Prezadas leitoras, caros leitores —

Duas histórias muito distintas vêm sendo contadas a respeito do que ocorreu na Ucrânia em 2014.

Por uma versão, um golpe de Estado patrocinado pelos EUA e organizado por grupos neonazistas derrubou o legítimo presidente ucraniano. Para defender cidadãos etnicamente russos, o presidente Vladimir Putin invadiu o país e tornou um de seus estados, a Crimeia, uma zona segura.

Pela outra, um governo fantoche pró-Putin, particularmente corrupto e ineficaz, caiu pressionado pelo povo que tomou a Euromaidan — Praça Euro. Não foi um golpe, mas sim seu oposto, uma revolução. A Revolução da Dignidade. Indignado, Putin reagiu com uma invasão punitiva que terminou com a captura de um território.

Quem conta uma história ou outra não segue, necessariamente, um corte de esquerda ou direita. Há gente de direita e de esquerda que abraça ambas as visões.

Mas a história do conflito atual começa ali. Em 2014. E ela é, evidentemente, bem mais complexa do que as visões reducionistas fazem parecer. Porque houve intervenção americana e o governo era mesmo fantoche russo. Porque havia sim neonazistas entre os manifestantes — como havia feministas progressistas. Foi para a rua um público tão diverso quanto aquele que protestou no Brasil em 2013.

Lá como cá, o país nunca mais foi o mesmo. Acomodações foram feitas que sacrificaram a democracia ucraniana. O que aconteceu? E como, dali, criou-se o cenário que culminou nesta guerra?

Este é o tema do Meio de Sábado, mas não é só isso.

Em todo o mundo o movimento NoMo questiona a maternidade compulsória. O desejo de não ser mãe é um fenômeno crescente, mas ainda pouco pesquisado e repleto de estigmas retrógrados. Para entendê-lo, Meio conversou com a psicanalista Regina Navarro Lins, uma das maiores especialistas brasileiras em sexualidade e relacionamentos.

Distúrbios alimentares atingem 10% dos jovens brasileiros e são romantizados nas redes sociais. Mas, se os algoritmos proíbem esse conteúdo, como ele ainda existe lá?

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Rússia toma a maior usina nuclear da Europa

Além do horror da guerra, o mundo viveu durante a madrugada o temor de um desastre nuclear na Ucrânia. Após horas de combate, tropas russas tomaram a usina atômica de Zaporíjia, a maior da Europa. Mais cedo, o prefeito da cidade vizinha de Energodar disse que parte da usina estava em chamas devido a um ataque da artilharia russa. Agências de energia nuclear de todo o mundo passaram a noite monitorando os níveis de radiação na área, mas nenhum vazamento foi detectado, e o fogo, que teria atingido uma instalação de treinamento, foi contido. Autoridades locais ucranianas confirmaram a tomada, mas disseram que as equipes da usina seguem trabalhando para garantir o funcionamento e a segurança. Zaporíjia fornece um quinto de toda a energia consumida na Ucrânia. (Reuters)

Enquanto isso... O segundo dia de negociações entre representantes da Ucrânia e da Rússia terminou sem a perspectiva de um cessar-fogo, embora os dois lados tenham concordado em estabelecer corredores humanitários para a saída de civis ou seu abastecimento com víveres. Diante desse impasse e do recrudescimento da ofensiva russa, o presidente ucraniano Volodymyr Zelenski conclamou Vladimir Putin a uma negociação direta. Ao mesmo tempo, pediu que OTAN estabeleça uma zona de exclusão aérea sobre a Ucrânia, o que não deve acontecer. (CNN)

Igualmente improvável é Putin aceitar uma negociação direta. Ontem, após se reunir por teleconferência com o Conselho de Defesa da Rússia, ele fez um pronunciamento para dizer que a “operação militar especial”, eufemismo russo para a invasão, “segue de acordo com os planos”. Sem apresentar provas, ele acusou a Ucrânia de usar civis como “escudos humanos” e tomar “milhares de estrangeiros como reféns”, além de insistir em sua tese de que os ucranianos são, na verdade, russos e afirmar que acabará com o “regime anti-Rússia” instalado pelo Ocidente na Ucrânia. (BBC)

Putin fez as mesmas acusações durante a conversa de uma hora e meia que teve por telefone com o presidente francês Emmanuel Macron, um dos poucos interlocutores que lhe restaram nos países europeus. Em resposta, o russo ouviu que deveria “parar de inventar histórias para si mesmo” e que estava cometendo “um sério erro”. Após a conversa, porém, Macron fez uma avaliação pessimista: “Acreditamos que o pior ainda está por vir.” (Politico)

Além dos bombardeios, a guerra de informações segue intensa. Ontem, o Kremlin precisou negar formalmente que esteja nos planos a decretação de lei marcial na Rússia. Milhares de russos estariam deixando o país devido a rumores de que as fronteiras seriam fechadas e do temor de repressão a protestos contra a guerra. (Guardian)

Como parte do esforço diplomático para isolar a Rússia, o premiê britânico Boris Johnson telefonou ontem para o presidente Jair Bolsonaro, dizendo que o Brasil foi um “aliado vital” na Segunda Guerra e que a voz do país se mostra crucial para a solução da crise. Segundo a assessoria de Johnson, os dois concordaram em pedir um cessar-fogo. O Palácio do Planalto não comentou a conversa. (g1)

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Michael Mazarr, cientista político da Rand Corporation : “As ações russas criaram uma situação onde não há agora uma saída real além de alguma forma de mudança no governo em Moscou. Se, por exemplo, você sabe que Putin não vai recuar de sua aparente intenção de controlar partes significativas da Ucrânia, senão toda a Ucrânia, não vejo espaço para nenhum tipo de acordo negociado para essa guerra. E, nesse caso, com todas as sanções que foram postas em prática, não apenas os Estados Unidos, mas também outros países têm efetivamente uma demanda de fato por uma mudança na liderança política russa.” (Globo)

Os mapas usados na mídia de todo o mundo dão a entender que, após oito dias, a Rússia já controla grandes extensões do território ucraniano, mas essa visão é real? Em um fio detalhado, o historiador Mateusz Fafinski, da Universidade Livre de Berlim, explica que, fora a Crimeia e as províncias separatistas do Leste, as áreas destacadas nos mapas indicam a presença de tropas russas, mas não seu domínio. Na mesma linha, o general aposentado Mark Hertling explicou na CNN que, quanto mais as forças russas se afastam de suas bases, maiores os problemas de reabastecimento de munição e alimentos e mais difícil é o domínio. “Eles não controlam chongas”, resumiu. (Twitter)

Para ler com calma. O vídeo de um míssil sendo lançado na Ucrânia eram, na verdade, da Turquia. A foto de caças russos “sobrevoando Kiev” foi feita numa exibição militar em Moscou. Jornalistas dos principais veículos de comunicação do mundo estão usando técnicas de perícia forense para identificar o que é falso e o que é verdadeiro nas imagens da guerra. (Washington Post)

Meio em vídeo. É difícil escolher em que lado estar na Segunda Guerra Mundial? Também não é difícil escolher o lado nesta guerra. Esqueçam Estados Unidos ou mesmo a OTAN. A invasão da Ucrânia mexe com todo mundo, inclusive nós aqui no Brasil. E o que existe de real é simples: a maior potência nuclear do planeta invadiu o vizinho que abriu mão de todo seu arsenal nuclear faz trinta anos. Abriu mão para não ser atacado. Confira o Ponto de Partida. (YouTube)

Embora criticando o montante, os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiram ontem, por 9 votos a 2, manter o Fundo Eleitoral de R$ 4,9 bilhões aprovado pelo Congresso para o pleito deste ano. O relator André Mendonça considerou o valor inconstitucional, mas foi acompanhado apenas pelo ministro Ricardo Lewandowski. Todos os demais argumentaram que o estabelecimento do fundo é prerrogativa do Legislativo, não cabendo ao Judiciário intervir. (Poder360)

A primeira federação de partidos está em vias de sair do papel. Por unanimidade, Executiva Nacional do PSDB delegou ao presidente da legenda, Bruno Araújo, a tarefa de consolidar a aliança com o Cidadania, que já aprovou a medida. Uma vez formalizada a federação, os dois partidos vão funcionar como um só durante quatro anos. (CNN Brasil)

Mesa de negociação

Orlando Pedroso

Mesa de negociação 72

Cultura

O fim de semana está aí. Hora de conferir os destaques da agenda cultural.

Entre 7 e 14 de março, a editora Boitempo realiza uma série de debates em torno do Dia Internacional da Mulher com a participação de pesquisadoras como Eunice Ostrensky e Maria Lygia Quartim de Moraes. Antes, nessa sexta, a filósofa Isabel Loureiro oferece uma palestra sobre a intelectual e revolucionária Rosa Luxemburgo.

Obras de Bach, Mozart, Beethoven e Wagner estarão no Concerto para a Juventude que a Filarmônica de Minas Gerais transmite nesse domingo sob a regência de José Soares.

Direto de seu Salão Nobre, a Escola de Artes Visuais do Parque Lage transmite na segunda uma aula aberta da artista Anna Bella Geiger sobre as relações entre corpo e cartografia na sua produção.

Para ver a agenda completa, clique aqui, e para outras dicas de cultura, assine a newsletter da Bravo!.

Não dá para pensar em educação de qualidade e acesso à cultura sem o hábito da leitura. Entretanto, profissionais e voluntários que atuam para incentivar essa prática esbarram na falta de apoio. Segundo a pesquisa “Brasil que lê”, divulgada ontem, há no país 382 projetos de estímulo à leitura, mas, apesar de o Plano Nacional do Livro e da Leitura ter sido aprovado em 2019, essas iniciativas não recebem recursos do governo federal. Quase 40% dos projetos são bancados pelos próprios voluntários. (Globo)

Chico Buarque, Ludmila, Gilberto Gil, Racionais, Elza Soares, Paralamas e muitos outros representantes das mais diversas vertentes da música brasileira estão no musical 2022, produzido pela HBO Max e que teve seu trailer divulgado ontem. Com estreia prevista para o dia 11, o programa em três atos homenageia os cem anos da Semana de Arte Moderna de 1922 e foi concebido por Monique Gardenberg. (Omelete)

Viver

O Ministério da Saúde estuda rebaixar a covid-19 de pandemia, classificação estabelecida pela OMS, para endemia, quando uma doença é recorrente ou localizada. A informação foi dada pelo presidente Jair Bolsonaro e confirmada por fontes da pasta. Segundo a secretária de Enfrentamento à Covid-19 do ministério, Rosana Leite de Melo, a decisão deve sair em três semanas, após consultas com as secretarias estaduais de Saúde. (Metrópoles)

Para especialistas, a mudança de status da covid-19 seria “arriscada”, “precipitada” e de um “otimismo preguiçoso”. “A endemia se caracteriza quando o número de casos e de óbitos fica muito baixo por um período de mais de 2 meses, pelo menos", argumenta Domingos Alves, cientistas de dados e professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP. (g1)

Independentemente de como a covid-19 é classificada, medidas de segurança vêm sendo abandonadas em várias partes do país. Ontem, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), anunciou o fim da obrigatoriedade de máscaras em locais abertos. Já o paulista João Doria disse que a medida está sendo estudada pelo comitê científico do governo de São Paulo. (UOL)

E pela primeira vez desde janeiro a média móvel de mortes por covid-19 ficou abaixo de 500. Na quinta-feira foram registrados 594 óbitos, o que levou a média a 451, o que representa um recuo de 46% em relação ao período anterior, confirmando a tendência de queda. (g1)

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A geração de eletricidade a partir de energia solar no Brasil ultrapassou a potência de 14 GW, superando a potência instalada da usina hidrelétrica de Itaipu, segundo a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR). Esse número leva em conta 9,4 GW gerados por instalações de pequeno porte, como painéis solares em telhados de casas, e 4,7 GW de usinas de grande porte. E a expectativa é que a potência instalada cresça 90% este ano. (Portal Solar)

E morreu no Rio de Janeiro, aos 80 anos, o engenheiro nuclear e físico Luís Pinguelli Rosa. Considerado um dos maiores especialistas em energia do país, ele foi presidente da Eletrobrás entre 2003 e 2004 e diretor da Coppe/UFRJ. Pinguelli passou mais de um mês internado com covid-19. (CNN Brasil)

Um dos mais famosos monumentos megalíticos do mundo, o círculo de pedras de Stonehenge, na Inglaterra, era um preciso calendário solar. Erguido entre 3000 e 2000 a.C. na Planície de Salisbury, o círculo marca um ano solar com 12 meses de 30 dias e um “mês extra” de cinco, perfazendo os 365 dias. Segundo estudo de Timothy Darvill, professor de arqueologia da Universidade de Bournemouth, as pedras externas permitiam aos antigos habitantes estabelecer com precisão até a ocorrência de anos bissextos. (UOL)

Cotidiano Digital

A Ucrânia anunciou que lançará NFTs para financiar suas forças armadas contra a invasão russa. Mykhailo Fedorov, vice-primeiro-ministro ucraniano, disse no Twitter que o governo deve emitir os tokens não fungíveis em breve para ajudar a pagar seus militares. Fedorov também pediu doações de criptomoedas, em uma campanha que arrecadou mais de US$ 50 milhões em bitcoin, ethereum e tether. Na última quarta-feira, um leilão de um NFT da bandeira da Ucrânia arrecadou 2.258 unidades da criptomoeda ether (US$ 6,7 milhões). O valor arrecadado será doado para a Come Back Alive, uma campanha criada para apoiar as forças armadas da Ucrânia. (The Guardian)

Terminou ontem a Mobile World Congress (MWC), feira de tecnologia que aconteceu em Barcelona, na Espanha. Entre as novidades, robôs garçons que preparam coquetéis, uma discoteca virtual com avatares e baterias ecológicas. Confira alguns destaques. (g1)

E a Fitbit, marca de acessórios de propriedade da Alphabet, anunciou que fará um recall do relógio Ionic após mais de 100 reclamações terem sido feitas em relação a problemas de superaquecimento de bateria. Alguns casos levaram a queimaduras de terceiro e segundo graus. Dos smartwatches recolhidos, cerca de 1 milhão foram vendidos nos EUA e cerca de 693 mil foram vendidos no exterior. O Ionic, que custa US$ 299, rastreia atividade, frequência cardíaca e sono. A Fitbit interrompeu a produção do relógio em 2020. (UOL)

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