Meio Político

Templos, líderes religiosos e isenções tributárias

Com a aprovação da Emenda Constitucional que definiu as bases da reforma tributária no Brasil e as recentes aprovações de novas regulamentações das mudanças, apontam-se contornos também para as regras do jogo com relação ao funcionamento de templos religiosos. É nessa hora que o debate fica ainda mais acalorado. Para muitos, são mudanças consideradas um abuso. Para outros, uma moeda de troca política. Mas a cobertura e o debate público sobre os benefícios fiscais para templos e atividades religiosas nem sempre se direcionam para onde deveríamos estar olhando e podem ser fonte de desinformação ou de reafirmação de conceitos pré-definidos sobre um campo.

Europa Centro-Oriental: Os jovens e a extrema direita

Os partidos de extrema direita da Europa Centro-Oriental estão observando atentamente a mobilização de um segmento inesperado de eleitores: os jovens adultos. Os programas partidários deixam isso evidente. O partido Revival da Bulgária condena o “monstruoso colapso demográfico” do país e propõe “ações direcionadas a fim de criar incentivos para que os jovens búlgaros” lá permaneçam ou retornem ao país em vez de trabalharem no exterior. A Alliance for the Union of Romanians (Aliança para a União dos Romenos) afirma que “a Romênia deve deixar de ser uma grande exportadora de mão de obra barata” e que “seu estatuto garante o acesso de jovens às estruturas de liderança do partido, em todos os níveis, em proporções significativas”. O Homeland Movement da Croácia solicita que o Estado realize uma “revitalização demográfica” oferecendo aos jovens incentivos para que permaneçam na Croácia, tais como subsídios para moradia e programas de benefícios profissionais. A ala jovem do Estonian Conservative People’s Party (Partido Popular Conservador da Estônia — EKRE), conhecida como Blue Awakening (Despertar Azul), é responsável por apresentar aos jovens valores nacionalistas e uma visão de mundo conservadora, oferecendo-lhes a oportunidade de serem socialmente ativos e influenciarem a política do Estado estoniano, expandindo seus horizontes em questões sociais e proporcionando aos membros a possibilidade de criarem laços de amizade com pessoas de opiniões semelhantes. O Our Homeland Movement (MHM) da Hungria detalha um programa de um novo despertar “no qual os jovens não sonham com o trabalho e a vida no exterior”. A preocupação da extrema direita com o iminente colapso demográfico intensificou os esforços para conquistar o coração e a mente dos jovens eleitores.

Precisamos discutir o identitarismo

Precisamos falar sobre o identitarismo. Os constantes confrontos entre pessoas e grupos de diversas origens e os adeptos da política identitária, a crescente hegemonia identitária em muitos ambientes sociais, a pressão que identitários exercem sobre leis e políticas públicas que nos afetam a todos, e o temor disseminado de que alguém possa se tornar alvo de uma expedição punitiva identitária a qualquer momento, tornaram inevitável uma conversa sobre essa nova forma de ideologia e política.

O populismo reacionário como efeito colateral da modernização

Em política, como na economia, a expectativa é tudo. E, em um mundo interconectado, aquilo que acontece nos países cêntricos possui uma força particular na geração de expectativas: é o famoso “efeito demonstração”. E o mau desempenho de Biden no debate contra Trump assanhou os reacionários. Com a vitória eleitoral de Le Pen na França, o assanhamento chegou ao clímax e contagiou até conservadores mais tradicionais, seduzidos pelo canto de sereia de um paradoxal “extremismo moderado”. Para arrematar, o Supremo americano proclamou a tese absolutista da irresponsabilidade legal do presidente, dando carta branca para que Trump, caso eleito, faça tábua rasa da combalida democracia americana.

A religião como arma política e a radicalização de um dos polos

A religião parece brotar do chão cada vez que se analisa política no Brasil hoje. Seja na cobertura sobre eleições ou no que tem acontecido no Congresso Nacional, não conseguimos ficar um dia sem falar sobre como estão as intenções de voto no segmento evangélico ou sobre o posicionamento do deputado a, b ou c que destacou suas referências religiosas para justificar seu voto ou sua nova proposta de lei. Mas o que aconteceu? Por que vemos mais religião na política? Sempre esteve ali e nós é que não estávamos prestando atenção ou falando sobre o assunto? Por que não é mais possível falar sobre eleições e política no Brasil e não ter algum pontinho de religião ali querendo aparecer?

A cara do nacionalismo de direita no Brasil

Nacionalismo é uma das palavras mais presentes no vocabulário das ideologias políticas e um dos conceitos mais polêmicos. No Brasil, tem sido associado principalmente a uma forte participação do Estado na economia, por isso sempre foi desenvolvimentista. Neste ponto aproxima direita e esquerda, embora a última tenha acrescentado uma perspectiva redistributivista. O nacionalismo político nunca se enraizou no Brasil, sempre foi um fenômeno das elites, especialmente entre militares, intelectuais e burocratas de Estado, com destaque para os diplomatas.

Desafios do pluralismo: conviver ou colapsar?

Nunca fui um decadentista, nem mesmo desses que, a cada transformação do mundo, consideram que algo essencial foi definitivamente perdido e que o futuro significa degeneração. Nunca sequer segui aqueles que julgam que a mudança na estrutura da esfera pública representa apenas uma degradação da deliberação pública democrática. Umas coisas se perdem, outras se ganham, e a vida segue.

Alianças por um fio

Lula assumiu seu terceiro mandato com um espírito restaurador, ensaiando retorno às rotinas de 2010. Uma delas, que combina com a ideia da frente ampla, foi a de montar no Congresso uma coalizão baleia, ou arca de Noé, oferecendo espaço no ministério e preferências no atendimento de pedidos a todos os bichos que nela embarcarem. Ocorre que as condições do Brasil mudaram. Ainda no esforço da frente ampla, mas de forma inédita, Lula abarcou o apoio do “partido liberal” - e sobre ele falamos mais adiante. Ambas as alianças apresentam fragilidades que podem definir o futuro eleitoral de Lula.

O sonho da regulamentação

Andrea Gallassi fez parte do primeiro grupo de pesquisadores que conseguiu autorização para importar produtos e estudar a cannabis medicinal no Brasil. Mestre e doutora em medicina pela USP, é professora associada da Universidade de Brasília e coordenadora do Centro de Referência sobre Drogas e Vulnerabilidades Associadas. Hoje ela está à frente do grupo de trabalho sobre cannabis medicinal no Conselho Nacional de Política sobre Drogas (Conad), buscando estudar modelos de regulamentação do uso da planta que possam influenciar a política de drogas brasileira. Nesta conversa com o Meio, ela falou das nova composição do Conad, do cabo-de-força entre Supremo Tribunal Federal e o Legislativo na questão do porte de maconha e também sobre os horizontes de pesquisa no país. Leia abaixo os principais trechos da entrevista.

A surpreendente resiliência da democracia

A democracia tem se mostrado surpreendentemente resiliente no século 21. Ao fim da extraordinária expansão democrática global do final do século 20, várias democracias proeminentes, incluindo as das Filipinas, Hungria, Índia, Tailândia, Turquia e Venezuela, sofreram retrocesso ou colapso. Mas a grande maioria das democracias da “terceira onda” — regimes que se tornaram democracias entre 1975 e 2000 — persiste. Apesar de um ambiente internacional cada vez mais desfavorável, os temores de uma “onda reversa” ou de um “renascimento do autoritarismo” global ainda não se concretizaram. E o último quarto de século continua sendo, de longe, o mais democrático da história.