Prezadas leitoras, caros leitores —

O flanco mais à esquerda da política brasileira não nasceu comunista. Nasceu, isto sim, no chão das fábricas paulistas, das reuniões de operários chegados da Itália. Anarquistas. E, assim, ninguém além dos envolvidos reparou quando, num congresso improvisado e miúdo, entre 25 e 27 de março do ano de 1922 fundou-se o Partido Comunista do Brasil. Que atendia pela sigla PCB.

O Partidão completa entre hoje e domingo cem anos de idade.

Teve muitos rachas e muitos rostos neste um século. Ao menos três siglas — o Cidadania, o PCdoB e um recriado PCB reivindicam descender daquele.

Mas embora sem nunca ter tido impacto eleitoral relevante, o Partidão sempre foi importante e deixou uma marca clara na história da República.

Chamou atenção primeiro quando conquistou o herói da classe média urbana antipolítica para seu comando. Luís Carlos Prestes, o herói da pequena burguesia moralista, se tornaria seu mais longevo comandante.

Em 1935, tentou uma revolução comunista e criou um trauma no Exército Brasileiro que ainda repercute na paranoia que vemos hoje entre militares.

Elegeu, em 1946, uma das mais sofisticadas bancadas que o Congresso Nacional jamais viu, 14 deputados que incluíam nomes como o do escritor Jorge Amado, o futuro guerrilheiro Carlos Marighela e o depois fundador do PCdoB João Amazonas.

Pois é — a denúncia dos crimes de Josef Stálin pela própria URSS dividiu o Partidão. O lado que seguiu na linha soviética buscou com Prestes interagir com a democracia brasileira que ia definhando. Durante a Ditadura Militar, a turma que rachou escolheu a luta armada.

Sob o comando de Roberto Freire, o Partidão buscou se reinventar no mundo pós-Guerra Fria. Também o PCdoB fez isso, a seu modo. Enquanto o novo PCB segue embalado nos sonhos de 1917. Dá para contar a história deste século de República brasileira pelos movimentos deste pequeno partido. Pequeno, mas, por ao menos metade de sua história, capaz de incrível influência.

É isto que o Meio se propõe a fazer neste sábado.

Mas não é tudo. Nesta semana, o ex-procurador Deltan Dallagnol foi condenado a indenizar o ex-presidente Lula por danos morais. O motivo é uma apresentação de slides à imprensa em 2016. “Petrolão + Propinocracia” e “perpetuação criminosa no poder” são alguns dos itens no famoso PowerPoint que colocou o petista como figura central do esquema investigado pela Operação Lava-Jato. O uso de apresentações em PowerPoint em julgamentos não é novidade nos Estados Unidos. Nesta edição de sábado, questionamos o legado dos casos americanos para a Justiça brasileira.

E mais. Mesmo sem percebermos, a matemática está presente em nosso cotidiano. Ainda assim, é comum ouvir que essa disciplina é difícil de aprender e não tem utilidade prática na vida comum. Meio conta como essa ciência é fundamental em tarefas simples de cada dia e os problemas que envolvem seu ensino nas escolas brasileiras.

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— Os editores

Bolsonaro dobra a aposta em Ribeiro

O presidente Jair Bolsonaro (PL) saiu ontem em defesa de seu ministro da Educação, o pastor Milton Ribeiro. Em sua live semanal, ele afirmou que “bota a cara no fogo” pelo ministro. Ribeiro está sob ataque após a divulgação de um áudio em que ele diz a prefeitos que, a pedido de Bolsonaro, os pastores Gilmar dos Santos e Arilton Moura intermediavam os repasses de verbas do MEC. Ribeiro depois negou o conteúdo do áudio. (Poder360)

Enquanto isso... A ministra do STF Cármen Lúcia autorizou ontem a Procuradoria-Geral da República a abrir uma investigação contra Ribeiro e os dois pastores por suspeita de favorecimento. Segundo ela, as acusações são “fatos gravíssimos e agressivos à cidadania e à integridade das instituições republicanas”. A ministra também encaminhou à PGR ordem para se manifestar em 15 dias sobre um pedido de investigação do presidente Jair Bolsonaro no mesmo caso. Para Cármen Lúcia, diante da gravidade dos fatos, é imprescindível a investigação de todos os envolvidos, não só o ministro. (g1)

E a cada momento surgem novas denúncias contra a ação do “gabinete dos pastores”. O prefeito de Bonfinópolis (GO), Professor Kelton Pinheiro (Cidadania), disse que Moura ofereceu um “abatimento” de 50% no pedido de propina. “(Arilton) falou: ‘vou lhe fazer por R$ 15 mil porque você foi indicado pelo pastor Gilmar, que é meu amigo. Pros outros aqui, o que eu estou cobrando aqui é R$ 30 mil’”, disse o prefeito. (Estadão)

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O presidente Jair Bolsonaro (PL) apresentou recuperação na disputa presidencial, embora continue em segundo lugar, aponta pesquisa Datafolha divulgada ontem. Ele tem 26%, contra 43% do ex-presidente Lula (PT) - no levantamento anterior, o petista tinha 47%, o presidente 21%. Em seguida vêm Sérgio Moro (Podemos) com 8%, Ciro Gomes (PDT) com 6%, João Doria (PSDB) e André Janone (Avante) com 2% e Simone Tebet (MDB), Vera Lúcia (PSTU) e Felipe D’Ávila (Novo) com 1%. Na simulação de segundo turno, Lula vence Bolsonaro por 55% a 34%, mas o presidente encurtou em oito pontos essa diferença, na comparação com a pesquisa anterior. Outra boa notícia para Bolsonaro é que sua reprovação caiu de 53% em dezembro para 46%, enquanto a aprovação subiu de 22% para 25%. (Folha)

O ex-presidente Lula (PT) descartou ontem, em entrevista a uma rádio, a participação num eventual terceiro governo seu de “figuras históricas” do partido, como a ex-presidente Dilma Rousseff, o ex-ministro José Dirceu e o ex-deputado José Genoíno, os dois últimos condenados pelo mensalão. Lula também negou que haja contradição em formar uma chapa com o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSB), seu antigo adversário. “Contraditório seria eu ter um vice do PT, porque seria uma soma zero. Não acrescentaria nada”, disse. (Globo)

Seguindo nessa linha, o Diretório Nacional do PT aprovou uma resolução autorizando a aliança com antigos adversários, sem citar nominalmente o ex-governador. A decisão, porém, não foi tranquila. Correntes mais à esquerda dentro do partido classificaram Alckmin como “um Temer em Potencial”. (g1)

Painel: “Os números do Datafolha reforçam a correção de expectativas nas lideranças do PT. Um ponto preocupante é a rejeição de Lula entre eleitores não-petistas, que permanece mais alta do que a média, apesar dos acenos ao centro, como a aliança com Alckmin. Defensores da coligação com o ex-governador afirmam que ampliar o leque é a única maneira de reduzir a rejeição do ex-presidente. Para opositores, os dados provam que o ganho eleitoral não compensa o desgaste político.” (Folha)

Meio em vídeo. O que as pesquisas mostram é que vamos ter a eleição mais polarizada e mais selvagem da história da Nova República. Preparem-se. Este ano a democracia brasileira vai sofrer seu teste mais duro. Confira no Ponto de Partida. (YouTube)

O presidente dos EUA, Joe Biden, passou a quinta-feira discutindo com aliados europeus formas de isolar ainda mais a Rússia. Entre outras medidas, ele defende que o país seja excluído da reunião do G20 em novembro. Biden anunciou novas sanções contra autoridades russas e disse que os EUA podem receber até cem mil refugiados ucranianos. Mas descartou novamente uma intervenção direta no conflito. (CNN)

Enquanto isso... A invasão da Ucrânia completou ontem um mês sem que a Rússia conseguisse a vitória rápida que previa. Pelo contrário, forças ucranianas iniciaram nos últimos dias uma contraofensiva que altera a dinâmica do conflito. Ontem o governo de Kiev disse ter afundado um navio de transporte de tropas russo no porto ocupado de Berdyansk. Além disso, a estratégia de emboscadas por pequenos grupos militares tem impedido que os russos avancem em direção à capital. Mesmo que não seja possível confirmar se os ucranianos recuperaram terreno, a resistência tem efeito sobre o moral das tropas dos dois lados. (New York Times)

E a Assembleia Geral da ONU aprovou ontem uma nova resolução pedindo o “fim imediato das hostilidades” e culpando a Rússia pela crise humanitária na Ucrânia. Foram 140 votos a favor, incluindo o Brasil, cinco contra e 38 abstenções, incluindo China, Cuba e a maioria dos países africanos. (g1)

Na China

Orlando Pedroso

Orlando

Cultura

Foram dois anos de cancelamento por conta da pandemia de covid-19, mas o Lollapalooza retorna hoje ao Brasil em grande estilo, no Autódromo de Interlagos, em São Paulo. A quinta-feira foi de últimos retoques no palco, após 55 toneladas de equipamentos de som e iluminação chegarem a São Paulo pelo Aeroporto de Viracopos, em Campinas. O som começa a rolar no palco principal às 13h, com Detonautas, e o dia termina com The Strokes, previstos para entrarem às 21h15. O rock rola até domingo, quando Foo Fighters encerram o festival. Ainda é possível comprar ingressos. Confira aqui tudo o que você precisa saber para aproveitar esta edição do Lolla. (g1)

Conforme o single em espanhol de Anitta Envolver subia até chegar ao segundo lugar na parada global do Spotify, uma pergunta passou a martelar a cabeça dos fãs e de curiosos. Quem são os Glass Animals, cuja canção Heat Waves ocupa a primeira colocação desde o fim de janeiro? Trata-se de um quarteto inglês, da cidade de Oxford, que está na estrada há dez anos, quando lançou seu EP de estreia. Heat Waves foi lançada em junho de 2020, no álbum Dreamland, terceiro da banda, mas só começou a ganhar embalo no fim do ano passado, ao entrar na trilha sonora do game FIFA 21 e depois viralizar no Tik Tok, assim como a coreografia do sucesso de Anitta. Na verdade, Glass Animals nem é tão estranho assim ao público brasileiro. O grupo participou da edição de 2017 do Lollapalooza. (Globo)

O universo geek está em festa. Estreou ontem na Paramount+ Halo (trailer), série de ficção científica baseada num dos mais famosos jogos para X-Box. E na segunda-feira será a vez de Cavaleiro da Lua (trailer), que adapta para a Disney+ um quadrinho do núcleo de terror da Marvel. (CinePop)

Confira as principais dicas da agenda cultural.

Além de sessões em São Paulo e no Rio de Janeiro, o festival de documentários É Tudo Verdade exibe a partir de quinta parte expressiva de sua programação em plataformas virtuais, incluindo os filmes de abertura e encerramento: A História do Olhar, de Mark Cousins, e O Território, de Alex Pritz.

Estreias da compositora norte-americana Jessie Montgomery e do peruano Jimmy López marcam o concerto da Osesp dessa sexta, que conta ainda com a Sinfonia do Novo Mundo, de Dvorák, regida pelo britânico Alexander Shelley.

A TV Cultura transmite nesse domingo alguns dos destaques da temporada da Jazz Sinfônica no ano passado, com convidados como Edu Lobo, Mônica Salmaso, Elba Ramalho e Chico César.

Para ver a agenda completa, clique aqui, e, para outras dicas de cultura, assine a newsletter da Bravo!.

Viver

A ocupação de leitos para covid-19 na rede privada de saúde caiu de 61% em janeiro para 58% em fevereiro, segundo dados coletados junto às operadoras pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Apesar da redução, a taxa continua maior que a registrada ao longo de todo o segundo semestre do ano passado, entre os surtos das variantes delta e ômicron. (UOL)

Queda também na média móvel de mortes por covid-19. Com os 300 óbitos registrados ontem, a média em sete dias ficou em 269, a mais baixa desde 21 de janeiro, com recuo de 42% em relação ao período anterior. (g1)

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Pela primeira vez cientistas encontraram amostras de micropartículas de plástico em sangue humano. Um estudo realizado pela Universidade Vriej, em Amsterdã, com 22 doadores anônimos identificou material em 17 amostras, indicando que a contaminação pode ser comum. Metade continha partículas de PET, um terço tinha poliestireno e um quarto tinha resíduos de polietileno. Partículas já haviam sido encontradas em fezes, em especial de bebês, por causa das mamadeiras plásticas. Os pesquisadores querem agora ampliar o universo de testes e entender o comportamento desse material na corrente sanguínea e nos órgãos humanos. (Guardian)

Os efeitos da invasão da Ucrânia pela Rússia estão sendo sentidos nas mais diversas áreas, e a ciência não seria exceção. Um projeto particularmente afetado é a Cooperação Internacional para Pesquisa Animal Usando o Espaço (ICARUS, na sigla em inglês) o que monitora a partir da Estação Espacial Internacional (EEI) a movimentação de espécies na Terra, em particular as ameaçadas de extinção. O problema é que os dados de GPS nos chips em animais captados pela estação são retransmitidos por meio de uma estação na Rússia, que interrompeu os trabalhos. (Science Magazine)

Outrora uma potência do futebol mundial, a tricampeã Itália vai ficar de fora da segunda Copa do Mundo consecutiva. A Squadra Azzurra perdeu ontem por 1 a 0 a partida de repescagem contra, acreditem, a Macedônia do Norte. Em tempo, o Brasil é o único país que participou de todas as Copas desde 1930. (Globo Esporte)

Cotidiano Digital

Um jovem de 16 anos de Oxford, na Inglaterra, foi acusado de ser um dos líderes da gangue de crimes cibernéticos Lapsus$. Nos últimos meses, o Lapsus$ ganhou destaque depois de atacar várias empresas de tecnologia, violando grandes quantidades de dados e divulgando suas ações em grupos no no Telegram. A atividade do grupo também teve como alvo inicial várias organizações no Brasil e acredita-se que a gangue esteja baseada na América do Sul. O adolescente, apelidado de “White” ou “Breachbase”, teria acumulado uma fortuna de US$ 14 milhões por meio de invasões e extorsões. Não se sabe se ele foi detido pela polícia de Londres com outros seis jovens ligados à gangue, com idades entre 16 e 21 anos. “Eu sempre pensei que ele estivesse jogando”, disse o pai do adolescente em entrevista à BBC. (BBC News)

E a Apple planeja vender iPhones e iPads como um serviço de assinatura. O serviço teria um custo mensal ainda não divulgado e com opção de troca por um novo dispositivo assim que ele for lançado. A assinatura seria vinculada à conta Apple ID do usuário, com a possibilidade de agregar outros serviços, como AppleCare ou Apple One. O projeto pode ser lançado no final de 2022 ou 2023. (The Verge)

O criador do popular formato de imagens animadas GIF, o americano Stephen Wilhite, morreu na semana passada, aos 74 anos, após complicações decorrentes da covid-19. Wilhite, que era programador, inventou o “Graphics Interchange Format” ou formato para intercâmbio de gráficos, em tradução livre, em 1987, enquanto trabalhava na CompuServe. O objetivo do formato era permitir a transferência de fotos usando conexões discadas. Em 1989 surgia o GIF animado. Décadas mais tarde, o GIF se tornou um dos símbolos mais marcantes da cultura da internet. (The Guardian).

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