O ex-governador do Rio Sérgio Cabral Filho, preso desde ontem, é acusado pelo Ministério Público Federal de ter recebido, ao longo dos dois mandatos, R$ 32,5 milhões da Carioca Engenharia e R$ 7,7 milhões, da Andrade Gutierrez. O dinheiro entrava na forma de uma mesada.
Há um jogo de estratégia em curso.
A ex-presidente Dilma Rousseff soltou nota afirmando que jamais foi aliada de Cabral. Esqueceu do registro em vídeo. Registros da longeva aliança, aliás, não faltam.
A palavra do ano no Dicionário Oxford é Post-Truth. Pós-Verdade.
O secretário Moreira Franco, outro ex-governador, foi o padrinho de Cabral em sua entrada na política. Assessor íntimo de Temer. O Planalto acha que o PMDB virou a bola da vez. (Estadão)
Periga as prisões não se contentarem só com dois ex-governadores fluminenses.
No jogo, uns partem para o confronto. Os deputados federais de PT, PMDB, PSDB, PSD, PP, PSB, PTB, PRB, PHS e Pros já sabiam da prisão quando decidiram não aparecer para votar o relatório de Onyx Lorenzoni (DEM-RS) sobre as Dez Medidas de Combate à Corrupção. Querem o poder de acuar por abuso procuradores e juízes. Mas Onyx retirou a possibilidade do projeto.
No jogo, outros recuam. O líder do governo na Câmara, André Moura (PSC-SE), foi à tribuna dizer que seu projeto para reestruturar o acordo de leniência para empresas envolvidas em crimes vai incluir a necessária consulta ao MP. “Ninguém admite retrocesso”, garantiu. O debate durante toda a semana pareceu admitir o retrocesso. (Folha)
O Cade já investiga 30 cartéis distintos de empresas que pedem acordo de leniência por conta da Lava Jato. (Estadão)
Cabral estava abatido quando chegou ao presídio de Bangu, à noite. Foi recebido por pessoas que soltaram fogos e abriram espumantes.
Anthony Garotinho, aliás, se debateu, vociferou, rejeitou e foi levado à força de ambulância para o mesmo presídio numa imagem inacreditável. Sua filha, a deputada federal Clarissa Garotinho, berra ao lado. O G1 tem o vídeo.
Na Assembleia Legislativa do Rio, o deputado Marcelo Freixo (PSOL) conseguiu enfim o número de votos necessário para abrir CPIs e investigar o ex-governador. Ele já tenta há alguns anos.
Não há qualquer indício de que o atual governador, Luiz Fernando Pezão, tenha participado do esquema de Cabral, diz o MP. (Folha)
Ainda assim, os analistas Merval Pereira, Fernando Molica, Josias de Souza e Rolland Gianotti concordam num ponto: com um estado falido, a dura negociação de um extenso pacote de cortes e manifestantes nas ruas, a prisão de seu padrinho só piora (muito) a vida de Pezão.
Corrupto ostentação: um dos assessores de Cabral tinha no WhatsApp fotos de um bolaço de cédulas. (A palavra bolaço é o coletivo gramaticalmente correto de cédulas. O outro aceito é bolada.) Nada que se compare às joias da ex-primeira-dama, descoladas por Fernando Rodrigues. (Folha)
Para ler com calma: A equipe do ex-governador chamava propina de Oxigênio. É um dos achados da extensa e detalhada reportagem de Chico Otávio e Daniel Biasetto, do Globo, com detalhes do esquema. É uma aula de Brasil.
E está para sair a delação da Odebrecht.
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