com as portas abertas ao público há um mês, mas os clientes ainda não retornaram. Com corredores vazios, lojistas sem dinheiro no caixa relatam dificuldades em negociar com as administradoras uma flexibilização do aluguel e de taxas extras, como condomínio e fundo de propaganda.

No Rio de Janeiro, no primeiro sábado após a abertura dos espaços públicos de lazer pela prefeitura, muitos cariocas aproveitaram o dia de sol para andar de bicicleta, correr e mergulhar no mar. A máscara, no entanto, não era unanimidade e havia poucos agentes realizando ações de conscientização.

E os primeiros testes com o Sirius, acelerador de partículas brasileiro, usando uma proteína imprescindível para o ciclo de vida do novo coronavírus (Sars-Cov-2), resultaram em imagens em 3D das estruturas da 3CL, uma das principais proteínas do vírus. Com os resultados alcançados pelos pesquisadores do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais, cientistas poderão compreender a biologia do vírus e buscar novos medicamentos. Veja as imagens.

Em meio ao processo de retomada da economia, a Flórida registrou mais de 15.300 novos casos da Covid-19 em 24 horas no domingo, mais do que qualquer outro estado americano desde que a pandemia começou. Se a Flórida fosse um país, ficaria em quarto lugar no mundo em número de novos casos registrados em só um dia, sendo suplantada nesse quesito apenas pelos EUA como um todo, o Brasil e a Índia. No total, segundo o levantamento do New York Times, o estado registra 269.800 diagnósticos de Covid-19, com 4.200 mortes. Em todos os EUA, já são mais de 3,2 milhões de casos, com 135 mil mortes.

Donald Trump apareceu no sábado pela primeira vez em público usando máscara. No mesmo dia em que os parques da Walt Disney World, fechados desde março, iniciaram sua reabertura. O Magic Kingdom e o Animal Kingdom abriram suas portas, enquanto o Epcot e o Disney’s Hollywood Studios voltarão a funcionar no dia 15. O condado de Orlando, onde o complexo está localizado, foi um dos que registraram, ontem, recordes de casos.

Uma mulher negra de 51 anos foi vítima de um episódio de violência policial em São Paulo. O Fantástico teve acesso a vídeo que mostra PM pisando no pescoço dela para imobilizá-la.

Política

O presidente Jair Bolsonaro nomeou o pastor Milton Ribeiro para o ministério da Educação. Militar da reserva, 62 anos, é responsável pela Igreja Presbiteriana de Santos e foi vice-reitor da Universidade Mackenzie, de São Paulo. Sua indicação é, na leitura de Cristiana Lôbo, uma vitória da bancada evangélica no Congresso. (G1)

Não é um nome sem polêmica. O jornalista Chico Alves descobriu nas redes vídeos antigos nos quais o novo ministro receita que castigos corporais compõem a educação de crianças. “Castiga o teu filho enquanto há esperança”, ele diz em um deles, “mas não te excedas a ponto de mata-la. Não estou aqui dando uma aula de espancamento infantil, mas a vara da disciplina não pode ser afastada da nossa casa.” (UOL)

Ascânio Seleme: “Não há como uma nação se reencontrar se 30% da sua população for sistematicamente rejeitada. Esse é o tamanho do problema que o Brasil precisa enfrentar e superar. Significa a parcela do país que vota e apoia o Partido dos Trabalhadores em qualquer circunstância. Falo dos eleitores, não apenas dos militantes. Me refiro aos que acreditam na política de mudança do partido, não aos seus líderes. Os que acreditam e sustentam o PT são a maioria do terço de eleitores perenes do partido, não os que foram flagrados nos dois grandes escândalos de corrupção que marcaram as gestões petistas. Esse agrupamento político, talvez o mais forte e sustentável da história partidária brasileira, tem que ser readmitido no debate nacional. ” (Globo)

Cultura

O escritor brasileiro Julián Fuks está entre os 29 autores do belo Decameron Project, do New York Times. Ele participou com o conto A time of death, the death of time. Leia.

Fuks é autor de A procura do romance, Histórias de literatura e cegueira, ambos finalistas dos prêmios Jabuti e Portugal Telecom, e do romance A resistência, traduzido em cinco línguas e vencedor dos prêmios Jabuti de Livro do Ano de Ficção e Melhor Romance (2016), Saramago (2017) e Anna Seghers (2018). Foi eleito pela revista Granta "um dos melhores jovens escritores brasileiros".

Na sexta-feira, cometemos um erro ao relatar que nenhum dos 29 autores do Decameron Project era brasileiro. Foi um erro desses sem justificativa, uma distração imperdoável de quem edita Cultura e que, não por acaso, tem obras de Julián na prateleira. Não demorou e centenas de leitores do Meio enviaram e-mails chamando a atenção para o equívoco. Obrigada, contamos com vocês e essa troca faz toda a diferença para construirmos uma news que vai além de escutar passivamente.

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O mercado editorial encolheu 20% desde 2006 -  somando os dados de 2019 aos dos anos anteriores - com a crise se acentuando depois de 2015. A queda, até o ano passado, era de 25%. Nesse período, o subsetor de livros Científicos, Técnicos e Profissionais (CTP) tem sido o mais afetado. Ele perdeu 41% nas vendas ao mercado nos últimos 14 anos. O único subsetor que registrou algum crescimento - de apenas 2% - nessa quase uma década e meia foi o de livros religiosos, quando consideradas as vendas para o mercado. As editoras que produzem livros didáticos, bastante dependentes dessas compras governamentais, que chegam a ser responsáveis por 50% de seu faturamento, viram suas vendas encolherem 8% de 2006 a 2019.

Quando os resultados da Pesquisa Produção e Venda do Setor Editorial foram revelados no início de junho, o mercado apresentou números positivos e fechou 2019 com um crescimento real de 6,1%. Mas o crescimento não foi suficiente para melhorar a série histórica da pesquisa feita, a partir deste ano, pela Nielsen Book para a Câmara Brasileira do Livro e Sindicato Nacional de Editores de Livros.

Hoje é o Dia Mundial do Rock. E Planet Hemp e Raimundos se reunirão pela primeira vez para uma live, transmitida pelo canal Festival Planeta Brasil, a partir das 20h. Para celebrar a data, o Canal BIS preparou uma programação especial com alguns dos maiores nomes do gênero. A partir das 7h, o canal exibe apresentações clássicas, programas, documentários, além de dois grandes shows inéditos, começando com Chuck Berry.

Aliás, uma playlist no Spotify para começar a semana no clima.

Enquanto isso, uma galeria de Tóquio sugeriu que os visitantes roubassem as obras que quisessem de uma exposição. A intenção era que durasse dez dias. Durou dez minutos. E boa parte do recolhido acabou em sites de leilão.

E uma galeria com 24 pôsteres desenhados por artistas e tipógrafos negros.

Cotidiano Digital

O Facebook está considerando banir anúncios políticos dias antes da eleição americana, segundo a Bloomberg. Diferentemente do Twitter, que proibiu anúncios políticos inteiramente no ano passado, o plano do Facebook limitaria os anúncios apenas por alguns dias. Para os grupos de direitos civis, essa medida não ajuda a controlar o discurso de ódio e desinformação na rede social. Já são mais de mil empresas que se juntaram ao boicote temporário de anúncios contra a plataforma.

Enquanto isso, o TikTok também vem sofrendo pressão nos EUA. A Amazon chamou de erro depois que um e-mail foi mandado aos seus funcionários no qual pedia para desinstalarem o aplicativo dos seus celulares. Mas o banco Wells Fargo confirmou que baniu o app após o governo americano anunciar, por questões de segurança, que considera bloquear o TikTok no país .

Segundo o Wall Street Journal, a controladora ByteDance está considerando uma reformulação da sua estrutura corporativa para se distanciar do governo chinês. Isso pode incluir a criação de um novo conselho administrativo ou a mudança da sede para fora da China. Além da pressão americana, o TikTok foi banido da Índia, seu maior mercado internacional.

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