China ocultou dados sobre Covid-19

Enquanto a China vendia para o mundo a ideia de estar combatendo uma nova doença de forma transparente e eficaz, lá dentro um sistema de saúde tomado pela burocracia não dava conta dos casos. Demora nos diagnósticos, erros administrativos e políticos e informações incompletas para o público e a comunidade internacional impediram uma resposta mais eficaz. É o que se conclui das 117 páginas de documentos secretos obtidos pela CNN. Produzido entre outubro de 2019 e abril deste ano, o material revela, entre outras coisas, que o país escondeu o total de mortos. No dia 17 de fevereiro, por exemplo, foram relatados 93 óbitos, 103 a menos que o número verdadeiro. O mesmo se aplica aos casos. Um dos motivos, apontam os documentos, é que os médicos chineses levaram até três semanas para confirmar os casos, tornando mais difícil identificar a origem dos surtos. Os documentos revelam principalmente inépcia e inconsistência entre o que as autoridades acreditavam estar acontecendo no início da pandemia mas não tinham dados para confirmar e o quanto revelavam ao público. O governo chinês, claro, nega.

Aqui no Brasil, a Covid-19 foi possivelmente o tema mais escamoteado das eleições municipais. Impopulares, as medidas de distanciamento social e quarentena tiveram pouco eco entre os candidatos. Mas a eleição passou. Nem bem as urnas esfriaram, o governo de São Paulo anunciou o retorno à fase amarela de combate à pandemia. As medidas incluem limitar horário de funcionamento e taxa de ocupação em comércio e serviços e proibição de eventos com público em pé, por exemplo. As escolas continuam em funcionamento. O prefeito reeleito Bruno Covas (PSDB) negou que a eleição tenha pautado combate à Covid e disse não haver condições para um lockdown na capital paulista.

Embora tenha um ar eleitoreiro, a decisão do governo paulista vai ao encontro do que pedem especialistas. (Globo)

Quem também descartou a adoção de medidas mais rígidas de contenção foi o prefeito eleito do Rio, Eduardo Paes (DEM). Para ele, um lockdown seria “extremo e desnecessário”, sendo preferível investir em “medidas terapêuticas”. A ocupação de leitos de UTI nos hospitais da capital fluminense está acima de 90%.

Enquanto isso, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse hoje que a situação da pandemia de Covid-19 no Brasil é “muito, muito preocupante”. Não é para menos. O país atingiu 173.165 mortes e 6.336.278 infectados nesta segunda-feira. Ghebreyesus também conclamou os países a “não politizarem a doença”.

No Reino Unido, o ministro da Saúde, Matt Hancock, disse que as medidas rígidas de contenção puseram o vírus “novamente sob controle”. Ele admitiu que as ações terão impacto substancial sobre a economia, mas que não controlar o vírus seria muito pior. Hancock revelou ainda que o governo discute se hospitais poderão ou não recusar atendimento a pessoas que optarem por não tomar vacinas, quando elas estiverem disponíveis. (Telegraph)

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A presença do Exército na Amazônia não impediu que o desmatamento na região batesse novo recorde. Segundo dados preliminares do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), entre agosto de 2019 e julho de 2020 foi desmatada uma área de 11.088 km², 9,5% a mais que o registrado no mesmo período entre 2018 e 2019. Presente à divulgação dos números, o vice-presidente Hamilton Mourão, chefe do Conselho da Amazônia, adotou um tom diferente do discurso oficial do governo. Ele disse que, mesmo com o resultado abaixo do estimado inicialmente, “isso não é para comemorar” e elogiou os órgãos de fiscalização ambiental. A política do Executivo em relação ao meio ambiente é um dos maiores focos de críticas ao Brasil no Exterior. (Folha)

Panelinha no Meio. Antes da receita, uma conversa. Algumas pessoas questionaram se, diante da pandemia, devíamos ou não oferecer receitas natalinas. Cremos que sim. Celebração não é sinônimo de aglomeração. Festividade não é sinônimo de farra. Não importa se é o Natal, o Hanukkah, o Yule, o que seja. Vamos nos dar esse momento de esperança, cada um na sua casa, respeitando o isolamento, desejando felicidades por teleconferência, mas celebrando, porque essa é parte da nossa resistência. Vamos botar uma roupa bonita, mesmo estejamos sozinhos em casa. Vamos fazer um prato com amor, mesmo seja para um comensal. Nós perdemos muito este ano. Não vamos nos permitir perder a esperança. Daqui até o fim do ano vamos trazer receitas para essas datas. Faça uma, não precisa mais que isso, mas faça com amor. A de hoje é bem clássica, um peru de Natal completo.

Política

Embora mantenha o discurso de que o resultado eleitoral não foi ruim, a direção nacional do PT sofre pressões internas, inclusive da tendência majoritária, a reconhecer a derrota e dar início a uma renovação do partido. Isso incluiria encurtar o mandato da presidente Gleisi Hoffmann e até uma saída dos holofotes do ex-presidente Lula. (Globo)

A iniciativa contradiz a opinião do governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), para quem Lula é fundamental para a formação de uma frente que garanta a esquerda num eventual segundo turno em 2022. “Nenhuma esquerda séria no Brasil pode partir dessa ilusão que vai construir um projeto vitorioso sem o PT”, avalia ele, em entrevista a Leonardo Sakamoto. Dino não tem ilusões. Reconhece que a direita venceu a esquerda nacionalmente, mas ressalta que o bolsonarismo, que caracteriza como “selvagem, bruto e anedótico”, também saiu perdendo. “Dois mil e vinte, a meu ver, parte para um processo de decadência (do governo Bolsonaro) que irá até 2022.” (UOL)

Pois é... Em entrevista a José Luis Datena, Ciro Gomes começou a se posicionar no xadrez. “Parece muito claro que o brasileiro mandou brigar lá fora o lulopetismo e o bolsonarismo boçal”, avaliou. “Foi um grande voto ao centro, tem uma centro-direita e uma centro-esquerda, precisamos organizar isso.” Daí partiu contra o PSOL paulistano. “O Boulos significa que agora a gente pode expressar predileção por uma esquerda mais radical sem precisar explicar banditismo, que é ao que o PT obriga o jovem.” E também questionou Dino. “Flávio Dino resolve não apoiar ninguém no primeiro turno e vai votar com a camiseta ‘Lula Livre’. Essas pessoas perderam um pouco a noção de realidade do nosso povo.” Dino afirmou que não responderá. (BR Político)

Thomas Traumann: “Eleições municipais são, por definição, locais. Mas estas, realizadas sob o impacto das 172 mil mortes na pandemia de Covid-19, favoreceram prefeitos e ex-prefeitos, expulsaram a Nova Política que fez tanto sucesso em 2018 e rearrumaram o quadro político. São tantos os fracassados nessa campanha municipal e tão poucos os que podem comemorar que é possível dizer que a eleição presidencial de 2020 está zerada. Os maiores perdedores foram Bolsonarismo e o PT. Mas se os dois concorrentes no segundo turno de 2018 saíram machucados, não há um vencedor do outro lado.” (Veja)

Vera Magalhães: “Já está avançada a divisão interna dos principais caciques do DEM, uma das joias mais vistosas das eleições de 2020, entre o apoio ao projeto presidencial de Luciano Huck e o de João Doria (PSDB) em 2022. Não são poucos os interesses em jogo, e cada um dos lados tem apoiadores de peso. Rodrigo Maia, ACM Neto e Eduardo Paes compõem a tríade demista que conversa com Huck e espera uma resposta até março do ano que vem. O namoro mais sério acendeu o alerta na seção paulista do DEM e no PSDB. Mas os demistas do Nordeste temem repetir 2018, quando, mesmo dividido, o DEM decidiu sair em aliança com o PSDB pela sétima (!) vez, e Geraldo Alckmin foi humilhado nas urnas. Esses dirigentes do DEM argumentam que Doria tem um perfil muito ‘arrumadinho’, difícil de emplacar fora de São Paulo.” (BRPolítico)

Pegou mal, muito mal, o anúncio de que o ex-juiz e ex-ministro da Justiça Sérgio Moro é agora sócio-diretor de uma consultoria que trata da recuperação da Odebrecht — empresa que ele próprio, como juiz, colocou neste lugar. Moro nega que trabalhará no caso. Nas redes sociais, petistas e público não perdoaram. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ironizou, dizendo que Moro se afastava da corrida presidencial por estar “encaminhado no setor privado”.

Gustavo Alves: “Empresas como a Alvarez & Marsal dependem de sua boa reputação para continuarem a existir, e isso é um argumento forte para que o passado e o futuro de Moro não se misturem em seu novo trabalho. Mas na esfera da opinião pública, Moro terá de se haver com outro princípio, criado na área da literatura, mas que também se presta às narrativas políticas: o da suspensão da descrença. A suspensão da descrença se dá quando esquecemos certas premissas da realidade para aceitarmos a lógica interna da história que acompanhamos. Por exemplo, temos aceitar a existência de dragões para acompanharmos Game of Thrones. Moro talvez espere um pouco de suspensão de descrença se tem algum projeto político. Querer que quem não entende de Direito e recuperação judicial aceite sem reservas que não haverá conflito de interesses é acreditar demais na boa fé de um público que ficou ainda mais desconfiado depois das revelações sobre mescla de interesses públicos e privados que compuseram a história da Lava-Jato.” (Globo)

Então... A Alvarez & Marsal tem R$ 26 milhões por receber de empresas que foram alvo da Lava Jato. (Poder 360)

Há quase um ano Brasil e Argentina vêm se bicando por conta da hostilidade entre Jair Bolsonaro e Alberto Fernández. Daí a expectativa tensa para o primeiro encontro (virtual) entre os dois presidentes. Mas a memória de Diego Maradona, morto na semana passada, salvou o dia. Durante uma troca de amenidades, Bolsonaro disse que o craque argentino foi “um dos melhores do mundo”, o que distendeu o ambiente. Dali em diante, foi só falar de negócios. Ambos os lados enalteceram o resultado da reunião. (Globo)

Cultura

As redes sociais mudaram mesmo a relação entre público e indústria cultural. Um tuíte desastrado de Rafaella Machado, editora da Galera Record, braço juvenil do grupo Record provocou revolta na rede. Ela comparava pirataria com estupro. No embalo da polêmica, uma leitora de 19 anos identificada como “Jules” fez uma postagem em inglês reclamando da má qualidade de traduções e impressões e marcou alguns dos mais importantes autores estrangeiros lançados no Brasil pela empresa. Pelo menos quatro deles cobraram explicações sobre a qualidade das publicações e sobre o tuíte de Rafaella. A editora, além de apagar a postagem e pedir desculpas publicamente, prometeu medidas para melhorar a qualidade dos livros. (Globo)

Cotidiano Digital

As big techs não terão sossego em 2021. Segundo o Wall Street Journal, as autoridades de antitruste federais e estaduais entrarão, até ao final de janeiro, com mais quatro processos contra o Google e o Facebook. Mês passado, o governo americano já abriu um processo contra o Google pelo seu domínio em busca e publicidade. Já pra empresa de Mark Zuckerberg será a primeira vez que será processada por práticas anticompetitivas. O caso deve investigar se o Facebook abusa de sua posição para sufocar a concorrência ou coloca os dados dos usuários em risco.

E na Europa, a ofensiva contra as big techs continua. A partir de abril de 2021, o Reino Unido vai impor uma série de novas regras de concorrência. Google e Facebook terão que ser mais transparentes sobre como usam os dados do consumidor e as restrições que dificultam o uso de plataformas rivais serão banidas.

As chinesas também estão na mira. O Reino Unido vai banir a Huawei da rede 5G ainda mais cedo do que esperado: a partir de setembro de 2021. (Quartz)

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