Esquenta briga entre Brasília e São Paulo por vacina

Numa reunião tensa da qual seis governadores participaram presencialmente e os outros via teleconferência, o ministro da Saúde Eduardo Pazuello e o paulista João Doria bateram boca. Doria cobrava o fato de o governo federal não ter investido na CoronaVac, vacina contra a Covid-19 que o Instituto Butantan desenvolve. “O que difere privilegiar duas vacinas em detrimento de outra?”, questionou. “É uma questão ideológica, política ou falta de interesse em disponibilizar mais vacinas?” Pazuello se esquivou. “A vacina do Butantan não é do estado de São Paulo, tá, governador? Ela é do Butantan”, afirmou. Ele disse ainda que, havendo demanda e preço, todas as vacinas serão compradas. Mas não se comprometeu com a CoronaVac. Prometeu, porém, que a Anvisa deve registrar até o fim de fevereiro a vacina produzida pelo Instituto Oswaldo Cruz, da AstraZeneca, desenvolvida pela Universidade de Oxford. Neste prazo, a vacinação no país poderia começar em março. (G1)

Pois é... O New York Times amanheceu hoje noticiando que a FDA, equivalente americana da Anvisa, jogou a vacina da AstraZeneca para o fim da fila. O laboratório se atrapalhou no controle dos testes preliminares que precisarão ser refeitos em quantidade.

Enquanto isso, após a reunião, o Planalto subia o tom. Sem citar o nome de Doria, a Secretaria de Comunicação soltou uma nota em redes sociais afirmando que “anunciar o uso de vacina antes de a Anvisa certificá-la é populismo barato e irresponsável venda de ilusão”. (Poder 360)

Elio Gaspari: “Só um burocrata megalomaníaco pode acreditar que poderá impedir que as pessoas busquem os postos de saúde. A vacina só será oferecida em janeiro aos índios, quilombolas e profissionais de saúde. Quem anda pelas ruas de São Paulo não costuma cruzar com índios nem quilombolas. Restam os profissionais de saúde. Admitindo que esse burocrata existe, seria ridículo vê-lo dizendo ao doutor David Uip que não pode tomar a CoronaVac. Até as pedras sabem que os tribunais derrubarão quaisquer tentativas para impedir a aplicação das vacinas. Países andam para trás: em 1904, houve no Rio uma revolta contra a vacina obrigatória, o desconforto da Anvisa estimularia em 2020 uma revolta contra a vacina voluntária.” (Globo ou Folha)

Na reunião, Pazuello disse que a aprovação definitiva de uma vacina pela Anvisa, exigência para sua aplicação generalizada, pode levar até 60 dias. Governadores, porém, cobraram que o governo federal cumpra o que diz a lei sobre calamidade pública no caso da pandemia, aprovada em fevereiro. Pela norma, se uma vacina já aprovada no exterior pedir liberação emergencial no Brasil, a Anvisa terá 72 horas para se manifestar. Do contrário, a autorização será automática. Segundo eles, o ministro afirmou que a União seguirá a regra.

“Agora finalmente temos uma luz no fim do túnel, e eu sou a prova.” Essas são as palavras da pesquisadora Maria Luísa Possa, primeira brasileira a receber a vacina contra Covid-19 em um programa de imunização nacional. Ela trabalha em um hospital de Londres e, por ter feito um transplante de rim, está em um grupo de risco, dois critérios que a puseram no início da fila do programa de vacinação do Reino Unido, que adota a vacina da Pfizer. Confiante na ciência, Maria Luísa tem um conselho para os brasileiros: “Se te oferecerem (a vacina), toma.” (G1)

Mas também há más notícias. Segundo o imunologista Jorge Kalil, não está claro se, além de evitarem que a doença se manifeste, as vacinas impedem que a pessoa a transmita. Também não se sabe se a imunização é permanente. Mesmo com a vacinação, as pessoas ainda precisarão tomar precauções. (Folha)

E o Brasil teve ontem 796 mortes por Covid-19, completando cinco dias seguidos de alta na média móvel. O total de óbitos passou de 178 mil. (UOL)

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Definidas as regras pelo STF, a sucessão na presidência da Câmara pega fogo, com o Planalto botando mais lenha. Além de acenar com uma reforma ministerial que ampliaria o espaço de partidos na Esplanada, o Executivo estaria associando a liberação de verba para emendas parlamentares ao voto em Arthur Lira (PP-AL), candidato de Bolsonaro. O deputado vai oficializar sua candidatura hoje, apresentando os partidos que o apoiam formalmente. O grupo do atual presidente, Rodrigo Maia (DEM-RJ), também quer criar um fato político nesta quarta-feira, mas não tem ainda um nome a oferecer. Os dois lados querem atrair a oposição, mas Lira enfrenta maior resistência devido ao apoio explícito de Bolsonaro. (Folha)

Radar: “O pau quebrou no grupo de WhatsApp dos ministros do governo nesta terça. Chefe do Turismo, o ministro Marcelo Álvaro Antônio partiu para cima do ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, dizendo que ele estaria negociando a pasta com o centrão.” (Veja)

Live do Meio hoje. Em 2019, protestando contra o Especial de Natal do Porta dos Fundos, um grupo neo-integralista tentou incendiar a sede da produtora, no Rio de Janeiro. Era uma lembrança de como ainda está vivo o antigo fascismo brasileiro. Na véspera do lançamento do Especial de 2020 do Porta, esta quarta-feira, o editor do Meio Pedro Doria conversa com os historiadores Leandro Pereira Gonçalves e Odilon Caldeira Neto. Os três são autores de livros sobre a Ação Integralista Brasileira e debatem o tema e as conexões dele com o cenário político atual. Começa às 19h no YouTube.

Para Onde Vamos

Para Onde Vamos

O futuro da mobilidade tem se mostrado cada vez mais elétrico. Mesmo com a pandemia, as vendas de carros elétricos devem crescer no mundo em 2020 e resultar em quase 10 milhões de unidades rodando — cerca de 1% do estoque global de automóveis. No Brasil, 2020 já é um ano recorde de vendas: estima-se que, até o final do ano, estejam circulando 41,4 mil exemplares — 60% a mais do que em 2019 e três vezes mais do que em 2018. O custo, no entanto, ainda é uma das principais barreiras. Mas a eletromobilidade tem avançado pelas cidades, seja em veículos leves, como patinetes e bicicletas elétricas, até no transporte coletivo. E tem se mostrado uma alternativa viável pra resolver, além dos problemas ambientais, também os custos logísticos da última milha.

A China ganhou o seu primeiro serviço de táxis totalmente sem motoristas. A novidade é da AutoX na cidade de Shenzhen. Ainda está na fase experimental e só deve ser aberta ao público daqui a dois ou três anos. Mesmo assim, é um avanço na corrida do robô-táxi no país. Maior fabricante de carros do mundo, a China também pode se tornar o principal mercado de veículos automatizados até 2040, segundo a McKinsey. Em junho, a DiDi começou a oferecer passeios gratuitos em seus veículos autônomos dentro de uma área de Shangai. O mesmo com a Baidu em alguns distritos de Pequim. Todos esses programas, no entanto, ainda têm um motorista de segurança.

Plataformas do tipo Airbnb de carros têm se tornado uma tendência mundial. Segundo a Accenture, o número de carros em aluguel por curto prazo cresceu pra 400 mil este ano e deve mais do que dobrar até 2025. A expectativa é que esse mercado cresça pra US$ 21 bilhões até 2030, apenas na China, EUA e Alemanha. Uma das maiores plataformas, a ShareNow, atua em 18 cidades europeias. Mas, como aconteceu com outras inovações, dezenas de estados americanos já consideram criar leis pra exigir que essas empresas paguem os mesmos impostos e sigam os mesmos requisitos de segurança das locadoras de automóveis. Elas, no entanto, argumentam que não são táxis, locadoras ou mesmo empresas de transporte, mas plataformas.

Viver

Como se a Covid-19 já não representasse uma crise de saúde suficiente, a Anvisa emitiu um alerta para o que pode ser o primeiro caso no Brasil de Candida auris. Trata-se de um fungo resistente a medicamentos e letal em até 60% dos casos, o que o torna um dos mais temidos causadores de infecção hospitalar. Segundo a agência, os sinais o C. auris foram identificados numa “amostra de ponta de cateter” de um paciente numa UTI na Bahia. A amostra já foi analisada em Salvador e em São Paulo, mas vai passar por outros testes. A Anvisa enfatizou em seu comunicado que o fungo “representa uma séria ameaça à saúde pública”. Desde que foi identificado pela primeira vez, em 2009 no Japão, ele já apareceu em países como Índia, África do Sul, Venezuela, Colômbia, Estados Unidos, Israel, Paquistão, Quênia, Kuwait, Reino Unido e Espanha.

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O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), prometeu barrar um eventual revogaço, por meio de portarias do Ministério da Saúde, de diretrizes para o tratamento de doentes mentais. A medida em estudos no ministério, que incluiria o fim do atendimento a dependentes químicos em centros especiais, foi duramente criticada por parlamentares.

Racismo no futebol é uma triste realidade, em particular na Europa. A novidade é quando ele vem de quem deveria zelar pela lisura e pelo fair play. Os jogadores do PSG e do Istanbul Basaksehir abandonaram o campo após o quarto árbitro dizer supostas ofensas racistas em relação a um integrante da comissão técnica do time turco. A partida, disputada em Paris, valia pela prestigiada Liga dos Campeões, mas nem por isso os atletas fizeram vista grossa para a atitude do romeno Sebastien Coultescu. A UEFA, que organiza a competição, ainda não se manifestou sobre o árbitro nem sobre os atletas. O jogo estava 0 a 0, resultado que favorecia o PSG.

Cotidiano Digital

A Apple lançou o seu primeiro headphone, fora da marca Beats. O AirPods Max tem cancelamento de ruído ativo e um chip H1 pra reconhecimento de voz. A Apple também promete bateria que dura 20 horas. Mas vem com um preço: US$ 550 nos EUA e R$ 6.899 no Brasil. Ainda não tem previsão de quando começa as vendas por aqui. Mas nos EUA, estarão disponíveis a partir do dia 15 de dezembro.

O WhatsApp também tem novidade no Brasil. Agora, pelas conversas com contas comerciais terá uma ferramenta de carrinho de compras. Vai permitir que usuário tenha acesso ao catálogo de produtos e o que vai comprar antes de começar a conversa. A ideia é que, no futuro, essa ferramenta se transforme em uma loja completa, com pagamento também feito dentro do aplicativo – função que aqui no Brasil ainda aguarda aprovação do BC.

A retrospectiva do Twitter tem Donald Trump como a pessoa mais mencionada, #COVID19 como a hashtag mais usada e o anúncio da morte do ator Chadwick Boseman como o tuíte mais curtido e mais retuitado. A lista completa.

Cultura

A representatividade feminina no cinema aumentou muito ao longo dos últimos anos, mas está longe de representar igualdade ou proporcionalidade. Em muitos casos, no Brasil e lá fora, atrizes precisam botar a mão na massa atrás das câmeras para conseguir papeis relevantes. É a lição seguida por Dira Paes, que escreveu e está produzindo e estreando na direção de seu próximo filme, o longa Pasárgada. Ela vive a protagonista, uma bióloga que estuda pássaros. Ainda não há data prevista para a estreia.

Pintada em 1923 por Tarsila do Amaral, a tela Caipirinha tem a expectativa de quebrar todos os recordes do mercado de arte quando for a leilão no próximo dia 17. O lance inicial é de R$ 47 milhões, o maior já pedido para o trabalho de um artista brasileiro. Isto é, se o leilão acontecer. A venda foi determinada em julho pela Justiça para saldar dívidas do empresário Salim Taufic Schahin, acionista de uma empresa de petróleo que foi à falência. Quando os credores, ao investigarem o patrimônio do empresário, descobriram o quadro e pediram a penhora, sua posse já havia sido transferida de Salim para seu filho, Carlos Eduardo Schahin. Após perder em duas instâncias, os advogados de Carlos Eduardo dizem que vão ao STF para que ele seja reconhecido como dono e o leilão seja embargado. (Estadão)

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