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Caminho da Índia

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A missão Chandrayaan-3 foi uma conquista e tanto para a Índia. Não apenas por tornar o país o quarto a fazer um pouso bem-sucedido na Lua, mas também por ser o primeiro a chegar ao polo sul lunar, uma região inexplorada. Enquanto o mundo olha com admiração o feito inédito indiano, o Brasil relembra a maior tragédia da história de seu programa espacial: a explosão em terra do primeiro lançador de satélites brasileiro, que matou 21 pessoas em Alcântara (MA), há 20 anos. Desde então, o programa foi suspenso e o país só consegue lançar satélites com foguetes estrangeiros, incluindo indianos. A comparação é inevitável. Afinal, os programas espaciais brasileiro e indiano começaram quase ao mesmo tempo. Mais do que isso, os dois países foram considerados promessas de crescimento econômico no início dos anos 2000. A expansão brasileira não fez jus às expectativas. Já a Índia se consolidou como uma das potências mundiais em Tecnologia da Informação (TI), e executivos indianos são figurinha carimbada nas principais empresas mundiais, inclusive no comando das gigantes de tecnologia como Alphabet, dona do Google, IBM e Microsoft. Por que o Brasil não caminhou na mesma direção?

Até a década de 1980, os dois países tinham uma trajetória de industrialização semelhante, com substituição de importações, ativismo estatal e alto intervencionismo do Estado, com o governo participando e até controlando certos setores econômicos. Entretanto, desde o começo dos anos 1990, a Índia teve taxas médias de crescimento anuais de 6% e manteve o ritmo, enquanto o Brasil enfrentou baixo crescimento e viu sua economia enfraquecer a partir de 2010, agravada pela crise econômica e política de 2014 a 2017. De 1998 a 2008, só houve dois anos em que o Brasil cresceu mais que a Índia: 2000 e 2008, segundo dados compilados pelo Banco Mundial.

Historicamente, a Índia tinha uma economia em grande parte agrária. A partir da independência do domínio britânico, em 1947, o governo do primeiro-ministro Jawaharlal Nehru (1947-1964) adotou uma política de desenvolvimento autônomo, com investimento em planejamento, indústria pesada, substituição de importações e proteção do mercado interno. Na mesma época, grandes companhias, como o Grupo Tata, beneficiaram-se dos incentivos governamentais e da política econômica. Mais tarde, o Tata, que atua em diversos segmentos, como produção de sal e desenvolvimento de software, tornou-se o maior conglomerado industrial privado da Índia e um dos maiores do mundo. Os anos iniciais pós-independência foram fundamentais e ajudam a explicar as características que marcaram a economia da Índia e seu desempenho econômico até hoje.

Desde o rompimento com os britânicos, a Índia tem como preocupação central o desenvolvimento científico e tecnológico, afirma o professor Marco Antonio Rocha, do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). “Isso vem de uma visão de grandiosidade em relação à civilização Hindu, principalmente no campos das ciências e da matemática. Essa relação com o passado precisava ser recuperada e deveria fazer parte do patrimônio nacional e histórico que ajudaria a unificar o país”, explica Rocha. Além disso, os conflitos fronteiriços com o Paquistão e uma possível ameaça chinesa também ajudaram a impulsionar a industrialização. O desenvolvimento das marinhas da Indonésia e do Paquistão, após a retirada da Marinha Real Britânica do Oceano Índico, foi visto com preocupação pelos indianos. Com isso, o país começou a construir um complexo industrial e de defesa, que deu origem ao programa espacial indiano. Era uma questão de soberania nacional e recuperação de um passado civilizatório. Um cenário bem diferente do brasileiro.

Embora Brasil e Índia tenham tido processos de industrialização semelhantes em relação ao protecionismo e ao papel do Estado, o desenvolvimento do sistema nacional de inovação indiano foi muito mais precoce e recebeu mais atenção, ressalta o professor da Unicamp. “A partir dos anos 1980, a Índia passa a olhar também para as tecnologias de vanguarda, como a informática, serviços de informação e comunicação e a indústria aeroespacial”, diz.

Mas essas não foram as principais contribuições para o PIB da Índia. Nas últimas décadas, a economia indiana também foi puxada pelo aumento no consumo das famílias por conta da expansão do crédito, da urbanização e do investimento público e privado em infraestrutura. A Índia é o país mais populoso do mundo, com 1,428 bilhão de habitantes. As taxas de pobreza também são expressivas e maiores do que as do Brasil, apesar de estarem em queda. “O investimento vem justamente na tentativa de resolver problemas de falta de infraestrutura urbana em saneamento, transporte e habitação. Isso tem movimentado uma parte considerável da economia da Índia”, explica Rocha. Em relação a outros indicadores sociais, Brasil e Índia empatam na concentração de renda dos 10% mais ricos. Por outro lado, o Brasil tem um índice de desenvolvimento humano (IDH) – 0,754, equivalente à posição 87 — melhor do que o da Índia — 0,633, que corresponde ao 132ª posição no ranking —, segundo dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud).

Apesar das diferenças culturais e econômicas, Brasil e Índia são bons parceiros comerciais, além de estarem juntos nos Brics. Em 2022, a relação bilateral foi recorde, graças a uma série de ações promovidas pelas chancelarias dos dois lados: US$ 15,1 bilhões, com superávit indiano. Para a Índia, o Brasil tem tudo para ser um parceiro estratégico no chamado Sul Global.

Mas e os CEOs indianos nas gigantes de tecnologia? Alguns dados mostram que parte dos diretores-executivos do Vale do Silício nascidos na Índia fazem parte de um grupo minoritário que se encontra entre os mais ricos e educados nos Estados Unidos. Obviamente, o fato de os indianos falarem inglês facilita sua integração na indústria tecnológica americana e de outros países. Mas é bem mais do que isso. Em entrevista à BBC em 2021, o empresário multimilionário americano de origem indiana Vinod Khosla, cofundador da Sun Microsystems, disse que “a diversa sociedade da Índia, com tantos costumes e idiomas, fornece [aos gestores nascidos no país] a capacidade de navegar por situações complexas, particularmente quando se trata de fazer crescer as organizações”. Parece ser o “jeitinho indiano”.

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