Escândalos como os recentes de Toffoli, Alexandre e Gilmar obrigam Fachin a propor código de conduta

Cá entre nós: se existe um momento perfeito para discutir um código de ética para a cúpula do Judiciário brasileiro, esse momento é agora. Idealmente, teria acontecido no nascimento da Constituição de 1988, quem sabe. Mas agora, agorinha, quando o Supremo Tribunal Federal navega entre crises simultâneas de reputação, turbulência interna e ataques externos cada vez mais ousados e escancarados, essa é a hora de os ministros exibirem que estão dispostos ao auto-exame, à famigerada autocontenção.
O que o Calvo do Campari e os feminicídios têm a ver com as eleições 2026?

Comecemos pelo choque. Pela sucessão de brutalidades que, nas últimas semanas, testemunhamos no noticiário brasileiro — e que, juntas, dizem mais sobre o país do que qualquer debate parlamentar sobre “segurança pública”. Há poucos dias, em São Paulo, uma mulher — Tainara Souza Santos, 31 anos — foi atropelada pelo ex-companheiro e arrastada por cerca de um quilômetro na Marginal Tietê. Tainara teve as duas pernas amputadas abaixo dos joelhos. Está em coma. A polícia prendeu o agressor, que agiu movido, segundo a investigação, por “sensação de posse” e incapacidade de aceitar o fim do relacionamento. É quase sempre isso: posse. Uma ideia de propriedade sobre o corpo e a vida da mulher.
O que muda e quem tenta ocupar o vácuo com a prisão definitiva de Bolsonaro

Jair Messias Bolsonaro está preso preventivamente e, muitíssimo em breve, definitivamente. A prevenção foi porque seu filho Eduardo tentou interromper o julgamento de golpe do pai, convidando os EUA a interferir no Supremo e no Brasil. Não bastasse, Bolsonaro tentou violar sua tornozeleira eletrônica e seu outro filho, Flávio, convocou uma vigília religiosa em frente ao condomínio onde o ex-presidente cumpria prisão domiciliar, o que poderia causar desordem pública, segundo a polícia e a Justiça.
Toc, toc, toc, é a Polícia Federal

Hoje Brasília entregou a história da República todinha numa manhã só. A PF prendeu o dono do Banco Master, expôs um esquema de R$ 12 bilhões e, ao mesmo tempo, o Congresso discute uma versão do PL antifacção que enfraquece justamente a PF e a Receita. O Master enreda políticos, agentes do mercado e fundos públicos — e, por isso, só a Polícia Federal tem capacidade de investigar e desmontar essa teia. Então, quem ganha quando a PF perde força?
PL Antifacção e a guerra política

O PL Antifacção nasceu como resposta do governo Lula ao avanço do crime organizado. Mas Hugo Motta, presidente da Câmara, decidiu dar a relatoria de presente para a oposição, e o deputado Guilherme Derrite, secretário de Tarcísio de Freitas, reacendeu a velha retórica da “guerra ao crime”. O Brasil vive uma crise de segurança, não uma guerra. E confundir as duas coisas pode ser o erro mais perigoso de todos.
O que esperar da CPI do Crime Organizado?

A primeira sessão da CPI do Crime Organizado no Senado foi uma aula de política feita por adultos — com debate, divergência e sem histeria. Isso quer dizer que todas vão ser assim? Dificilmente. Mas a escolha da mesa de comando dos trabalhos, que acabou com Fabiano Contarato na presidência, Hamilton Mourão na vice, e Alessandro Vieira na relatoria, e o tom com que ela foi conduzida chegam a dar alguma esperança.
Caos no Rio e gol contra de Lula

Lula vive um dos melhores momentos de imagem do seu governo — e justamente com quem menos se esperava: Donald Trump. Mas uma frase desastrosa sobre traficantes serem vítimas de usuários de drogas revela a urgência de Lula se atualizar no assunto segurança pública. E a megaoperação do Rio reforça como esse tema vai ser, de longe, o mais importante da disputa eleitoral.
O que Lula quer de Boulos?

O presidente nomeou Guilherme Boulos ministro e tirou da corrida eleitoral um dos maiores puxadores de votos da esquerda. Mas há um cálculo por trás: Boulos entra no governo pra mobilizar as ruas, pressionar o Congresso e tentar reconquistar o novo trabalhador — o motoboy, o entregador, o autônomo que o PT nunca conseguiu representar. É um movimento ousado. Mas é também um risco num momento em que a esquerda precisa, mais do que nunca, fazer bancada no Congresso.
Janja, Michelle e a vaga do STF

Lula publicou um decreto regulamentando a atuação pública de Janja. O timing não podia ser pior. No melhor momento de sua popularidade e precisando indicar um novo ministro para o Supremo Tribunal Federal, escolheu gastar capital político numa pauta que é prato cheio para a oposição. Os bolsonaristas, por sua vez, estão espalhando mentira sobre o decreto e esbanjando hipocrisia, já que Michelle Bolsonaro atuou politicamente como poucas primeiras-damas. Se Lula quer marcar história e contemplar as mulheres de verdade, inclusive a sua, o caminho é outro — indicar uma ministra ao STF.
Eduardo Bolsonaro perdeu

O Zero Três parece se mover num tabuleiro em que só ele ainda acredita que está jogando. Ele coleciona distâncias — do Congresso, do PL, dos aliados e, agora, até de Donald Trump. A direita está em guerra interna: Valdemar Costa Neto, Ciro Nogueira, Tarcísio e Michelle Bolsonaro disputam o rumo do bolsonarismo enquanto Eduardo tenta manter viva a chama ideológica de Olavo de Carvalho — mas, no fim, em escala nacional, pode estar falando sozinho.