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O Oscar e a diversidade

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A falta de diversidade nos filmes se reflete na maior premiação do cinema. Nos últimos anos, o Oscar vem tentando diminuir o gap em uma indústria ainda bem masculina e branca. O seu mais recente passo é o mais ousado, que visa mudar a cara do cinema — literalmente.

A partir de 2024, os filmes que quiserem concorrer a categoria de Melhor Filme vão ter que cumprir pelo menos duas de quatro diretrizes que visam dar visibilidade a não brancos, mulheres, LGBTs+, latinos e pessoas com deficiência. Na prática, funcionará como uma espécie de sistema de cotas: deverão ter uma representação mínima na tela (chamado de Padrão A); atrás da câmera (B); no desenvolvimento com o público, o marketing (D); e pipelines para incentivar jovens talentos marginalizados (C).

Claro que as novas regras não agradaram a todos. Muitos chamaram de controle criativo. Outros criticaram que as mudanças não são suficientes. Um filme pode continuar tendo apenas atores e diretores homens desde que tenha o mínimo em outras posições de liderança. Onze dos 15 vencedores do Oscar anteriores atenderiam aos dois primeiros padrões. O filme Dois Papas, indicado ao Oscar deste ano, por exemplo, passaria nesses critérios sem problema. Mesmo com diretor e atores, homens e brancos, teve mulheres liderando departamentos.

O problema da falta de diversidade vai além da cara de um filme e muitas vezes afeta a própria narrativa. Dos cem filmes de maior arrecadação do ano passado, só 34% dos personagens com falas eram mulheres, 2,3% tinham alguma deficiência e só 1,4% eram LGBTs+, segundo a Annenberg Inclusion Initiative.

Ao longo do tempo foram criados alguns mecanismos para identificar problemas nos roteiros. Uma série de quadrinhos chamada Dykes to Watch Out For, feita em 1985 pela cartunista Alison Bechdel, inspirou o Teste Bechdel, que define três critérios para identificar histórias com personagens femininas mais profundas. Na tira, uma mulher convida uma amiga para ir ao cinema. A colega, então, responde que só assiste a filmes que: tenham pelo menos duas personagens femininas que tenham nomes; que elas conversem entre si, e que a conversa não gire em torno de homens. Alguns especialistas apontam falhas nesse teste, outros defendem para ser usado como parâmetro. A verdade é que a diversidade precisa vir aliada de inclusão. Dos 200 filmes com maiores bilheterias em Hollywood entre 1995 e 2015, metade não passa no teste quando todos os roteiristas são homens. Quando há uma mulher na equipe, esse número já cai para um terço.

É recente a discussão sobre diversidade no mainstream. E não é difícil imaginar o porquê. Em 2012, os filmes com elencos predominantemente brancos ganhavam mais dinheiro nas bilheterias do que os filmes com elencos majoritariamente minoritários. Mas esse padrão se inverteu. No ano passado, filmes em que pelo menos 90% dos atores eram brancos ganharam menos do que aqueles com maior participação de atores minoritários, refletindo a composição da população dos EUA. Os estúdios de cinema começaram a responder à essa inversão. A Warner Bros se tornou o primeiro grande estúdio a adotar o inclusion rider, após Frances McDormand chamar atenção para a medida ao ganhar o Oscar em 2018 (YouTube). O termo nada mais é do que uma cláusula de inclusão, na qual um ator ou diretor pode exigir que outras minorias sejam contratadas. A mudança, no entanto, tem sido lenta, principalmente atrás das câmeras. Em Hollywood, a presença de mulheres nessas categorias não vai muito além de 20%. O cenário se repete no Brasil.

Depois da hashtag #OscarsSoWhite, em 2015 e 2016, quando não houve indicados não brancos nas categorias de atuação, a academia começou a definir metas de inclusão. Desde então, a proporção dos seus membros votantes pertencentes à minorias dobrou. A diversidade da academia é importante para mudar a cara dos vencedores. De todas as 336 estatuetas de atuação já concedidas, 19 foram para negros, cinco para latinos, três para amarelos, enquanto árabes e indígenas venceram uma única vez. A situação se repete atrás da câmera: desde 1929, houve apenas cinco mulheres indicadas em melhor direção, com apenas uma vencedora: Kathryn Bigelow por Guerra ao Terror, em 2010. Em 2018, Rachel Morrison se tornou a primeira mulher indicada ao Oscar de Cinematografia por Mudbound.

“Mesmo que o Oscar não faça os filmes, eles afetam quais filmes são feitos. E eu acho que isso é realmente crucial. Se um filme que se assemelha a algo como O Irlandês está no pipeline, tem mais facilidade de receber luz verde do que um filme como As Golpistas ou A Despedida, que tiveram que lutar para serem feitos e que foram recusados por quase todos os estúdios”, diz Kyle Buchanan, repórter de cultura do New York Times.

Filmes que passam ou não no teste de Bechdel.

Um infográfico interativo que avalia dentre dois mil roteiros as falas dos personagens de acordo com gênero e idade.

E uma conta no Twitter do produtor Ross Putman que mostra como personagens femininos são normalmente descritos apenas pelos seus aspectos físicos em roteiros reais.

Por Érica Carnevalli

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