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O TikTok é uma máquina de propaganda chinesa?

O TikTok é usado pelo governo chinês como arma de propaganda? Como a afirmação frequentemente vem da direita radical do Ocidente, de cara parece paranoia. Pura busca de conspiração. Mas rechaçar de cara a hipótese pode ser um erro. Na virada para o tempo digital, países como China e Rússia tomaram a decisão estratégica de se engajar fortemente em propaganda ideológica voltada para fora. Há orçamentos oficiais, produtos conhecidos — mas também ações escamoteadas. Ao mesmo tempo, enquanto vivem suas crises, democracias escolheram não se defender. Estão fora de qualquer iniciativa de conquistar ouvidos atentos para as bases de seu regime.

‘O debate plural morreu’

A máxima de que guerras matam a verdade é incontestável e gasta ao ponto de se tornar um daqueles clichês inescapáveis sempre que se conflagra um novo conflito. Mas há uma outra vítima imaterial na trágica guerra entre Israel e Hamas e que já vinha moribunda há pelo menos uma década: a pluralidade. A adesão automática a um dos lados do confronto é o esperado de cada um. Se você é da esquerda, é pró-Palestina — e qualquer questionamento ao terrorismo do Hamas pode lhe custar popularidade e aceitação pelos pares ideológicos. Na direita, o apoio a Israel também é exigido incondicionalmente. E a lógica do engajamento, um tanto narcísica e ampliada pelos mecanismos das redes sociais, leva o sujeito a se entregar a essa visão de verdade única e impermeável.

Uma necessária dose de ousadia

Há cerca de oito semanas, chamei aqui a atenção para o fato de que Lula III se apresenta como um governo de “restauração”. Claro que, por essa expressão, deve se entender a restauração de um governo normal, democrático, comprometido com a observância dos princípios da Constituição e seus objetivos: construir uma sociedade livre, justa e solidária; garantir o desenvolvimento nacional; erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

‘Não vale a pena pagar para ver’, diz Levitsky sobre Milei

Steven Levitsky é um cientista político com duas especialidades: a de autopsiar democracias e a de dissecar as instituições políticas da América Latina. Imagine, então, a acuidade do microscópio com que o coautor de Como as Democracias Morrem acompanhou as eleições do último domingo na Argentina, um dos países sobre o qual se especializou, em que o radical Javier Milei despontava como favorito. Seu oponente peronista, Sergio Massa, acabou levando a disputa para o segundo turno. Mas, para Levitsky, Milei segue sendo uma enorme ameaça. Mais que isso. Ele enxerga na sua candidata a vice, Victoria Villarroel, uma negacionista das atrocidades da ditadura, um perigo ainda maior. “Ela é capaz de romper algo que a Argentina conquistou e que é o que mais me emociona neste país, a ideia do ‘Nunca Más’”, diz Levitsky ao Meio.

O teatro político das CPIs

Os efeitos que uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Congresso Nacional pode ter dependem, fundamentalmente, da disposição dos parlamentares em levar a cabo o que ali se apurou e de algum consenso em torno de seu produto. E, numa comissão como a do 8 de Janeiro, que nasce mais do desejo de se engajar em redes sociais do que de analisar fatos, esse resultado ainda está para ser testado. É o que analisa o cientista político Creomar de Souza, fundador da Dharma Political Risk and Strategy. “Mas o simples fato de se conseguir apresentar um relatório é um marcador de que há uma correlação de forças pendente mais a favor dos interesses do governo do que da oposição.” Não foi o caso da CPI do MST, por exemplo, que acabou sem um texto final.

O Pogrom do Hamas

No sábado aconteceu o maior atentado à vida de judeus indefesos desde a Segunda Guerra Mundial.

Sem assimilarmos esta frase, esta informação, a percepção do tamanho do que houve, não é possível sequer começar a compreender o impacto do que foi o 7 de outubro de 2023 em Israel. Porque há, simultaneamente, duas dimensões no ataque do Hamas.

Uma é de um ataque político com o objetivo de impedir a solução de paz pelo caminho da formação de dois países, um Israel, outro a Palestina. Esta negociação, no momento, sequer está na mesa. Mas retornar às conversas de 2000 em Camp David, quando Bill Clinton, Ehud Barak e Yasser Arafat se sentaram juntos e saíram sem acordo ajuda muito a compreender por que o Hamas escolheu agir neste momento. Pelo lado político.

A Constituição e os ressentimentos dos Poderes

Nesta quinta-feira, a Constituição de 1988 urdida por Ulysses Guimarães soprará 35 velinhas. Trata-se de um feito, já que apenas duas constituições na história brasileira foram mais longevas: a do Império, que durou 65 anos; e a da Primeira República, que resistiu a 39. Todas as outras duraram menos: a de 1934, 3 anos; e a de 1946, 21 (as constituições autoritárias de 1937 e 1967 não contam). Tudo pesado, creio não ser excesso declarar que a Constituição de 1988 seja a definitiva do Brasil. Definitiva à maneira do verso de Vinicius: enquanto a democracia durar...

A reacomodação dos partidos

Eles estão lá na rabeira quando se mede a confiança da população nas instituições. Os partidos políticos aparecem até depois do Congresso, onde sua atuação se manifesta mais concretamente. A cada nova crise, as legendas se mobilizam para aprovar uma “minirreforma”, que possa diminuir essa insatisfação do eleitorado. Mas os partidos estão longe de ser as organizações que a sociedade idealiza. Ao não conseguir cumprir o que eles próprios determinaram, buscam um auto-perdão. Esse é o ciclo refletido na PEC da Anistia, que une todo o espectro político na proposta de se perdoarem multas por não cumprimento de cotas para mulheres e negros nas candidaturas de 2022. Fernando Guarnieri, professor de Ciência Política do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP) da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), descreve essa dinâmica e como ela aumenta a tensão entre os partidos e a Justiça Eleitoral, que também tem uma visão idealizada do que os partidos deveriam ser. “O imperativo mais pragmático dos partidos acaba entrando em atrito com a concepção de partido ideal que a Justiça Eleitoral tem”, explica.

Desejo de reparação

O Supremo Tribunal Federal (STF) retoma hoje o julgamento do marco temporal da demarcação das terras indígenas. O placar está 4 a 2 contra a tese jurídica do marco temporal. Num breve e simplificado resumo, no julgamento de 2009 sobre a demarcação da reserva Raposa Serra do Sol, em Roraima, assentou-se no Supremo que um dos critérios para definir se determinado território deve ser devolvido a um povo indígena era se esse povo ocupava tal território ou o disputava na data da promulgação da Constituição, dia 5 de outubro de 1988.

Entre Deus e as urnas

Quando começava o segundo semestre, em 2021, o ministro Luís Roberto Barroso recebeu em seu gabinete o embaixador de Taiwan no Brasil, Tsung-che Chang. Barroso estava ansioso e o embaixador não faria muito para tranquiliza-lo. “Para minha surpresa”, ele lembra, “era um diplomata mórmon que a cada frase repetia ‘Deus há de prover’.” Quanto mais o ministro explicava a situação, por mais que entrasse em detalhes, que descrevesse o problema, a resposta era a mesma. “Deus há de prover.” Ao se despedir, Barroso arriscou. “Mas, além de Deus, alguém mais pode ajudar?”

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