Sobre o Curso Online de Filosofia de Olavo de Carvalho
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Quem, como eu, viveu o período inicial do famigerado Curso Online de Filosofia do Olavo de Carvalho lembra qual era o sentimento que vigorava entre as pessoas que se inscreveram para participar [fio]
PUBLICIDADE— Horacio Neiva (@horacioneiva) January 31, 2019
O clima geral era de que estávamos participando de algo muito importante; de que éramos pessoas muito profundas e realistas e que o COF era o que separava as pessoas realmente inteligentes dos idiotas e militantes.
— Horacio Neiva (@horacioneiva) January 31, 2019
Obviamente – como vocês já devem ter percebido – saí disso e me recuperei. Mas a lembrança daquele tempo fica cada vez mais viva quando me lembro da ironia do destino: o movimento que ajudou a eleger Bolsonaro foi exposto pela… eleição do Bolsonaro.
— Horacio Neiva (@horacioneiva) January 31, 2019
Quem já passou pelo submundo olavette sabe que há uma ideia difusa de que ali estão as pessoas mais inteligentes, a futura “elite cultural”, as pessoas que vão resgatar e manter viva a “alta cultura”.
— Horacio Neiva (@horacioneiva) January 31, 2019
Tudo – seja textos ou o próprio Curso – contribui para esse sentimento. Olavo insistia sempre nas aulas que “vocês” irão resgatar a cultura brasileira; que “vocês” tem uma responsabilidade; que vocês devem fazer isso e aquilo.
— Horacio Neiva (@horacioneiva) January 31, 2019
E havia alguns procedimentos para incutir esse sentimento nos alunos: havia o voto de abstinência em matéria de opinião (segundo o qual nenhum aluno poderia opinar sobre um assunto até que tivesse dominado o – outra frase que o Olavo adorava – status quaestionis do problema).
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Havia as preliminares ao estudo da filosofia (que praticamente nunca vem): tem que estudar latim; tem que estudar gramática, tem que ler os grandes livros da literatura universal e brasileira.
— Horacio Neiva (@horacioneiva) January 31, 2019
O resultado era um grupo de pessoas que realmente se sentia muitíssimo inteligente. Que se não era reconhecida era por conta de uma decisão deliberada de “ficar calado e estudar”.
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Mas vejam que engraçado: esse grupo, que se vendia entre seus pares como muito inteligente e erudito, não aguentou um mês de exposição pública. Notinha do MEC com erro de português, plágio, falta de conteúdo, conspirações comunistas — e só.
— Horacio Neiva (@horacioneiva) January 31, 2019
Na prática, são pessoas com pouco estudo se deslumbrando com pessoas com um pouquinho mais de estudo. Tudo isso combinado com uma empáfia copiada do próprio Olavo que gera um sentimento de autoafirmação (e até orgulho) intelectual.
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É, de algum modo, o sentimento do "outsider intelectual", do sujeito que está lá, fora dos grandes círculos, se preparando para chegar na arena pública botando pra quebrar. Mas nunca chegam.
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Ou pior: quando chegam é para passar vergonha. É para repetir o mesmo discurso pseudofilosófico com doses conspiracionistas que o Olavo já fazia nos anos 2000.
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O mais impressionante de quem conhece esse movimento todo é que não há nunca nada de novo. Todo mundo que chega botando banca só está copiando algo que o Olavo já falou ou escreveu.
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O que é outro traço comum dos participantes: citar autores que o Olavo citou como se tivesse lido e estudado aquilo (muitas vezes, nem o Olavo leu ou estudou aquilo).
— Horacio Neiva (@horacioneiva) January 31, 2019
Concluindo: se é verdade que "pelos frutos conhecereis" (frase que o Olavo adorava) o seu projeto pedagógico é um fracasso. Um monte de iletrados, metidos e que vivem de simplesmente copiar as referências e até o estilo do mestre – e só.
— Horacio Neiva (@horacioneiva) January 31, 2019
O COF foi um grande núcleo de formação de militantes. A erudição que prometeu foi só uma maquiagem assim para disfarçar a ignorância e burrice de pessoas que hoje chegaram ao poder.
FIM.
— Horacio Neiva (@horacioneiva) January 31, 2019