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O papel central da comunicação no golpe

Foto: Nelson Almeida/AFP

A comunicação não foi um elemento coadjuvante, mas a cola que uniu as diferentes operações golpistas, a arma para moldar a percepção pública e a ferramenta para pressionar as instituições. Essa é a principal conclusão do relatório de quase 900 páginas produzido pelo departamento de inteligência da Polícia Federal sobre o planejamento do golpe de Estado bolsonarista de 2022, parcialmente executado.

Idos de novembro

Vistas retrospectivamente, as muitas notícias do mês de novembro de 2024 reforçam a sensação de que a política brasileira vive um momento de lenta transição. A história não avança, mas também não retrocede, aprisionando o país em uma dinâmica paradoxalmente arrastada, de incertezas e disputas fragmentadas.

A normalização secular-católica

A recente notícia de que o Supremo Tribunal Federal formou maioria pela manutenção da presença de crucifixos na parede de tribunais e outras instalações do Estado reabriu o debate sobre laicidade e Estado laico no Brasil e sobre como se regula a religião no espaço público no país. O julgamento se deu em ação movida pelo Ministério Público Federal, a partir da petição de um cidadão contra a presença de crucifixo no plenário do Tribunal Regional Eleitoral do Estado de São Paulo.

Vista chinesa

Hoje Luiz Inácio Lula da Silva recebe no Planalto o presidente da China Xi Jiping, que veio ao Brasil para participar da Cúpula de Líderes do G20, encontro anual que reúne os líderes das 19 principais economias do mundo, além da União Europeia e, recentemente, a União Africana. Durante o encontro, o líder chinês anunciou uma maior cooperação com o Sul Global, sobretudo nas áreas de inovação tecnológica e científica. Para falar sobre as relações entre Brasil e China, e também dos desafios políticos que se impões com a vitória de Donald Trump nos Estados Unidos e com a ascensão da direita na Europa, conversamos com especialista em China, Maurício Santoro, cientista político e professor de Relações Internacionais Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e colaborador do Centro de Estudos Político-Estratégicos da Marinha. Leia abaixo os principais trechos da entrevista.

Democratas liberais não queimam livros. Ou queimam?

Na última semana, acompanhamos a repercussão de um julgamento do ministro Flávio Dino sobre um Recurso Extraordinário com Agravo apresentado pelo Ministério Público Federal ao Supremo Tribunal Federal. A decisão ordenou a retirada de circulação de alguns livros jurídicos e multou os autores e o editor — um caso explosivo nesses tempos de polarização e interessante para quem estuda a liberdade de expressão e o discurso de ódio.

A obsolescência institucional nos EUA e o risco autocrático

A longeva imagem dos Estados Unidos como a terra por excelência da democracia liberal vem caindo por terra nas últimas décadas. Por detrás dessa imagem, havia, claro, uma série de idealizações. O modelo norte-americano organizado pela Constituição de 1787 não era democrático para os padrões de hoje. Tratava-se de uma confederação dotada de um governo geral de poderes bastante limitados, cujo sistema eleitoral consagrava um ideal oligárquico de governo. Excluía a maioria da população, comportando a participação política de até de 15% da população, e previa eleições indiretas para filtrar a vontade da maioria.

Gênero e voto

Presidentes brasileiros, desde a redemocratização, foram eleitos com proporção semelhante de apoio do eleitorado masculino e feminino — inclusive Dilma Rousseff, única mulher eleita presidente da República no período. Mas isso vem mudando a partir das eleições de 2018, com reflexos também nas eleições municipais desde então.

A desmistificação dos extremos

Sábado passado, o auditório do Consulado Britânico em São Paulo estava com pouco mais da metade de sua capacidade ocupada quando Mathieu Lefevre apareceu no telão, transmitindo da sala de sua casa em Paris. Era o começo da terceira edição do Festival Confluentes, organizado pela plataforma que busca estimular a filantropia individual no Brasil, fazendo um casamento entre quem tem o desejo de contribuir com organizações que trabalhem para diminuir a desigualdade.

O modelo Bukele vai se espalhar?

Em 26 de março de 2022, o presidente de El Salvador, Nayib Bukele, declarou guerra ao crime, decretou estado de emergência, suspendendo uma série de direitos constitucionais, e ordenou que o exército saísse às ruas. Nas duas semanas seguintes, as autoridades realizaram mais de 8.500 prisões, um número que aumentaria para quase oitenta mil — mais de 1% da população — até 2024.

O fim da ilusão

Vasculho intrigado a bibliografia sobre a ascensão da extrema direita, converso com pessoas, leio artigos e colunas de jornais, esforço-me para prestar atenção no debate público, mas continuo entre a angústia e a perplexidade. Fala-se muito sobre o avanço eleitoral e político do radicalismo de direita, do populismo autoritário e dos extremismos intolerantes que ameaçam direitos humanos, minorias e valores fundamentais da democracia, com diagnósticos geralmente corretos sobre o fenômeno atual mais preocupante nas democracias das Américas e da Europa.

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