Militares precisarão dar as caras à Justiça brasileira
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Oitenta militares devem depor nesta quarta-feira sobre a tentativa de golpe em 8 de janeiro. Entre eles, está o general Gustavo Henrique Dutra de Menezes, que era o responsável pelo Comando Militar do Planalto. Durante o bate-papo no programa #MesaDoMeio, o editor-chefe, Pedro Doria, destaca que a investigação é realizada pela Polícia Federal e julgada pelo Supremo Tribunal Federal. “Não tem Justiça Militar, não tem milico de verde-oliva fazendo esse interrogatório, não. É [investigador] civil. O crime é contra a democracia, esses caras respondem como qualquer outro cidadão.”
Para a colunista Mariliz Pereira Jorge, a investigação sinaliza que os militares perderam os privilégios dados por Jair Bolsonaro em sua gestão e ressalta que o objetivo das oitivas é entender como foi possível que aquela turba invadisse os prédios públicos sem que houvesse uma segurança efetiva. “Estou curiosa para saber como eles vão se sair nesse depoimento, porque a sensação que eu tinha é que eles achavam que [a omissão] não ia dar em nada, que não respingaria nas Forças Armadas de forma alguma.”
O cientista político Christian Lynch explica que os militares do Exército pensaram que teriam o controle do poder quando Bolsonaro assumisse a presidência, mas o que aconteceu foi o contrário. “Eles não deram o tom, foi Bolsonaro quem deu, demitindo comandante, fazendo o diabo com as Forças Armadas”, comenta. Com a chegada de Lula, percebe-se agora que as Forças Armadas fazem “o que o presidente da República manda fazer”. “Eles mudam de acordo com o governo e a imagem deles é usada, como foi por Bolsonaro”, conclui.
De Brasília, a repórter especial do Meio Luciana Lima conta que o governo federal tenta destravar as pautas de seu interesse na Câmara e no Senado, enquanto não desagrada os presidentes das casas legislativas, Arthur Lira e Rodrigo Pacheco, respectivamente. Nesta terça-feira, Lira se recuperava de uma cirurgia, e Pacheco estava em viagem à China com Lula. Mesmo com as ausências, os embates no Congresso continuaram, com Lira sabotando a análise de três medidas provisórias caras ao Planalto, enquanto Pacheco se mobilizava para que houvesse quórum suficiente entre os deputados.
Em avaliação aos cem dias de governo, completados nesta segunda-feira, Mariliz Pereira Jorge ressalta que “Lula não teve trégua” nesse período, citando o 8 de janeiro, mas lembra que o governo Bolsonaro também foi manchado por turbulências no mesmo período, quando teve de trocar dois de seus ministros – Gustavo Bebianno, da Secretaria-geral da Presidência, e Ricardo Vélez, da Educação. Ainda que o presidente tenha muitos problemas para resolver, ela relata que o clima do país está mais leve. “Não temos mais de ficar nas redes sociais ou na imprensa publicando atrocidades ditas por ministros”, desabafa.
Outras maneiras de comparar os dois governos é observando como os dois presidentes jogam politicamente. Segundo Christian Lynch, enquanto Lula tenta montar uma base no Congresso, Bolsonaro imaginava que iria vencer o Legislativo pela pressão do poder. “Ele achou que ia emparedar o Congresso de medo porque havia uma revolução conservadora e queria dar o golpe pelo WhatsApp. E o primeiro ano de governo foi um fiasco”, avalia.
Já Pedro Doria destaca o contraste entre Lula e Bolsonaro no cenário internacional. Enquanto o petista é cortejado mundialmente, o representante da extrema direita se isolou diante de líderes internacionais. “Ele era aquele cara que ficava no canto da sala enquanto tinha G20 e começou a não ser mais convidado”, explica.