Edição de Sábado

Edição de Sábado: A política da vingança

Os versos de Chico Buarque vieram à mente do conselheiro Luiz Fernando Bandeira de Mello Filho na terça-feira de julgamento no Conselho Nacional de Justiça, o CNJ: “Roda mundo, roda-gigante. Rodamoinho, roda pião. O tempo rodou num instante”. A imagem de uma imensa roda empurrada ladeira acima, que muda de direção e passa por cima de quem a empurrava, dava ao conselheiro uma perspectiva menos comezinha e mais poética sobre o que ocorria no plenário. Na visão de muitos dos presentes, o relatório apresentado pelo corregedor Luís Felipe Salomão contra magistrados da Operação Lava Jato tinha ares de vingança. O texto destrinchava mandos e desmandos da força-tarefa. “Mais do que a imagem da vingança, eu prefiro ver esse processo político como uma roda-viva”, disse o conselheiro ao Meio, após o julgamento.

Edição de Sábado: A ideologia de Elon Musk

Elon Musk e alguns de seus pares do Vale do Silício têm uma visão muito específica do que é liberdade e do sistema político que lhes permite atuar sem qualquer regulação. Isso quer dizer que estão a serviço de uma rede global de extrema direita? Bem, sim e não. As ideologias não são as mesmas. Mas definitivamente têm pontos de contato. É uma aliança de conveniência. A Edição de Sábado esmiuça como pensam os libertários das big techs e os pontos de encaixe dessa ideologia com a extrema direita.

Edição de Sábado: Eu, tu, eles

Nada mais brasileiro que a suruba. Afinal, o termo vem do tupi e, dependendo do etimologista, significava originariamente “forte, bom” ou “tronco desgastado pelo uso”. Entrou no português como gíria equivalente ao “porreta” ou “ponta-firme”. Jânio Quadros, por exemplo, foi um candidato suruba. Quando e por que suruba virou sinônimo de sexo grupal é um mistério.

Edição de Sábado: Condenados a repetir

Em 1994, Carlos Fico era um aspirante a doutor em busca de uma tese. Atento ao fortalecimento ou nascimento de movimentos sociais, como o negro, o feminista, e o LGBTQIA+, o historiador começou a montar, com dificuldade, uma proposta para os contrapor a outra força social, o movimento operário. Seu orientador, o decano Carlos Guilherme Mota, não se comoveu com o projeto. Naquele mesmo ano, o historiador britânico Eric Hobsbawm lançava A Era dos Extremos. Fico ouviu uma entrevista — ou foi a uma conferência, não se lembra bem — com o lendário intelectual em que ele falava de otimismo e pessimismo e, mais precisamente, de seu espanto ao ver como os brasileiros estavam pessimistas depois da “década perdida”. Foi o estalo.

Edição de Sábado: Nísia na mira

Entre tantas emergências, o assunto era o mais crítico para a pasta na última quarta-feira: a epidemia de dengue. O país estava prestes a ultrapassar 2 milhões de casos prováveis da doença em 2024. Desde o início da série histórica, em 2000, a marca representa um recorde de contágios em apenas três meses, segundo o Painel de Monitoramento de Arboviroses do Ministério da Saúde. Com sua equipe de cientistas, a ministra Nísia Trindade desembarcou do elevador no primeiro andar do prédio do Ministério da Saúde para a entrevista com quase uma hora de atraso. “Estavam finalizando os dados”, justificou um dos assessores que a aguardavam. Ela se encaminhava para a mesa e conversava, sorridente, com a secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, Ethel Maciel, e com o pesquisador da Fiocruz Rivaldo Venâncio, autoridade em matéria de dengue.

Edição de Sábado: A mão forte de Lula

No aniversário de 132 anos do Porto de Santos, ao discursar ao lado do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, bolsonarista cada vez mais convicto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se dedicou especialmente a mostrar que faz política de um jeito bem diferente de seu antecessor. Queria reforçar a Tarcísio e a quem de direito que, acima de qualquer coisa, está sua convicção de que o Estado brasileiro deve estar sempre pronto a investir em qualquer ente da federação. E que, quanto mais investimento, melhor.

Edição de Sábado: O negócio da cannabis

As frases pausadas do ministro André Mendonça pareciam ter a intenção de alertar que algo muito grave estava prestes a acontecer. No julgamento sobre a quantidade de maconha que uma pessoa pode portar sem configurar crime, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) se esmerou em passar uma receita baseada no fundamento de que um grama de maconha dá para fazer “3.4 cigarros”. E seguiu na progressão geométrica: “10 gramas, 34”, disse Mendonça, até concluir que, em um mês, seria possível obter 6.200 cigarros com uma só planta de Cannabis sativa. Mendonça fez questão de citar a suposta produção mensal olhando bem nos olhos de seus pares. Depois de um longo silêncio dramático, proferiu: “Por tudo isso, eu entendo, em síntese, que a questão da descriminalização (...) é uma tarefa do Legislativo”.

Edição de Sábado: A fritura de Lira

No café anexo ao plenário da Câmara dos Deputados, um dos parlamentares mais próximos de Arthur Lira (PP-AL), presidente da Casa, cochicha para um colega do Centrão: “Produção legislativa totalmente irresponsável!”. E ouve de volta: “Totalmente!”. Indignados, os dois deputados combinam de conversar mais tarde e o aliado do alagoano sai apressado. É claro que unanimidade não existe em lugar algum. Mas a condenação partia de um dos nomes mais identificados com Lira, de um deputado conhecido como amigo, homem de confiança, que já se prestou a exercer funções legislativas sob a sombra do poderoso presidente da Câmara. Após risadas nervosas de ambas as partes, o interlocutor percebeu o flagrante e pediu sigilo. “Você viu? Não coloca isso não, mas se ele está reclamando, imagina o resto dos deputados.”

Edição de Sábado: O ruído que Lula cria

Se um observador de todo isento, sem lado no debate ideológico brasileiro, desembarcasse no último domingo em Adis Adeba, na Etiópia, para ouvir o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sairia espantado. Por um lado, Lula demonstrou extrema cautela em fazer qualquer especulação a respeito da morte de Alexei Navalny, o principal líder da oposição russa. Com 47 anos, em boa forma e saúde quando foi preso em 2021, Navalny morreu no sábado em sua cela. “Para que a pressa em acusar?”, disparou contra os jornalistas que lhe faziam perguntas. Não houve a mesma cautela para tratar de Israel. Pelo contrário — o presidente foi tão hiperbólico quanto é possível num debate político. Foi direto na ofensa máxima que pode se fazer contra um Estado nacional. “O que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existiu em nenhum outro momento histórico”, afirmou. E aí completou. “Aliás, existiu. Quando Hitler resolveu matar os judeus.” O problema das duas afirmações é que elas não guardam coerência entre si. Não demonstram um mesmo conjunto de critérios para observar o mundo. Não bastasse, geram ruído, insatisfação, desconforto.

Edição de Sábado: Primavera cripto?

Nesta semana o preço do Bitcoin voltou a ultrapassar o marco dos US$ 50 mil. Há um frenesi no ar, mas é fundamental conhecermos a origem de todos os hypes. A do Bitcoin foi em janeiro de 2009, quando um usuário anônimo divulgou um software para download em um fórum online. Satoshi Nakamoto propôs uma tecnologia disruptiva. Um algoritmo criptográfico que podia manter, de maneira descentralizada, o registro de todas as trocas de uma moeda digital, ou criptomoeda. A cada 10 minutos, um novo bloco com o registro de todas as transações feitas é processado. Algumas novas criptomoedas são criadas e distribuídas para aqueles que realizaram o trabalho de manter a rede ativa por mais um bloco. Uma sequência infindável de blocos, ou blockchain.