A Argentina, e o mundo, perdem Maradona

“Cala a boca e me abraça, idiota!” Na frente de Maradona, Checho Batista estava incrédulo. O colega acabara de marcar um evidente gol de mão contra a Inglaterra nas quartas de final da Copa de 1986. Precisava do abraço. Precisava simular que era tudo normal para enganar o juiz. E o gesto de certa forma resumia o argentino Diego Armando Maradona, um dos maiores jogadores de futebol de todos os tempos, que morreu ontem, aos 60 anos, de parada respiratória. Um gênio completo do futebol com malandragem equivalente ao talento e uma vida repleta de polêmicas. Numa época pré-VAR e com a festa dos argentinos em campo, o gol irregular de Maradona, mais tarde apelidado de “A Mão de Deus”, foi validado (YouTube). A Argentina venceu a partida por 2 a 1 e depois conquistou a Copa, puxada pela genialidade de seu maior craque.

Conquistar a Copa foi o ponto culminante de uma carreira que começou aos 16 anos no Argentino Juniors. Ficou de fora da Copa de 1978, embora já tivesse jogado pela seleção argentina, mas encantou o mundo no ano seguinte, na Copa Sub-20. Passou pelo Boca e brilhou em grandes clubes europeus, como o Barcelona e o Napoli. Foram 483 partidas oficiais disputadas, 255 gols e 11 títulos.

Se você tem dúvidas sobre a genialidade de Maradona, confira estes cinco lances.

Mas na década de 1990 a estrela de Maradona começou a se apagar, com seu talento sufocado pela dependência de cocaína. Em 1991 foi flagrado no antidoping num jogo entre o Napoli e o Bari e acabou suspenso por 15 meses. Três anos depois, na Copa dos EUA, acabou banido da competição quando um exame deu positivo para efedrina, uma substância proibida. Sua vida de atleta terminou em 1997, dando lugar de vez à de dependente químico. Chegou a aparecer em público trôpego e foi internado com vários problemas de saúde ao longo das últimas décadas. (Folha)

O craque também tinha uma atuação política forte. Esquerdista orgulhoso, tinha tatuagens de Fidel Castro e Che Guevara e uma ligação estreita com os ex-presidentes brasileiros Lula e Dilma.

No mundo da bola, a notícia foi devastadora, com homenagens de todo o mundo. Pelé, com quem Maradona tantas vezes trocou farpas, resumiu: “Um dia, eu espero que possamos jogar bola juntos no céu.” Mas não foram só atletas. No Vaticano, o Papa Francisco o chamou de “poeta do futebol”. O velório começa hoje na Casa Rosada, sede do governo argentino.

Alberto Amato, do Clarín: “Foi um dos grandes ídolos argentinos, o que implica a tragédia inevitável. Maradona não tinha os 33 anos de Eva Perón ou os 45 de Carlos Gardel, mas compartilhou com eles a fogueira, a imolação, a oferenda. O menino humilde que chega tão longe exerce fascínio, traz em si uma certa autoridade moral que muitas vezes não tem, mas isto licencia autoconfiança, rebelião, fúria e ternura, tudo junto. O destino do ídolo está escrito como em uma peça: primeiro a miséria, a ascensão à glória e a tragédia final. A vida de Maradona parecia escrita por Shakespeare. E ele desempenhou o papel como o melhor dos atores. Maradona tentou se livrar dos vícios, da cocaína, do álcool, para cair novamente como Sísifo e sua pedra. Uma dessas recaídas afundou a Seleção Argentina na Copa do Mundo dos Estados Unidos. Até isso lhe foi perdoado. Construiu seu próprio Calvário, pregou os pregos na cruz na crença de que tudo lhe seria perdoado. Até que seu corpo se partiu como um galho frágil. O sofrimento nacional inconsolável. Mas ele estará por toda parte sempre. Se Gardel canta melhor a cada dia, Maradona e seus gols serão mais espetaculares. Mas é um absurdo: Maradona está morto e a tristeza é irremediável.” (Clarín)

Tostão: “Maradona, além de ter sido um dos maiores craques da história do futebol mundial, é um símbolo da tragédia humana, de um tango argentino, por ter sido, ao mesmo tempo, genial, contraditório, divino e humano, sem nunca esconder suas fraquezas. Essa é uma das razões dos argentinos adorarem tanto seu ídolo. Paradoxalmente, Maradona era o maior craque do mundo em uma época em que a ciência esportiva tentava fazer do futebol um jogo essencialmente científico, programado e previsível. Ele, com seu show de habilidades, inventividade, imprevisibilidade, plasticidade e efeitos especiais, foi uma resistência ao futebol pragmático.” (Folha)

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A Pfizer enviou ontem à Anvisa os primeiros dados de testes da sua vacina contra Covid-19. Ainda não é um pedido de registro do imunizante, mas um procedimento que pode acelerar a tramitação quando o pedido for feito. De acordo com testes, a vacina da Pfizer tem 95% de eficácia, mas um problema sério de logística: ela precisa ser armazenada a -70º C. E poucas unidades de saúde têm câmaras frias com essa capacidade.

E a vacina da AstraZeneca em parceria com Oxford virou alvo de dúvidas dos especialistas. Além de ter havido um erro na dosagem, o universo de voluntários dos testes não representaria corretamente os pacientes idosos, maior grupo de risco. Com suposta alta eficiência e baixo custo, a vacina é uma das grandes esperanças contra a pandemia, inclusive no Brasil, onde será produzida pela Fiocruz.  (New York Times)

Ontem o mundo quebrou mais um recorde de mortes diárias pela Covid-19, 12.785. Dessas, 620 aconteceram no Brasil, segundo o consórcio de veículos de comunicação, elevando para 170.799 o total de óbitos no país desde o início da pandemia. A tendência apontada pela média móvel em sete dias é de alta nas mortes e nos novos casos da doença.

O STF formou maioria para derrubar a resolução do Conama que permitia exploração de restingas e manguezais. Seis dos onze ministros já votaram no plenário virtual, todos pela derrubada da resolução. (Globo)

Panelinha no Meio. E quando a gente menos espera, já é Natal. Se você é daquelas pessoas que quer dar um toque pessoal à mesa das festas de fim de ano, essa receita aqui é perfeita: um saboroso e fofinho chocotone caseiro.

Embratel

Tech no próximo nível

De queridinho, os investimentos das empresas em realidade virtual e realidade aumentada foram pra segundo plano com a pandemia. Mas, para a consultoria IDC, a expectativa é que ganhem novamente atenção dos negócios num mundo pós-Covid, como aprimorar o trabalho remoto com espaços de reunião aumentados, por exemplo. Calcula-se que em 2020, a realidade virtual terá destaque em treinamento (US$ 1,3 bilhão), e a realidade aumentada fechará o ano com forte presença na manutenção industrial (US$ 375,7 milhões). Confira alguns projetos sendo desenvolvidos em empresas.

Por falar em mundo virtual… Já tem várias startups no Vale do Silício construindo plataformas semelhantes a jogos como Fortnite e Animal Crossing pra equipes que trabalham remotamente. Estão usando tecnologia espacial, animações e ferramentas de produtividade para criar um escritório virtual, que servem tanto pra socializar, até contratar e demitir pessoas.

Mas… O escritório não deve acabar. Pelo menos 59% da empresas ouvidas na pesquisa da Cushman & Wakefield não têm intenção de reduzir o espaço físico ou ainda não têm uma definição. E 84% disseram que já retornaram ao trabalho no escritório ou pretendem voltar ainda este ano.

A diversidade também impacta a cibersegurança. A Nasdaq montou um guia de como conselhos mais diversos ajudam a montar estratégias de segurança mais bem sucedidas. Segundo sua pesquisa, a maioria dos diretores das empresas do S&P 500 que atuam em conselhos responsáveis pela cibersegurança está na faixa etária de 50 a 63 anos. Os diretores com menos de 50 anos representavam menos de 5%, apesar de terem mais experiência em tecnologia do que aqueles com mais de 70 anos. E na questão de gênero, as mulheres representam apenas um terço, embora quase metade das diretoras terem experiência na área, em comparação com um terço dos homens.

Política

A nova rodada de pesquisas divulgada pelo Ibope mostra que a disputa no Recife está imprevisível. João Campos (PSB), que havia chegado na frente no primeiro turno com 29,13% dos votos e caído para segundo na primeira pesquisa, recuperou a ponta, subindo de 39% das intenções de voto para 43%. Sua prima e adversária Marília Arraes (PT) recuou de 45% para 41%. Os dois estão tecnicamente empatados. Brancos e nulos seguem em 15% e indecisos são 1%.

Em São Paulo, o Ibope mostra um quadro estável em relação ao levantamento anterior. Bruno Covas (PSDB) foi de 47% para 48% e Guilherme Boulos (PSOL) de 35% para 37%, no limite da margem de erro. Brancos e nulos caíram de 14% para 12% e indecisos permanecem em 1%.

Já no Rio, Eduardo Paes (DEM) estacionou nos 53% do levantamento anterior, enquanto Marcelo Crivella subiu 5 pontos, acima da margem de erro, indo de 23% para 28%. Desta vez, 16% disseram que vão anular ou votar em branco e 3% não responderam, contra 21% e 2% da pesquisa anterior.

Para estimativas em outras cidades, confira a página do Ibope.

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Na esteira do assassinato de João Alberto Freitas por seguranças de um Carrefour em Porto Alegre, o Senado aprovou um projeto que torna preconceito de qualquer espécie um agravante em crimes. A matéria tramitava desde 2015. E a Defensoria Pública do RS quer que o Carrefour e a Vector, empresa responsável pelos seguranças, paguem uma indenização de R$ 200 milhões pela morte de João Alberto. (Globo)

Um levantamento do Globo com base no Ibope mostra que a aprovação do governo Jair Bolsonaro caiu em 23 das 26 capitais durante o período eleitoral. Em 14 das 23, a queda ficou acima da margem de erro. O maior recuo foi em João Pessoa, com a avaliação ótimo e bom passando de 43% para 30%. A sondagem coincidiu com a redução de R$ 600 para R$ 300 do auxílio emergencial. A mesma tendência foi identificada nacionalmente pelo PoderData, do Poder 360. A aprovação do presidente recuou de 45% para 42%, enquanto a rejeição foi de 43% para 48%.

Donald Trump concedeu ontem perdão oficial a Michael Flynn, o general que foi seu primeiro Assessor de Segurança Nacional. Flynn havia admitido culpa perante a Justiça por negociar secretamente com a Rússia e depois mentir para o FBI a respeito quando já havia suspeitas de que Moscou auxiliou Trump na campanha eleitoral de 2016. Com o perdão presidencial, o processo é extinto. Uma onda de perdões similares é esperada para os últimos dias do governo Trump. (New York Times)

Hoje é dia de acompanhar, via Twitch às 15h, a criação da charge animada de Tony de Marco que o Meio publica as sexta-feiras. Aponte seu browser para este link e divirta-se.

Cultura

Se você achava que Mads Mikkelsen já fazia maldades suficientes como o canibal-título da série Hannibal, espere só o próximo filme da franquia Animais fantásticos. O ator dinamarquês de 55 anos foi confirmado como substituto de Johnny Depp na pele do vilão Gellert Grindelwald, que já aterrorizava bruxos e trouxas quando Vocês-Sabem-Quem ainda fazia bullying com crianças no orfanato. O novo filme da franquia, que se passa em parte no Brasil, está previsto para 2022.

Cotidiano Digital

A França saiu na frente e vai começar a cobrar um imposto sobre as big techs. Segundo Financial Times, Facebook e Amazon estão entre as empresas que já receberam notificações das autoridades do país, exigindo o pagamento no próximo mês. O movimento pode causar problemas com os EUA: por pressão dos americanos, os franceses tinham concordado em esperar a OCDE apresentar sua proposta internacional. Mas com a pandemia, a Organização adiou as discussões que, agora, devem durar até julho de 2021. Para o governo dos EUA, a prática afeta injustamente as empresas americanas. (Valor)

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