Prezadas leitoras, caros leitores —

O hábito de chamarmos o conjunto fisiológico do Congresso de Centrão às vezes mais atrapalha do que ajuda. Este coletivo, que foi batizado assim durante a Assembleia Constituinte, teve no comando por quase toda sua história o PMDB. Ou, hoje, MDB.

Não é o que está acontecendo agora.

O Centrão que praticamente assumiu o governo Jair Bolsonaro esta semana é comandado pelo Progressistas, o PP. Arthur Lira é o presidente da Câmara dos Deputados, Ricardo Barros é o líder do governo na Câmara e Ciro Nogueira nomeado ministro-chefe da Casa Civil. Formam, juntos, o trio político mais importante da República.

A formação deste conjunto não seria possível sem a traição do presidente nacional do DEM, Antonio Carlos Magalhães Neto, que rompeu com o presidente anterior da Câmara, Rodrigo Maia, e entregou o partido a Lira numa aliança por poder.

Agora, circula que estas duas legendas — Progressistas (PP, antes PDS) e Democratas (DEM, antes PFL) — estão para se unir ao PSL e formarão juntos o maior partido do Congresso Nacional. PP e DEM são também os dois descendentes diretos da Arena, o partido governista no período da Ditadura Militar.

Chamar de Centrão engana. Este não é o Centrão que dominou o Congresso durante a Nova República. Esta é a Arena que dominou o Congresso na Ditadura Militar. Tanto ideologicamente quanto em seus métodos, é a mesma coisa. E não é à toa que seu apoio a um governo que ecoa aqueles da Ditadura, incluindo com a forte presença de generais, se consolidou tão rapidamente. A diferença é que, nesta rodada, os políticos estão mais no comando do que os generais.

É a mesma coisa ideologicamente e nos métodos? Sim. Em seu terceiro ano de mandato, Jair Bolsonaro enfim criou uma estrutura política equivalente à dos tempos da Ditadura. Igual, inclusive, na corrupção e fisiologismo. E ao recontar a história da Arena para cá isto fica claríssimo.

A Arena ontem, a Arena hoje, os militares e os políticos, este é o tema da Edição de Sábado do Meio. Fundamental para compreender o jogo de Brasília.

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— Os editores

Centrão dá volta em militares e controla governo

Brasília amanheceu agitada com a manchete do Estadão informando que, por interlocutores, o ministro da Defesa general Walter Braga Netto teria mandado dizer ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que, sem voto impresso, não haveria eleições no ano que vem. Por telefone e sem ser gravado, conversando com jornalistas, Lira negou que o recado tenha ocorrido. Mas, quando em público via Twitter, não negou e escolheu a ambiguidade. “O brasileiro quer vacina, quer trabalho e vai julgar seus representantes em outubro do ano que vem através do voto popular, secreto e soberano”, afirmou. “As últimas decisões do governo foram pelo reconhecimento da política e da articulação como único meio de fazer o país avançar.” (Estadão)

Pois é... O que muitos jornalistas ouviram nos bastidores e Vicente Nunes publicou em sua coluna é que a ameaça aconteceu, o intermediário enviado por Braga Netto foi o senador Ciro Nogueira, presidente do PP, e que a fonte da reportagem do Estadão foi o próprio Arthur Lira. Ciro que, agora, assumiu a Casa Civil, ministério que costura a relação entre Planalto e Congresso. (Correio Braziliense)

Então... Como afirma Eliane Cantanhêde em sua coluna, Braga Netto e a cúpula da Defesa não perceberam. Mas os militares tomaram uma volta e perderam a briga política para o Centrão que está assumindo o governo.

Igor Gielow: “O episódio é apenas o primeiro salvo no conflito que se seguirá, com o centrão buscando desalojar os militares da miríade de cargos que amealharam no governo federal. Para um governo altamente militarizado, a impressão que fica é que, neste primeiro assalto, os fardados tomaram uma surra do antigo inimigo.” (Folha)

Enquanto a briga do Centrão com os militares corria nos bastidores, autoridades tratavam de tentar apaziguar. Um dos primeiros a botar panos quentes foi o presidente do TSE, ministro Luiz Roberto Barroso. Ele disse ter conversado na manhã de ontem tanto com Lira quanto com Braga Netto e que ambos negaram qualquer ameaça às eleições. “Temos uma Constituição em vigor, instituições funcionando, imprensa livre e sociedade consciente e mobilizada em favor da democracia”, escreveu Barroso em rede social. (G1)

Mais contundente foi o vice-presidente Hamilton Mourão: “É lógico que vai ter eleição, quem é que vai proibir eleição no Brasil, pô? Por favor, gente, nós não somos República de banana.” (Metrópoles)

Vera Magalhães: “O aspecto mais imediato da publicação da ameaça feita por Braga Netto foi enterrar de vez a cantilena bolsonarista pelo tal voto impresso, ou auditável. Lira deixou claro que o PP não está indo para a Casa Civil a passeio: o poder e o acesso sem precedentes que seu partido amealhou com Bolsonaro, além do fato de que eles têm o presidente como refém, não tornam a sigla sócia de nenhum plano tabajara para empastelar as eleições.” (Globo)

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Então... Mesmo com a ida do senador Ciro Nogueira (PI) para a Casa Civil e a presença de Arthur Lira (AL) na presidência da Câmara, o PP não deve permanecer muito tempo no poder. Não como PP, quer dizer. Está em curso uma negociação para que o partido se funda ao DEM e ao PSL para formar o maior partido do Congresso, com 121 deputados e 15 senadores. De acordo com a apuração do Poder 360, presidentes das três legendas dividiriam o comando da nova agremiação da seguinte forma: Luciano Bivar (PSL) seria o presidente, ACM Neto (DEM) o vice e o próprio Nogueira (PP) o secretário-geral. Dos três, somente o demista ainda resiste à ideia, mas as pressões em seu partido são cada vez maiores. (Poder360)

Apenas lembrando. O PP nasceu PDS na reforma partidária de 1980, fundado por integrantes da Arena, partido governista na ditadura militar. Já o DEM passou a maior parte de sua existência como PFL, fruto de uma dissidência do mesmo PDS na disputa presidencial indireta de 1985.

E o presidente Jair Bolsonaro teve ontem um arroubo de sinceridade ao reagir a críticas à nomeação de Nogueira para a Casa Civil. “Eu sou do Centrão. Eu fui do PP metade do meu tempo. Fui do PTB, fui do então PFL”, disse, em entrevista a uma rádio. (G1)

Meio em vídeo. Ameaça de golpe de Estado. A Arena, partido do tempo da ditadura, renascendo. Um general demitido do Planalto pela imprensa, sem que soubesse. O Brasil viveu essa semana um turbilhão — mas as peças extraordinárias se encaixam, e dá para compreender. Vamos explicar no Ponto de Partida. Confira no YouTube.

A deputada Joice Hasselman (PSL-SP) acionou a Polícia Legislativa após acordar no fim de semana em seu apartamento funcional coberta de ferimentos e sem se lembrar como os sofrera. Ela teve cinco fraturas no rosto e na costela e um corte no queixo. O marido da deputada, que é médico, dormia em outro cômodo. A Polícia Legislativa vai analisar as imagens das câmeras de segurança para verificar se alguém entrou no apartamento. (G1)

Superatletas antirracistas

Tony de Marco

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Viver

Daqui a pouco, às 8h, começa a cerimônia oficial de abertura dos Jogos Olímpicos de Tóquio, a primeira edição na História a acontecer sem a presença de público nas competições, devido à pandemia de Covid-19. Também por causa da doença, a festa será mais sóbria e não contará com o tradicional desfile das delegações. A maioria dos países será representada por um casal de atletas levando a bandeira nacional. Pelo Brasil, serão o jogador de vôlei Bruninho e a judoca Ketleyn Quadros. (Veja)

Veja onde e como assistir à transmissão do evento. (Lance)

Diante da repercussão negativa, o Comitê Olímpico Internacional revogou a proibição de imagens com protestos pacíficos de atletas em suas redes oficiais. A primeira rodada do torneio de futebol feminino, por exemplo, foi marcada por manifestações das jogadores contra o racismo. Ah, e o COI também autorizou a capitã da equipe alemã de hóquei, Nike Lorenz, a jogar com uma faixa de apoio à comunidade LGBTQIA+ na meia. (UOL)

Confira as competições de hoje à noite e da madrugada de sábado. (Globo Esporte)

Mais do que nunca é importante tomar a segunda dose da vacina contra Covid-19. Um estudo realizado em São Paulo com 61 mil pessoas acima de 60 anos constatou que, com duas aplicações, AstraZeneca teve efetividade de 93,6% na prevenção de mortes. A efetividade é o quanto a vacina funciona no mundo real, analisando-se a população mais ampla. Com apenas uma dose, a efetividade da AstraZeneca contra mortes é de 61,8%. Não vale a pena arriscar. Vacine-se. (Folha)

Também em São Paulo, o Instituto Butantan informou que vai iniciar um estudo para avaliar a eficácia da CoronaVac contra a variante delta, identificada inicialmente na Índia, embora, segundo a instituição, essa cepa represente somente 0,003% dos casos registrados no estado. A prefeitura paulistana, porém, já identificou transmissão comunitária da delta na cidade. (G1)

Falando nisso... O Estado do Rio confirmou quatro mortes pela variante indiana. Duas em Nova Iguaçu e uma em Duque de Caxias, municípios da Baixada Fluminense, na Região Metropolitana. A origem da quarta vítima ainda não foi divulgada. Confira as variantes mais perigosas que circulam no Rio. (Globo)

Nesta quinta-feira o Brasil registrou 1.444 mortes por Covid-19, totalizando 547.134 desde o início da pandemia. A média móvel de óbitos em sete dias ficou em 1.155, a menor desde 26 de fevereiro. Foram notificados 49.603 novos casos, totalizando 19.524.092 infecções desde março. Até o momento, 36.533.170 brasileiros receberam a segunda dose ou a dose única da Janssen, o que equivale a 17,25% da população. Para que a circulação do vírus possa ser controlada, é necessário que esse número chegue a 70%, pelo menos. (UOL)

“Vocês têm de cuidar dos índios isolados, porque senão eu vou, junto com os marubos, meter fogo nos isolados.” A frase é do general Custer ou de algum madeireiro/grileiro/garimpeiro? Não. É do coordenador da Funai no Vale do Javari (AM), o tenente da reserva do Exército Henry Charlles Lima da Silva, e está registrada em áudio. Marubos são um povo da região que estaria sendo ameaçado por índios isolados que mudaram de território. Na gravação, Silva estimula os marubos a se defenderem com violência. “Não estou aqui pra desarmar ninguém, também não estou aqui pra ser falso e levantar bandeira de paz”, diz. (Folha)

Após o presidente argentino Alberto Fernández publicar um decreto permitindo que pessoas optem por uma indicação neutra de gênero (X) em seus documentos, seu filho Dyhzy veio a público se declarar uma pessoa não-binária. Ele também pretende adotar oficialmente o apelido, abandonando o nome de registro Estanislao. (G1)

Cultura

No dia 25 de julho é comemorado o Dia da Mulher Negra e, para celebrar, a cantora e atriz Zezé Motta apresenta um espetáculo escrito e dirigido por Yasmin Thayná no Teatro Bradesco. Personalidades como Elisa Lucinda, Conceição Evaristo e Djamila Ribeiro gravaram depoimentos para a ocasião.

Até domingo também acontece o 14º Festival Latinidades, criado pelo Instituto Afrolatinas para divulgar os saberes e a cultura das mulheres negras da América Latina. Confira a programação.

Em um programa que vai de Villa-Lobos a Björk, a soprano Manuela Freua apresenta o recital Além da Canção: Reais e Imaginárias no Theatro São Pedro nesse domingo. No mesmo dia, a Osesp interpreta um arranjo sinfônico de As Quatro Estações Portenhas, de Astor Piazzolla, direto de Campos do Jordão.

Para conferir a agenda cultural completa, clique aqui.

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A TV Globo antecipou para setembro a estreia de Luciano Huck aos domingos. O programa continuará a se chamar Domingão, mas sem referência ao nome do apresentador. Até dezembro, Huck vai basicamente transferir para domingo as atrações de seu atual programa de sábado. Em janeiro, para quando estava prevista originalmente a estreia, a atração deve ser toda renovada. (Globo)

Eric Clapton é um dos maiores guitarristas de todos os tempos, mas, em tempos de pandemia, vem dando tristes espetáculos de negacionismo. Agora, o músico inglês de 76 anos anunciou que não dará shows em espaços que exijam comprovante de vacinação do público. “Não me apresentarei em nenhum palco onde haja um público discriminado”, disse. (Estadão)

Para não ficarmos muito deprimidos, vamos lembrar de quando Clapton só abria a boca para cantar: Layla, Cocaine e Wonderful Tonight.

Morreu ontem, aos 75 anos, o filósofo Roberto Romano, vítima de complicações da Covid-19. Professor aposentado de ética e política na USP, Romano era autor, entre outros livros, de Brasil, Igreja Contra Estado e Razão de Estado e Outros Estados da Razão. Era um defensor ferrenho das políticas de inclusão e crítico mordaz do governo Bolsonaro. (Folha)

Cotidiano Digital

O Pix poderá ser feito pelo WhatsApp. Essa possibilidade foi aberta pelo Banco Central, que fez mudanças na regulamentação, liberando marketplaces e carteiras digitais para iniciarem a transação do Pix. Isso significa que se o WhatsApp decidir aderir ao Pix, poderá ser feito o pagamento instantâneo dentro do app, sem precisar abrir o aplicativo do banco. O mesmo poderia ser feito com compras pela internet. Essa funcionalidade deve começar dia 30 de agosto. (Globo)

A partir de 2022, todos os smartphones da Apple serão compatíveis com 5G. Segundo o jornal Nikkei Asia, a big tech não vai lançar nenhum modelo 4G no ano que vem e o iPhone 5G mais em conta, o iPhone SE, deve chegar ao mercado já no primeiro semestre do próximo ano. Ele já virá com processador A15, o mesmo que entrará nos iPhones premium em 2021. (Valor Investe)

A Netflix subiu os preços de suas assinaturas no Brasil. Agora, variam de R$ 25,90 a R$ 55,90 mensais, aumentando a diferença com as concorrentes, como Amazon Prime Video, Globoplay e HBO Max, que têm preços menores. Confira.

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