Segundo turno dá vitória à tradição

O Brasil que sai das urnas nas eleições municipais de 2020 é muito diferente daquele que emergiu após as de 2018. Há dois anos o eleitor rompeu com a política e fez uma aposta de muitas formas radical. Ideologicamente radical na direita, e radicalmente antipolíticos, um rompimento com o passado. Durou pouco a experiência. Os cinco maiores partidos de direita e centro governarão mais de 60% dos brasileiros, nas contas do Poder 360 — PSDB, MDB, DEM, PSD e Progressistas. Das cinco siglas, só o PSD tem menos de 30 anos. O DEM foi PFL e, o Progressistas, é o antigo PDS. “A tal nova política ficou velha muito rápido”, observou hoje, em entrevista à Folha, o presidente nacional do DEM, ACM Neto. “Acabou a história do novidadeiro, dos blogueirinhos, dos famosos ou do discurso antipolítica.” A rejeição não foi apenas da extrema-direita. “O eleitor mostra ter virado a página da polarização que levou ao segundo turno entre Bolsonaro e o PT”, analisa Vera Magalhães no Estadão. Porque o eleitorado de esquerda não diminuiu na classe média — mas o PT foi punido pelos eleitores de esquerda, que optaram por votar em candidatos de PSOL, PCdoB, PDT, PSB e outras siglas do flanco. Pela primeira vez desde a redemocratização o partido de Lula não elegeu prefeito em nenhuma das capitais. Já havia tombado feio em 2016, quando de 638 prefeitos passou a 254. Em 220 desce a 182. E embora tenham sido derrotados em São Paulo e Porto Alegre, Guilherme Boulos e Manuela D’Ávila saem desta eleição maiores. O que fica é um alerta, como leu, no Globo, Dimitrius Dantas. A esquerda começou a perder voto entre os mais pobres.

O tucano Bruno Covas se elegeu, em São Paulo, com 59,38% contra Guilherme Boulos, do PSOL, que teve 40,62%. No Rio de Janeiro a derrota do prefeito Marcelo Crivella, do Republicanos, para Eduardo Paes, do DEM, foi grande. 64,07% a 35,93%. Dentre brigas mais disputadas, a de Porto Alegre terminou com Sebastião Melo (MDB) vitorioso, 54,63%, e Manuela D’Ávila em segundo. 45,37%. No Recife, João Campos, do PSB, venceu a prima petista, Marília Arraes. 56,27% contra 43,73%. Veja os outros eleitos. (G1)

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Os números da eleição mostram um claro redesenho partidário e demográfico. O MDB se manteve como governante no maior número de cidades, mas viu esse total despencar de 1.046 prefeitos eleitos em 2016 para 784 este ano. O PSDB também caiu muito, de 804 para 520 prefeituras, mas mantém, especialmente por conta da capital paulista, o maior número de governados, 34,1 milhões de habitantes. Nesse quesito, os grandes vencedores foram partidos do Centrão. O PP assumiu a segunda colocação ao saltar de 498 para 685 prefeituras, seguido pelo PSD, que foi de 539 para 655. Na esquerda, apenas o PSOL avançou, de duas para cinco prefeituras. PDT perdeu pouco, de 333 para 314, PSB foi de 409 para 252 e PCdoB de 82 para 46. O PT, em que pese ter ficado sem capitais pela primeira vez e recuado de 256 para 183 prefeituras, teve uma variação pequena em número de pessoas sob seu governo, de 6,1 milhões para 6 milhões. (Folha)

O voto no Brasil só é obrigatório no nome. Isso é o que se depreende da abstenção de 29,5% registrada no segundo turno das eleições municipais. Em São Paulo, 2.769.179 eleitores (30,81%) não compareceram para votar. Mais que os 2.168.109 que votaram em Guilherme Boulos (PSOL), o segundo colocado. O mesmo aconteceu com Manuela D’Ávila (PCdoB) em Porto Alegre. Ela obteve 307.745 votos, abaixo do total de eleitores que não compareceram, 354.692 (32,76%). No Rio, a situação foi ainda mais gritante. A abstenção recorde de 35,45% (1.720.154 eleitores) foi maior que a votação do vencedor, Eduardo Paes (DEM), que obteve 1.629.319 votos. Mas, em geral, as capitais tiveram abstenção abaixo da média nacional. No Recife, por exemplo, foram 246.010 ausentes (21,26%); em Manaus, 298.712 (22,43%); e em Fortaleza, 414.959 (22,78%).

Veja a lista de prefeitos eleitos neste segundo turno.

Ricardo Kotscho: “Não adianta querer tapar o sol com a peneira. Foi a maior derrocada do PT nestes 40 anos e, para não ser surpreendido outra vez, seria bom que se preparasse melhor para as próximas eleições, de preferência, antes que as urnas falem. O antipetismo ficou maior do que o petismo. Se o partido não descobrir e atacar as causas, renovar suas lideranças e programas, vai continuar andando para trás, porque mudou o mundo em que ele foi criado e se tornou o maior do país no começo do século. Só faltam dois anos para a próxima eleição.” (UOL)

Bernardo Mello Franco: “Ao despejar Marcelo Crivella, o eleitor carioca impôs um freio ao plano de poder da Igreja Universal. Nos últimos quatro anos, o Rio virou laboratório de um projeto que mistura fé e política. Ontem essa fórmula foi rechaçada nas urnas. No reinado de Crivella, a prefeitura promoveu o obscurantismo e sufocou a diversidade. A vitória esmagadora do ex-prefeito (Eduardo Paes) teve um quê de exorcismo. No futuro, 2020 será lembrado como o ano em que os cariocas se libertaram de Crivella.” (Globo)

Meio em vídeo. Se um brasileiro fosse dormir só uns meses antes de virarmos do século vinte para o vinte um e acordasse perante este Brasil da eleição municipal de 2020, olha, ele teria poucas surpresas. Sim, o país se inclinou mais à direita. Mas, diferentemente do que fez há apenas dois anos, nesta eleição votou seguindo suas tradições políticas mais profundas. Assista.

Covid é coisa séria, mas é impossível não arregalar os olhos com a situação de Goiânia. Maguito Vilela (MDB) foi eleito com 52,6% dos votos e não sabe disso. Internado em um hospital de São Paulo, ele está intubado e sedado desde o dia 15. (Globo)

Mais uma vez sem apresentar provas, Jair Bolsonaro levantou suspeitas sobre a segurança das urnas eletrônicas, alegando que, em 2018, só foi eleito porque teve “muito voto mesmo”. Após votar no Rio, ele disse que está discutindo a volta do voto impresso e falou até da eleição nos EUA, dizendo que, segundo suas fontes, “houve muita fraude lá”. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) reagiu dizendo tratar de voto impresso é “colocar em xeque um sistema seguro”. Já o presidente do TSE, ministro Roberto Barroso, lembrou que jamais houve uma comprovação de fraude na urna eletrônica e partiu para a ironia: “Não tenho controle sobre o imaginário das pessoas. Tem gente que acha que a terra é plana, que o Trump venceu as eleições nos EUA.”

Falando no presidente, na reta final do primeiro turno, Bolsonaro gravou lives de apoio a 13 candidatos a prefeito. Nove foram derrotados e dois eleitos no primeiro turno. Os outros dois, Capitão Wagner (PROS) em Fortaleza e Marcelo Crivella (Republicanos) no Rio, perderam ontem.

Em sua primeira entrevista após as eleições, Donald Trump insistiu nas acusações sem provas de fraude, mas admitiu que dificilmente conseguirá levar as eleições para a Suprema Corte. Para piorar a situação do presidente, a recontagem de votos no Wisconsin confirmou a vitória de Joe Biden no estado.

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Fique no Verde

A sigla ESG ganhou destaque no mercado com a pandemia e a pressão pela retomada verde. A sigla é uma abreviação de environmental, social and governance (ambiental, social e governança), e nada mais é do que os critérios pra mensurar o compromisso sustentável e o impacto ético de um investimento realizado em determinada empresa. Os investidores, de todos os perfis, estão cada vez mais levando em conta esses pilares na hora de escolher uma ação: desde o início desta década, o número de investimentos com esses critérios de ESG tem crescido, e devem se acelerar ainda mais com a mudança no comportamento do consumidor. No Brasil, ainda está em estágio inicial — há 20 opções de fundos de investimentos, sendo que elas são de ativos de multimercado, previdência e ações. Mas um relatório apresentado pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), em janeiro de 2020, mostra que o potencial de crescimento é grande. Entenda mais sobre o ESG e como investir.

Facebook deve lançar já em janeiro a libra, sua criptomoeda, e a Novi, sua carteira digital. Segundo o Financial Times, o projeto, no entanto, deve ser ainda menos ambicioso do que anteriormente planejado. Só deve ser lançado uma única moeda lastreada em dólar. Em abril, a Libra Association, o consórcio co-fundado pelo Facebook pra supervisionar o projeto, tinha como objetivo criar várias stablecoins digitais, que evitam a volatilidade típica das criptomoedas, de moedas, como o dólar, o euro e a libra. A expansão, agora, vai ficar pra depois. Desde que foi anunciado, o projeto tem sofrido pressão regulatória e política de que poderia perturbar a estabilidade financeira.

As corretoras e as distribuidoras de títulos e valores mobiliários também poderão oferecer serviços de pagamentos de boletos e realizar transferências, inclusive via PIX. A nova regra entra em vigor em janeiro de 2021 e é opcional. (Globo)

Aliás… A primeira fase do open banking no Brasil foi adiada pra fevereiro. Com o adiamento, a última fase de implementação do projeto também foi pra frente e passou de 25 de outubro de 2021 pra 15 de dezembro de 2021.

Uma outra novidade prevista é uma plataforma de educação financeira dos bancos a partir de outubro de 2021. Com a ferramenta, as instituições participantes poderão criar programas de recompensas, semelhante ao de milhagens, com acúmulo de pontos. (Folha)

Cultura

Um pouco de Darth Vader se foi. Morreu no sábado, aos 85, o fisiculturista e ator inglês David Prowse. Em Guerra nas Estrela (1977), foi ele que, com seus dois metros de puro músculo, proporcionou a ameaçadora presença do Senhor Sombrio de Sith. Nascido em Bristol, em 1935, Prowse ganhou diversas competições de fisiculturismo ao longo dos anos 1960 e se tornou um rosto querido no Reino Unido ao encarnar o Green Cross Code Man, um “herói” que lutava pela segurança nas estradas – trabalho que lhe valeu, em 2000, a Ordem do Império Britânico. Mas foi uma ponta em Laranja Mecânica (1971) que chamou a atenção de George Lucas, que o escolheu para dar forma ao que viria a se tornar um ícone cultural do Século XX. Por mais que seu físico fosse perfeito, sua voz não era (veja o motivo no Yotube), e ele acabou dublado pelo grande James Earl Jones. Que a Força o receba, David.

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Neto do alaúde e primo da guitarra portuguesa, o bandolim chegou ao Brasil, teve um relacionamento aberto com o samba e a flauta, e deles nasceu um de nossos mais sublimes gêneros musicais: o chorinho. Se essa mistura teve um rosto, foi o de Jacob Pick Bittencourt (1918-1969), mais simplesmente, Jacob do Bandolim, que acaba de ganhar uma biografia definitiva pelas mãos do jornalista Gonçalo Junior. Jacob do Bandolim: um coração que chora chegas às livrarias mês que vem, e se você não faz ideia da genialidade do músico, ouça Doce de Coco (Youtube) e Noites Cariocas (Youtube). Garantimos que seu dia vai ficar melhor. (Globo)

Viver

Em Nova York, o prefeito Bill de Blasio decidiu reabrir as escolas equivalentes ao nosso Ensino Fundamental 1. Ele vinha sofrendo uma grande pressão por dar mais atenção à proteção da economia que aos eventuais problemas que o isolamento poderia trazer a essa faixa etária. Um dos epicentros da Covid-19 nos EUA, Nova York tinha reaberto as escolas em setembro, mas voltou atrás há 11 dias devido à segunda onda da doença. Estudos indicam que, seguindo protocolos estritos, as aulas presenciais para crianças mais novas são seguras. (New York Times)

Já no Reino Unido o contágio pela doença caiu 30% desde a decretação do lockdown em vigor. (BBC)

O Brasil foi às urnas, mas a Covid-19 não tirou folga. Segundo dados coligidos pelo consórcio de veículos de comunicação, morreram no domingo 261 pessoas, mas é importante lembrar que muitos números não são atualizados no fim de semana. Por conta disso, a média móvel de 522 óbitos nós últimos sete dias indica estabilidade em relação às duas semanas anteriores. O país contabiliza 172.848 óbitos desde o início da pandemia.

Cotidiano Digital

Morreu, aos 46 anos, Tony Hsieh, criador e ex-CEO da rede de varejo online de sapatos Zappos. O empreendedor não resistiu aos ferimentos decorrentes de um incêndio em sua casa no estado de Connecticut, nos EUA. Hsieh é considerado um grande inovador do ecommerce. Ao ingressar na empresa em 1999, até então chamada de ShoeSite.com, implementou uma cultura focada no atendimento ao consumidor, com estratégias, comuns atualmente, como devoluções grátis. Em 2009, a empresa foi vendida pra Amazon por US$ 1,2 bilhão, mas ele continuou no comando da empresa por 20 anos, até se aposentar em agosto deste ano. A sua trajetória profissional virou best-seller em 2010, Satisfação Garantida (Amazon).

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