Prezadas leitoras, caros leitores —

Quem acompanha qualquer uma das tribos políticas das redes pode sair com a impressão de que a guerra entre Rússia e Ucrânia tem explicação simples. Mas entre os intelectuais que se debruçam para compreender Rússia, Europa, democracias e autoritarismos, o debate é intenso e, francamente, inconclusivo.

Se uma conclusão não é possível, conhecer alguns dos principais pontos de vista é.

Nesta Edição de Sábado, Meio apresentará a visão de quatro pensadores.

Aleksandr Dugin, um sociólogo e historiador russo, acredita que vivemos um tempo de destruição de comunidades. No caso da Rússia, o que está em risco é um grande bloco sócio-cultural que ele chama de Eurásia. Se a Ucrânia é perdida para a União Europeia, é a existência do ser russo que é posta em risco.

Timothy Snyder, historiador de Yale, também vê a Ucrânia como central na história europeia. Para ele, Hitler perdeu a Guerra no momento em que não conseguiu conquistá-la. A União Europeia, mais do que um agrupamento de países, representa o nascimento de um continente pós-impérios. E é isto que está em jogo — o conflito entre o jeito novo e uma ideologia que busca voltar ao tempo dos impérios.

John Mearsheimer, cientista político da Universidade de Chicago, vê tudo de forma mais simples. Potências militares sempre usarão seu poder para garantir o controle sobre suas esferas de influência. É um fato da vida, em sua visão. Talvez um lamento para os países que calham de ser vizinhos dos grandes e fortes, mas não são valores éticos e sim a possibilidade do exercício da força quem dita o rumo da história.

Yuval Noah Harari, historiador israelense, não considera que guerras sejam inevitáveis. Ou que o mais forte sempre oprimirá o mais fraco. Para ele, é através das histórias que contamos que damos conta das relações que estabelecemos. Um mundo sem muitas guerras é possível e não é utópico. Este conflito é um que já vinha crescendo e agora derramou — o choque entre dois grupos que veem o mundo por duas histórias muito distintas.

Quatro versões muito diferentes, com pontos de contato aqui, desavenças grandes ali. Quatro maneiras de entender a guerra que abala o mundo.

Independentemente das causas do conflito, a invasão da Ucrânia gerou a maior onda de refugiados dentro a Europa desde a Segunda Guerra. Meio ouviu o depoimento de uma brasileira que vive em Munique, na Alemanha, e acolheu dois desses refugiados, mãe e um filho pequeno, e nos conta do medo, da desconfiança e, em certa medida, da vergonha que acompanha essas vítimas da guerra.

Mais de 2,5 milhões de pessoas já deixaram a Ucrânia em busca de proteção em outros países. Esse número não para de crescer, assim como os relatos de racismo e discriminação nas fronteiras. O Alto Comissariado da ONU para Refugiados (Acnur) nos faz um balanço desse drama.

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— Os editores

Putin chama de traidores os russos contra a guerra

Enfrentando uma resistência maior que a esperada por parte das tropas ucranianas, o presidente Vladimir Putin endureceu o discurso... contra os próprios russos, ou pelo menos os que se manifestam contra a invasão do país vizinho. “O povo russo sempre saberá distinguir os verdadeiros patriotas da escória e dos traidores e os cuspirá na sarjeta como insetos”, bradou, em pronunciamento na TV. A retórica, dizem especialistas, tenta contrabalançar a frustração crescente com o desenrolar da guerra e com as dificuldades impostas pelas sanções do Ocidente. (ABCNews)

Putin tem motivos para irritação. A estimativa de observadores é que pelo menos 7 mil militares russos, incluindo quatro oficiais generais, tenham morrido desde o início da invasão. Moscou tem encontrado dificuldades para deslocar tropas suficientes para a frente de batalha. (CNN)

O repórter James Longman mostrou, durante um protesto na Rússia, o rosto dessa “escória traidora”: a mãe de um recruta russo. Após dez dias sem contato com o filho, ela descobriu que ele estava vivo, um dos dez sobreviventes de seu regimento. “Parem essa carnificina. Devolvam meu filho. Devolvam os filhos das outras mães”, ela pede. (Twitter)

Um dos muitos problemas enfrentados pelos russos é que eles precisam desviar para a proteção de suas linhas de suprimentos tropas que pretendiam usar no avanço sobre cidades ucranianas. (Guardian)

Ontem, em reunião do Conselho de Segurança da ONU, a Rússia negou ter atacado uma maternidade e um teatro que servia de abrigo para civis em Mariupol, no Sul da Ucrânia. Segundo o embaixador russo na ONU, Vasily Nebenzia, a maternidade servia como base militar e o teatro foi bombardeado pelos próprios ucranianos. (UOL)

Enquanto isso... O ator e ex-governador da California, Arnold Schwarzenegger, austríaco de nascimento, publicou ontem um longo e emocionado vídeo no Twitter falando aos russos sobre a guerra na Ucrânia. Ele lembrou seus laços com a Rússia e falou da culpa que o pai, que lutou pelos nazistas na guerra, carregava ao voltar do cerco a Leningrado, hoje São Petersburgo. E terminou com uma mensagem a Putin: “Você começou essa guerra, você pode pará-la.” (Twitter)

Para ler com calma. Quem duvida que a Europa trata com outros critérios os refugiados ucranianos deve olhar para a cidade francesa de Calais. Famosa pelas barracas nas quais amontoava migrantes fugindo de guerras no Oriente Médio e na África, o balneário tem reservado quartos em hostels à beira-mar (desocupados durante o inverno) para as levas de fugitivos da invasão russa. (Washington Post)

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A aprovação do governo de Jair Bolsonaro (PL) voltou a cair, segundo pesquisa do PoderData. De acordo com o último levantamento, 57% dos entrevistados dizem desaprovar a atual administração federal, enquanto 35% aprovam e 8% não sabem. Há 15 dias, a reprovação estava em 53% e a aprovação em 37%. É a primeira vez desde o início do ano que a diferença entre a maioria que reprova e a minoria que aprova o governo cresceu. A distância também aumentou na avaliação do trabalho de Bolsonaro. Embora os que o consideram ruim ou péssimo tenham se mantido estáveis em 52%, os que o consideram ótimo ou bom recuaram de 30% para 27%, com regular passando de 16% para 19%. (Poder360)

Enquanto isso... Bolsonaro fez uma reunião na manhã de ontem para fechar a lista de ministros que deixarão o governo até o dia 2 de abril para disputarem as eleições de outubro. A lista inclui nove nomes: João Roma (Cidadania), Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia), Damares Alves (Direitos Humanos), Tarcísio de Freitas (Infraestrutura), Flávia Arruda (Secretaria de Governo), Tereza Cristina (Agricultura), Onyx Lorenzoni (Previdência e Trabalho), Gilson Machado (Turismo) e Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional). Walter Braga Netto, da Defesa, pode engrossar a lista para ser candidato a vice na chapa de Bolsonaro. (Metrópoles)

Antigos apoiadores podem virar críticos ferozes. Expulsa do PT em 2003 por votar contra a reforma da Previdência feita por Lula, a ex-senadora Heloísa Helena, hoje porta-voz da Rede Sustentabilidade, disse não haver “força humana” que a obrigue a apoiar o ex-presidente. “Eu estou entre aqueles simples mortais que querem ter a oportunidade de escolher um projeto com o qual mais se identifica”, disse ela, reconhecendo que uma parte dos militantes da Rede defende a aliança com o PT. (UOL)

Bolsonaro vive um problema semelhante. Seu antigo porta-voz, o general Otávio Rego Bastos publicou um artigo sem citar o nome do presidente dizendo que não repetirá o voto de 2018: “Me lembro bem em quem votei nas últimas eleições. Neles, não voto mais”, escreveu. O general falou também da pandemia de covid-19 e criticou a atuação do governo ao qual serviu. “Mais de meio milhão de pessoas morreram em face da covid-19, outros tantos ainda permanecem sequelados e o assunto já passa ao largo, como pesadelo a ser esquecido, em justificativa à má gestão”. (Correio Braziliense)

Meio em vídeo. Bolsonaro voltou a crescer nas pesquisas. Por um lado, é efeito do auxílio de quatrocentos reais. Por outro tem outra razão, são eleitores que queriam uma terceira via, mas não a encontraram e estão caindo nos braços do presidente. E Lula, como vai reagir? Seja como for, de uma realidade ele não foge. Os eleitores de esquerda já tem. Os que pode conquistar novos estão do centro para lá. Confira no Ponto de Partida. (YouTube)

O deputado estadual paulista Arthur do Val (sem partido) tem uma nova estratégia para tentar evitar a cassação de seu mandato. Na defesa prévia entregue ao Conselho de Ética da Alesp, ele alega que não pode ser punido por áudios “vazados ilegalmente”. Ele se refere a uma gravação, enviada para um grupo de Whatsapp, na qual ele diz que as ucranianas “são fáceis porque são pobres”. (g1)

Discutindo o cessar-fogo

Marcelo Martinez

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Cultura

Se estivesse viva, Elis Regina (Spotify) teria completado ontem 77 anos. Para homenagear a cantora, que morreu em 1982, seu filho mais velho, o produtor João Marcelo Bôscoli, fez dela a primeira artista brasileira a ter um álbum vertido para a tecnologia imersiva Dolby Atmos. E não é qualquer álbum, e sim Falso Brilhante (Spotify), de 1976, resultado de seu show mais famoso, com clássicos como Fascinação e Como Nossos Pais. João Marcelo contou com apoio de uma equipe da Dolby para adaptar o som à novas tecnologias sem perder o espírito da época em que o disco foi gravado. (Estadão)

Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa (trailer) ainda está arrecadando alto nos cinemas brasileiros, mas já pode ser assistido na sala de casa (ou no celular). A Sony antecipou o lançamento digital do longa nas plataformas AppleTV, iTunes, Google Play, Microsoft Films & TV, Looke, NOW, Prime Video, SKY e Vivo Play. Quem alugar ou comprar via iTunes vai ter um mimo: 80 minutos de extras, incluindo erros de gravação. (Omelete)

Mas as novidades no streaming não se limitam a teias. Jared Leto e Anne Hathaway, ambos vencedores do Oscar, estrelam a série WeCrashed (trailer), que estreia hoje na Apple TV+. A trama é baseada na ascensão e queda de Adam Neumann (Leto), um esquisitão israelense que migrou para os EUA e fundou, ao lado da esposa Rebekah (Hathaway), a startup WeWork. (Folha)

E a Netflix comprou de volta os direitos e está reexibindo em alguns mercados (não no Brasil) a série cômica Servant of the People (trailer), na qual Volodymyr Zelenski interpreta um professor que se torna, quase acidentalmente, presidente da Ucrânia. O sucesso serviu de base para que o ator se elegesse realmente para o cargo, e hoje ele enfrenta a invasão russa. (CNN Brasil)

Confira os destaques da agenda cultural.

Na terça, às 21h, o SescTV estreia 22 em XXI, documentário de Hélio Goldsztejn que discute o centenário da Semana de Arte Moderna de 1922. O filme conta com depoimentos de José Miguel Wisnik, Caetano Veloso, Zé Celso Martinez Corrêa e Hélio Menezes, entre outros.

Hoje e amanhã, o Instituto Moreira Salles promove uma série de “conversas para abrir cabeças” durante o Festival Serrote, que neste ano abre com um papo entre a escritora norte-americana Saidiya Hartman e a tradutora Stephanie Borges. As presenças de Noemi Jaffe, Carla Rodrigues e Fabiana Moraes também estão confirmadas.

Lenda da música instrumental brasileira, Hermeto Pascoal tem disponibilizado em sua página no Bandcamp diversos clássicos que ainda não tinham chegado ao streaming, como seu disco solo de estreia lançado em 1970 e a edição remasterizada de Só Não Toca Quem Não Quer (1987). A plataforma celebrou a chegada das raridades, que incluem um show inédito no Planetário da Gávea em 1981, com um perfil do Bruxo.

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Viver

O governo de São Paulo retirou ontem a obrigatoriedade do uso de máscaras em ambientes fechados, embora elas continuem a ser exigidas em unidades de saúde e no transporte público. Em nota, o governador João Doria (PSDB) disse que recebeu do Comitê Científico estadual a confirmação de uma “melhora consistente na situação epidemiológica”. A decisão final cabe aos prefeitos, mas o secretário da Saúde da capital, Edson Aparecido, avisou que vai seguir o governo do estado e suspender a partir de hoje a exigência da máscara. (g1)

Enquanto isso... Um dado preocupa os especialistas: a baixa adesão de adultos à dose de reforço, fundamental para proteção contra a variante ômicron. Embora pessoas entre 35 e 39 anos já estejam aptas a receber a terceira dose em todo o país, apenas 37,24% das mulheres e 29,78% dos homens já o fizeram. (Globo)

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Respeitado internacionalmente por sua ação na causa indígena, o sertanista e ex-presidente da Funai Sydney Possuelo devolveu ontem a Medalha do Mérito Indigenista, concedida a ele em 1987 pelo Ministério da Justiça. Foi um protesto contra a concessão na quarta-feira da mesma comenda ao presidente Jair Bolsonaro (PL). Em carta ao ministro da Justiça, Anderson Torres, que também se condecorou, Possuelo disse que a honraria, em sua visão “perdeu toda a razão pela qual, em 1972, foi criada pelo presidente da República”. Bolsonaro já defendeu o extermínio dos indígenas e pressiona para aprovar um projeto que autoriza a mineração em suas terras. (Estadão)

Para ler com calma. O cão não é só o melhor amigo do homem, é também seu parceiro de neuras. Segundo pesquisa da Universidade de Prince Edward Island, no Canadá, distúrbios psiquiátricos caninos são semelhantes a condições como transtorno de déficit de atenção com hiperatividade e transtorno bipolar. Até os componentes genéticos que podem levar à ansiedade são parecidos. “Cães são provavelmente o melhor modelo que vamos encontrar para os humanos”, diz Karen Overall, especialista em comportamento animal da universidade. (Science Magazine)

Cotidiano Digital

As plataformas digitais brasileiras como Uber, 99, iFood, Rappi e Get Ninjas não oferecem padrões considerados mínimos de trabalho decente. É o que aponta um estudo coordenado pelo Oxford Internet Institute e pelo WZB Berlin Social Science Centre, realizado em 27 países e obtido pela BBC. Segundo o relatório, nenhuma plataforma brasileira obteve mais de 2 pontos, em um máximo de 10, em avaliação baseada em cinco princípios de trabalho justo: remuneração, condições de trabalho, contratos, gestão e representação justos. iFood e 99 obtiveram apenas 2 pontos cada, enquanto a Uber recebeu 1 ponto. Rappi, Get Ninjas e Uber Eats ficaram com zero na classificação. O resultado é semelhante ao de outros países da América Latina, como Chile e Equador, e pior que na África, Ásia e Europa. (BBC)

E a Amazon anunciou ontem a conclusão da compra do estúdio cinematográfico MGM. Com US$ 8,45 bilhões (cerca de R$ 45 bilhões), o negócio é a segunda maior aquisição na história da gigante do comércio eletrônico, ficando atrás apenas na compra da Whole Foods, em 2017, por US$ 13,7 bilhões. A aquisição do estúdio teve início em maio de 2021 e não foi questionada pela Comissão Federal de Comércio americana. Entre as principais franquias da MGM estão os filmes de “James Bond” e “Rocky”. (TechCrunch)

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