Salles cai no dia em que CPI chega ao gabinete de Bolsonaro

Jair Bolsonaro foi avisado pessoalmente sobre as possíveis irregularidades na compra da vacina indiana Covaxin e não tomou providências. Em entrevista aos repórteres Natália Portinari, Julia Lindner e Thiago Bronzatto, o servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Fernandes Miranda disse ter se encontrado com o presidente no Palácio da Alvorada no dia 20 de março e mostrado a ele documentos com pedido para pagamento antecipado fora do contrato para importar doses perto do vencimento. A Covaxin foi a única vacina comprada com um intermediário, a Precisa Medicamentos, e custou R$ 80 por dose, o imunizante mais caro adquirido pelo Brasil. O encontro no Alvorada foi arranjado pelo deputado bolsonarista Luís Miranda (DEM-DF), irmão do servidor, que sustenta as afirmações. Bolsonaro teria dito aos dois que encaminharia o caso à Polícia Federal, mas o diretor-geral à época, Rolando Alexandre de Souza, disse não se lembrar de qualquer pedido nesse sentido. (Globo)

O presidente da Câmara, Arthur Lira, afirmou ter aconselhado Luís Miranda a levar a público a história. Até aqui, Lira vinha atuando apenas em favor do presidente. (Poder 360)

Com a denúncia na rua, o governo enfim acionou a PF — contra os denunciantes. Em tom agressivo, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Onyx Lorenzoni, disse que Bolsonaro mandou PF, CGU e MPF investigarem o deputado e seu irmão. “Quero alertar o deputado Luis Miranda de que o que foi feito hoje é no mínimo denunciação caluniosa e isso é crime tipificado no Código Penal”, disse Onyx. “Deputado Luís Miranda, Deus está vendo. Mas o senhor não vai só se entender com Deus, mas com a gente também.” (Estadão)

Miranda reagiu dizendo que pedirá à CPI da Pandemia a prisão do ministro por coação de testemunha. Na sexta-feira, ele e o irmão prestarão depoimento à comissão do Senado. O vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), pedirá segurança para os dois e seus familiares. (Metrópoles)

O relator da CPI, senador Renan Calheiros, cogita pedir prisão de Onyx por coação de testemunha. (G1)

Durante seu pronunciamento, Onyx negou que o governo já tenha feito algum pagamento à Precisa, mas, como revela Valdo Cruz, o Ministério da Saúde já empenhou (reservou) R$ 1,6 bilhão para a compra da vacina, cujo contrato foi anunciado em fevereiro pelo próprio ministério. (G1)

O ministro também disse que o documento apresentado pelos irmãos Miranda era falso, diferente das duas versões enviadas pela Precisa. A empresa, porém, já havia admitido mais cedo ter enviado uma terceira versão, desmentindo Onyx. (Globo)

Para o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), a denúncia é a mais grave já recebida pela comissão e que terá de ser tratada “com delicadeza”. (Poder360)

Enquanto isso... Ontem foi um dia de derrotas para o governo no STF. O ministro Luiz Roberto Barroso rejeitou a ação de Bolsonaro para suspender decretos estaduais de distanciamento social, e seu colega Kássio Nunes Marques manteve a quebra, determinada pela CPI, dos sigilos telefônico e telemático de Francisco Emerson Maximiano, sócio-administrador da Precisa. (Globo)

Thomas Traumann: “Bolsonaro sabia. O caso Covaxin desmonta a narrativa do presidente de que havia recusado as ofertas da Pfizer por preço e por falta de autorização. Ao contrário da Pfizer, que enviou mais de 80 emails para fechar o negócio, a Covaxin resolveu a compra em menos de dois meses por R$ 80 a dose. O primeiro lote da Pfizer saiu por R$58 a dose. O governo que prometia uma nova política chafurda em um esquema de corrupção que aproveitou o desespero das pessoas por remédios e vacinas.” (Veja)

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Enquanto o país digeria a denúncia envolvendo Bolsonaro e a Covaxin, uma edição extra do Diário Oficial da União anunciou a exoneração “a pedido” do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por favorecimento a madeireiros ilegais na Amazônia. (G1)

Radar: “A decisão de exonerar Salles veio, segundo fontes da investigação, porque o governo foi alertado de que uma leva de novas provas contra Salles foi enviada ao STF e poderia ‘contaminar o PR (Presidente da República)’. Além disso, o celular do ministro foi aos Estados Unidos para passar pela quebra de senha. Também estaria próxima a chegada, no STF, das quebras de sigilo bancário de Salles e da mãe dele.” (Veja)

Com a demissão, porém, os inquéritos contra Salles podem sair do STF. (Poder360)

Salles foi substituído por Joaquim Álvaro Pereira Leite, até então secretário da Amazônia e Serviços Ambientais no ministério. A troca não indica mudanças na política ambiental. Leite foi conselheiro da Sociedade Rural Brasileira (SRB), uma das maiores entidades ruralistas do país, e sua família está envolvida em disputas de terras com indígenas no interior de São Paulo. (BBC Brasil)

Quem riu por último foi o delegado federal Alexandre Saraiva. Em abril ele foi afastado da superintendência da PF no Amazonas após apresentar denúncia-crime contra Salles ao STF por interferir na investigação extração ilegal de madeira. Ontem, Saraiva tuitou “Eu avisei que não ia passar boiada” e “E eu continuo delegado de Polícia Federal”. (Folha)

Vera Magalhães: “A queda, antes improvável, de um dos ministros preferidos de Bolsonaro coincide com o dia em que a história do ‘Covaxingate’ atingiu o ponto de ebulição, com a revelação de um combo que inclui compra superfaturada, participação direta do próprio Bolsonaro e denúncia (ignorada) de pressão política. A queda de Salles não vai evitar que Bolsonaro continue a passar calor com o Covaxingate. E não pode fazer com que a Justiça, a PF e o MP, além da imprensa e da sociedade, continuem atentos ao comando de ‘passar a boiada’ no Meio Ambiente, uma vez que esta é a vontade do presidente, não de nenhum ‘zero dois’.” (Globo)

O Supremo Tribunal Federal (STF) concluiu ontem a votação do processo sobre a parcialidade do então juiz Sérgio Moro ao condenar o ex-presidente Lula no caso do tríplex do Guarujá. Embora a maioria já estivesse formada em 7 a 2, mas o decano Marco Aurélio pediu vistas. Nesta quarta-feira, ele e o presidente da Corte, Luiz Fux, votaram contra a parcialidade de Moro, o que não afetou o resultado. (G1)

Nas redes sociais, Moro comentou o resultado negando mais uma vez que tivesse sido parcial. (Twitter)

A Justiça Federal do DF aceitou denúncia contra o assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência, Filipe Martins, por ter feito um gesto racista numa audiência no Senado. Ele usou os dedos para formar as letras W e P, para simbolizar a expressão “white power”, que em inglês significa “poder branco”. (Jornal Nacional)

Embratel

Tech no próximo nível

Com tecnologia mais integrada ao negócio, ataques cibernéticos se tornaram ainda mais comuns nos últimos meses. Mas há uma linha em comum que dita como os hackers escolhem suas vítimas. Segundo especialistas, empresas que possuem um alto valor de mercado estão mais suscetíveis a violação de dados. No entanto, há outras razões. Uma delas é que hackers sempre escolhem a opção mais fraca/fácil, aquele alvo que está vulnerável ou não tem tantas camadas de segurança em seu negócio. E essas vulnerabilidades são identificadas em sites especializados e com diversas ferramentas de varredura. Conheça outros motivos.

A inteligência artificial já está redesenhando o futuro da saúde. Principalmente para a terceira idade. Os computadores não só estão monitorando como estão cada vez mais orientando as decisões sobre os cuidados aos idosos — e rastreando tudo. Uma mudança no número ou na duração das idas ao banheiro, por exemplo gera um alerta ao responsável, sinalizando que pode indicar uma infecção urinária ou desidratação. (The Guardian)

Meio em vídeo. Hackers russos sequestraram dados da Colonial Pipeline, empresa que controla 45% do combustível na costa leste dos EUA, e pediram um resgate milionário. Vítima de um ransomware, ela pagou. A pouca proteção sob dados privados coloca o Brasil como um dos lugares mais suscetíveis de sofrer ataques hackers como esse. E eles já estão acontecendo. O editor Pedro Doria conta mais sobre essa história no YouTube.

Viver

O governo dos Estados Unidos doou três milhões de doses da vacina da Janssen ao Brasil, a maior doação já feita por Washington a um único país na pandemia. Os imunizantes serão enviados de avião amanhã. (G1)

A Fiocruz recebeu ontem um novo lote de insumo farmacêutico ativo (IFA) que lhe permitirá produzir 5,8 milhões de doses da vacina da AstraZeneca. (CNN Brasil)

E nove capitais brasileiras já estão com restrições à aplicação da primeira dose contra a Covid-19 devido à falta de vacinas. Os governos locais esperam a entrega de novos lotes do imunizante. (Folha)

Nesta quarta-feira o país registrou pela primeira vez mais de 100 mil casos de Covid-19. Foram 114.139 novas infecções, totalizando 18.170.778 diagnósticos positivos desde março. O número de mortes foi de 2.343, elevando o total a 507.240. (UOL)

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Em 2020, a taxa de desmatamento na Amazônia Legal Brasileira foi a maior em 12 anos, segundo levantamento do Instituto Socioambiental (ISA) divulgado nesta quarta-feira. Somando os dois primeiros anos do governo Bolsonaro, a devastação atingiu 48,3% das áreas protegidas. Nenhuma das categorias fundiárias – terras indígenas, unidades de conservação e áreas de proteção ambiental – escapou. (Globo)

Meio em vídeo. Quer saber o motivo para a conta de luz aumentar tanto? Confira o Meio Explica no Youtube.

Panelinha no Meio. É milhão para cá, é milhão para lá. Mas o que nos interessa hoje é o milho, mais especificamente, o cuscuz de milho com feijão-verde, receita do chef Rodrigo Oliveira. Descomplicada, serve tanto para o acompanhamento de uma carne de sol arretada quanto para uma refeição sem proteína animal.

Cultura

A Justiça Federal em São Gonçalo (RJ) proibiu a Fundação Palmares de se desfazer de livros da própria biblioteca e estabeleceu uma multa de R$ 500 por obra doada. Réu na ação, o presidente da fundação, Sérgio Camargo, vem ameaçando retirar da biblioteca todo o material com viés de esquerda, sob a alegação de se tratar de “um conjunto de obras pautadas pela revolução sexual, pela sexualização de crianças, pela bandidolatria e por um amplo material de estudo das revoluções marxistas e das técnicas de guerrilha”. (Globo)

A editora HarperCollins anunciou um acordo global com o espólio do reverendo Martin Luther King, um dos principais ativistas do movimento negro americano, assassinado em 1968, para se tornar a única detentora dos direitos sobre seu acervo. O objetivo é reeditar os livros do pastor e publicar em coletâneas textos como seus discursos e artigos. Foi pela HarperCollins que King publicou, em 1858, seu primeiro livro, Stride Toward Freedom: The Montgomery Story. (Estadão)

Cotidiano Digital

Pela primeira vez em mais de três séculos, o público poderá ver a pintura A Ronda Noturna, de Rembrandt, em sua versão original. Mas com um detalhe: em vez de contratar um artista para reconstruir as peças que faltavam, o museu holandês Rijksmuseum treinou um computador. Por meio de inteligência artificial, pixel por pixel foram feitos no estilo de Rembrandt, para recriar as partes que foram cortadas para caber em uma parede da Câmara Municipal de Amsterdã, em 1715. As digitalizações foram impressas em tela, fixadas em placas de metal e envernizadas para parecerem a pintura. (New York Times)

Aos 75 anos, John McAfee, criador do antivírus com seu sobrenome, foi encontrado morto em sua cela em Barcelona, na Espanha. Desde outubro do ano passado estava preso preventivamente e aguardava extradição aos EUA por uma suposta infração fiscal. Essa não foi a sua única polêmica. Além de bilionário e pioneiro na área de software antivírus, ao longo de sua vida, abusou do uso de drogas e se tornou fugitivo ao estar possivelmente envolvido no assassinato de seu vizinho.

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